A Verdade escrita por mybdns
Notas iniciais do capítulo
* Capisce: Entendeu
* Farabutto: Patife, Filho da puta
* Va al diavolo: Vá para o inferno
* Traditore: Traidor
* Maledetto: Maldito
Não consegui dormir a noite inteira. Fiquei com medo de Luca aparecer e me... Bem fazer algo ruim comigo. Mas ele não apareceu. Por volta das sete e meia, um homem vestido da mesma forma de todos os outros e armado veio me trazer café da manhã.
– Coma, ragazza. Fique forte porque hoje será um longo dia.
– O que vocês vão fazer?
– Logo você saberá. Capisce*?
– Capisce. – imitei-o. – você pode me desamarram, por favor?
– Isso não é um truque, né?
– Óbvio que não. Como eu vou comer com as mãos amarradas?
– Tudo bem. – disse desatando o nó. – mais olha lá hein? Não vá tentar fugir...
– Eu não vou fugir, bambino.
– Come isso logo, por favor. – disse saindo do quarto e trancando a porta.
– Eu não vou comer isso. Vai que está envenenado. Não vou arriscar. – disse indo até o banheiro e jogando no lixo. – babacas.
Uns dez minutos depois, o homem voltou.
– Comeu tudo?
– Sim senhor.
– Posso retirar o prato?
– Pode.
– Vou te amarrar, okay?
– Faça seu trabalho, você quem manda. E porque está sendo tão bonzinho?
– Eu não nasci pra isso, bambina. Eu quero me mandar daqui. Voltar para minha terra, pra minha Veneza.
– Como é seu nome?
– Silvano.
– Quantos anos você tem?
– Eu tenho vinte e um.
– E porque se juntou a eles?
– Eu queria dar uma vida melhor para minha namorada. Ela ficou grávida quando tínhamos dezessete anos e eu não tinha condições de mantê-las. Ai surgiu essa oportunidade. Mais quando você entra na máfia, você não sai vivo dela, capisce?
– Você poderia ser melhor do que isso, Silvano.
– Eu sei, princesa, eu sei. Mais o que eu posso fazer? O dinheiro é ótimo e eu consigo dar uma vida digna para Juliana e para a minha filha, Monalisa. Olha só uma foto dela. – disse pegando o celular e me mostrando a foto da mulher e da criança.
– Ela é linda. E sua mulher também.
– Elas são tudo para mim, Anne. Os caras já disseram que se eu fizer algo ou tentar algo errado, eles vão matá-las. E eu também. Eu não tenho escolha.
– Eu sinto. Você parece ser um bom homem. Diferente do Luca.
– O Luca é um dos piores. Por isso que o chefe confia tanto nele.
– Quem é o chefe?
– Você vai conhecê-lo. É a pior pessoa do mundo. E o filho dele também.
– Boa sorte, Silvano. Eu espero que você saia vivo dessa.
– E eu também. E eu sinto muito por sua mãe e seu padrasto. – ele saiu do quarto e me trancou de novo. Senti pena dele, porque diferentemente dos outro, ele me parecia ser um bom homem.
– Eles vão pagar.
Fiquei lá até às oito e meia. Depois, entraram três homens dentro do quarto. Luca, um outro e um velho.
– Como foi passar este tempo conosco, minha querida? – perguntou o velho.
– O que você acha, seu imbecil?
– Ora, ora ela é atrevida. Eu odeio pirralhas atrevidas como você.
– Que bom. O que vocês vão fazer?
– Eu queria te devorar, mas o chefe não deixou. – disse Luca, com um olhar malicioso.
– Calma, Luca. Não temos tempo para isso. – disse o outro homem.
– Enzo tem razão, Luca. Você pode ter a puttana* que quiser. Vai perder a razão por uma criança?
– Eu gosto de crianças.
– Disso nós sabemos, mas ela nos será útil para outras coisas. – disse o velho.
– Vamos lá neném. Vamos passear um pouquinho. – disse o tal do Enzo, me puxando pelo braço. Quando saí no corredor, Silvano piscou pra mim. Eu olhei para trás e ele sussurrou:
– Vai ficar tudo bem. Boa sorte.
Eu sorri para ele e o Enzo me levou para baixo. Me fez sentar no sofá enquanto eles arrumavam os últimos detalhes da operação.
– Mac! – gritou Lindsay.
