Demons escrita por Ninsa Stringfield


Capítulo 2
Capítulo 1




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Uma garota se espremia entre o que sobrara de duas paredes recém destruídas pelos filhos do diabo que invadiram a capela, seu cabelo estava totalmente bagunçado em um coque que fora destruído, e sua regata branca estava manchada de sangue, assim como sua calça jeans estava toda rasgada. A sua respiração descontrolado com certeza era um de seus menores problemas. Tudo que restava-lhe era uma Desert Eagle que não a ajudava muito por jogá-la com um impulso para trás (o que geralmente costumava derrubá-la), e sua sempre fiel adaga. Isso não era muito, considerando o demônio Shax que os perseguia.

Katherine Walker jogou sua arma no outro lado do salão, atraindo a atenção do demônio, que acreditando que aquele era o paradeiro da menina, saiu em disparada. Ela respirou aliviada e segurou o cabo de sua adaga com força. Chegava a ser estranho o fato de que toda vez que ela precisava de uma arma, a adaga era sempre a única que ela encontrava. Pelo menos ela era boa em manejá-la.

Logo o demônio (que Katherine descobrira ser algo muito diferente de monstro) voltaria, e ela estaria em apuros novamente. Mas até Niah encontrar o livro, ela, Finn e Jim teriam que conseguir distrair o demônio. Niah estava em um dos cantos da pequena Igreja, seus olhos fechados e seu rosto contraído em uma expressão séria e de concentração. (Katherine invejava como ela conseguia se concentrar em meio ao caos) enquanto Blake a segurava pela cintura para garantir que ela não caísse.

O último mês tinha sido duro. Desde que Wade, uma das almas da Cidade dos Deitados que em troca do atraso de seu julgamento perante os anjos caídos dava informações aos filhos do diabo, dissera-lhes sobre um livro cujo conteúdo deveria preocupá-los, Niah não pensava em outra coisa. Ela andava agindo de um modo paranoico, se metendo em situações arriscadas apenas para descobrir algo sobre o maldito livro.

E depois do que se passaram eras (Katherine aproveitava seu tempo extra para treinar, algo que se tornara constante e muito menos doloroso em sua vida), eles finalmente descobriram que o livro se chamava "Livro Vazio", e que não era apenas da Era Sansiana, ele era escrito pela própria Sansy.

Sansy, uma bruxa que Katherine descobrira após milhares de pesquisas ser uma das mais importantes da história, tão importante que a época em que ela vivera ficara conhecida como Era Sansiana, escreveu o tal livro com a intenção de acabar com o mal no mundo, ou seja, com a escuridão, o Diabo. Niah não gostara muito do conteúdo do livro, e após pressionar um monstro inocente e descobrir a localização do livro, arrastou todos para aquele buraco de fim de mundo que tinha a aparência de uma capela vetusta. Mas como se já não bastassem todos os obstáculos que eles enfrentaram para encontrar a localização da Igreja, depois para conseguir chegar até lá, e ainda para entrar dentro desta, uma sentinela - o demônio Shax - apareceu para piorar a vida deles ainda mais.

Niah, por pertencer ao Mundo das Sombras (como era chamado todas as criaturas que não passavam de histórias para os mortais) a mais tempo, foi designada para tentar encontrar o tal livro e abri-lo, já que apenas uma bruxa poderia fazê-lo. Katherine ainda não conseguia acreditar que qualquer uma das gêmeas poderia ser designada para essa tarefa, já que as duas possuíam sangue mágico nas veias graças a sua mãe...

Mãe. Essa era a verdade, a mãe de Katherine era um bruxa. Essa notícia ainda lhe era estranha, mas era a verdade, a única que existia, e nada do que ela fizesse poderia acabar com isso. Mas mesmo tendo essa resposta sobre a sua vida, Katherine ainda tinha mais um milhão de outras, como quem era o pai delas, o quê significava a fala de Melinda, e como o caminho das duas acabaria em algo grandioso. Para Katherine, sua vida se basearia em: estudar a vida toda, trabalhar, casar, ter filhos e morrer. Não era essa a realidade de toda a humanidade?

