The Dark Behind The Light escrita por Baikal, lyra


Capítulo 2
Capítulo 1 - Estrada para o Paraíso




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Capítulo 1 - Estrada para o Paraíso

Sobre o deserto de terra vermelha, uma larga rodovia contrastava com negro a ausência de variação de cores. Acima, um céu azul povoado com apenas algumas ralas nuvens brancas. Por quase todos os pontos do horizonte só se via morros e rochas, exceto pelo ponto ao final do asfalto. Ali havia muitas sobre o chão e uma cobertura de nuvens brancas e cinzentas. Era Eveland, pelo que dizia a enorme placa luminosa ao lado do trecho viário em que parou Zero e X.

- “Eveland, o caminho para o paraíso é este”, Zero, as pessoas acreditam mesmo em coisas assim?

Dentro do furgão comprido e blindado, de cor verde clara com linhas largas laranjas nas laterais e bordas, na sua cabine de direção estava Zero, a conduzir o veículo, e X, do lado oposto, olhando para a paisagem desde que começaram a viagem. Zero, mantendo os olhos na estrada, atento a qualquer surpresa, moveu apenas por um instante a mirada azul para a placa e o companheiro.

- Tsc, X. É fácil se enganar e muita gente se aproveita dos sonhos dos outros.

Compreendendo o que Zero falava, X balançou a cabeça ficando quieto, por pouco tempo, logo ergueu a mão apontando algo no meio da estrada. Zero notou no mesmo instante, não havia sido pego pelo detector de objetos do carro porque era muito pequeno, mas estava para ser esmagado pela roda antes que Zero fizesse uma rápida manobra, desviando o carro para o lado e brecando. A jovem coruja do deserto levantou vôo assustada. Os animais estavam cada vez mais raros no mundo, evitar uma morte acidental valia o desvio. O carro não voltou a ser acelerado naquela hora, Zero ficou pensativo.

- Que foi Zero? - X olhava para ele curioso, era uma viagem rápida, e tudo no furgão e adiante estava em ordem.

- Engraçado, Storm Fukurowl foi feito inspirado na sabedoria e atenção delas. Mas ele foi enganado... como todo mundo da Repliforce. Nem um ser observador como essa coruja ali escapa de uma distração e de ser pego nessa hora.

- Sim,... Verdade. - X é que passava a parecer distraído, pensando nos fatos marcantes que sucederam à luta contra a Repliforce. Muitos eram amigos de X, alguns o traíram sem remorso. E Zero, para ele devia ter sido muito pior. No meio destas idéias, reparou que havia alguém encostado na placa, olhando para o furgão. - Veja! Tem alguém ali, parece ser um homem. O que ele faz no meio do deserto e tão longe da cidade?

- Vamos perguntar. - Zero levou o carro até encostar do lado do homem, de fato, era um ser humano já com uns sessenta ou setenta anos de idade, calvo, uma barba mal-cuidada e grisalha, com traços marcados no rosto por rugas largas, efeito do tempo e do sol. Vestia roupas velhas e carregava uma bengala emborrachada. A dupla desceu e se aproximou, o indivíduo os esperou e até sorriu, com os olhos fechados e receptivo.

- Olá?

- Bom dia senhor, – respondeu X – Há algum problema para o senhor estar sozinho nesse deserto, ou ... não é bem isto o que acontece?

- Não há nada de errado comigo, senão o que já não muda mais, eu estou velho e cansado. Heheh. Mas estou muito bem aqui, longe de tudo o que não gosto.

X e Zero entreolharam-se, o homem não parecia bem de saúde, mas estava com ótimo humor. Zero assumiu o questionamento.

- Nós estamos indo para Eveland investigar algumas ocorrências estranhas. Reploids Mavericks em ação. Sabe de algo relevante?

- Hummm... Se eu fosse vocês, nem me dava ao trabalho, esta estrada leva ao inferno, não para o paraíso! Ninguém faz o que quer numa cidade daquelas, no começo vocês vão ver um lugar bonito, cheio de prédios incríveis, mas depois, vão ver um bando de gente que faz a mesma coisa todo dia para uma meia dúzia ganhar com isso. E tentar escapar, não, não é fácil. Por isto eu fico feliz de estar aqui, sozinho no deserto. Aqui tudo o que eu consigo eu tenho certeza que fica pra mim, ninguém vai me forçar a nada.

