Abri meus olhos lentamente. Eu estava no meu quarto. Na cama de Louis, ao lado da janela. Zain estava dormindo na minha cama, e Louis estava na copa cozinha. Minha cabeça latejava. Então todas aquelas imagens vieram à tona em minha mente. Sangue, morte, jardim, flores de brancas para vermelhas, avisos, J, caixinhas mágicas, teletransporte, Lya. Dei um longo suspiro. Virei minha cabeça para o lado e olhei a minha mão. Não estava suja de sangue. Ela estava um pouco áspera, mas não estava suja. Havia um corte na minha testa, e marcas de mão no meu pescoço daquela hora em que a garota tentava me enforcar. Nesse momento Louis volta da copa cozinha.

- Está acordado? –Ele perguntou.

- O que você acha? –Perguntei em tom sarcástico.

- Você até que está de bom humor hoje –Ele respondeu.

- Quanto tempo eu passei dormindo?

- Dormindo? Eu não diria dormindo. Diria inconsciente. Três dias.

- TRÊS DIAS? –Levantei assustado da cama.

Cambaleei um pouco, parecia que eu não andava há anos.

- Ei! Não levante assim, senão você vai cair! –Disse Louis me segurando.

Comecei a tremer. Não era de frio, não sabia exatamente do que era. Abaixei minha cabeça. Lágrimas caíram no chão.

- Eu já cansei... –Eu disse com a voz trêmula.

- Do quê? –Perguntou Louis enquanto olhava para mim.

- Morte, sangue... Eu vejo centenas de pessoas morrendo em minha frente uma vez por semana...!

Então Louis me abraçou. Fiquei espantado. Edward Louis não é o tipo de pessoa que abraçaria outra. É frio demais. Mas o abracei assim mesmo.

- Sabia que você ia fazer isso.

Eu deveria ter dado uma resposta na cara dele. Mas tive de me conter, aquele momento era muito raro. Chorei mais e mais. Depois nós nos sentamos.

- Nós vamos sair daqui... Vivos, não é? –Perguntei enquanto secava as lágrimas.

Louis olhou um pouco para cima.

- Nós fizemos uma aliança. Prometemos que íamos sair daqui vivos.

- Isso é verdade, mas... Se ao menos eu soubesse que isso iria acontecer, teria dado uma despedida apropriada. Era festa de aniversário do meu melhor amigo... E eu ainda por cima o chamei de “retardado” mentalmente. Eu sou um péssimo amigo.

- Não, não acho que você seja tão ruim assim.

Nisso Zain acorda.

- Ah, Zain, como está se sentindo? –Eu pergunto para Zain.

- Eu é que deveria lhe perguntar isso, Masao. Apenas tirei um cochilo, você dormiu por três dias.

Por um momento senti que fui apunhalado pela resposta dele.

- Bem, gente –Eu digo enquanto me levanto. –Vocês querem dar uma volta por esse ‘palácio?’

- Sim, claro! Você também precisa andar um pouco, Masao. O que achas, Louis?

- Claro.

Então nós três saímos do quarto. A carta gigante de Copas estava brilhando. O chão estilo neon também.

- A propósito, quando voltaremos ao nosso mundo, eu quero conhecer vocês. –Eu disse enquanto andava com as mãos para trás.

- Onde você mora, Masao?

- Berlim, Alemanha.

- Sério?!?! –Zain estava assustado. –Eu moro em Nuremberg. Deve ser legal morar na capital.

- Eu também moro em Berlim. –Disse Louis

- Ahh, vocês são tão sortudos!!!

Nisso Lya vem andando em nossa direção com uma caixa decorada de lilás.

- Masao? –Ela me avista.

- Ah, Lya! –Eu digo enquanto aceno para ela.

- Que coincidência! Eu estava mesmo indo para aí!

- Hã? Por que, alguma coisa não saiu como planejado?

- Não, não é isso. –Ela disse sorrindo. –Eu vim entregar isso para você. Tome.

