Cartas Em Chamas. escrita por Hitomi Ai


Capítulo 11
Memórias Agonizantes




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/399899/chapter/11

A pulseira emitindo aquela luz intensa. Outra batalha. Fui surpreendido a ser acordado às 5 da manhã por essa pulseira. A primeira coisa que fiz foi abrir meu guarda-roupa para ver as roupas da batalha dessa semana. Nada escandaloso, ótimo, pela primeira vez havia roupas normais ali. Roupas normais demais, como de um garoto de 14 anos qualquer indo passear ou ter um encontro com a namorada. As roupas de Zain e Louis eram nesse estilo também. Havia uma escova de cabelo na cabeceira.

- Mas o que isso está fazendo aqui?! –Perguntei enquanto apontava para a escova de cabelo.

- De manhã já estava aqui. Quer? –Disse Zain.

- S-sim...- Eu disse enquanto pegava a escova meio desconfiado.

Fui para a frente do espelho. Encarei bem o meu reflexo e por fim comecei a escovar o meu cabelo para trás. Quando olho para meu lado esquerdo, vejo Louis e Zain me encarando.

- Er... Alguma coisa errada? –Pergunto.

- O seu cabelo... –Zain ficava se segurando para não rir.

- Acho que você penteou demais. –Disse Louis enquanto apontava para o meu cabelo.

- Você está parecendo uma garota! –Disse Zain.

- Aaah! Por que vocês vão ficar prestando atenção no meu cabelo?! Estamos indo para uma batalha!

- Ok, ok... –Disse Louis. –Agora o que acham de tomar café da manhã?

- Claro!! –Disse Zain enquanto pegava uma mochila cheia de doces e ia à copa cozinha buscar chocolates quentes.

Fiquei olhando fixamente para Louis. Estava me lembrando de quando ele me abraçou. Foi algo inacreditável. Então na hora Louis percebe que estou olhando para ele e então eu desvio o olhar.

- Aqui estão os chocolates quentes! –Disse Zain.

Na hora eu me levanto e vou em direção à porta.

- Ah? Você não vai tomar café da manhã, Masao? –Zain pergunta com uma expressão bem surpresa.

- Não, eu não estou com fome... Irei esperar vocês do lado de fora.

Quando eu saio, me sento no chão e fico encarando aquele quadro de copas.

Enquanto isso, Louis e Zain estavam conversando dentro do quarto:

- Ei, você acha que tem alguma coisa errada com o Masao? Ele está estranho desde ontem... E às vezes seu rosto fica pálido, e outras, corado demais.

- Vá saber... Aquele garoto é cheio de mistérios... –Disse Louis enquanto remexia a sua xícara de chocolate enquanto dava um sorriso.

Sinto meu estômago roncar. Eu realmente estava com fome. Mas não queria tomar café da manhã com eles, não conseguia mais olhar para Louis ou falar com ele direito. Nisso, os dois saem.

- O que está fazendo sentado aí? Vamos nos teletransportar. –Disse Louis.

- T-tá...

Fomos até o campo de batalha. Quando chegamos lá, vi o chão se distorcer. Parecia que tudo estava se distorcendo. Minha visão estava fraca, tentava arregalar meus olhos para ver tudo melhor. Tudo está escurecendo. Zain vem até a minha direção e segura meus ombros me chacoalhando.

- Masao! Masao! Ei, você está bem?!

Vendo que não há resposta, ele suspira. Meus olhos vão se fechando cada vez mais. Então Zain ergue a sua mão e me dá um tapa muito forte em meu rosto.

Louis ficou com os olhos arregalados. Recuei um pouco para trás enquanto segurava o meu rosto. Tudo voltava a clarear.

- ZAIN!!!! –Exclamou Louis.

- M-Masao, me desculpe, mas... Você não estava me respondendo e...

- Não, não. Está tudo bem. –Eu forçava um sorriso. –Eu não estava me sentindo aqui, parecia que tudo estava desmoronando... E seu tapa me “acordou”.

- Ufa...

- MAS DA PRÓXIMA VEZ, VÁ COM MAIS CALMA!!!!

- hehe, ok...

Então todos os jogadores são surpreendidos por J e sua entrada “triunfal” por trás do campo de batalha.

- Olá meus queridos jogadores!!!! É um prazer revê-los!!!! Vocês poderiam me seguir, por favor?!?!

Todos os jogadores restantes se entreolharam. Não íamos nos teletransportar? O que seria dessa vez? Mas temendo não obedecermos e acabarmos mortos, resolvemos seguir J. Fomos passando corredor por corredor. J não parava de tagarelar, os jogadores não paravam de conversar. Aquilo estava mais para um passeio para novatos conhecerem seus novos colégios. Mas sabíamos que não era isso.