O ermitão pareceu empolgado com o que falava, dizia com ódio da cidade, mas era muito vago no que falava. Zero estreitou um olho, levou a mão ao queixo, com uma suspeita. Enquanto X olhava com dó daquele sujeito, carente de todo tipo de conforto e tão amargurado do seu passado.

- E o que você tem aqui, ou o que pode fazer, para que queiram tomar isso de você? - Perguntou Zero, causando espanto em X a pergunta, que parecia até agressiva.

- Eu?... Nada! Heheheheh, é por isto mesmo que eu não quero mais emprego, nem terno, nem gravata, nem escritório...

- Obrigado.

E Zero, virou-se, retornando para bordo do furgão. X mal pôde agradecer, ficando parado sem entender o que se passava, e para não se atrasar, foi correndo para o carro.

- Zero, nem soubemos o nome dele, nem perguntamos do Dok Ordo ou das outras suspeitas.

- X, fique frio. O calor e os nervos já abalaram esse homem, ele já serviu para provar que humanos e reploids não têm uma convivência perfeita, mas teremos fontes melhores lá. Não podemos testar a sorte com cada um que tem disposição para conversar. Vamos para a cidade e fazer a antena funcionar de lá para a base nos ajudar.

O furgão dos Hunters já voltava a rodar pela estrada. E não parou mais, até alcançar as proximidades da cidade.

# # #


Uma cientista e nos últimos meses, uma repórter de uma das redes mais importantes de Eveland. O emprego foi difícil de conseguir, mas Atma Phree é especialmente teimosa. Cientista de comunicação, a interferência da cidade a levou a conferir pessoalmente o sistema de telecomunicações da megalópole. Tornou-se rapidamente uma das repórteres preferidas de sua edição e é rosto conhecido por milhões de pessoas. Mas em sua casa, a mulher, cansada após horas de trabalho pela madrugada afora, está longe das feições maquiadas e do ajuste das câmeras. Ali era apenas uma pessoa qualquer, dormindo sobre uma escrivaninha – que ficava ao lado de sua cama no apartamento.

Uma pilha de discos caindo no chão fez um barulho suficiente para acordá-la. Olhou no relógio do monitor à sua frente, 3:51 AM, faltava uma hora e onze minutos para ela “ter que acordar”, teria de estar na redação do jornal bem cedo para pegar a cobertura das notícias que a interessavam. A rotina dela era mais pesada justamente porque usava sua função como jornalista para basear suas pesquisas, que já há muito se desviaram da tecnologia da cidade, agora tratavam de desvendar seus muitos mistérios...

Aquele lugar tinha segredos que a fascinavam, mas também agia por ética, estes segredos ocultavam algo de ruim, que aparecia somente como “caos urbano”. Ela não acreditava tanto em caos. Sempre que olhava para a parede de vidro – espelhada do lado de fora, transparente para quem via por dentro, via ali um enorme potencial para ligar pessoas, máquinas e o mundo. Ver aquelas luzes pelas avenidas e prédios, aquele movimento permanente de carros e hovercrafts, dava-lhe uma grande esperança. Cada objeto gerado por um número enorme de informação, era algo incrível para os olhos dela. Algo incrível manchado por intenções baixas, dali ou de qualquer ponto da cidade, um olho atento ia ver um assalto, uma extorsão, uma violência policial – e tudo isto era só uma ponta, o pior estava no silêncio gerado pelo medo e pela corrupção. Qualquer um podia perceber que havia muita coisa errada em Eveland, mas ninguém queria perder o que já havia conseguido, e quem tentava, não conseguia.

- Notícias... Eu estou esperando por algo que venha a esta cidade há meses, mas nada muda, só aumenta o silêncio. E mesmo assim, eu já recebi prêmios até por “Notícia do ano”. Eu não fiz nada ainda... Se pelo menos houvesse alguém para proteger testemunhas que não fosse ESTA polícia.

