Escutei as palavras do deus, fitava-o.

- Começamos por palavras.

- Bom… Comece respondendo minha pergunta… Velha com espirito jovem—

- Velha com espirito cansado. – Respondi, e ele arcou uma sobrancelha. – E você Loki? Psicopata com espirito de louco?

O deus olhou-me piadista.
- Sinto muito – Desculpou-se após alguns segundos. – Nem eu mesmo sei a resposta disto. – Os olhos dele dançaram por sobre meu ombro, enxergando o infinito, mas logo voltaram-se à mim. Só agora eu notara que Loki estava algemado. – Fiquei intrigado com sua resposta anterior…

- Quantos anos acha que eu tenho, deus das travessuras? – Perguntei recostando-me à cadeira. Esbanjando de um conforto que eu não sentia.

Loki sorriu divertido.
- Meus olhos veem, todavia meus sentidos me dizem outra coisa. – Ele fez a menção de que havia acabado, mas eu fiz sinal para que continuasse. – Uma moça formosa de vinte e poucos anos… Entretanto, o olhar pesaroso… Antigo… Cansado.

- Bem, você está certo – Falei ajeitando-me à cadeira e fazendo um movimento com o pé para que a cadeira fosse para mais perto dele.

Loki parecia estar se divertindo com a minha presença.

- Eu tenho uns… Sei lá, 70 anos.

- Eu tenho mais. – Eu conseguia notar que os olhos verdes de Loki tornavam-se cada vez menos desconfiados. – Mas para uma “humana”… Você deveria estar morrendo.

- É… Mas eu não envelheço – Falei cruzando as pernas, pegando uma caderneta e uma caneta. Com ambas, comecei a rabiscar. – Temos algumas coisas em comum, Loki.. Claro, em partes. Meus pais morreram e eu fui adotada por um casal, depois de eu viver alguns anos em um orfanato, claro. Meus pais adotivos já tinham uma filha. A “Miss Perfeição”, e foi muito mais fácil me mandar para uma escola militar, do que perguntar qual era meu problema.

O deus sorriu.
Não foi nada sarcástico, duro ou irônico.
Sorriu porque realmente achou graça.

- Mas somos muito diferentes. Olhe o que eu virei. E olha o que você virou.

- Eu aprendi a controlar a raiva.

- Eu controlei a raiva… Por um tempo.

- Desistiu tão facilmente?

Ele me encarou por alguns segundos.
- O que isso têm haver com o que o diretor Fury pediu para você fazer?

- Eu estou satisfazendo o meu ego pessoal. – Sorri arcando uma sobrancelha.

O moreno me fitou com uma expressão de dúvida.
- Como?

- Ah, você achou uma admiradora sua, deus das travessuras.

Suas sobrancelhas se juntaram, um olhar ambíguo saiu de lá.

- Desculpe… O que? – Loki me fitava desconfiadamente.

- Isso mesmo, só não revele ao Dr. Fury. Ele não vai… Digamos… Ficar muito feliz com isso. Mas vamos ao trabalho.
Sorri esticando a mão para Loki, ele as fitou e pôs as suas próprias mãos por sobre a minha.

- Vamos começar. – Sussurrei antes de imagens surgirem à minha cabeça.
Era como um tobogã gira-gira em preto e branco, claro que o branco predominava. Concentrei-me no passado, sempre foi o lugar mais fácil de procurar.
Um barulho agudo como o de uma unha raspando na lousa estremeceu minha mente. Fui arremessada para o chão, mas equilibrei-me e levantei os olhos.
Eu estava dentro de uma enorme sala, uma enorme sala de ouro… Pelo o que eu conhecia das histórias. Esta deveria ser Asgard.
- …Não és capaz de me derrubar – Vociferou um pequeno louro para um grande guarda à sua frente.

- Vai começar… - Gemeu um menininho moreno, sentando-se entre dois balaústres dourados.
Ele sentou-se e começou a observar o que parecia ser um treinamento. O loiro era esperto e hábil, mas o guerreiro era mais forte.

Parei de me concentrar na cena, não me traria nada. Abri todos os meus sentidos para ver qual era a “força” que a mente de Loki fazia contra mim. Aquilo costumava doer. Quanto mais no futuro, mais dor.
Depois de alguns segundos assim, certifiquei de que era seguro ir para frente. Pulei muito tempo de sua vida até chegar ao dia que Thor fora banido de Asgard… Mais um pouco.

Vi Loki dentro de uma cela de prisão. Ele estava lendo… Essas eram lembranças recentes da última semana, último mês... O fitei e fiz o tempo passar mais rápido, como em um dvd. Ele não fez nada a não ser ficar lá lendo, às vezes levantava e andava de um lado à outro. Parecia evitar comer, mas nunca nada de suspeito.

Soltei-o finalmente abrindo os olhos. Ele me olhava ansioso. Provavelmente por estar em Midgard e querer voltar para Asgard – mesmo que em uma prisão.

Suspirei apertando o botão do meu comunicador.
- Loki não têm nada com em relação aos acontecimentos ocorridos.

- Eu avisei – Disse recostando-se à cadeira. Vitorioso por estar certo.

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PVD Logan

Já faziam alguns dias que Mabel havia saído da mansão. Com sua ida o trabalho foi dividido entre mim, Ororo e Xavier.
Não que eu estivesse me queixando, mas as coisas ficavam meio chatas sem ela por lá.

Jean e Scott ainda estavam desacordados, desta vez decidi deixa-los acordar por contra própria. Eu tinha um trabalho a fazer, não podia ficar lá com Jean o tempo inteiro.

Era minha hora de folga. Saí da sala depois de me certificar que todos haviam saído também. Andei em direção à cozinha a fim de comer algo.
Abri a geladeira pegando a primeira coisa que vi, sem se quer olhar para certificar se era exatamente o que eu queria.

- Preocupado, professor? – Bobby perguntou surgindo do nada enquanto eu sentava-me à mesa.

- Por que eu estaria?

- A não ser que você vá beber achocolatado… - Ele apontou para o que eu havia pegado. – Acho que está preocupado sim.

Fitei a grande garrafa de leite em minha mão. Franzi o cenho.

- Vou tomar essa porcaria. Me dá uma colher aí, guri. – Murmurei enquanto colocava-o em um copo.

- Ainda não me convenceu. – Bobby sentou em uma cadeira rindo enquanto me passava uma colher.

Coloquei poucas cinco colheres de Nescau no leite e mandei uma cara de poucos amigos para o adolescente.

- Por que a Natalie foi embora? – Perguntou querendo puxar assunto.

- Porque ela tem uma vida fora daqui…?

- É, mas… Sei lá. Ela é mutante. O lugar dela não é aqui?

Olhei desconfortavelmente para o copo, tomando um gole para ter mais um tempo para pensar na pergunta.

Aquela coisa gelada e doce desceu pela minha garganta me causando um certo enjoo. Não aguentei, fiz uma careta. Aquilo realmente não era para mim.

Pude escutar uma leve agitação nos outros cômodos da casa.

- LOGAN, LOGAN! – Marie entrou na cozinha correndo e aos berros.

- O que? Oque foi? – Corri para perto dela segurando seu ombro, esperando ela retomar o fôlego.

- É a Jean. Ela acordou!