Pov Percy

Vi Annabeth encolhida de um lado da cama, ela estava tremendo e chorando muito. Seus olhos estavam muito vermelhos. Pelo o que pude ver, um dos seus braços apresentava um hematoma. Ele sempre estivera ali? Olhei ao redor do quarto e procurei um possível motivo para deixá-la assim. Não achei nada.

— A-ali - ela apontou para algo no chão, na frente da cama.

Olhei e percebi que era uma aranha caranguejeira. Logo peguei o meu chinelo e a matei.

— Se acalme, já matei ela, eu estou aqui pra te proteger – caminhei em sua direção e a envolvi em meus braços – agora, se puder me conte o que aconteceu.

— E-eu...- ela gaguejou – por favor, primeiro me tire daqui.

Assim fiz, a levei para a cozinha e lhe dei um copo com água. Assim que tomou, começou a contar a história.

— A aranha apareceu perto da cama e quando a vi, uma lembrança veio a minha mente e...- ela começou a chorar e eu a abracei – e eu vi o meu aniversário de sete anos. Eu estava com meu irmão brincando no jardim, quando uma aranha igual àquela apareceu e picou meu irmão.

“ O local da picada começou a inchar e meus pais correram para o hospital com ele e lá descobriram que ele era alérgico a aranhas e morreu – ela não se aguentou e desabou em choro – e a partir daí eu fiquei com trauma de aranhas”.

— Só mais uma coisa, você lembra do nome de seu irmão? – perguntei.

— Sim.

— E qual era?

— Luke Castellan.

Esse nome fez eu me lembra de um velho amigo que tive quando estava na segunda série, ele era loiro igual Annabeth e tinha uma cicatriz na boca e vivia falando de sua irmã que eu nunca cheguei a conhecer. Então me dei conta de que aquela garota era a irmã dele e eu conhecia a sua família e era só eu voltar para cidade e levá-la para seus pais, mas tinha um problema: eu teria que esperar minha mãe chegar de viagem, ela estava com o carro. Resolvi que por enquanto seria melhor não contar nada para Annabeth, pois ela ainda estava muito abalada.

— E esse hematoma? - perguntei apontado para o seu braço.

— Que hematoma? – e então ela olhou para onde eu apontava, seus olhos esbugalharam-se – Eu não faço ideia, acho que bati o braço nesse susto. Nada demais.

— Nada demais? Isso não é simplesmente nada, deixa eu olhar isso melhor.

Aproximei-me e vi que realmente não estava tão ruim quanto eu imaginava, uma bolsa com gelo por algum tempo deveria resolver para não ficar muito roxo. Dirigi-me à geladeira, peguei gelo e um pano e improvisei uma compressa e entreguei a ela.

— Aqui, deve resolver.

— Obrigada – disse sorrindo... e que sorriso. Assim aconcheguei-a em meus braços novamente.

***

Pov Annabeth

Vocês vão me achar louca, mas após esse episódio com a aranha, eu me senti segura ali nos braços de Percy. Ele exalava uma segurança e um cheiro de maresia reconfortante indescritível.

— Se você não se importa, eu gostaria de assistir televisão. Tentar esquecer um pouco isso - ri com o comentário, Percy também sorriu.

— Tudo bem, eu vou com você.

Fomos para a sala e colocamos em uma série de comédia, The Big bang Theory, acho que era esse o nome. Entre risos e conversas aleatórias, acabei dormindo. E que noite de sono... Nem quando eu fiquei supostamente desmaiada tive uma sensação de paz, mas naquela noite eu dormi bem. Meu corpo relaxou por inteiro.

Sabe aqueles sonos em que você dorme tão profundamente que perde a noção de espaço/tempo? Foi esse sono que eu tive. Acordei incrivelmente relaxada, não ousei abrir os olhos, a sensação estava boa, o cheiro de maresia me inebriava. Tive a leve impressão de ter sonhado com um moreno do sorriso bonito, olhos verdes e um cabelo incrivelmente bagunçado, um sonho bom, onde ele cuidava de mim. Fui tirada dos meus devaneios quando percebi que não estava na minha cama, algo se mexeu debaixo de mim. Assustei-me e abri os olhos e então me dei conta que aquilo não era sonho e eu havia dormido no peito de Percy.

Pov Percy

Tive uma noite maravilhosa ao lado de uma desconhecida, mas nem por isso deixou de ser ótima. Ficamos a noite toda assistindo televisão, até que ela acabou adormecendo em cima de mim. Não me importei, apenas a deixei lá até que eu também dormir.

Quando acordei ele ainda dormia em meu peito, não tive coragem de lhe acordar e a fiquei admirando dormir. Ela começou a se mexer e finalmente abriu os olhos. Foi uma bela cena de se ver ao acordar, aqueles belos olhos cinzas me encararam por uns minutos, até que ela se pareceu dar-se de onde estava e pareceu sair de uma espécie de transe e falou:

— M-me desculpe, não foi a minha intenção - após dizer isso corou e admito que ela ficou linda corada.

— Não tem problema, está com fome? Vou preparar alguma coisa para a gente comer.

Tentei me levantar, mas fui impedido, ambos pareciam estar em uma espécie de transe e nenhum dos dois se mexia. Annabeth percebeu que ainda estava em cima de mim e corou mais ainda. Saiu de cima e me ofereceu a mão.

— Eu te ajudo a preparar, só me deixa trocar de roupa.

— Claro - respondi.

— Se importaria de me dar mais uma muda de roupa? Eu mesma lavo o que eu sujar aqui.

— Não se preocupa, pode subir as escadas e abre a primeira porta a direita que lá tem umas roupas da minha mãe, pode pegar o que precisar - idiota? Eu sei, mas não pude evitar.

— Obrigada - ela respondeu e subiu.

