When You're Strange escrita por Jamie Hermeling


Capítulo 19
Mate todos os seus amigos




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A primeira sessão de testes havia acabado. Eu havia usado a semana seguinte para descansar e ler um novo livro. Eu escrevi um artigo sobre Crime e Castigo e mostrei para Kurenai. Ela gostou muito, e disse que eu poderia fazer aquilo mais vezes. Não sei se inspirada nisso ou não, ela nos mandou fazer um artigo sobre O Apanhador no Campo de Centeio. Nunca havia lido porque, sinceramente, me parecia o tipo de livro famoso demais e superestimado. Mas logo vi que essa obra merecia cada um dos elogios já feitos a ela.

A leitura do livro até me tirou a preocupação com as provas, que estavam por vir. Eu estava muito mal em exatas. Pedi ajuda à Sakura, já que ela sempre tira notas boas nessas matérias, mas digamos que ela não é uma boa professora. É engraçado porque ela fica toda tímida e nervosa e se enrola com as palavras. Acho que cálculo não é o forte de Naruto, mas vou pensar em pedir essa ajuda para ele.

Por falar em Naruto e Sakura, eles haviam feito as pazes. Não sei como, embora não enxergue aquela garota pedindo desculpas. Ela até havia falado sobre precisar de um emprego e agora estava trabalhando no pet shop do padrinho de Naruto. Acho que Sakura está tendo problemas com a família, para precisar de um emprego.

De qualquer forma, Sakura estava muito diferente. Faltava bastante às aulas, sem explicação. “Perdi a hora”, “não estava me sentindo bem”, era tudo o que ela respondia quando eu perguntava. Naruto e eu a convidamos várias vezes para sair conosco, como nos velhos tempos – que não eram tão velhos assim – mas ela sempre dava uma desculpa. Uma vez disse que ia e acabou não comparecendo. Na única vez em que ela apareceu, tudo o que fazia era comer e quase cochilar. Perguntei a Naruto se ela não estaria trabalhando demais, mas ele respondeu que ela também dormia quase todo o tempo que estava na loja. O que quer que estivesse acontecendo, Sakura não me contaria. Eu teria que descobrir, com paciência.

Era terça-feira. O dia em que Kakashi entregaria os resultados temidos dos testes de matemática. Eu consegui um B-. Sakura exibiu seu A+ mostrando-me a língua, enquanto voltava para sua cadeira. Eu não sei como ela consegue. Naruto não ficou nada contente com seu B+. Na verdade, aquela era primeira vez que eu o via tão chateado. Sasuke recebeu uma menção especial por ter sido o único a conseguir resolver o desafio extra de geometria analítica. Acredito que isso tenha piorado o humor do Uzumaki.

Naruto ficou tão mal, que no intervalo, o encontrei sentado sozinho numa das mesas de concreto que ficavam debaixo das árvores mais afastadas do pátio. Ele estava estudando, mas eu fui até ele porque precisava que ele assinasse três papeis.

Ele não parecia sentir minha aproximação, mas quando eu estava a poucos passos dele, Naruto levantou a cabeça repentinamente.

– Hinata, você pode me ajudar?

Naruto tinha as mãos nos cabelos e uma expressão desolada. Parecia que não dormia nem comia há dias. Tinha mesmo olheiras proeminentes. Eu me senti nervosa com o seu pedido, porque parecia mais desesperado do que deveria ser. Não parecia que ele estava me pedindo ajuda apenas com assuntos escolares.

– Com o quê?

– Eu não fui bem no artigo da Kurenai... Você acha que podemos discutir sobre literatura?

– Claro, como você quiser.

Naruto voltou a olhar para o livro, com as mãos nas orelhas. Fazia uma careta e ela me dizia que ele não estava conseguindo ler nada.

– Aconteceu alguma coisa, Naruto?

Ele deixou de tentar prestar atenção aos papeis. Levou a mão à testa, de olhos fechados. Estava soberbamente irritado.

– Eu nunca vou conseguir ir pra Harvard com um B+! Ou pra qualquer outro bom lugar.

– Você não está mais irritado pelo fato de o Sasuke ter se dado melhor?

Naruto moveu a cabeça para o lado, com mais uma careta.

– Não dá pra entender essas pessoas que se não bem do nada, sabe? Eu aposto que o Sasuke nem pegou nos cadernos. Enquanto eu passo noites acordado pra tirar um B+.

– Mas é diferente. O Sasuke tem sorte em matérias como matemática, mas ele não é bom em tudo. É só comparar suas notas com a dele pra saber que o seu esforço vale a pena.

Naruto me deu um sorriso simples, mais de agradecimento que de alívio. Por alguma razão, ele não concordava muito com o que eu dissera.

Eu me sentei e o olhei com calma. Havia algo de muito doloroso que Naruto não estava me contando, e isso o estava devorando.

– O que está te preocupando, Naruto? Você não parece a mesma pessoa.

