No dia seguinte, Mac tirou o dia de folga. Eu estava no andar de cima, arrumando meu novo quarto. Coloquei as roupas da minha mãe em uma parte do closet. Era complicado olhar para as coisas dela e saber que ela nunca mais iria usar.

- Posso entrar?

- Claro, Mac.

- Você precisa de ajuda?

- Na verdade, não. Eu acho que consigo arrumar tudo sozinha. – disse olhando para a bagunça que o quarto estava.

- Você precisa de uma ajuda sim.

- Okay, eu preciso.

- Por onde quer começar?

- Você poderia montar a minha estante e colocar todos os meus livros em ordem alfabética, que tal?

- Ordem alfabética? E onde estão os seus livros?

- Naquelas quatro caixas ali perto da janela.

- Você tá brincando comigo não é?

- Você ofereceu ajuda. – disse dando uma risada.

- Tudo bem.

Mac foi montar a estante e eu continuei colocando as roupas no closet.

- O que você vai fazer com as coisas da sua mãe?

- Eu não sei. Vou doar algumas roupas que não me servem para a caridade e ficar com o resto pra mim. Vou fazer o mesmo com os sapatos. Eu nem tirei as coisas dela do consultório.

- Se nós tivéssemos descoberto os mafiosos antes, sua mãe estaria viva agora.

- Você fez o que pode. Sabe, agora que eu tive certeza do que eu quero. Estou convicta que eu quero entrar para o NYPD. Para prender pessoas como aquelas. Que matam a mãe dos outros.

- Eu tenho certeza que você será uma ótima detetive, Anne.

- Obrigada, Mac.

Nós continuamos a trabalhar em meu novo quarto quando escutamos a campainha.

- Se não se importa, eu chamei a Stella para almoçar conosco. – disse limpando as mãos.

- Claro que não. Você chama quem você quiser. A casa é sua.

- Agora ela também é sua.

Limpei minhas mãos também e fui recebê-la.

- Oi querida. – disse me dando um beijo no rosto. – como você está?

- Na medida do possível, bem.

- Tudo vai melhorar.

- Espero.

- Eu imaginei que vocês pudessem estar com fome e já que Mac é um desastre na cozinha, eu trouxe umas pizzas.

- Nossa! Eu estou morrendo de fome. – disse Mac. – e eu não sou um desastre na cozinha. – disse dando-lhe um beijo.

- Ele é sim. – Stella piscou para mim.

- Temos que contratar uma pessoa para cozinhar.

- Eu estou de acordo com isso. – Mac disse. – agora, vamos comer.

Nós comemos as pizzas e rimos muito. Stella era uma ótima companhia, era uma mulher muito agradável e eu ficava feliz por Mac tê-la ao seu lado. Depois que nós duas lavamos a louça, ela me ajudou com o quarto e dentro de três horas nós terminamos. Ela foi embora e eu e Mac ficamos na sala assistindo o jornal das dez. A apresentadora voltou a falar de minha mãe, do Adam e dos mafiosos. Falou de Silvano também, ele havia sido deportado para a Itália e iria ser julgado conforme as leis italianas. Um dos repórteres havia feito uma breve entrevista com ele.

- E agora, Silvano, o que você irá fazer?

- Pagar pelos erros que eu cometi. Eu provavelmente irei morrer na cadeia, não verei minha filha crescer. Eu quero agradecer, eu sei que não é o momento certo, uma pessoa muito especial, que mudou a minha vida e ajudou muito a minha família. Anne, que Deus te abençoe, bambina. O que você fez por Juliana e Monalisa foi sensacional. Não tenho palavras para lhe agradecer. Que você possa ser feliz, apesar de tudo o que te aconteceu.

- Anne é a menina que vocês sequestraram?

- Sim, é ela. – disse entrando no avião.

- Foi muito bonito o que você fez Anne. – disse Mac.

- Ele é um bom homem. Só se meteu com a gente errada.

- Eu acho que eu vou para a cama. Você me explorou hoje.

- Quando a gente chega numa certa idade as coisas ficam complicadas.

- Eu não sou velho.

- O que é isso no seu braço? – perguntei, percebendo que Mac possuía uma tatuagem, meio apagada um pouco abaixo do ombro.

- Ah, isso aqui?

- Minha mãe tinha uma igual.

- Nós fizemos com um hippie louco lá do Havaí. Livy disse que isso iria eternizar o nosso amor.

- Ela ainda te amava, Mac.

Mac respirou e eu pude perceber que ele havia ficado mexido com a revelação.

- Ela te contou isso?

- Ela disse que sentia muito carinho por você. Pra mim, ela ainda te amava.

- Livy foi uma pessoa muito especial para mim, Anne. Eu sempre vou ser grato a ela. Ela me deu você. Eu sempre vou amá-la, não um amor como o nosso, de anos atrás. Um amor fraternal entende?

- Eu entendo. Agora vai dormir senão não consegue acordar amanhã.

- Engraçadinha. Só uma última coisa. Olha, eu não quero ser um cara chato, mas aqui eu vou ter que colocar algumas regras, okay?