A voz dela mostrava estresse e irritação, e uma dor de cabeça pela falta de sono a fazia levar dois dedos à testa, fechando os olhos e aquietando, quando houve o PC apitar, um e-mail havia chegado.

Nele, um informante dizia que na manhã seguinte chegariam dois Maverick Hunters, e o especial, eram X e Zero, os dois melhores integrantes dessa força. Os detalhes eram incertos, um informante apenas servia como dica, mas Atma já tinha a respiração forte de empolgação. Com os olhos fechados ela imaginava como X e Zero chegariam ali,... E que devia haver algum jeito dela chegar neles primeiro que a corja de repórteres e paparazzi, para falar a sério, como cientista e aliada.

- Cara,... Essa chance eu não posso perder.


# # #

Eveland era formada pela reunião de várias cidades numa só administração, após suas zonas urbanas se fundirem pela simples expansão. Na área mais periférica, o deserto era transformado em estufas verdes graças à alta tecnologia. Também algumas fábricas e torres de transmissão estavam na lateral da rodovia pela qual chegava o furgão dos Maverick Hunters. Zero deixara a direção em modo automático, como é normal nas cidades devido ao controle de tráfego, e estava com X, ajustando os equipamentos de comunicação para tentar estabelecer contato direto com o Quartel-General dos Hunters. Nenhum dos dois notou que logo ao entrarem no primeiro “corredor” de prédios, estavam cercados por câmeras voadoras e hovercrafts de fotógrafos. A informação de sua chegada havia vazado muito antes de se revelarem, e tanto atrás, como a frente, carros de reportagem os seguiam. Com olhos pequeninos de curiosidade e falta de noção, X reparou nesta situação, perguntando a Zero só teve um grunhido como resposta. Zero o deixou cuidando do maquinário e foi para o volante.

O furgão acelerou-se e fez uma curva brusca para uma rua diferente da principal, mas o movimento do hunter já tinha sido previsto, ali encontrou com mais um par de câmeras voadoras e mais acima, um mechaniloid-helicóptero filmava a chegada do sisudo veículo dos caçadores de reploids irregulares.

- Zero, o que está havendo?

- Sabem que estamos aqui,...

- Er... Quem sabe?

- A imprensa, X.

- E por que estão nos seguindo?

- Porque querem entrevistas, fazer perguntas, essas coisas.

- E não seria bom fazer contato? - X colocava a cabeça atrás da poltrona de Zero, olhando para frente e para os monitores que mostravam outras pontos de vista do carro.

- Não exatamente, repórteres só falam o que lhes interessa. Não precisamos disto. E vai nos fazer perder um tempo enorme. Continue a ajustar o transmissor.

- Hai, Zero-senpai.

X voltou para a parte interior, e começava a chamar pela base, testando a recepção. Enquanto isto, Zero acelerava mais e ultrapassava os carros, tentando manter o veículo em movimento até terem onde ir. Estava cada vez mais difícil, cada vez havia mais veículos nas ruas, uma parte considerável deles eram taxis de curiosos e repórteres, tentando ver de perto a “novidade ilustre”. Chegando a um ponto em que retroceder não dava mais, nem avançar, o trânsito estava bloqueado em todos os sentidos pelo excesso de carros em diferentes velocidades. Zero brecou, depois, em ponto morto, pisou algumas vezes no acelerador, aquecendo o motor. X foi até ele, olhando-o incrédulo, Zero sorriu de canto e comentou:

- Você leu e ouviu tudo o que o Douglas contou sobre o furgão, X?

- Não,... você é que ia dirigir, e era fala técnica demais. Eu me concentrei nos equipamentos de comunicação e suporte, além da mecânica básica, por quê?

- Sim, era muita coisa, mas eu pedi para ele me transmitir tudo o quanto podia na forma de discos de memorização durante o sono.

- Quê?

- Uns brinquedinhos para se aprender algo enquanto dorme. Só funciona com dados informativos. Veja só e se segure.