Chegamos à uma sala dourada. Por que tudo aqui é sempre tão colorido? Havia vários quadros exuberantes, diferentes dos quadros dos dormitórios que eram meio muito loucos.

- Por favor, fiquem à vontade! –Disse J enquanto fazia uma reverência e logo em seguida desapareceu no meio do nada.

Todos ficaram confusos, mas resolveram explorar o local. Parecia uma “sala-corredor” de um palácio dourado. Era muito fino e elegante. Todos resolveram admirar os quadros, mas algo aconteceu. A luz ficou um pouco mais fraca, e os quadros pareciam vivos agora. As pessoas começaram a gritar. Os quadros estavam reproduzindo as piores memórias de cada jogador.

Enquanto isso eu estava olhando o quadro de um jardim. Nem estava me importando em onde estavam Zain e Louis. Parecia que eu estava entrando no quadro, mas não estava. Então comecei a me ver quando era bem pequeno. Minha mãe estava numa cama de hospital doente. Eu estava do lado de fora querendo entrar aonde minha mãe estava.

- Mamãe!!! Me deixem ver minha mãe, eu quero a minha mãe!! –Eu berrava com lágrimas nos olhos. Alguém que parecia ser médico me dizia para não entrar.

Fiquei paralisado vendo a cena. Não queria mais me lembrar daquilo. Não mais.

Em seguida, abriram a porta. Minha mãe estava numa maca sendo levada pelos médicos à algum lugar. Eu tentava alcança-la, e quando cheguei mais próximo dela com lágrimas escorrendo pelos olhos, comecei a gritar.

- Mamãe!!!!! Para onde estão lhe levando?!

- Masao... –Ela diz com um leve sorriso no rosto. –Tome este amuleto. Masao... Seja feliz. E tenha uma longa vida. Isso me faria “dormir” em paz...

Fiquei parado observando minha mãe sendo levada. Lágrimas agora de sangue escorriam pelo meu rosto. Meu pai veio por trás de mim segurando meu ombro.

- Guarde este amuleto com todo o seu coração. É importante.

Enquanto assistia a cena, recuei um pouco. Parecia que eu estava ficando fora de mim.

Em quando isso, Zain assistia sua vida de solidão, mas não estava chorando. Parecia totalmente acostumado com o que estava vendo, como se fosse um DVD que repetira várias vezes.

Louis assistia toda a cena que estava passando de sua vida com as mãos no bolso. Não se importava. Não havia nada lá. Era um imenso branco. Aquilo não tinha efeito sobre ele, sua vida não teve nenhuma emoção forte para ser lembrada no futuro. Então, ainda com as mãos no bolso, saiu do local e continuou a andar pela sala-corredor.

Em quanto isso, eu continuava a ver aquela cena que eu gostaria de esquecer.

“Por que não saio daqui?” Pensei.

Minhas pernas estavam paralisadas, não conseguia me mover. Algo estava fazendo com que eu continuasse assistindo tudo aquilo. Em seguida, começou a rodar cenas totalmente brancas e vazias até que apareceu eu de novo, só que com 10 anos de idade. Eu estava sentado em algum lugar de um aeroporto esperando alguém ou alguma coisa. Estava tudo vazio. Eu estava com um sorriso no rosto.

- É hoje que meu pai volta para casa! –O Eu daquela cena disse enquanto balançava as pernas. O Eu daquele momento estava muito ansioso e feliz.

Só então eu me lembrei. Pus minha mão esquerda sobre minha boca. Uma lembrança amarga estava vindo à tona. Mais lágrimas caíam, eu já sabia o que ia acontecer.

Então uma das TVs de lá do aeroporto ligou. Estava aparecendo uma notícia.

“Acabamos de ter notícias. Um avião com destino para cá, Berlim, acaba de explodir. Não sabemos quantas pessoas morreram, estamos indo verificar isso agora, mas parece que há muitos feridos. Erika Clärson direto de Berlim, aguardando por mais notícias.”

O eu da cena olhou fixamente para a televisão. Então correu para a enorme janela de vidro do aeroporto.

- Papai... Espero que você esteja bem...

Eu recuei mais ainda até dar de costas na outra parede. Queria sair dali, queria ter mais forças para sair correndo dali.

Tentei virar a minha cabeça, mas algo fazia com que eu continuasse olhando para a frente.

