When You're Strange escrita por Jamie Hermeling


Capítulo 11
Estou de joelhos por você




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Minha cabeça estava cheia de pensamentos conflituosos revestidos de sentimentos turvos. Eu estava no carro com Myuu, havíamos acabado nosso almoço e eu lutava silenciosamente para não chorar.

Eu sabia que era normal ela se preocupar comigo e querer que eu mudasse. Mas eu sabia que nada ia mudar, eu não conseguia mudar. E era isso que me deixava triste e desesperada.

Não sabia se tinha condições de voltar para a escola, ficar no grêmio e disfarçar todas as minhas preocupações num sorriso como o de Naruto, mas ficar em casa com a minha tia, naquele momento, era a pior opção. Foi por isso que pedi para ela me deixar na Loyal Trenton High School.

Quando abri a porta do Grêmio, o local estava uma bagunça: mais gente que o usual em pé, falando alto e andando pra lá e pra cá. Ao me ver, Temari saiu do burburinho e dirigiu-se a mim, com mais rugas na testa do que o usual.

Ainda bem que você chegou, isso aqui está um pandemônio.

Percebo. O que houve? Cadê o Naruto?

Eu também gostaria de saber. Naruto resolveu tirar férias logo hoje. Os testes da próxima semana sumiram, desapareceram. O diretor está uma fera, e a culpa recaiu sobre o Naruto, porque dos estudantes, ele é o único que tem a chave da sala dos professores.

Mas isso é injusto! Digo, dos estudantes ele é o único, mas deve haver várias outras pessoas com acesso! – eu não conseguia imaginar Naruto fazendo algo assim. Era uma das pessoas mais confiáveis que eu conhecia.

Eu sei, mas tente dizer isso pra eles. Estou tentando ligar para o Naruto, mas ele não atende – Temari suspirou, colocando as mãos na cintura. – Isso me preocupa, sabe. Ele pode até ser suspenso ou expulso.

Não disse mais nada. Fiquei observando enquanto Temari tentava outra vez falar com Naruto. Os problemas dele e as consequências embaçaram ainda mais minha visão. Fragmentos da minha conversa com Myuu no almoço vieram com brusquidão e fizeram minha cabeça rodar. Me senti sufocada, como se tivesse água salgada entrando nas minhas artérias e no meu cérebro. Em meio a tudo aquilo, eu só pensava em uma coisa: colocar meu almoço para fora. Meu estômago estava fraco demais para aguentar qualquer comida. Abri a porta depressa e corri até o banheiro, pedindo para chegar a tempo.

Eu queria descobrir um lugar onde pudesse colocar meus pensamentos incômodos e meus problemas para girarem e desaparecerem, assim como meu almoço.

Sentei no chão e me encostei na divisória. Não sei quanto tempo fiquei ali. Minha garganta ainda ardia. Comecei a sentir um frio imenso, e me abracei. Minhas lágrimas vieram, se esfriaram e secaram em meu rosto.

Minha mente ficou completamente vazia por minutos que foram como eras, como se eu tivesse me diluído no ar.

Foi aí que relembrei de Naruto, da confusão com as provas e a realidade roubou meus sentidos de novo.

Voltei para o Grêmio, a passos lentos e firmes. Naruto já estava lá, com as mãos na cabeça, sentado. Abriu os braços, abatido.

- Eu não sei quem fez isso, mas não fui eu. Essa chave ficou comigo o tempo todo, sem chance de alguém ter pegado.

- Calma, Naruto, nós vamos descobrir quem fez isso, vai ficar tudo bem – uma menina que eu não conhecia disse, colocando as mãos nos ombros do loiro, que tentou sorrir agradecido, mas sua expressão era totalmente descrente.

- Nós temos que falar com a direção – eu disse de repente, mais baixo do que pretendia. – Precisamos que eles confirmem que todos os funcionários estão com suas chaves.

Naruto levantou a cabeça e me olhou contente.

- Isso mesmo! – ele andou apressado até mim e pegou minhas mãos. – Você é um gênio! Vem comigo lá na direção?

Fiz que sim, e ele saiu me arrastando porta afora. Entretanto, mal a batemos, ele se virou para mim, de cenho franzido.

- Você está gelada – começou, preocupado, olhando meu rosto como se procurasse em cada detalhe dele o indício de alguma doença. – e pálida!

- Só estou um pouco tonta... – murmurei, esperando que ele se alarmasse menos.

- Não prefere ir pra casa? Você não parece bem, posso te deixar, se quiser.

- Tudo bem, minha tia deixou o carro comigo – menti, pensando que talvez, fosse melhor mesmo ir para casa. Eu não precisava que ninguém me visse tendo um ataque por falta de glicose.

- Tem certeza que consegue dirigir assim?

- Tenho – garanti com um sorriso. Talvez assim, Naruto parasse de se preocupar.

- Tudo bem – ele assentiu, retribuindo meu sorriso – Melhoras pra você.

Melhoras pra você. Melhoras para quê, exatamente? Nada. Eu não precisava melhorar de nada.

...