– Eu não estou – ele desabafou, bufando em seguida. Deixou sua cabeça cair sobre a mesa, com os fios loiros bagunçados caindo sobre os olhos. Começou a murmurar, eu tive dificuldades em ouvir. – É a Karin. Ela não nos deixa nem dormir à noite e eu estou muito preocupado com ela. Eu sei que eu deveria fazer algo mais efetivo, mas eu tenho tanta pena dela.

À essa altura, a face de Naruto já estava coberta por seus braços. Mas eu ainda podia ouvir sua voz, e ela tremia.

Eu, bem, eu tinha costume de ser ouvida, não de ouvir. Eu não sabia como consolar alguém. Eu fiquei olhando para Naruto inerte, querendo que todas aquelas coisas ruins sumissem, ou pelo menos que passassem para mim. Para que eu não precisasse lidar com elas.

– Sinto muito – foi o que eu acabei dizendo, pegando na mão fria de Naruto. – Qualquer coisa que eu puder fazer, não hesite em pedir, tudo bem?

Pedi que ele assinasse os papeis e fui embora.

Naquele dia, acabei sabendo ainda mais sobre Naruto. E sobre Sasuke, também.

Ino praticamente me obrigou a almoçar com ela e com as outras meninas no shopping. Pelo menos eu podia olhar para as vitrines enquanto elas conversavam sobre assuntos que não me interessavam ou que eu não conhecia. Mas, de alguma forma que eu não acompanhei, o tópico acabou virando Sasuke.

E o quanto ele era bonito. E o quanto ele pegava bem. E o quanto havia se perdido. Embora eu ainda não entendesse o que esse tipo de linguagem significava.

– Eu ouvi dizer que o Naruto ficou puto só porque o Sasuke o venceu no desafio de matemática? Aliás, desde quando eles fazem isso? Digo, não é meio nerd demais?

Como sempre, exagerando. Quem falava era Asuna, uma amiga de Ino que havia ficado numa sala diferente esse ano – felizmente. A conversa que se ouvia era que ela já fora muito apaixonada por Naruto, mas ele nunca ligara para ela.

– Não houve desafio entre os dois – Ino tratou de dizer, mexendo seu milk-shake. – Ele só tirou uma nota maior que o Naruto, o que por si só já é bem difícil – revirou os olhos e sorriu. Ino iria para um estágio na Europa, financiado pelo pai dela, quando terminasse o colegial, por isso não se preocupava muito com notas.

E eu fiquei sabendo que, pra começo de conversa, Sasuke e Naruto não se dão bem desde o jardim de infância, porque o loiro tentava a todo custo fazer amizade com ele, e em troca, Sasuke o desprezava, inclusive na frente dos outros colegas. Eles também costumam ter ideias opostas, por isso, sempre que conversam, discutem. Além disso, perto do início das aulas, houve um evento que acredito que explique toda a fúria do Uchiha em relação ao Uzumaki.

Sasuke não frequentaria o colégio naquele ano. Pelo tom delas e pelos gestos que fizeram ao dizer aquilo, creio que haja alguma relação com Sasuke ter se perdido ou sei lá o que isso queira dizer. Naruto entrou em contato com o pai do moreno, e criou uma situação em que ou Sasuke estudaria, ou se mudaria para Chicago, onde o pai morava. Sasuke escolheu ficar. Eu não fazia ideia de como elas tinha conseguido essas informações, e francamente, isso me assustava um pouco.

Eu cheguei em casa perto das três horas, com algumas sacolas de roupas apertadas que eu provavelmente não usaria.

Myuu, surpreendentemente, estava em casa. Disse que havia trabalhado pela manhã e tirado folga à tarde. Estava mais animada que o comum, e logo eu descobri o motivo.

– Neji veio nos visitar, saiu agora há pouco. Achou uma pena você não estar, mas disse que ia te ligar porque quer te ver.

Neji era meu primo, pela família do meu pai. De qualquer forma, Myuu também era como uma tia para ele, as duas famílias sempre foram muito próximas.

Eu estava com muita saudade de Neji. Não nos dávamos muito bem quando crianças – vivíamos brigando, puxando o cabelo um do outro – mas na adolescência, como mágica, toda a implicância se dissipou. Com a confusão da minha mudança, acabamos não nos vendo o quanto deveríamos, já que agora estávamos na mesma cidade.

Eu não esperei Neji me ligar. Ele me atendeu rápido, com uma voz entusiasmada. Falamos sobre as nossas vidas, ele me perguntou se eu havia superado a morte da minha avó e reclamou por eu ter feito ele atravessar a cidade toda só pra me ver e dar viagem perdida. Eu disse que pessoas que visitavam outras sem avisar corriam esse risco.

Mas teve uma coisa muito estranha que Neji disse, ou melhor, perguntou. Era o tipo de pergunta que se faz no final, como quem não quer nada, mas na verdade, ela foi o motivo para toda a conversa. A razão pela qual a conversa existiu.

Neji simplesmente me perguntou se eu conhecia Sakura.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado (: no próximo capítulo acontecerão algumas reviravoltas, hah.



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