A rainha deu a Caspian todas as devidas explicações sobre o tempo difícil que Nárnia estava prestes a enfrentar, e completou dizendo a ele qual a sua ligação com tudo aquilo. O rapaz ouviu tudo pacientemente tentando compreender mesmo achando que aquilo tudo fosse muito difícil de ter algo a ver com sua vida. Por fim, Lucia estava vagando pelo gabinete inteiro enquanto falava sentindo-se também nervosa por estar na presença de um rei de quem ela tanto ouvira falar por todos aqueles anos desde que era apenas uma garotinha. Quando finalmente concluiu seu pensamento a mesma se prostrou diante da mesa mais uma vez e disse:

– Consegue compreender? –seus lindos olhos azuis fitaram os olhos castanhos do rapaz.

– Sinceramente? –ele disse com os cotovelos escorados sobre a mesa e com as mãos cobrindo a boca. – Eu acho tudo isso uma grande loucura ou um terrível engano. Talvez, faça algum sentido, mas... –ele respirou profundamente se jogando para trás na poltrona. – Eu não sei... Não sou eu.

– Talvez precise de um tempo para se acostumar com a ideia. –concluiu Lucia insatisfeita.

– Você realmente acredita nisso? –ele a fitou a face.

– Sinceramente? –ela o encarou. – Sim.

– Eu não posso ser sua maior esperança majestade.

– Você não teria vindo parar aqui se não tivesse alguma ligação com este mundo Caspian. Aslam diz que ninguém chega a Nárnia por acidente, e sim apenas quando esta terra precisa daquele que foi chamado. Eu confirmo que chamei por você... –Lucia dizia sentando-se. – Eu o chamei, por que preciso de você.

– Não sei o que dizer... Sinto muito decepcioná-la.

– De um tempo a si mesmo. Vai acabar aceitando a verdade...

– E se eu não for quem você diz que eu sou?

– Eu acredito fielmente que sim. –ela sorriu docemente mostrando toda sua esperança e admiração depositadas sobre o homem a sua frente. – Venha.

Ela se levantou subitamente com um sorriso animado na face e se dirigiu ao outro lado da mesa estendendo sua mão para o rapaz, que a olhou com um olhar curioso e então se levantou tomando a mão da rainha que o conduziu para fora do gabinete. Ao passarem pelo corredor os olhos do guarda real fixaram-se curiosos na cena enquanto a rainha avançava rapidamente pelo corredor carregando o possível rei consigo. Caspian por sua vez olhava admirando, a moça a sua frente enquanto esta segurava firme sua mão como se o conhecesse há décadas. Um sorriso curioso e gracioso brotou sem querer na face do rapaz e se manteve ali até que Lucia finalmente chegou aonde desejava. Diante da grande sacada com vista para a praia, Lucia sorriu e escorou suas mãos sobre a marquise olhando para o imenso oceano que beijava a areia com suas ondas espumantes.

– Veja! –ela disse voltando os olhos para Caspian que a encarava com certo encanto.

Ele desviou os olhares até então destinados a rainha e os lançou a frente admirando a beleza impecável de tal paisagem que mais lembrava um sonho ou um quadro perfeito.

– Não é lindo? –disse Lucia.

– É incrível! –ele constatou mantendo os olhos perdidos na cena.

– Isso é Cair Paravel. Minha amada Cair Paravel! –ela disse com orgulho. – Tudo isso também é seu.

Caspian voltou a encarar a rainha, dessa vez mantendo a expressão séria, mas tranquila na face. Lucia tinha um sorriso estampado nos lábios neste momento e mal conseguia contê-lo, na verdade suas emoções estavam eufóricas, ela jamais poderia imaginar estar diante do grandioso rei Caspian X, sobre o qual ela ouvira tantas histórias, ela estava ansiosa para lhe contar sobre cada uma delas, e mal conseguia segurar a empolgação de seu coração, tanto que sequer notou que tinha atravessado todo um corredor segurando a mão do provável rei. Fora uma reação tão espontânea que sequer foi percebida pela rainha.

– Foi aqui que a vi. –confessou o moreno olhando para um ponto na areia.

– No seu sonho? –ela disse curiosa.

– É. Foi bem ali... –ele apontou o dedo indicador para o lugar perto das dunas cobertas de verde.

– Isso prova que estou certa! –ela sorriu fitando-o na face. – Como poderia se lembrar deste lugar sem nunca telo visto? –Caspian a encarou tendo de concordar.