Ela me entregou aquela caixa decorada de lilás.

- É um presente. Um presente por continuar vivo. Sei que nós vamos conseguir!

Então todos nós ficamos em silêncio por alguns segundos.

- Ah, Lya, esses dois são meus amigos e companheiros de quarto. Louis –Eu aponto para Louis. –E Zain. –Eu aponto para Zain.

- Ah, já ouvi falar muito de vocês. Obrigada por serem amigos de Masao. Meu nome é Lya, é um prazer conhece-los. –Ela faz uma reverência abaixando a cabeça.

- O-O prazer é nosso. –Disse Zain meio sem jeito.

- Digo o mesmo. –Disse Louis enquanto sorria.

- Bem, Masao, abra o presente! –Disse Lya.

- S-sim, ok.

Tirei a fita dele e abri a caixa. Era 5 compartimentos com 5 tipos de doces. Meus olhos brilharam, comecei a ter um ataque de riso.

- OBRIGADO, LYA!!!!!!!!!!!!!!! –Gritei enquanto abraçava ela.

Louis e Zain ficaram um pouco para trás, como se estivessem olhando outra pessoa na sua frente.

- De nada. –Ela riu. –Você tem que ter motivação para lutar, não é mesmo?

- Sim...

- A proposito, Masao, você já contou para seus amigos do plano? –Ela cochichou para mim.

- Er... Mais ou menos.

- Imaginei. Louis, Zain, vocês poderiam nos acompanhar? –Ela disse enquanto sorria para eles.

Os dois concordaram com cabeça.

Continuamos a andar pelo corredor até que descemos até um compartimento onde havia uma porta de metal decorada com um grande pentagrama vermelho.

- Que lugar é este? – Perguntei.

- Digamos que aqui é o meu refúgio... –Ela disse enquanto procurava uma chave.

Ela finalmente pegou uma chave em formato de um par de asas douradas e abriu a porta.

Era uma sala, parecia um escritório. Tudo parecia ser feito de prata. Havia um notebook lá, o que me deixou totalmente confuso. Ao redor havia várias telas, televisões eu acho, todas por volta de 50 polegadas. Havia também vários sofás modernos. Aquele lugar parecia um quarto moderno no mundo real.

- Pessoal, bem-vindos ao meu refúgio.

- Nossa! Esse lugar parece que é no mundo real! –Exclamou Zain.

- Bem, o meu quarto era desse mesmo jeito no mundo real. Já que não podia sair no dia, eu ficava isolada em casa e me entregava totalmente à tecnologia. Esse foi um serviço especial do Rei para mim.

- Incrível... –Eu disse.

- Bom, por favor, sentem-se.

Todos nós sentamos naquele sofá imenso.

- Vocês já sabem o que está acontecendo aqui, não é? –Ela perguntou.

- Não exatamente. –Respondeu Louis.

Então Lya começou a explicar tudo o que ela havia me contado naquele dia, inclusive a história dela no mundo real.

- Nossa...! Então o Rei estava nos enganando todo este tempo... O que vamos fazer?! –Perguntou Zain.

- Eu já estava desconfiando disso... Até agora o jogo vem sendo totalmente sem lógica. –Disse Louis enquanto apoiava a cabeça nas duas mãos.

- Acalmem-se. Eu tenho um plano. Já contei 1/3 dele para o Masao.

- Aah! Achei que você tivesse me contado tudo.

- Eu precisava compartilhar isso com os seus amigos também, então achei melhor esperar.

- Então, qual o plano? –Perguntou Louis.

Lya se levantou. Foi até sua mesa e pegou uma lista decorada e um controle remoto de TV. Em seguida se sentou no sofá e ligou uma das TVs de aproximadamente 50 polegadas.

- Bem, daqui há uns 2 dias haverá a próxima luta. Vocês tem mais duas lutas até finalmente vencerem o jogo. A próxima é... Bem, vocês sabem nadar?