- Okay. Quais são elas?

- O Allan não pode dormir no seu quarto.

- Hum...

- Eu sei que parece idiota e que vocês provavelmente já...

- Não complete a frase. Eu já entendi.

- Álcool e drogas também...

- Não, eu não bebo nem uso drogas.

- O cigarro conta.

- Pode ficar tranquilo em relação a isso. Eu tento ser uma pessoa saudável. Não quero morrer jovem.

- Tudo bem. Boa noite.

- Boa noite, Mac. Não se esqueça da formatura, ela será na quarta.

- Não vou me esquecer, eu prometo. – disse subindo as escadas.  

Escovei os meus dentes e cai na cama. Estava muito cansada fisicamente e psicologicamente. Havia se passado milhares de coisas na minha vida nos últimos meses e tudo isso estava se acumulando. Qualquer hora, eu iria explodir.

No dia seguinte, fui para o colégio pegar minhas coisas do quarto e do armário. Sentiria muitas saudades de tudo aquilo, apesar de tudo. Foi ali, naqueles corredores que eu fiz amizades, que eu conheci o Allan. Foi ali que eu olhei nos olhos do meu pai pela primeira vez.

- Eu amo vocês, pessoal. – Caleb disse, quando todos os estávamos reunidos no salão principal.

- Eu sempre vou amar vocês. – disse Naomi, chorando.

- Nós iremos sentir saudades. – disse Alice, a moça da recepção. – apesar de vocês serem extremamente mal educados e malucos, eu vou sentir saudades.

Combinamos de almoçar todos na casa de Naomi. Depois, eu Allan fomos para a casa de Mac, aliás, para a minha casa. Já havia anoitecido.

- Oi Sr. Taylor. – ele disse. – Oi Srtª Bonasera.

- Oi Allan. Pode me chamar de Mac.

- E pode me chamar de Stella.

- Como vocês quiserem.

- Vocês estão com fome? – perguntou Mac.

- Não, nós comemos muito lá na Naomi. Nossa, os pais dela fizeram um churrasco brasileiro lá que estava demais! – disse Allan.

- Nós iremos sair, vocês ficam bem ai? – disse Mac.

- Claro. Nós vamos assistir Salmo 21.

- Se divirtam.

- Vocês também. – disse Stella.

- Qualquer coisa, vocês ligam, okay?

- Tudo bem, Mac. – eu disse.

Eles saíram e nós colocamos o filme. Eu como sempre, morri de medo e Allan ficou rindo da minha cara. Era meia noite quando Mac e Stella chegaram.

- Agora eu vou para casa. – disse Allan. – Boa noite, meu amor.

- Boa noite Allan. Obrigada por ficar comigo. – disse lhe dando um beijo.

- Boa noite Mac, boa noite Stella. Até mais.

- Boa noite, garoto. – Mac disse fechando a porta.

- Se divertiram? – eu perguntei.

- Claro e vocês? – disse Stella.

- Também.

- Eu vou dormir, boa noite.

- Boa noite, Anne.

- Ah, querida, eu esqueci de te avisar. Amanhã é o aniversário da minha enteada, filha do Danny e da Lindsay. Você gostaria de conhecê-la?

- Claro! Eu irei com vocês.

- Ótimo então. Boa noite.

Subi para o meu quarto e dormi. No dia seguinte, me arrumei para o aniversário de Lucy e fui para a casa dos Messer.  Lucy era uma menina adorável e seus pais me receberam muito bem. Depois do aniversário, Stella e eu fomos ao shopping, ela se ofereceu para ajudar-me com o vestido da formatura. Mac foi tomar um chopp com alguns amigos que não via há anos.

- Obrigada por aceitar meu convite, querida.

- Imagina, eu não conseguiria fazer isso sozinha mesmo. Minha mãe sempre me ajudava a escolher roupas. Você é uma excelente companhia, Stella.

- Você também é uma companhia excelente Anne. Olha aquele lá. – disse Stella apontando para um vestido maravilhoso, um mullet dress com a parte de cima, tomara que caia com pedrinhas pratas e a parte de baixo feita com seda cor de rosa bem escuro e um tule por cima.

- É maravilhoso, Stella.

- Vamos entrar.

Nós entramos na loja e o vestido ficou perfeito em mim. Eu paguei e nós fomos comer na praça de alimentação.

- Anne, o que você acha da ideia de eu e Mac morarmos juntos?

- Eu acho bacana.

- Eu preciso te contar uma coisa, Anne.

- Conte.

- Eu estou grávida.

- Isso é maravilhoso! Por que não me contaram antes? – disse abraçando-a.

- Nós ficamos com medo de você achar ruim.

- Eu sempre quis ter um irmão! Mais o Adam era estéril e...

- Você não sabe como eu fico feliz, você é uma pessoa muito especial, Anne.

- Eu vou amar muito essa criança. Vou te ajudar com tudo o que precisar.

Nós fomos embora e eu não podia conter a emoção da notícia que recebi. Sempre quis ter um irmão e aquela criança só traria alegria na vida de todo mundo.