When You're Strange escrita por Jamie Hermeling


Capítulo 16
Isolamento


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que estão lendo e comentando ♥
Ah, não era minha intenção aumentar a atenção em alguns "mistérios", é só que não senti que fosse o momento certo para deixá-los claros. Mas acontecerá em breve. Espero que gostem c:



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Sakura afundou a cabeça na carteira assim que Kurenai Yuuhi tirou os olhos dela. Havia chegado atrasada e com uma dor de cabeça terrível. Prêmio por ter bebido demais no dia anterior. Precisava se lembrar de não beber tanto no domingo, embora o álcool fosse atualmente o único modo de salvar aquele tedioso dia da semana. Mas beber sozinha em casa era perigoso, a deixava muito deprimida e pensativa. Sakura aprendera que não devia pensar demais em certas coisas. Ou melhor dizendo, pessoas.

A aula de inglês e toda a discussão sobre Lord Byron não a estavam ajudando em nada. Olhou para o outro lado da sala, onde Gaara costumava estar, mas não o encontrou. Aliás, o ruivo era a pessoa que mais faltava às aulas. Ela não conseguia entender como ele não era reprovado de uma só vez. Por fim, levantou-se. A voz da professora e dos alunos rodava em sua cabeça como vômito descendo pela privada. Outro lembrete: não tomar apenas café pela manhã, mesmo que esteja apressada. O estômago agradece.

Dirigiu-se ao armário para pegar os fones que esquecera lá. Sabia um bom lugar naquela escola para ficar sozinha. O lugar que Sasuke lhe mostrara.

Mal fechou a portinha cinzenta de metal, viu Gaara aparecer no corredor, acompanhado de Kabuto. Olhou o ruivo fixamente por todo o trajeto, para ver se descobria alguma pista para justificar aquela situação, mas o rapaz não deu sinais de ter percebido a existência dela, embora fosse fisicamente impossível não ter percebido.

Foi aos fundos do prédio, subiu a escada externa e logo estava no teto da escola. Pensou em como a muitas pessoas não teriam coragem de subir àquela altura, mas Sakura, quando criança, passava tardes inteiras procurando na fazenda do avô as árvores mais altas para subir. Naquela idade, ainda tinha certa fascinação por altura. Colocou um pé na borda estreita e olhou para baixo, sentindo um frio agradável passar por dentro de seu corpo. Colocou o outro pé e se equilibrou. Abriu os braços e fechou os olhos. Ventava muito, era provável uma chuva forte nos próximos dias.

Sentou-se numa sombra feita por uma provável caixa dágua. Tirou o último cigarro no maço, que também havia coletado de seu armário e a acendeu. Não era muito de fumar, mas guardava alguns para ocasiões que requeriam um relaxamento extra, como aquela. Aprendera a fumar, sim, com Sai. Ele dissera que ela tossiria muito na primeira vez. Ela não tossiu. Sai sempre fumava Lucky Strike. Sakura aderiu ao Marlboro.

Ele não podia ter aparecido em pior hora. Se a família de Sakura descobrisse que ele estava rondando-a, podiam entender tudo errado. Pisou do cigarro. Droga de garoto.

Desceu as escadas lentamente. Ouviu o começo do intervalo. Livrou-se no maço seco, fumar ali era proibido.

No meio do pátio, ouviu alguém chamá-la, atrás de si. E infelizmente, era impossível não reconhecer aquela voz rouca, que parecia pertencer a alguém bem mais velho do que ele. Gaara. Levantava-se de um banco e ia ao seu encontro. O curioso era que Sasuke também estava naquele banco. Não sabia da amizade dos dois e muito menos sabia se gostava. Com certeza não. Sasuke lhe lançou um breve e indiferente olhar, o mesmo que destinava a todas as outras coisas. Lembrou-se da sexta-feira e mais uma vez, se sentiu uma completa idiota. Toda vez que olhava para o Uchiha, tinha vontade de mudar de corpo, de sumir. Não fazia um papel de idiota como aquele desde os treze anos.

Decidiu não ouvir seu ego ferido por Gaara tê-la ignorado mais cedo e perguntou onde ele estava durante as aulas.

Resolvendo uns problemas técnicos com as minha notas, esqueceram de atualizar ou algo assim.

Atualizar?

Ahn Gaara olhou para cima, visivelmente contrariado. Eu só pago algumas matérias que eu perdi ano passado, não notou que não vou à maioria das aulas?

Sakura torceu os lábios. Ficou em silêncio, pensando como nunca havia pensado nisso ou no quanto Gaara faltava às aulas.

Escuta disse, por fim. você não quer sair, qualquer dia desses?

Perguntou com uma sobrancelha levantada. A verdade era que não sabia bem o que queria de Gaara. Gostava dele e poderiam muito bem ser amigos, não queria forçar nada. Mas apenas o fato de eles saírem não podia significar muita coisa também.

Sim o ruivo disse simples e firme, com uma expressão suavizada.

Tá, na sexta, então?

Sexta é muito longe. Pode ser hoje.

Sakura o encarou com alguma surpresa. Ele parecia realmente apressado, e no entanto, sincero. Seu comportamento, de modo geral, estava diferente da noite de sexta-feira. Ele não parecia à vontade. Mas também não parecia ser Sakura o que lhe causava desconforto.

Tudo bem, então.

Apesar de terem marcado num lugar perto da casa de Sakura, ela chegou invariavelmente atrasada. Gaara estava sentado numa mesa perto da janela de vidro, de frente para a porta. Olhava para a mesa, com as mãos cruzadas acima dela. Deu um sorriso nervoso quando a viu.