A mão direita movia uma alavanca e pressionava alguns botões, a esquerda descansava no volante. O motor rotacionou e fez barulho alto ao pisar fundo do acelerador, e então um “100%” apareceu no painel. Zero engatou uma marcha “SF” e uma explosão se ouviu atrás do carro, uma turbina acionava ali e também outra, pouco depois sob o furgão. O carro voou sobre os que estavam a sua frente, subindo uns 4 metros e ficando no alto por não mais que 5 segundos, era pesado demais para ser mantido por turbinas tão pequenas sem um combustível armazenado em grande quantidade. E aquelas eram apenas acionadas por energia elétrica e um pequeno tanque, para haver vários acionamentos, durava sempre pouco. Enfim, o furgão caía a frente do amontoado de carros parados e fazia um barulho alto de metal rangendo, pois molas de titânio e vanádio faziam a absorção do impacto. Dali, Zero pôde ter acesso a uma rua menos movimentada. Fechando a boca, X sussurrou algo sobre o quanto Douglas e Zero eram loucos iguais, e voltou a chamar pelo transmissor.

- Base Hunter, X falando, podem ouvir?

- ...

- Alia, pode me ouvir?

- Si-... X, estou te escutando alto e claro. E já te- a posição de vocês. Pode me ouvir bem?

- Posso! Alguma parte ainda está com interferências, mas posso. - E virando para Zero, vibrou – Conseguimos! Conexão estabelecida! Quer saber do quê primeiro?

- Se não sabem ainda o que fazermos, pergunte como eu faço para me livrar desses mechaniloids e carros teimosos dos jornais!

- Roger! - Ao comunicador: – Alia, diga a rota para Zero se livrar destes repórteres.

- X, curvando na próxima rua à esquerda e seguindo por um acesso desativado às obras de reforma de um viaduto...

- Roger. Estou a caminho! - interrompeu Zero, satisfeito por ter alguma solução para aquele estorvo.

- Mas, Zero, há uma repórter que conheço e que pode ser útil conversar com ela. Além do mais, esta fuga está atraindo a polícia de trânsito para vocês. O nome é Atma Phree, mas eu não tenho a localização dela ainda. Vocês teriam de encontrá-la no meio dos outros pela rede telejornalística que ela representa, a HBZ.

- Hmm... Roger. Vamos parar por aqui, onde ainda temos uma “rota de fuga”. - Zero suspirou com os olhos fechados, desanimado. - Que venham os repórteres. X, vamos para fora.

- Certo, Alia, encerrando comunicação.

- Entendido X, boa sorte. - Do outro lado do mundo, Alia, sorria divertida do estranho e pavoroso “inimigo” que cercava os heróis. Atrás da poltrona dela, Signas olhava sério para os painéis, não parecia ser necessário aspas para falar da imprensa como inimigo naquele lugar.

# # #

Sem saber para onde olhar, X mostrava-se perdido no meio de tanta gente que cercou o furgão. Conforme se aproximavam e luzes de fotografias e leds de filmadoras acendiam em sua frente, X recuava, até encostar-se na parede do carro. Zero manteve a posição, mas com os olhos fechados, tentando ignorar o barulho dos questionamentos. Enquanto a paciência do Hunter vermelho era testada, uma pergunta era respondida.
- X, o que leva os Maverick Hunters a esta cidade pela primeira vez?

- ... Mavericks? - colocando os braços para o lado e com um sorriso desajeitado X gentilmente respondia.

- De que Mavericks estão falando? Daqueles já procurados pela polícia ou de novos invasores?

- Na verdade... não sabemos muito, estamos começando as investigações hoje, acabamos de chegar...

Ao ver que já aconteci a tal sessão de entrevistas, Zero não mais adiou o que não podia evitar. Ergueu a voz e atraiu os jornalistas para si, deixando X respirar.

- Acabamos de chegar. Os Mavericks estão por todo o mundo, nenhum lugar está sempre a salvo, a prova é a constante atividade da sua polícia. Se os Mavericks são o problema, então não há motivo para um Maverick Hunter não vir aqui. Tudo tem sua primeira vez.

