When You're Strange escrita por Jamie Hermeling


Capítulo 14
Depois de toda festa eu morro




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- Cadê ela? – foi o que Sakura perguntou em voz alta, ao voltar ao lugar onde deixara Hinata, com as mãos ocupadas de copos. – Droga, não acredito que ela foi andar sem mim.

Comeu o salgado que tinha na mão e tomou os dois copos, um de vodca, que pegara para ela, e um de cerveja, que pegara para Hinata. Tentou encontrá-la olhando pela sala, mas fosse onde estivesse, não estava possivelmente visível.

Viu uma sorridente Karin e um insatisfeito Naruto chegarem. Provou de uma raiva instantânea ao vê-lo, e ficou com receio de que a ruiva viesse falar com ela. Decidiu refugiar-se no começo do jardim, que, pelo menos quando chegara, estava bucolicamente vazio.

Atravessou a sala dando alguns empurrões, passou pela piscina – na qual pessoas já se atiravam e eram atiradas, ganhando alguns respingos em seu vestido, e foi encostar-se numa das primeiras árvores do jardim. Mais dois carros chegavam.

Em menos de meia hora de festa, já ficara inteiramente sozinha e isolada. Pegou-se levemente irritada com Hinata, Ino, Naruto, Karin... E com o ruivo estranho, Gaara, que dissera que fazia questão de tê-la na bendita festa, mas nem sequer aparecia para cumprimentá-la. Onde estava com a cabeça para se deixar levar por alguém como ele? Sentia vontade de ir pra casa. Iria, se soubesse o caminho. Começava a destilar comentários ásperos e injustos a todas as pessoas que a fizeram ir parar ali, batendo um pé no solo freneticamente, nervosa.

- Oi – a voz gelada e inusitada atrás de si fez com que tremesse de susto. Virou-se, com rugas de ira na testa, que se desfizeram quando reconheceu Gaara, parado ali com um sorriso quase imperceptível.

- Oi! – respondeu num impulso, voltando a franzir o cenho. – Eu... Ah... Estava pegando algum ar puro e tal, sabe.

- Sei – ele riu. – Venha, vou te levar pra um lugar mais calmo.

Seguiu Gaara sem mais nenhuma palavra. Observava suas costas e o jeito gracioso como o ruivo andava – suave, quase sem encostar os pés nos chão, os ombros mal se moviam.

Ele a conduziu em seus passos gentis até os fundos da casa, de onde ouviu o eco das vozes das pessoas na sala por cima da música. Subiram por uma escada estreita até o sótão.

O sótão de Gaara, no entanto, era diferente do sótão escuro e poeirento da casa onde Sakura morara quando pequena. Havia estantes cheias de gibis e livros, um sofá de aparência confortável no meio, uma televisão e três videogames diferentes. Um telescópio próximo na janela, no ponto mais alto do lugar.

- Esse é meio que meu espaço – ele admitiu, ligando as luzes.

- Era aqui que você estava todo esse tempo? – Gaara fez que sim, aproximando-se da janela. Dava para ver todo mundo no jardim e na piscina. – Não me surpreende...

Sakura foi até ele, vendo as pessoas pequenas lá embaixo.

- Então, quem é sua Daisy? – perguntou, depois de um tempo.

- Minha o que?

- Sua Daisy. Você dá todas essas festas e fica aqui escondido... Por quem? Pra que?

- Ah, isso. Bem, eu não sou tão nobre assim, eu não tenho nenhuma Daisy – Gaara se deteve olhando o resgate bem sucedido de uma menina que estava bêbada demais para nadar. – É que eu tenho dificuldades de me relacionar com as pessoas. De falar com elas, de estar com elas... Às vezes eu sinto mesmo como se não gostasse delas. Como se minha conexão com todo mundo tivesse sido cortada – Gaara falava, abstraído. Parou de repente e olhou para Sakura. – Eu dou essas festas para não me sentir tão sozinho, acho. Gosto de ver a casa cheia de gente, de ouvir o barulho da música e das conversas... Mesmo que não me sinta preparado ou animado para participar disso.

- Oh – Sakura ficou dramaticamente boquiaberta, levando as mãos ao peito. – Com essa, você me conquistou.

- É sério – Gaara sorriu torto, sem graça, com a cabeça abaixada.

- Eu também tô falando sério. Você se parece comigo.

- Eu sei. Por isso te chamei aqui.

Sakura não sabia ao certo por que seu coração começara a bater em marteladas de uma hora para outra ou por que sentiu sua face ficar quente – coisa que nunca acontecia. Sentiu-se trêmula, e também perdeu a variação precisa de tempo entre estar na janela do misterioso ruivo e estar beijando-o. Eles se beijavam lentamente e tocavam o rosto um do outro, deslizando as mãos pelas peles como se quisessem gravar cada saliência, cada textura, todo o relevo das faces de expressões comumente fechadas.

Foi de Sakura a iniciativa de conduzir as mãos mais para baixo, pelo ombro, pelo peitoral de Gaara, e finalmente, com mais brusquidão, por baixo de sua camiseta.