– Oi Lindsay. Já estamos indo encontrar os mafiosos.
– Eu sei. Enzo Rossetti comprou uma casa para a mãe no Bronx. Eu pesquisei e pesquisei e entrei em contato com uma imobiliária da região. O corretor que fez a venda me contou tudo.
– Está em seu próprio nome?
– Está!
– Idiota. Anne deve estar lá.
– Sim, a mulher morreu há alguns anos e a casa estava abandonada.
– Vamos pra lá agora.
Eles saíram correndo e foram para o endereço que Lindsay pegou com o corretor. A casa era uma mansão de três andares, com inúmeras câmeras de segurança. Mac chegou perto da porta, com a arma em punho e Flack bateu uma vez.
– Polícia de Nova York! Abram ou vamos arrombar! – ele deu sinal para os policiais e eles arrombaram a porta. Depararam-se com três mafiosos armados até os dentes e atrás da barreira, um homem apontando um revólver para a cabeça de Anne.
– Larguem as armas. – ordenou Flack.
– Mamma Mia! Esses policiais pensam que mandam na gente. – disse Francesco.
– Eu estou com o seu dinheiro. Solte a garota. – disse Mac, colocando a sacola no chão.
– Pegue a sacola, Silvano. – ordenou Enzo. O rapaz obedeceu. Pegou a sacola e quando foi entregá-la a Enzo, deu-lhe um tiro certeiro no peito. O homem caiu imediatamente, sem vida no chão frio.
– Farabutto*! Va al diavolo*! – disse, passando por cima do cadáver.
– O que você fez, seu traditore*? – disse Francesco, chorando muito. Peguem este maledetto*! – ordenou. – meu filho! Meu bambino!
Os homens da máfia arrancaram a arma de Silvano e ele ficou na mira de três revólveres.
– Mac! Não deixe eles matarem o Silvano!
– Cale a boca, sua vadia. – disse Luca, dando um tapa no rosto de Anne.
Mac sentiu o sangue ferver. Logo, escutaram um tiro. Silvano caiu no chão, ao lado de Enzo.
– Silvano! – gritou a garota.
– Eu já disse pra você calar a boca. Ou quer fazer companhia aos dois?
Num rápido movimento, Francesco pegou sua arma e se levantou do chão.
– Está vendo, Taylor? Por causa da sua menininha, o meu filho foi morto! Agora ela vai ter que morrer. – disse pegando a menina e ficando na frente dos cadáveres. – Você vai ver os miolos da sua garotinha explodirem pelos ares... BUM!
– Francesco, o seu dinheiro está ai. Solte a Anne. – disse Flack.
– Que se dane o dinheiro! Eu vou matá-la. – Francesco não percebeu,mas a arma do filho estava em seu colo. Em seu último esforço, pegou a arma que estava na mão do homem e mirou para a cabeça de Francesco. Tudo foi muito rápido. Silvano atirou e o velho caiu no chão. Anne correu e Stella a tirou de lá. Danny, Mac e Flack renderam, com dificuldade, os outros três homens que estavam ali. Levaram todos para a delegacia. Silvano conseguiu sobreviver por um milagre. Quando estava entrando na ambulância, Anne agradeceu-lhe.
– Obrigada, Silvano. Você salvou minha vida. – disse passando a mão em seus cabelos loiros.
– O que é isso, bambina. Não precisa agradecer.
– Espero que você seja feliz com a sua família.
– Primeiro eu tenho que pagar pelo que eu fiz. Adeus, Anne.
– Adeus, Silvano.
– Anne! – gritou Allan.
– Allan, meu amor! – disse abraçando-o.
– Você está bem? Fizeram algo com você?
– Felizmente, o Mac chegou a tempo. – disse olhando para ele.
– Vai lá falar com ele. Eu te espero aqui. – disse Allan.
– Oi Mac. Muito obrigada por tudo. Eu acho que eu não estaria viva agora se não fosse por você.
– Eu não deixaria ninguém te machucar. Você é a minha garotinha. – disse abraçando a filha.
– Agora vamos. Nós precisamos enterrar a minha mãe.
– Eu sinto muito por isso.
– E eu também.
Mac havia preparado tudo para o funeral. Me troquei na casa de Allan. Fomos para a igreja e vi todos da escola, até os professores e até o Gabriel. Vi os colegas de trabalho da minha mãe, minha tia que havia pegado o primeiro trem de Detroit para Nova York. Os amigos do Adam. A equipe de Mac.