- Então, os Maverick Hunters

 pretendem uma aliança ou algo do tipo com a polícia de Eveland? - sugeriu um reploid repórter de azul, com uma boina na qual aparecia escrito XYK em vermelho. Zero passou o olho entre os demais, buscando o “HBZ” da tal repórter. Respondeu um pouco depois.

- Não vamos rejeitar ajuda, mas não temos nenhum objetivo desses. Mal chegamos à cidade, por que têm tantas perguntas?

- Ora, vocês são Zero e X, os hunters que destruíram Sigma e seus comparsas várias vezes, seus feitos se equivalem ao que Shield Marauder e Fallen Star fizeram por nossa cidade. Em falar nisto, pretendem fazer um encontro de heróis, ou o seu orgulho não permitirá confraternizarem?

- Mas o quê?! - Zero desconhecia estes dois, estava completamente desinformado e não estava ali para criar desafetos. - Eu não sei do que estão falando, somos Maverick Hunters, não pop stars, nosso serviço é tentar trazer ordem de volta para o mundo, paz, sabe? Se quiserem briga, é porque são o tipo de gente que é nosso inimigo.

A expressão zangada de Zero foi o suficiente para calar o homem e fazê-lo recuar, embora outros se aproximassem nessa deixa. Um deles foi Atma Phree, mas foi um homem de cabelo curto e óculos escuros que falou mais alto sua pergunta.

- Foi o mesmo que aconteceu com Colonel e a Repliforce. Eram seus aliados, até discordarem e a Repliforce tentar um golpe de Estado. Acredita que Eveland ou algum de seus cidadãos pretende o mesmo?

X estava fazendo um sinal para falar com Atma, que tentava desviar do grupo e chegar até o hunter. Mas aquela pergunta explodiu com o que mantinha Zero naquela situação irritante. Não queria ouvir o que poderiam perguntar depois, pois não parecia haver limites para o quão intrometidos podiam ser. Ouviram apenas o que mais parecia um rosnado grave.

- Colonel era meu amigo e foi feito o que era preciso.

Não ligava para o que iam pensar, abriu a porta do lado de X e entrou, por ela, fazendo um sinal para que ele o seguisse. X olhou uma última vez para aquela que pensava ser a repórter procurada, gravando o rosto da mesma, e fechou a porta rápido, irrompendo então o som do potente motor. A multidão ficou parada no primeiro momento, mas quando o carro veio para cima dos tais duvidaram dos freios do furgão ou do bom senso do motorista e debandaram correndo da sua frente. Alguns tentaram continuar a perseguição, mas a rota indicada por Alia foi o suficiente para Zero acabar sozinho mais adiante no percurso.

- Ufa, enfim, parecia até que queriam um pedaço de nós... Zero, parece que encontramos a tal mulher, mas não havia como conversarmos direito com ela, naquela situação.

- Não mesmo.

- Acho que Alia poderá certificar se era ela, e com o tempo por aqui, vai achar um meio de fazer contato. Agora, ... como sabia que eles iam sair da frente? - Curioso, X olhava com admiração, numa hora daquela ele teria hesitado e teria dificuldades para se desvencilhar, mas Zero dava a impressão de conhecer o futuro de tanta certeza ao agir. Era o que achava X, seu amigo menos experiente.

- Eu não sabia, mas avisei roncando o motor antes. Seria burrice da parte deles ficar na frente.

E Zero sorria com gosto ao lembrar do susto daquela gente patética, mas principalmente, porque X também achava graça daquilo que ele falou. Enfim, estavam os dois mais calmos e retornaram a comunicação com a Base.

- Alia, disse Zero, nos passe uma localização desabitada da cidade, se é que tem uma. Vamos esperar lá enquanto você descarrega dados daqui.

- Roger, Zero. Há alguns distritos a sudeste cujas populações foram removidas para reurbanização das construções. As construções estão condenadas e por isto, não deve haver mesmo ninguém por lá. Vou transmitir para o computador de bordo as coordenadas. Quanto a Atma, não se preocupem, tendo acesso às listas de proprietários de imóveis e contas de serviços, posso rastreá-la facilmente e marcar um encontro.

- Estaremos esperando, atentos ao que mais possa aparecer.