– Então eu sou rei! –ele respirou profundamente erguendo uma das sobrancelhas e olhando a rainha.

– Não apenas um rei Caspian. –ela disse em tom de profunda admiração. – Um grande rei! Você foi o maior rei de todos os tempos desde os primeiros reis criados neste mundo. O grande navegador! –esta parte foi dita em ênfase.

– Navegador? –ele riu erguendo as duas sobrancelhas.

– Sim! –ela sorriu orgulhosa.

– Quer dizer que eu tinha um barco?

– Um barco? –ela riu. – Você possuía o navio mais bonito e mais imponente que velejava por estes mares! –Lucia não percebia, mas dizia tais palavras com muita excitação.

– Você parece gostar dessas historias! –ele disse um pouco sem graça, mas começando a gostar da ideia de ser rei vendo o brilho nos olhos de Lucia.

– Ah... –ela acabou percebendo sua animação. – Eu ouço tais histórias desde muito menina, bem antes de me tornar rainha. Você sempre foi uma inspiração pra mim. A maneira como governou seu povo. – havia paixão naquelas palavras e isso deixou Caspian confortável.

– Tem mais algum título que você tenha se esquecido de citar? –ele sorriu para não deixá-la sem graça e não acabar ficando também diante de tanta admiração. – Sobre mim, majestade?

– Caspian X possui muitos títulos! –ela sorriu abertamente como uma garota comum, exatamente como sorria quando estava sozinha com o amigo Tumnus. – Você conhecerá todos eles em breve!

– Acho que posso acabar me acostumando com isso. –ele sorriu empinando o nariz e olhando a frente.

– Mas primeiro precisa de vestes novas! –ela sorriu olhando suas vestes estranhas.

– O que? –ele baixou os olhos e abriu seu casaco longo. – O que tem de errado com minhas roupas? – olhou curioso para a rainha.

– Quantos homens vestidos como você encontrou em sua curta estada por aqui? –ela sorriu gentilmente.

Ele franziu a testa se lembrando das roupas que viu os únicos homens que encontrou vestindo. Eram calças largas, e estranhas que em nada lembravam o seu jeans um pouco justo. As botas eram a única coisa que se parecia com os seus coturnos marrons. As camisas, no entanto eram tão largas quanto, mas ficavam coladas ao corpo por causa dos coletes grossos de batalha, sendo estes usados por soldados. Caspian não se importou em ter que mudar de roupa, mas ficou apreensivo ao tentar imaginar o que os homens daquele lugar costumavam vestir por baixo das calças.

– Venha, eu pedirei que meu fiel conselheiro lhe ajude com essas vestes estranhas. –ela disse se afastando da sacada.

Caspian decidiu seguir a rainha mais uma vez por um longo corredor, até que ambos chegassem a um cômodo no segundo andar do palácio onde as amas já esperavam pelas ordens da rainha. Diante da mulher, as moças que permaneciam de cabeça baixa se curvaram segurando as saias dos vestidos e aguardaram:

– Greta e Célia! –disse Lucia fazendo com que as mulheres a olhassem. – Nosso convidado necessita de roupas novas e confortáveis. Providenciem também sapatos e deixem em seus aposentos.

– Sim majestade! –disseram as moças jovens erguendo os olhos timidamente.

– Organizem o cômodo para que nosso hospede fique a vontade. –ela seguiu enquanto Caspian admirava seu poder sobre todos os súditos.

– Mais alguma coisa majestade? –disse uma delas.

– Deseja mais alguma coisa? –ela perguntou ao rapaz.

– Ah... Não. Tudo bem. –ele respondeu.

– Ótimo. Podem ir. –disse Lucia. – Bem, fique a vontade... Caspian. –ela ficou em duvida em chamá-lo de rei ou pelo primeiro nome e acabou usando a segunda opção. – Se precisar de ajuda para se vestir, eu pedirei que Tumnus o auxilie, imagino que não vá se sentir a vontade para se trocar diante das amas.

– Oh! Não, tudo bem, eu me viro.

– Tudo bem! –ela sorriu. – Quando estiver pronto uma das amas o acompanhará até a sala de estar onde poderá fazer suas refeições. Eu estarei esperando.

– Obrigado!

Assim Lucia sorriu mais uma vez e fez um aceno de cabeça logo se retirando da frente do cômodo e seguindo pelo corredor deixando Caspian diante da porta dos aposentos.