Um estrondo ecoou na direção que o demônio tinha corrido, e Katherine se ajeitou melhor sobre seus pés para conseguir enxergar o outro lado do salão. Um clarão de cegar qualquer um que olhasse partia do corredor, e um cheiro forte de coisa queimada cobriu o lugar, de repente, o demônio voltou correndo para o salão onde Katherine se encontrava, e a garota se levantou corajosamente para o monstro, tentando intimidá-lo. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, Finn emergiu do clarão das chamas com sua espada de brilho negro posicionada a sua frente.

Katherine sabia que não havia mais necessidade de protegê-la. No mês que passara, ela tivera inúmeras lições e exercícios de tolerância, resistência, força física e mental, sem contar todas as aulas de luta e defesa com Finn. Ela não era mais tão ingênua e fraca como antes, ela conseguia se proteger sozinha quando bem entendesse, mas Finn nunca lhe dava essa oportunidade quando eles estavam em uma situação de risco como a que se encontravam naquele momento. Katherine sentiu a raiva subindo pelo seu rosto, mas o sentimento se dizimara ao ver o brilho do fogo refletindo no rosto de Finn.

As chamas eram muito caridosas quando queriam, oferecendo toda aquela beleza e graça a ele. Katherine amava vê-lo lutando. Era exatamente como Wes dizia para ela fazer, se parecia com uma dança, e Katherine via a cena como se ela estivesse ocorrendo em câmera lenta. O vento grudando o cabelo dele em sua testa quando ele girava, o fogo subindo pelas suas veias e fazendo com que sua força ficasse ainda maior.

De repente, toda a magia se fora quando outro estrondo ameaçou ensurdecer qualquer um que cruzasse seu caminho, mas desta vez, o estrondo vinha da direção de Niah, e Katherine se virou bem no momento que o chão sobre os pés de sua irmã se abriu, e sem deixar que ninguém caísse dentro dele, um livro emergiu das trevas aterrissando na mão da garota. O livro brilhava de um jeito estranho, como se um véu invisível cobrisse sua imagem para não permitir que alguém o olhasse de verdade, mas era tão hipnótico que até mesmo o demônio e Finn pararam de lutar para observá-lo.

Então, tão rápido quanto surgira, o brilho do livro se apagou, e ele caiu nas mãos de Niah como se não passasse de um livro qualquer. Niah ainda parecia maravilhada com a cena, como se nunca tivesse visto nada igual, mas Blake puxou o braço da filha do diabo, acordando-a de seja lá qual fosse seu devaneio, e levando-a até a porta da Igreja novamente.

Milhares de gritos de retirada começaram a surgir por todas as direções da capela ao mesmo tempo que os pouco filhos do diabo que se voluntariaram à "expedição" saiam em disparada. Mas então o demônio acordou, um pouco antes de Finn, e o chutou com força em direção a um pilar que desmoronou em cima do corpo imóvel do garoto.

Katherine gritou, e a criatura se virou para ela. O demônio Shax era como uma enorme cegonha que chiava, sua pelugem que deveria ser branca era de um cinza escuro, seu cheiro era podre, e seus olhos eram tão feios de se ver quanto seus grunhidos de se ouvir. Mas Katherine não deu atenção aos seus avisos mentais (ou aos avisos de Rox, que se tornara uma espécie de Anjo-da-Guarda para a menina) dizendo-a para não pular na direção do demônio, pois ela fez exatamente isso.

O demônio chiou novamente quando ela pulou sobre suas costas (ou quando ela pulou sobre o que ela pensava ser suas costas), e começou a se jogar para todos os lados, mas a menina não o soltou, se segurando firme ao redor do corpo do demônio, deixando-o muito irritado. A intenção dela, era perfurá-lo com sua adaga, mas ela não conseguira se segurar na criatura ao mesmo tempo que segurava sua adaga.

Então o demônio se tocou, percebendo que Katherine não era tão forte quando aparentava, e se jogou, com ela em suas costas, para fora da Igreja, no imenso jardim que oscilava ás vezes para se tornar um imenso labirinto.