E encerraram o contato. Passando por ruas menos agitadas, mas não menos cercadas por edifícios enormes e telas de vídeo públicas, deixaram a parte “viva” do enorme centro urbano e pararam na sua parte mais cinzenta, onde não havia luzes ou tinta há anos...


# # #

O distrito desocupado parecia uma outra cidade, enorme e deserto, tinha construções em péssimo estado de conservação, mas que mostravam que muitas pessoas ali habitaram. Uma parte havia sido demolida, só que ausente de valor comercial, não foi substituída e ficaram apenas escombros. Havia mais para se perceber ali. A região foi palco de lutas, buracos de tiros e explosões marcavam paredes e o asfalto. Os hunters tinham os olhares desconfiados, apreensivos. As suspeitas podiam ser excessivas, já que a história da cidade contava batalhas com Mavericks, mas um pedaço tão grande deixado para trás, faz perguntar o que foi feito das pessoas que consideravam ali o seu lar.

Zero deixou o veículo em um estacionamento coberto, foi para o interior do furgão e de lá, abriu a porta traseira, sentando-se com as pernas penduradas. X o acompanhou, parando de modo semelhante, mas sem estar relaxado como o amigo.

- Zero, e agora, vamos falar com a Base de novo?

- Pode falar se quiser, X, mas, de qualquer jeito teremos que esperar... Se houvesse o que fazer eles já teriam dito. Eu conferi o sinal, está em ordem.

- Hmm... Entendo. Então, eu só vou reportar nossa posição para a Base, e confirmar se está tudo em ordem por lá.

- Ok. Faça isto, X.

Enquanto X se ocupava com isto, Zero fechou os olhos. Primeiro com leveza, depois com mais força. Alguns pensamentos, rápidos e confusos, o atormentavam e ele sentia uma estranha energia no lugar. Liberou a vista de íris azul, examinando com profundidade o lugar, X, que também sentira algo de errado, foi até ele e os dois visualizaram vultos aos fundos da construção. Também desceram do teto alguns indivíduos, enquanto outros entravam pela rampa de acesso, vindos das ruas. Alia recebeu as assinaturas dos dados destes indivíduos. E comunicou aos dois o mais rápido que pôde. A esta altura, já podiam ver alguns se aproximarem, tinham uma postura estranha e alguns carregavam canos, vergalhões e outros objetos, quase como armas de mão.

- X, Zero, vocês estão cercado por reploids que já foram presos, a maioria, diversas vezes. Não tenho certeza que estão com o vírus de Sigma eles não têm exatamente essa assinatura, mas de algum modo, são Mavericks, posso detectar que há algo em seus sistemas. E também fiquem atentos, há seres humanos entre eles.

- Seres humanos? Quem está mandando essas pessoas para cá?

- X, eu estou procurando saber disto agora, dê-me algum tempo.

- Terá o seu tempo, Alia, X, eu vou ver se consigo conversar com eles.

- Um-hum, eu vou tentar atrasá-los com o buster se ficarem agressivos.

Deixaram o furgão fechado e enquanto X ficou ao lado dele, guardando a posição, Zero avançou para um dos grupos. Eram seis reploids e um rapaz humano, nenhum deles portava uma “arma de verdade”, mas todos estavam com alguma coisa em mãos para que pudessem atacar.

- Estão defendendo um território ou algo assim? Se for isto é só avisar, nós sairemos.

- Não é pra defender, a gente tá aqui pra arrasar, qualquer um que vem pra cá sabe o que tá querendo. Tá querendo levar fumo. - Disse o primeiro reploid, cuja cor era verde escura, os olhos púrpuras tinham manchas vermelhas abaixo dele. Tudo uma customização de um design original de um reploid cidadão típico, até o cabelo, havia sido redesenhado num corte espetado e colorido em azul anil. Este estava portando um cano em formato de “L”.

- Garoto, eu não vim até aqui para levar nada. É melhor você abaixar isto e ir embora com seus amigos.

