When You're Strange escrita por Jamie Hermeling


Capítulo 20
Eu vou te deixar afogar até você alcançar a minha mão




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Sasuke mudava incessantemente o canal do rádio de seu carro. Em geral, não gostava muito de ouvir música, e naquela hora, naquela exata situação, ele duvidava muito que existisse alguma melodia que lhe fosse suportável. Talvez a melodia que se formava pelas repetidas apertadas no botão inferior fosse a mais suportável. Itachi havia sido bem claro quando disse que queria conversar a sós com Sakura, e por “a sós” ele queria dizer que o irmão mais novo estava proibido de ao menos subir para o apartamento onde moravam. Não sabia por que ainda obedecia Itachi. Realmente não sabia. Mas faria o quê? Escutar atrás da porta? O Uchiha mais velho com certeza seria capaz de captar seus passos quando ele entrasse no corredor.

Sakura abriu a porta do carro cinza que quase a atropelara semanas atrás e se jogou no banco do carona, deixando seu mau humor deslizar por sua boca num sopro. Fazia mais de meia hora desde que subira. Sasuke tentou identificar qualquer diferença nas posições de suas roupas – não achou.

Deu partida sem falar nada. Sakura procurava desesperadamente algo em sua bolsa, e ele percebeu que suas mãos tremiam muito. Seu rosto pálido estava rosado, mesmo seus olhos estavam um pouco vermelhos. Céus, aquela garota parecia estar prestes a ter um ataque nervoso ou um desmaio.

O rapaz decidiu tentar começar suas investigações. Mas sua primeira pergunta foi interrompida no começo da segunda palavra.

– Eu juro que se você me perguntar alguma coisa, eu arranco toda a pele dessa sua cara.

E Sasuke percebeu que não eram só as mãos de Sakura que tremiam. Ela estava prestes a chorar, o que significava que a conversa com Itachi tinha sido no mínimo perturbadora – o que significava que ele poderia ter algum tipo de vantagem naquela situação.

Sakura desistiu de achar seja lá o que estivesse procurando e jogou a bolsa no carpete, violentamente.

– Escuta aqui, você tem mais outro irmão? Ou primos ou porra assim?

Sasuke levantou uma sobrancelha, sem deixar de olhar para a frente.

– Irmãos, não. Primos, incontáveis.

– Perguntar o sobrenome das pessoas vai ser uma nova regra para a minha vida. Eu não posso mais correr o risco de trocar mais que duas frases com gente da sua família.

– Eu sou o irmão do bem, acredite.

Sakura revirou os olhos. Passaram mais dois semáforos em silêncio.

– Escute, antes que a gente chegue ao seu prédio e você bata a porta do meu carro sem nem dizer “obrigada”, eu quero te falar que, não importa o quanto você odeie o Itachi, eu odeio mais. Eu sei que você tem algo que ele quer.

– É, eu tenho uma carta na manga. E não vou desperdiçá-la me juntando a você. Isso não é uma série policial adolescente, pobre garoto rico. Isso é a vida real e as pessoas se fodem com uma facilidade absurda.

– Agora que eu finalmente achei algo que posso usar contra o Itachi, você acha que eu vou te deixar em paz?

Sakura deu de ombros, sorrindo.

– Junte-se ao clube.

Não devia passar das duas horas da tarde, mas o céu se fechara, fazendo parecer que já chegava nas cinco. E cinza era a cor favorita de Sakura. Cinza não era nada. Cinza era a cor da fumaça do cigarro que ela queria ter.

– Olha, Sasuke, eu não sei que tipo de briga rola entre você e o Itachi, mas coisa de família deve ser resolvida entre a família. A minha vida pode realmente ficar fodida por causa desse cara, e seja lá o que eu vou fazer, eu não vou deixar qualquer um se meter nisso.

O prédio Lorenz apareceu no meio de tantos outros prédios diferentes. Sakura desceu, sem dizer “obrigada”. Abraçou-se e andou rápido por causa do frio. Sasuke não quis ir pra casa, e não quis ir pra qualquer outro lugar. Ficou andando pelos quarteirões até se dar conta de que sua atividade era estúpida. Voltou para casa.

