– Logan? Logan? – Uma voz chamava aos sussurros.

Olhei para os lados. Estava ao meio da floresta;

– Logan. Sei que está aí – A voz da moça tremia – Me ajude. Preciso de você…

Olhei novamente. Onde diabos a mulher estava?
Aspirei o ar a minha volta. Senti um doce cheiro de rosas… Natalie?

– Logan…? – Natalie saiu por entre as árvores. – O que--? – Juntou as sobrancelhas, não entendendo o que acontecia.

– Logan. – A mulher sussurrou novamente.

– Natalie. Me ajude. – Falei entrando por entre as árvores.

– Mas Logan… O professor está pro outro lado – Teimou andando atrás de mim.

– Não está escutando? – Apertei o passo em direção uma cabana.

– Escutando oque? – Perguntou irritada. – LOGAN! – Juntou as sobrancelhas, mas eu ignorei. Continuei andando.

Escutei seus passos pararem, mas depois se juntou à mim novamente.

– Logan? – A voz fez eco.
Agora Natalie escutara a voz. Assustou-se e parou de andar.

Estávamos na porta da cabana, abri-a vagarosamente.
Havia uma ruiva jogada ao chão.

– Jean? – Perguntei correndo até ela.
Ajeitei-a em meu colo e a chacoalhei gentilmente.

– Logan…? – Ela sorriu de olhos fechados.
Tentou mexer-se, mas fez uma careta de dor.

– MABEL? – Gritei-a. – Me ajuda.

Escutei seus passinhos vindo vagarosamente até mim.

– Ela está…? – Perguntou, cortando a última palavra.

– Está bem. – Acalmei a mim mesmo com minhas palavras. – Só sangra um pouco. Ajude.

Escutei mais um passo dela em direção à mim, não virei para apressa-la. Eu tive medo de tirar os olhos de Jean.

Mais uma pessoa na cabana. Um fedor impregnou-se no ar. Não, não. Dentes de Sabre.
Antes que eu pudesse tomar coragem de levantar, escutei um grito agudo de Mabel. Levantei os olhos, ainda agarrado à Jean.

O que eu vi, claramente, doeu minha alma.

Dentes de Sabre, com um sorriso sínico atrás de Mabel, sua mão atravessara o peito da mesma.
Aos poucos a expressão de dor da menina se desfez em uma expressão neutra. O monstro puxou rapidamente sua mão e fez Natalie cair no chão.

Vi tudo aquilo e não tive nem uma reação. Uma raiva crescia dentro de mim, mas eu também tinha medo.
Se eu partisse para cima da coisa, Jean ficaria vulnerável e acabaria como Mabel.

Fitei-o com um olhar morto e perdido. A coisa peluda só fez que não com a cabeça, sem deixar o sorriso idiota de lado, pegou o corpo da guria que jazia ao chão e saiu pela porta.
O que mais me impressionou foi a delicadeza que ele a carregava, já morta.

– Viu o que acontece, Jimmy? – Seu último sarcasmo. Saiu de lá.

Fiquei impressionada comigo mesmo. Eu havia mesmo não feito nada?

– Logan? – Jean chamou.

Algo queimou minha garganta, meus olhos, mas eu a fitei.

– Estou voltando pra você – Sussurrou e fechou os olhos.

Senti meu coração disparar, mas ainda sentia algo em meu colo. Isso me acalmou um pouco. Abri os olhos, temeroso. Natalie dormia confortavelmente sobre meu peito.
Parece idiotice, mas eu verifiquei se ela ainda respirava. Sim, bem e normalmente.

Ao mesmo tempo que me recostei à cama, acalmando-me, o tema do Star Wars tocou em um volume alto. De começo me assustei, mas depois notei que era um celular.

Mabel resmungou um pouco, mas pegou o celular e o atendeu com a voz embargada.

– Alô?

– Rainha do meu dia! – Respondeu um homem do outro lado da linha.
Eu não queria… Escutar a conversa, mas não deixei de sentir uma leve irritação por isso.

– Ah. – Deu de ombros, ainda irritada. – O que quer, Barton?

– Eu te ligo numa boa, te dou um apelido carinhoso e você me trata desse jeito? – Perguntou incrédulo, mas rindo.