***

Abri a geladeira e encontrei suco de laranja e resolvi fazer panquecas. Se você está se perguntando se eu sei cozinhar? Sim, desde pequeno minha mãe me ensinou. Por quê? Simples, ela diz que criou um homem e não um moleque para depender dos outros, principalmente ser desses que só joga esse tipo de responsabilidade para as mulheres.

Estava tranquilo na cozinha, brincando de jogar a panqueca para cima com a frigideira quando ouço passos vindo na direção da cozinha, virei-me e deparei com uma nova Annabeth. Ela conseguiu combinar perfeitamente umas roupas antigas da minha mãe. Devo ter babado um pouco. Com aquela distração, acabei jogando, sem querer, a panqueca na minha cabeça. Ela acabou rindo de mim:

— Ei, isso não tem graça - acabei rindo de mim mesmo - isso era o seu café.

— Desculpa, não pude aguentar, mas pra completar falta o molho, cadê? - com isso ela pegou a panela que estava o molho e começou e veio na minha direção e eu comecei a correr. Com muita dificuldade consegui toma a panela de sua mão e voltamos a fazer as panquecas calmamente, certo? Errado, foi a maior bagunça, foi panqueca para tudo que era lado, uma panqueca ninja me acertou em cheio, mas apesar dessa nossa pequena guerra, conseguimos comer.

A cozinha estava uma bagunça só, mas na saída pra sala havia uma poça de molho e nessa mesma hora, Annabeth passou e escorregou, sorte que eu tive reflexo e a peguei antes que ela caísse e como nas cenas de cinema, nossos rostos foram se aproximando até que... meu celular tocou, quebrando todo o clima.

— Acho melhor você atender - ela diz corada e levantando-se rapidamente. Peguei o meu celular e vi que era Thalia, a minha prima.

Ligação on

— Alô!

— Oi, priminho lindo do meu coração! Tudo bem? Eu estou aqui em casa e sem nada para fazer, posso passar aí?

— Pode sim e bom... –olhei para os lados me certificando que Annabeth não ouviria- Esto com um problema, quando você chegar aqui eu te conto, que horas você vem?

— Umas cinco da tarde, pode ser?

— Pode, tchau - ela nem me respondeu e desligou.

Ligação off

O dia estava fazendo bastante sol e como estamos perto da praia, nada melhor do que aproveitar. Cheguei à sala e perguntei se Annabeth queria ir comigo.

— Annabeth, você quer ir à praia?

— Não sei se é uma boa ideia - como eu não aceito não como resposta, caminhei em sua direção com um sorriso travesso no rosto.

— Você não vai fazer o que eu - não deu tempo dela terminar a frase, em um rápido movimento peguei ela e joguei por cima do meu ombro. Saí correndo em direção à praia.

Ela debatia-se, gritava e me batia.

— ME PÕE NO CHÃO, PERCY! DEIXA EU DESCER - para uma garota, até que ela batia forte.

Assim que eu entrei na água, pude sentir o seu corpo se arrepiar. Quando a água chegou a um palmo acima da minha cintura, a larguei na água. Rapidamente Annabeth emergiu e em um pulo agarrou-se a mim.

***

Pov Annabeth

Quando meu corpo entrou em contato com a água, logo me arrepiei e uma lembrança veio a minha mente.

Flash Back on

Eu estava em casa, fazia sol, perfeito para um banho de piscina, não havia ninguém em casa e por esse motivo eu não podia tomar banho na piscina, mas do mesmo jeito eu fui. Eu estava brincando quando escorreguei e quase me afoguei.

Tudo começou a ficar embaçado e minha vista começou a escurecer, só lembro de alguém pulando na piscina e me salvando. Engoli muita água e acordei três dias depois no hospital. Depois disso fiquei morrendo de medo de praia e piscina.

Flash Back off

Quando me dei conta, eu estava agarrada ao Percy e senti lágrimas descerem. Não pude me controlar e chorei muito. Senti braços me envolverem, me reconfortando. Enterrei minha cabeça em seu pescoço. Depois de minutos chorando, ele me levou para a areia e lá ele me sentou em seu colo.

— Annie... posso te chamar assim? - eu assenti - foi algo que eu fiz? me desculpe, não foi minha intenção te fazer chorar. O que foi que aconteceu?

Comecei a contar a lembrança que tive e com isso ele pareceu sentir-se mal com o que fez e me convidou para passear na praia. Passamos o dia todo na praia, brincando e ficamos à beira-mar parecendo duas crianças, jogando água um no outro.

Quando o sol começou a se pôr, nós nos sentamos na areia e ficamos admirando o lindo pôr do sol. Ele começou a sumir e olhei para Percy, que ainda olhava para o horizonte.

— Que lindo esse pôr do sol, obrigada por estar aqui comigo.

— Ele realmente foi lindo, mas não tão lindo como você – senti minhas bochechas esquentarem – quer dizer... – nossos rostos começaram a aproximar-se. Fechei os olhos me preparando para o que viria a seguir. Já podia sentir o seu hálito quando uma voz ecoou pelos meus ouvidos. Juntamente à bela canção, água fora espirrada sobre nós.

"Bebeu água, não!
Tá com sede, tô!
Olha, olha, olha, olha a água mineral
Água mineral
Água mineral
Água mineral
Do Candeal
Você vai ficar legal"

(Água Mineral - Timbalada)

Virei-me para ver quem acabou de estragar um momento perfeito com uma besteira dessas. Estava prestes a sair xingando quem quer que fosse, mas quando vi quem era, um choque de realidade me atingiu. Outra lembrança veio a minha mente e reconheci aquela pessoa na minha frente, me encarando com um sorriso travesso no rosto. Não podia ser ela, não mesmo, era realidade ou imaginação minha?