Quando os filhos do diabo encontraram um modo de chegar até a Igreja e viajaram por um portal até lá, eles avistaram ao chegarem a imensa Basílica onde acontecera o baile em que as gêmeas descobriram sobre sua verdadeira mãe. Niah olhou a sua volta e logo começara a rir e a dizer como as bruxas eram burras.

– Elas realmente não sabem nada sobre nós, não é mesmo? - todos a encaravam sem entender um palavra, então ela explicou: - Essa não é a Basílica, é apenas uma ilusão. Observem.

Ela tinha se concentrado quase com a mesma intensidade da sua seriedade na hora de pegar o livro, e o barulho de vidro se estilhaçando explodiu na noite silenciosa, e de repente, a imagem da Basílica começou a se desfazer lentamente, como se estivessem queimando uma foto, exibindo a pequena capela aos pedaços que eles se encontravam naquele momento.

Mas quando Niah não estava por perto, como agora, a ilusão voltava, e o jardim podre e abandonado voltava a ser o imenso jardim-labirinto da Basílica. Katherine foi arremessada no meio do labirinto, ela estremeceu quando viu o tamanho do machucado em seu joelho, mas deu graças a Deus por todos os treinamentos de resistência à dor que não permitia que ela sentisse algum de seus machucados, mesmo estes sendo geralmente muito graves. Alguns segundos depois, muito antes de Katherine conseguir se recompor, o demônio apareceu por cima dela, prendendo-a no chão.

Seu bico pontudo e ameaçador estava na linha dos olhos da garota, mas de algum jeito, tateando o chão, ela conseguiu encontrar sua adaga (que ela reconheceu pelo toque de seus dedos no cabo que já lhe era familiar), e desferiu um golpe na cabeça do demônio. Mas ele apenas virou a cabeça para o lado como se tivesse recebido um tapa e soltou chiados contínuos, que se assemelharam a risadas.

– Você é a garota? - perguntou ele. Sua voz era rouca, mas sutil apesar da aparências.

– Que garota? - conseguiu perguntar ela de volta.

– A garota - sibilou ele.

– Se a sua pergunta é se eu sou uma garota, a resposta é sim.

– Quero saber se você é a garota - ele parecia estar com raiva - A que o Idric deseja.

– Idric? - perguntou Katherine reconhecendo esse nome de algum lugar.

– O primeiro de todos - disse o demônio - O primeiro erro da bruxas, o que decidirá o futuro delas, e consequentemente, o da humanidade.

– O quê quer dizer?

– Katherina - chamou ele - É você?

– Você quer dizer Katherine...

– Tanto faz.

Um buraco se formou acima da cabeça dela. Katherine reconhecia aquele buraco: um portal.

Mas ela não teve tempo de perguntar o quê estava acontecendo, antes de qualquer coisa, o demônio a jogou no buraco e ela sentiu seus joelhos baterem e ralarem no chão novamente, mas agora a estrutura era um pouco mais rochosa, o que piorou ainda mais sua situação. Ela rolou pelo chão algumas vezes como se tivesse sido jogada como uma pedra insignificante à distância, e parou apenas quando sua cabeça, que já sangrava graças a um machucado provocado pela primeira luta dela com o demônio, bateu com força em uma pedra pontuda. Ela não teve tempo de gritar, sua visão começou a ficar curva, e antes mesmo que ela conseguisse raciocinar melhor, ela fechou os olhos. A única coisa que sabia, era que antes de fechá-los, uma sombra se estendeu à sua frente, e ela desabou para trás. O som de uma risada fria e distante, como se viesse das profundezas ecoava em sua mente desorientada.


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Notas finais do capítulo

*Desert Eagle = pistola semi-automática.
Olá leitores! Vi que tem gente nova e isso me deixou muito feliz, adoro muito quando comentam nas minhas histórias, então não sejam tímidos, okay?
p.s. vou demorar um tempo pra postar o próximo capítulo, pq estou em mês de provas (e vcs já sabem como é, né?) vai ser dificil arranjar tempo, mas eu consigo. Posso demorar, mas nem que eu quisesse eu ia conseguir deixar de escrever, então não desistam de mim, blz?
bjs.