Myuu me olhou de esguelha quando entrei. Via TV, com pés descalços no sofá. Tinha tirado o dia de folga para ficar comigo, conversar. Mas eu não tinha mais a menor vontade de conversar, e detestava até a possibilidade. Na verdade, a única coisa que eu queria agora era a minha cama, porque sentia que podia cair a qualquer momento, e pelo menos, cair na cama não quebraria nenhum osso. Nesse período até a próxima manhã, metade eu dormi, e outra metade fingi dormir.

Minha rotina era imutável e indispensável – ir ao banheiro, ir à balança, trocar de roupa, fazer o café de Myuu e dizer que já havia comido. Nesse dia, porém, de fato forcei meu estômago a guardar uma torrada e um suco de laranja. Percebi que minha tia acordara um pouco mais cedo – uma provável tentativa de controlar meu desjejum.

Fui correndo para a escola, e quando entrei, me dirigi direto ao Grêmio. Eu guardava alguma ansiedade e curiosidade sobre o caso de Naruto.

Ele conversava com outras três pessoas, e parecia um pouco menos abatido. Assim que me aproximei, ele se virou para mim.

- Eu tenho que te agradecer um milhão de vezes – ele proclamou. – Eu fiz o que você disse, e adivinha? Kabuto, um dos funcionários, estava sem sua chave. Ele perdeu, simplesmente perdeu. Eu não sou mais o culpado – suspirou, acompanhado de um sorriso. – E você, está melhor?

Fiz que sim, e antes que pudesse inventar alguma mentia afirmativa, o olhar de Naruto mudou-se para algo atrás de mim. Virei-me, e lá estava Sakura, na porta, com metade do corpo para dentro, chamando o loiro. Ele sorriu estranho e foi rápido até ela.

Eu peguei algumas fichas para separar, pelo menos adiantaria o trabalho antes de as aulas começarem. Naruto apareceu apenas três minutos depois, afobado e um tanto irritado. Sentou-se ao meu lado e pôs as mãos na cabeça. Não falou nada. O sinal soou, indicando o começo das aulas, mas ele não se moveu. Não sabia o que Sakura falara, mas pelo visto, era melhor deixar o loiro sozinho, e foi isso que eu fiz.

Quase tive um susto quando, ao entrar na sala, vi o ruivo encostado perto da janela, de braços cruzados. Ele olhou para mim por um segundo, e depois voltou a encarar a parede oposta.

Eu nunca me daria bem com espanhol e suas pronúncias de “B” do lugar de “V”, as línguas presas no “Z” e aquelas palavras rápidas, atropeladas. Ino, ao contrário de mim, parecia adorar, e até tentou uma conversação comigo naquele idioma, aproveitando a aula. Eu dei de ombros, sem saber continuar. No intervalo, ela saiu me puxando para fora, dizendo que era muito ruim eu ficar sozinha naquela sala silenciosa. Entretanto, antes mesmo que pudéssemos alcançar a porta, fomos barradas por uma séria Sakura.

- Preciso falar com você – ela disse firme, para mim.

Olhei para Ino, que deu de ombros e acabou saindo corredor afora. Segui Sakura até sua cadeira, a última, me perguntando o que poderia ter deixado a rosada daquele jeito, e se tinha alguma relação com a irritação de Naruto.

Assim que se sentou, Sakura suspirou, e passou as mãos nos cabelos, como se não soubesse como começar. Olhou para o teto e para as paredes, esfregou as mãos.

- Tá. Olha, eu beijei o Naruto, sabe? Ontem, depois da escola. Na verdade, ele me beijou, mas dá no mesmo. E anteontem, eu me encontrei com o Sasuke, aqui. Ele tinha a chave do Kabuto e me convenceu a ajudá-lo a entrar na sala dos professores. O miserável disse que só queria pegar a ficha dele, porque havia um problema lá que poderia dar em suspensão pra ele... Enfim, longa história. Mas hoje eu ouvi toda a conversa das provas e de como o Naruto está levando a culpa, e foi o Sasuke!

- Olha, Sakura, você pode ficar tranquila, eles já sabem que o Kabuto perdeu a chave, não estão mais colocando a culpa no Naruto – eu disse, tentando acalmá-la, apesar da minha própria surpresa. Por que, afinal, Sasuke faria aquilo? – Foi isso que você falou pro Naruto antes da aula?

- Foi. Ele ficou uma fera... Disse que não esperava isso de mim. Mas olha, eu sou uma anta mesmo. Tipo, não é como se eu estivesse apaixonada por ele nem nada, mas eu não queria que ele ficasse com raiva de mim, sabe? Aliás, foda-se, se quiser ficar com raiva de mim, que fique – murmurou a última parte, com os braços cruzados. Tive que segurar um riso.

- Calma, foi só irritação momentânea, o Naruto não me parece ser do tipo rancoroso. E acho que ele simpatiza muito contigo.

Sakura sorriu, meio desconcertada. Naquele momento, eu percebi que sua confissão e seu sorriso infantil eram de uma pessoa solitária. Ela estava com medo de perder a conexão com Naruto, e ficou feliz com o conforto que eu tentei proporcionar.

Sakura, ao contrário do que aparentava, se mostrava agora carente e frágil.


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