Desculpa, mas você não sabe como é ter dezesseis anos e ser dona de casa! ia dizendo esbaforida, sentando-se. Cara, é tanta coisa, e ainda tem as tarefas da escola e ainda tem o meu gato, que quer atenção sempre que não está dormindo.

Gaara sorriu torto, voltando a baixar a cabeça por instantes. Parecia mais leve e bem-humorado do que pela manhã, Sakura percebeu, e sentiu-se aliviada. Talvez fosse mau humor de Sasuke Uchiha. Talvez pegasse.

Você mora sozinha? Isso é bem peculiar.

Sakura assentiu. Fizeram os pedidos. O olhar de Gaara quase sempre dizia por si só o que ele queria, o que sentia ou o que pretendia, sem que o ruivo precisasse abrir a boca. Naquele momento, ele queria saber por quê. Sakura esticou e puxou a pele dos dedos. Ao longo das semanas, pensara em alguma mentira para contar caso alguém lhe perguntasse isso, mas não encontrou nenhuma minimamente plausível. Não que não fosse boa em inventar mentiras. Mas não havia muitas razões pelas quais uma pessoa de dezesseis anos saía da casa dos pais para morar sozinha na mesma cidade.

Vamos dizer que aconteceram alguns problemas e eu meio que enlouqueci e todos nós decidimos que seria melhor se eu respirasse sozinha.

Gaara assentiu, sem nenhum julgamento, estranheza ou insistência.

A sua irmã, a Temari, ela faz teatro comigo. Eu a acho bem legal, ela é super durona.

Eu também sou super durão Gaara disse com a seriedade que lhe caía tão bem, e Sakura riu. Todos nós somos.

Então, já que você vai perguntar coisas, eu também vou. O que aconteceu para você ficar devendo matéria? Eu sei que aula de inglês é uma prova de sobrevivência, mas...

Por favor, é só bajular o autor que a professora gosta na prova e pronto riu. Sakura assentiu.- É que eu fiquei com preguiça de ir pras aulas ano passado, ultrapassei o limite de faltas.

Gaara pediu licença e foi ao banheiro. Sakura notou que, repetidas vezes, ele olhava para os lados a para trás, como se esperasse alguma coisa ou verificasse algo. Havia um desconforto que crescia cada vez mais, e parecia ter chegado ao auge no momento em que ele se levantou. É claro que também estava mentindo sobre a preguiça. Havia faltado por outros motivos. Gaara começava a não só intrigá-la, mas preocupá-la.

Imitou o gesto do ruivo e pôs-se a olhar para os lados. À sua frente, numa mesa do bloco da esquerda, um rapaz se levantava. Tinha longos e brilhantes cabelos castanhos. Também se virava para ir ao banheiro. Sentiu-se tonta quando viu a pele branca, a expressão firme e os olhos perolados tão comuns a ela. Sem sombra de dúvidas era Neji. Neji Hyuuga. Virou o rosto, para que ele não a visse, mesmo que pudesse ser reconhecida pelos cabelos róseos. Às vezes odiava a cor dos cabelos.

O que diabos Neji estava fazendo naquela parte da cidade? Primeiro Sai, agora ele. Será que teria de sair do estado ou do país para evitá-los?

Devia ser só um acaso. Neji Hyuuga, do alto de todo o seu orgulho, jamais viria atrás dela. Nunca.

Gaara estava de volta, de frente para ela, como se a chamasse de volta para a realidade. Agora era ela que olhava incansavelmente para todas as direções. Tinha vontade de pedi-lo para sair dali, ou pelo menos para mudar de lugar. Mas no fim, não era necessário. Neji não viria falar com ela mesmo se a reconhecesse. Olhou para a mesa dele. Estava acompanhado de um casal que felizmente que não conhecia.

Sakura?

Voltou as atenções para o ruivo novamente, e ele sinalizava que a comida já havia chegado. E apesar da vontade de apreciarem a companhia um do outro, nada ia bem. Sakura não conseguia parar de olhar para a mesa de Neji, e Gaara fitava a mesa ao lado da deles. Havia agora uma certa fúria no olhar do ruivo, direcionado para quatro garotos que riam e cochichavam. Sakura mal teve tempo de perceber isso antes que Gaara se levantasse de súbito e marchasse até a mesa deles.

Em seguida, tudo aconteceu muito rápido. Gaara desferiu socos no rosto de dois deles, e os outros dois se levantaram para reagir. Mas o ruivo mostrou uma força incomum, provavelmente abastecida pela raiva inexplicável que sentia. As pessoas se levantaram, assistindo ao episódio sem entender. Sakura viu o gerente, acompanhado de três homens, se aproximar, furioso. Num repente, pegou Gaara pelo pulso e saíram correndo dali. Só pararam quando estavam a duas ruas de distância. Ele se encostou num carro, parecendo exausto, menos pela corrida e mais pelo que acontecera no restaurante.

O que houve?

Você viu os olhos dele brilhavam cada vez mais de fúria, seus lábios se contorciam em acusação. Sua voz estava alta, como Sakura nunca ouvira antes. Eles... Gaara fechou os olhos. Apoio-se mais ainda no carro e olhou para o céu. Parecia refletir, angustiado. Nada. disse, por fim, virando a cabeça não para Sakura, mas para a rua que parecia infinita. Eu tenho que ir. Me desculpe.


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