- Bem, eu fiz aulas de natação aos 5 anos de idade, então posso me garantir. –Disse Zain.

- Eu também sei nadar. –Disse Louis.

- E você Masao? –Perguntou Lya.

- S-sim. –Respondi abaixando a cabeça.

Louis ficou olhando fixamente para mim.

- Ótimo. Esse próximo é trabalho em equipe para valer, não abandonem uns aos outros. A tristeza faz destruir o local da batalha para vocês caírem numa espécie de mar, mas mesmo assim todos os jogadores terão fortes emoções, então vocês tem que saber nadar.

- Você disse que havia uma luta depois dessa, não é? –Perguntou Zain.

- Oh, sim. O Juízo Final. –Ela respondeu.

- Juízo Final? Então a parte final do jogo será uma batalha também...?! –Perguntei um pouco assustado.

- É, mas ela não é uma batalha qualquer...

- Será então que... É uma batalha contra o próprio Rei? –Louis interrompeu.

- Você é esperto. Sim, é uma batalha contra o próprio Rei.

- Espera, Lya, você passou por isso também?! –Perguntou Zain.

- Sim, mas... Foi meio que um empate. Quando eu estava prestes a ser derrotada ele me deu a proposta de ficar aqui.

- Essa parte você não havia me contado... –Murmurei.

Ela sorriu.

- Vou dar dicas para vocês.

Ela colocou na TV um simulador de todos nós lá.

- Na próxima luta vocês TEM de ficar sempre juntos, não importa o que aconteça. Não briguem e não se deixem levar pelas emoções. Depois disso, vocês terão apenas dois dias de descanso até o Juízo Final. Poucas equipes irão sobreviver, provavelmente. Apenas uma pessoa da equipe pode lutar.

- O QUÊ?! APENAS UMA PESSOA?! –Eu e Zain perguntamos assustados.

- Por isso, decidam logo quem é o mais forte. Vocês podem revezar. O ponto fraco do Rei é a raiva. Se vocês conseguirem deixar ele fora de si, ele irá fazer vários ataques sem mesmo pensar direito, então vocês conseguirão derrota-lo.

- E o que acontecerá quando vencermos? –Perguntou Louis.

- Provavelmente Masao irá ser o sucessor do Rei...

- De novo com isso? Eu não sei como é que logo EU serei o sucessor do Rei...

- A sua magia é compatível com o equilíbrio desse mundo.

- Você pode provar?!

Então Lya foi até a sua mesa e pegou algo parecido com um estilete em seguida se dirigiu até mim.

- Com licença. –Disse Lya enquanto pegava a minha mão direita.

- E-Ei, espera, o que você vai fazer?!

Então ela cortou com tudo a palma da minha mão em linha reta. Gritei. Louis se levantou um pouco. Ela pegou uma lâmina e pôs o meu sangue nela e em seguida levou até sua mesa onde havia dois pequenos microscópios.

Colocou a lâmina com o sangue no primeiro microscópio e em seguida cortou sua própria mão e colocou seu sangue numa outra lâmina para examinar.

- Aqui, venha aqui.

Me levantei e fui até a sua mesa.

- Eu também tenho um pouco de magia compatível, assim como você. Porém, a sua magia é consideravelmente maior que a minha. Dê uma olhada. Os pontos dourados são a quantidade de magia circulando em nosso sangue.

Era verdade aquilo que ela estava dizendo.

- Mas como você sabia disso antes?

- Quando eu vi a sua performance no campo de batalha. Aquela magia era muito forte, como do próprio Rei. Estou começando a criar uma hipótese que você pode ser páreo para ele.

Eu e Zain ficamos boquiabertos. Louis estava com os olhos arregalados.

- Bem, vocês estão prontos para seguir meu plano e vencer esse jogo?!

- SIM!!! –Todos nós gritamos.

- Ótimo, então, que o plano de sobrevivência comece!