- O lourinho aê tá se achando o maioral, vamo mostrar pra ele e pro amiguinho azul do mané como é que se vive por aqui! - O rapaz humano, trajado com uma calça rasgada e vários piercings espalhados pelo peito seminu (usava um colete apenas) e pela face, carregava um taco de metal, e correu em direção a Zero tentando lhe acertar uma pancada no joelho. Achou apenas o ar, Zero já havia saltado e pousa sobre um pedaço de concreto caído do piso superior. Quando aconteceu esse primeiro ataque, todos os demais começaram a investir contra X e Zero.

Um, dois, três, dez tiros de buster queimaram o piso ao redor do furgão. X saltara para cima dele e atirava para assustá-los e até então, tinha conseguido. Zero, por sua vez, engajou-se em brigas com as próprias mãos e usando as armas improvisadas dos adversários. Quebrava dedos, pernas e braços, mas não tocava em seu sabre nem usava o máximo de sua força. Em meio a isto o sinal de Alia retornou. Apenas X atendeu.

- Alia, então, quem são estes?

- É uma das gangues de Sharp Linx. Um Maverick que comanda baderneiros, inclusive, humanos. A polícia não conhece seu esconderijo, mas ele é tratado como um verdadeiro general. Vez em quando suas gangues passam extorquindo dinheiro em prédios familiares e pequenos negócios. Embora, já tenham invadido até bairros nobres e causaram muitas mortes a quem lhes resistiu.

- E em quantos são?

- Não se sabe, mas com certeza há mais de dez mil “soldados”. Vocês precisam alcançar Sharp Linx, cortando a cabeça, os líderes menores devem brigar e a facção perderá força.

- Roger. Vamos procurar por ele.

E saltando do teto do furgão para a sua frente, X avançou rapidamente, com uma mão estendida, feito jogador de rugby, derrubando quem lhe opusesse. Até que aquele tal que segurava o cano em “L” arremessou a peça bem entre as pernas de Rockman, o derrubando antes que alcançasse Zero, então cercado por oponentes que alimentavam uma pilha de gente inconsciente. Ao chão, X apontou seu buster na direção do agressor, impedindo que o mesmo ganhasse coragem para atacá-lo ali. Mas outros viam do lado oposto, e ficava complicado manter cantos distintos sob a mesma mira.

As risadas de satisfação acabaram quando o som vibratório e a luz esverdeada apareceram ao lado de X. Assim como a mão amiga para ajudá-lo a se levantar. Primeiro, tinham os dois lados da gangue sob a mira de suas armas, o que resolveria a questão em poucos segundos. Fizeram diferente, ambos recolheram suas armas. E abriram caminho a socos, chutes e empurrões até voltarem para o furgão, que permaneceu intacto antes todos os golpes dos vândalos, nem um pneu furado. Não voltaram de mãos vazias. Zero pegara um reploid atacante para que pudesse interrogá-lo. O motor roncou de novo, e desta vez houve quem fosse ignorante o suficiente para ficar na frente. Estes foram carregados alguns metros para frente, até que Zero brecasse e recuasse, girando a direção, fazendo os tais atropelados voarem longe. Os pneus cantaram e o furgão deixou o abrigo. X assumiu a direção, ao passo que Zero foi ao prisioneiro para que “conversassem” um pouco. Mas a surpresa foi atordoante. Ao ver-se sozinho e sem escapatória, o sistema do reploid consumiu-se, e sua vida encerrou, ficando apenas o corpo com olhar vazio para frente.

- Não...

- Eu não sei como, X, mas há algo muito ruim neste lugar.


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Notas finais do capítulo


Glossário:
Roger: Significa "Certo, Afirmativo". Roger é a letra no jargão militar e neste caso é sigla para "right", certo, em inglês.
Colonel: É o nome de um personagem de Rockman X-4, assim como é a palavra em inglês para coronel.
Mechaniloid: Um robô típico, que obedece a uma programação específica fielmente. Em Rockman X costumam ser inimigos de proporções gigantescas e que destróem tudo pela frente.
Hovercraft: Veículo que flutua sobre um colchão de ar que projeta sobre o chão.
Storm Fukurowl: Conhecido em inglês como Storm Owl, um reploid com formas de coruja.



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