“Não. Olhe. Olhe isso e tenha as suas memórias à tona de novo. Isso dói? É doloroso? Sinta ainda mais a dor perfurando o seu coração de modo incontrolável. Prove um pouco da amargura sem desviar a atenção.” Ouvi uma voz dizendo isso.

Comecei a estremecer. Então minhas pernas desmoronaram. Fiquei olhando com olhos arregalados para tudo aquilo. Depois começou a mostrar uma cena alguns dias depois do ocorrido.

O eu daquela cena estava de preto juntamente com outras pessoas.

- Coitadinho, tão novo... –Disse uma pessoa da cena.

- Deve ser tão doloroso... –Disse outra.

Reconheci aquilo. Era o funeral de meu pai. Eu estava bem perto de seu corpo que estava num altar, na igreja. Então minha tia, senhora Muffim, chega até mim.

- Masao...? Você não gostaria de ir morar comigo?

E foi aí que minha nova vida começou.

Todas as pessoas se entreolharam, dizendo que eu era muito novo para perder meus pais. Todos com aquelas caras de pena se direcionando para mim. Não suportava aquilo, não suportava o sentimento de pena. Saí correndo da igreja.

O vídeo acabou.

- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO! Não, não, não, NÃO! Não era para ser assim! Eu odeio pena, eu odeio eles, eu odeio todos eles!!!!!

Pus minhas mãos em meus rostos enquanto gritava. Louis ouviu e correu imediatamente para mim. Muitas pessoas estavam se matando agora com medo de ficarem ali para sempre. Umas pessoas cometiam suicídio, e outras homicídios para “aliviar” a sua dor.

Comecei a correr. Correr para lugar nenhum, mas comecei a correr. Louis corria atrás de mim tentando me alcançar. Quando virei para olhar ele, não sei por que, mas olhando para sua face, me lembrei da expressão de pena que as outras pessoas faziam para mim. Horrível, horrível. Terrível.

- Masao!!! Masao, venha cá!!!!!!

- Não!!! Não se aproxime!!! Eu odeio essa expressão! ODEIO, ODEIO, ODEIO, ODEIO! REALMENTE ODEIO VOCÊS!!! ODEIO TODOS VOCÊS!!!

Louis, já desconfiando de minhas memórias estarem um pouco bagunçadas, consegue me alcançar e me puxar. Eu estava com lágrimas nos olhos. Louis me abraçou novamente.

- Você não sabe que esse é o verdadeiro objetivo deles?! –Ele praticamente gritou. –Fazer os jogadores ficarem fora de si até se matarem! E eu não vou deixar você se matar! Você mesmo disse que tínhamos uma aliança, não é?!

Arregalei meus olhos. Ele estava certo. Eu já estava saindo de mim. Então apesar da aflição, eu meio que consegui relaxar. Relaxei até demais que caí no sono.

- E-Ei, você não vai desmaiar aqui, não é...?

Mas já era tarde, eu já estava totalmente inconsciente. Não sabia se eu estava dormindo ou desmaiado. Então Zain chega.

- Masao, Louis! –Ele grita.

- Ah, oi. –Diz Louis.

- Masao desmaiou? –Ele pergunta enquanto me analisava.

- Sim, é o que parece.

Então uma mensagem holográfica aparece em cima, notificando todos os jogadores que 316 jogadores morreram nessa “batalha psicológica.” Não houve muito sangue. Todos ficaram com os nervos à flor da pele, exceto Louis e Zain. Então todos foram redirecionados direto para seus dormitórios.

Quando eu acordei, estava na minha cama. Eu me lembrava do ocorrido. Mas queria esquecer.

Zain vem até mim.

- Oi!! Dormiu bem?

- S-sim. Como eu cheguei até aqui?

- Are? Você não se lembra? Louis lhe carregou até aqui.

Meu rosto corou.

- Sério? Legal...

- Ele até disse que você desmaiou no ombro dele. Aí nós passamos na enfermaria, e era só uma fraqueza por você estar de jejum. Da próxima vez, tome café da manhã!

- Tá...

Me cobri todo com o edredom. Estava preocupado com o dia do Juízo Final. Já estava próximo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Aaaah nossa, finalmente não é!
Ficar sem internet foi horrível, e eu tentando conectar com o wi-fi e NADA! Aí depois de um looongo tempo, eu finalmente tive a ideia BRILHANTE de ligar o roteador do meu celular, para a cessar a internet (nossa...) agora cá estou , um pouco atrasada, mas o importante é que eu consegui! Ufa...
( Cara, como é que eu posso ter esquecido que o meu celular tem roteador wi-fi? Nossa...) Espero que tenham gostado desse capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cartas Em Chamas." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.