Gaara a afastou instintivamente.

Eles se encararam, os olhos arregalados. O ruivo mantinha os dois braços esticados, com as mãos segurando os ombros de Sakura.

- Me desculpe – ele disse, sem olhá-la.

- Não, eu que apressei as coisas – Sakura afirmou, afastando-se mais. – Acho que vou indo, Gaara. Ainda tenho que encontrar alguém.

- Eu sinto muito – Gaara disse, metade embaraçado e metade irritado, quando Sakura já estava na metade do caminho para a porta. – É que eu não estou acostumado.

Sakura sorriu.

- Está tudo ok, eu sei que você não quis ser rude. Te vejo na escola, tá? Boa noite.

Ela desceu as escadas quase aos pulos. De felicidade. Sabia que, nesse tipo de situação, geralmente ficaria com raiva, mas não havia nenhuma pulga desse sentimento nela. Precisou fiscalizar os músculos do próprio rosto para não sorrir bobamente.

Bebia seu quarto copo de vodca da noite e decidira procurar Hinata, ou no mínimo Ino. Mal começara a andar, entretanto, viu a amiga descer as escadas. Acompanhada de Sasuke.

Possibilidades – desde Hinata ter subido com Sasuke para um sexo rápido a Sasuke tê-la raptado – passaram como flashes em sua cabeça. Correu até eles e puxou Hinata num abraço protetor.

- O que você fez com ela? – questionou rudemente o moreno, que lhe lançou um olhar de tédio.

- A gente só estava conversando – Hinata explicou, visivelmente embaraçada com os olhares alheios que Sakura atraíra.

- Espero que seja só isso mesmo – a rosada disse. Sasuke cruzava os braços. – Vem, eu tenho coisas pra lhe contar.

E começou a puxar o braço de Hinata, que no entanto, não se moveu.

- Desculpa, Sakura, mas eu estou indo para casa, não estou me sentindo bem. Avisa a Ino, por favor.

- Não, se você vai, eu também vou. Não quero ficar aqui sozinha. Mas como a gente vai?

Hinata olhou para Sasuke, sorrindo sem graça. O Uchiha encarou para a rosada de má vontade.

- Eu não vou pegar carona com ele. Ele provavelmente vai nos deixar num campo deserto fora da cidade e rir de nós o resto da vida.

- Problema seu – Sasuke respondeu numa voz sem ânimo, já dando as costas direto para a saída.

Hinata revirou os olhos e puxou Sakura pelo braço.

....

Sakura experimentou certo pânico ao saber que a casa de Hinata era mais próxima e que a amiga seria deixada em casa primeiro. Do jeito que Sasuke gostava da rosada, era bem capaz de realmente deixá-la num lugar deserto qualquer e ir embora. Olhava para ele de canto, analisando-o.

- Aqui! – Hinata disse de repente, apontando para o prédio onde morava.

Para sua surpresa, Sasuke também desceu do carro, deixando Sakura sozinha.

- Escute – ele disse, chamando a atenção de Hinata. – Você está muito, muito fraca. Se não comer logo, vocêvaidesmaiar e vão te levar pro hospital. Vai ser todo aquele inferno. Quando entrar em casa, qual a primeira coisa que vai fazer?

Hinata riu.

- Eu vou comer, pode ter certeza. Muito obrigada, Sasuke. E... Eu sinto muito pela sua amiga, mesmo.

O Uchiha comprimiu os lábios e balançou a cabeça. Entrou de volta no carro.

- Vai, me diz logo qual o seu endereço.

Sakura explicou. Na verdade, adoraria apenas descer e pegar um táxi para casa, mas na pressa, havia esquecido de pegar qualquer dinheiro.

- Valeu – disse rapidamente quando estacionaram, planejando sair do carro em tempo recorde. Mas Sasuke a jogou de volta no banco com um só braço.

- Tenho algo a perguntar pra você.

- E por que exatamente eu responderia? Me deu carona só pra isso?

Sasuke bufou. Mas nada respondeu.

- Itachi Uchiha. Meu irmão. Qual a tua relação com ele?

Seu coração pareceu parar momentaneamente. Mudou o olhar pra frente, sua visão rodou duas vezes.

- O único Uchiha que eu conheço é você, gato.

- Ai, não me enche. Sakura Haruno é um nome no mínimo incomum e ele te tem na lista telefônica. E eu já ouvi ele falando com você.

- E daí? O que você tem a ver com quem teu irmão fala no telefone? Credo, que creepy.

- Isso não é da sua conta. Anda, responde.

- Que saco, eu não conheço nenhum Itachi!

Abriu a porta bruscamente. Mas nem mesmo teve tempo de se levantar antes de ver alguém na frente de seu prédio que a fez recuar. Fechou-se novamente no carro, olhando fixamente para um ponto imaginário à frente.

- Que é? – Sasuke resmungou.

- Eu não posso entrar agora. Tem uma pessoa ali, aquele cara, tá vendo? Ele vai querer falar comigo e não vai me deixar em paz enquanto não conseguir. Mas eu não posso falar com ele.