– Vá se ferrar, Barton;

– Não, não, não. Péra. Não desliga. – Pediu. – Lembra lá da reunião?… Encontramos dois possíveis lugares. – Falou simplesmente.

– Possíveis…?

– Não reclama, professora. Melhor que nada.

– Tá bem, agentezinho. – Suspirou.

– “Agentezinho” – Repetiu incrédulo. – Enfim. Eu a Tasha o Tevy e seu namoradinho vamos passar aí em uma hora, vamos para o lugar mais provável. O resto vai pro outro lugar.

Arquei uma sobrancelha. Eu e Natalie falamos juntos ‘“Namoradinho”?’ Ela virou-se para mim e riu um pouco.

– O Leonard, quem mais?
Nat fez uma careta para o teto, como se lembrasse de algo passado.

– Leonard Aaron. – Falou com um meio sorriso. – Ah, claro. Como poderia me esquecer. O amor da minha vida. – Falou rindo.

– Você acabou de deixar um nerd muito feliz. Tá no viva-voz. – Gabou-se Barton.

– Vai se ferrar, Barton. – Revirou os olhos. Irritada.

– Ei, ei. Princesa. – Riu-se o homem – Só está eu o Leonard e a Tasha na sala, fica ‘tranks’. Sua reputação de Miss Durona tá protegida.

Natalie revirou os olhos enquanto escutávamos uma briga do outro lado da linha.

– Agente Barton desligando. O Tevynho invocou com o Tony e eles querem se catar na porrada. – Explicou-se. – Tchau e eu quero ser o padrinho do casamento.

Antes de Natalie poder dar qualquer resposta, o celular foi desligado.

– Leonard Aaron, heym? – Perguntei com uma sobrancelha arcada.

– Na verdade é Sclovvt Aaron Khodchenkova. – Explicou. – Ele foi meu aprendiz das fazes finais e era tão bom que virou meu parceiro na maioria das missões. Então eu falava que ia casar com ele. – Riu – Isso o deixava constrangido.

Algo me irritou ali, mas eu deixei passar.
Avisamos para todos na casa e nos vestimos.

Uma pequena aeronave posou no ‘quintal’, ali não caberia todo mundo. A não ser que ele nos encolhesse.
Os alunos ficaram agitados, já estava tudo pronto.
Eu, Nat, Marie e Bob estávamos no quintal para levarmos os visitantes para dentro.
Um a um desceram da nave, não pude deixar de ficar… Estranho. Queria saber como era o tal “Leonard”.

Os três que eu já conhecia eu não fitei, mas o da ponta sim. Era baixo, pouco maior que Natalie, seus cabelos bagunçados e pretos eram lisos, mas totalmente desorientados. Não tinha barba e usava um óculos de grau. Andava dois passos atrás dos outros três. Havia uma bolsa em suas costas. Poderia ser confundido com um aluno de faculdade. Aqueles alunos que possuem medalhas e mais medalhas de xadrez.

Por algum motivo Marie o Bob ficaram estáticos. Cumprimentei o louro de estilo estranho, antigo ( que às vezes eu aderia também ).

Cumprimentei a todos e fitei Leonard, que estava de cabeça baixa, ou fitava às coisas a sua volta. Arquei uma sobrancelha.

– Ele é tímido. – Sussurrou Natalie para mim.
A escutei falando “E fofo”, mas acho que foi só da minha cabeça… Espero.

– Hei, Lêo. – Chamou Natalie, indo em direção ao menino. Ele não estava muito longe.

– Senhora. – Algo em seu sotaque fez parecer que ele falou “Zêm Ora”… Russo, talvez?

Ela o apertou em um abraço e falou algo em outra língua. Senti algo me irritar, mas apenas desviei o olhar.

– Senhor? – “Zêm Or”, escutei-o falar. Virei para trás, ele estava pouco mais perto de mim, esticando a mão para eu apertar. Falou algo meio “Zoi Lêonardi”. Acho que ele falou que ele era o Leonard…

Pensei por alguns segundos se valia à pena apertar sua mão, mas eu o fiz por educação e forcei um sorriso.

Por algum motivo, não ia com a cara daquele guri.