Hotaru era uma moça loira, bonita e falante demais que ficava na recepção durante a tarde. Fazia faculdade de artes e morava com a tia. Isso não era nem dez por cento de todas as informações que já dera para Sakura em suas incrivelmente curtas conversas, mas já era muito mais do que a rosada desejava saber. Essa era uma das coisas que detestava em New Jersey. A maioria das pessoas tinha uma espécie de síndrome da vizinhança com todos que conheciam, e faziam questão de estreitar relações com quem quer que fosse.

Naquela tarde, Hotaru parecia ainda mais simpática e inquieta do que nunca.

– Tem um recado para você, Sakura – a loira tomara a liberdade de chama-la pelo primeiro nome, embora a rosada gostasse mais de Srta. Haruno, como todos os outros funcionários se dirigiam a ela.

Sakura franziu o cenho, e Hotaru continuou, pegando um pedaço de papel retangular branco, com uma caligrafia muito bem-feita em tinta preta.

– Um rapaz muito bonito deixou aqui mais cedo. Ele era alto, branquinho, sabe? Com olhos imprensados, cabelos pretos... Ele disse o nome, mas eu esqueci. Pode ficar tranquila que eu deixei emborcado o tempo todo, não li nada, tá?

A letra pontuda dispensava qualquer descrição. Não podia ser outra pessoa que não Sai.

Havia um endereço anotado. Sakura não conhecia a cidade tão bem para saber em que região aquilo ficava. Mas havia também uma mensagem.

Se você quiser conversar.

Porque sabe, se você começa a fugir das coisas que tem medo, elas vão inevitavelmente explodir na sua cara um dia.

Sai.

02 meses depois

Sakura passou as mãos pelo lado direito de sua cama, ainda de olhos fechados, sem encontrar o corpo que deveria estar ali. Levantou as pálpebras, constatando que o quarto estava vazio e que ela estava com falta de ar. Abraçou o travesseiro livre, sem querer acreditar no que estava lembrando. Sentou-se, pôs as mãos na testa, reunindo alguma força para levantar. Havia luz demais entrando pela fresta da porta e um cheiro delicioso de waffles. Mas sua boca tinha um gosto amargo de remédio e seu estômago estava prestes a sair.

– Eu ia deixar você perder a aula de inglês – Sasuke disse num tom zombeteiro, enchendo uma segunda xícara de café.

Sakura se arrastou até a cadeira e se pôs a fitar o líquido escuro – olhando sem realmente ver.

– Podia deixar – respondeu, por fim, com uma voz morta. – Não estou com a mínima vontade de ir pra escola hoje.

Sasuke suspirou, após dar seu primeiro gole.

– Não faz sentido você ficar assim. Não é como se tivesse descoberto nada, nós é que descobrimos, lembra?

– Eu estou com medo – ela disse, sem encará-lo. – Eu não sei o que o Neji vai fazer, eu não sei o que o Itachi vai fazer.

– Tsc. O Neji não vai fazer nada, tenha a santa paciência. E a gente vai dar um jeito no Itachi.

Sakura queria se afogar naquela xícara de café. Ou ter bebido o suficiente para que as memórias da noite anterior não estivessem tão completas e pesassem tanto sobre seus ombros.

Mexeu a colher pequena e pôs um sorriso torto.

– Você não tá mesmo com raiva de mim?

Sasuke fez que não, abocanhando seu waffle.

– Nem decepcionado? – ela ergueu uma sobrancelha de dúvida.

Sasuke revirou os olhos.

– Cala a boca.

Os dois riram, e Sakura lembrou de como era possível rir com Sasuke em qualquer momento, em qualquer humor, e contra todas as possibilidades. E como ela adorava isso.

– Obrigada.

– Pelo quê, exatamente?

– Por tudo. Por ficar do meu lado, por ficar aqui noite passada comigo. Sério, obrigada.

– Está aí uma coisa que eu achei que você nunca fosse dizer – Sasuke afirmou meio esnobe, pondo sua xícara na pia e dando quinze amigáveis minutos para que Sakura se arrumasse.


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Notas finais do capítulo

Então... Time skip, né. Dá pra ver que em dois meses MUITA coisa mudou ajoekdplrfprlg
Calma que não vai ficar nada "acontecendo do nada". Eu vou explicar como tudo aconteceu pra ficar do jeito que está. Fiz isso pra tornar a fic mais dinâmica, sem capítulos arrastados. Me digam se vocês gostaram disso, por favor.
Ah, com certeza esse capítulo ficou confuso, cheio de coisas pra serem reveladas hahaha. Bom, as tretas da Sakura serão reveladas no próximo capítulo. Até lá



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