Sasuke franziu o cenho.

- Você é estranha. Eu te ajudo se você me disser o que eu quero saber.

Sakura ficou em silêncio por meio minuto.

- Como?

- Fácil. Venha.

Assim que alcançaram a calçada, Sasuke passou o braço pela cintura de Sakura. Ela o olhou indignada, instantaneamente dando um passo para o lado.

- Quê que você tá fazendo, porra?

- Shh. É perfeitamente normal para dois apaixonados como nós. Eu sou seu namorado, não esqueça.

Sakura não conseguiu segurar a risada.

Sai estava encostado na parede, olhando a rua com seu olhar paciente. Vestia um sobretudo preto e parecia tão bonito quanto sempre, com sua pele branca e seus cabelos imensuravelmente lisos e pretos, que lhe caiam nos olhos. Sakura sentiu seu coração doer ao vê-lo de tão perto.

- Sakura, até que enfim – o rapaz disse, sem mudar de expressão. Sua face era como uma máscara. – Nós precisam-

- Minha namorada disse que não quer falar com você – Sasuke o interrompeu, rude. – E nós estamos com certa pressa para subir. Vá embora.

- Não sabia que você agora precisava de um porta-voz – Sai respondeu, olhando diretamente para Sakura, que mordeu o lábio.

- Se você continuar a incomodá-la, ela vai ligar para a polícia. Meu pai trabalha lá, tenha a certeza de que terá problemas.

Sai suspirou, fechando os olhos.

- Pensei que pelo menos você teria coragem para falar comigo.

Passou por Sakura, que abaixou a cabeça. Olhou para trás, vendo Sai desaparecer por entre os carros.

- Seu pai trabalha mesmo na polícia?

- Não, só falei aquilo pra sei lá, assustar ele.

- Ele não se assustaria com esse tipo de coisa. Enfim, vamos subir e eu te conto. Sinto que ele ainda pode estar nos vigiando.

Sasuke deu de ombros e a seguiu.

Abriu um sorriso ao ver Shin. O gato foi direto se enroscar em seus pés. Pegou-o no braço e se jogou no sofá.

- O negócio é o seguinte: seu irmão e eu saímos algumas vezes ano passado e agora ele não para de me importunar querendo mais, mas sabe, já deu...

- Por que eu tenho a leve impressão de que isso é mentira?

- Porque você não conhece seu irmão.

- Conheço o suficiente pra saber que sempre é o contrário que acontece.

- Uma hora ele tinha que encontrar alguém que desse o troco, né... Sempre tem uma primeira vez.

- Algo me diz que não seria com você – Sasuke provocou e Sakura fez uma careta. – Vamos, não foi esse o tipo de conversa que eu ouvi.

- Desculpa, essa é a verdade – Sakura levantou-se, indo até a janela. – Se você duvida, devia perguntar pra ele... Droga!

- Que foi?

- O Sai! Ele voltou! Ainda está lá embaixo! Deve ter desconfiado!

- O cara é doido mesmo, é? Enfim, se você não me diz a verdade, eu também não te ajudo.

Sakura se virou, desesperada. Sasuke andava em direção à porta. Correu com tudo e o ultrapassou. Colocou-se à porta e trancou-a.

- Quê você tá fazendo, abre essa porra!

- Não! Sente-se, tem cerveja na geladeira! Relaxe!

- Você sabe que eu te derrubo num sopro, me dá logo essa chave!

- Não!

Sasuke tentava alcançar a chave e Sakura se esquivava habilidosamente. Logo estavam numa espécie de dança desajeitada. Os corpos friccionavam um no outro. Até que Sasuke conseguiu prender os dois braços dela e se pôs a procurar a chave.

- Você não vai achar nos bolsos, sabe.

Sasuke parou para encarar aquela face zombeteira. Sakura piscou os olhos. Não sabia se era pela bebida que havia tomado, ou pelo calor do momento, ou tudo junto... Mas pela primeira vez, percebeu o quão bonito Sasuke era. Seu olhar preto e profundo, seu cabelo desajeitado, sua boca que se entortava cheia de charme ao falar e sua voz grave. Até se parecia estranhamente com Sai... Subitamente, cada limite e detalhe do seu rosto merecia atenção. Sentiu seu corpo ficar quente. Sentiu Sasuke se aproximar, passando o braço por suas costas. Ele a olhava fixamente. Sakura esqueceu tudo e se inclinou para beijá-lo.

- Hah! – ele se afastou de repente, com um sorriso enorme e incômodo. Incômodo para Sakura. Exibia a chave em seus dedos. – Francamente, atrás do vestido?

- Seu!

Sasuke riu, balançando a cabeça para os lados.

- Você realmente achou que eu fosse te beijar? Haha, o Gaara não deu conta do recado, foi?

- Grrr!! Como diabos você sabe sobre o Gaara e eu?

- Você acabou de me dizer.

Sasuke foi embora. O sorriso zombeteiro que exibiu até o final fez Sakura cerrar os punhos e machucar as mãos com as próprias unhas.


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