– Nós sentimos muito, Anne. – disseram Monica e sua melhor amiga, Rachel.
– Obrigada, meninas. – dei um abraço em cada uma.
– Oi amiga. Eu sinto muito. – disse Naomi, ao lado de Sam.
– Obrigada, Naomi. Vocês estão...
– Sim, nós estamos namorando. – disse Sam.
– Fico feliz por vocês. Agora eu preciso ir. O reverendo está me chamando.
Deixei-os lá e fui conversar com o reverendo.
– Oi minha filha. Como está?
– Levando, reverendo Senders.
– Sua mãe e seu padrasto estão com Deus agora.
– Tomara.
– Posso iniciar a celebração, minha filha?
– Quando o senhor quiser. – disse beijando sua mão.
– Então vamos começar.
O caixão branco de minha mãe estava ao lado de sua foto. O de Adam também era branco e também estava ao lado de uma foto.
– Irmãos e irmãs, sejam bem vindos à casa do Senhor. Eu quero que façam um minuto de silêncio e orem por estes dois irmãos que aqui estão, dentro destes caixões, por causa da violência e da ganância do homem. Até onde vamos, meus caros? Onde este mundo vai parar? Uma criança ficou órfã. Por causa de dinheiro. Eu sempre disso à minha esposa e aos meus sete filhos que nós não vamos para o inferno. Nós estamos no inferno. Vamos orar, por favor.
Fizemos um minuto de silêncio e o pastor continuou.
– O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas.
Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.
Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias. Amém?
– Amém.
– Quem me conhece sabe o quanto eu gosto deste salmo, porque ele nos dá força para continuar. Que Deus dê à jovem Annelies força para continuar. Deus abençoe a todos.
Seguimos para o cemitério e depois Mac me levou até a casa em eu morava três dias atrás.
– O que você vai fazer agora? – Mac me perguntou.
– Eu não faço a mínima ideia.
– O advogado de Adam entrou em contato comigo. Ele está vindo pra cá.
– Eu não quero ficar aqui.
– Eu entendo. E é por isso que eu vou te convidar pra morar comigo.
– Você tem certeza? Eu não quero atrapalhar você e a Stella.
– A Stella não mora comigo. E tem um quarto sobrando. Você é menor de idade ainda. Eu sou seu pai, não vou te deixar morando na rua.
– Obrigada, Mac.
A campainha tocou.
– Annelies?
– Doutor Michael! Entre, por favor.
– Oi detetive Taylor.
– Olá.
– Bem, Anne, você sabe que eu e Adam éramos grandes amigos...
– Claro.
– E ele me disse para te entregar isso caso acontecesse algo com ele e com sua mãe. – disse me entregando uma pasta. Eu abri e vi que era um testamento.
– Um testamento?
– Sim. Você herdou tudo o que era do Adam, Anne.
– Eu não acredito.
– Só que não posso passar nada para o seu nome até você fazer dezoito anos.
– Meu responsável é o Mac. Coloque no nome dele, oras. Você aceita, Mac?
– Claro.
– Mais antes, eu preciso fazer uma coisa.
– O que, Anne?
– Silvano. Eu preciso ajudá-lo.
– Ele vai responder pelos crimes que cometeu. Ele matou dois homens além de ser integrante da máfia.
– Mais ele vai responder na Itália por estes crimes?
– Provavelmente.
– Ele me contou sobre a esposa e a filha. Ele não é ruim. Ele salvou minha vida. Eu lhe devo esta.
– Tudo bem. Eu vou tentar te ajudar. – disse Michael.
Mac assinou alguns papeis onde ele se tornava meu tutor legal e responsável por tudo o que eu herdei. Ele assinou um cheque com uma ótima quantia e disse para Michael entregar para Silvano. Me senti bem por fazer aquilo, porque Silvano merecia.
Dois dias depois, decidi colocar a casa à venda e doei a maioria dos móveis para a caridade. Guardei todas as joias de minha mãe em um cofre e coloquei no banco. Me mudei para a casa de Mac no sábado.
– Ela não é grande como a casa que você morava mais...
– Não me importo com isso.
– Seja bem vinda. Pronta para recomeçar?
– Acho que sim.
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