CELESTIAL escrita por Leonardo Pimentel


Capítulo 9
Capítulo 9 - Quebra-Cabeça de Três




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Faziam três dias que a reunião de guerra havia acontecido. Miguel propôs que os líderes que fizeram parte da reunião disseminassem parte do plano, exceto a participação de Somnus. O Arcanjo queria que Nick pegasse Somnus desprevenido, para que assim efetivassem a presença dele na batalha. E desde então, os anjos que estavam no armazém, organizavam diversos armamentos, alguns estavam empenhados em criar espadas místicas para anjos de alto escalão, moldavam escudos e elmos. Eles concentrariam todo o armamento naquele armazém, já que Miguel tinha plena certeza de que a Batalha de Milwaukee não atingiria um grau enorme.

Houveram outras reuniões entre Nick e Miguel, na qual o segundo ensinava a forma mais fácil de Desmaterialização. Nick aprendera usar esse poder com facilidade e achava aquilo fabuloso. Isso era notável no sorriso de orelha a orelha, que ele expressava toda vez que efetivava com sucesso o poder. E depois de algumas horas treinando, Miguel liberou Nick para mais uma vez meditar ao lado de Uriel. E em poucos dias, Nick já tinha o domínio invejável sobre a luz. E isso o fazia melhor.

Nick parou algum tempo depois para meditar diante de Angélica a pedido dela. Anjos já nascem sabendo de tudo, já nascem capazes de lutar e com as características devidas de cada casta. O que precisavam fazer era aperfeiçoar o que já tinham. Anjos eram como diamantes: precisavam ser dilapidados. E com Nick, essa história era diferente: ele era humano, precisava entender como funcionavam as coisas e assim, aprendê-las e depois aperfeiçoá-las. E ela iria ensiná-lo.

E Nick, absorto na meditação foi chamado por Angélica.

─ Pronto. Você meditou o suficiente, Nick. Bem, bem... Agora, preciso te explicar algumas coisas teóricas, que logo serão utilizadas na prática. Sei que andou treinando Desmaterialização com Miguel e controle da luz com Uriel, mas as coisas vão além. Posso?

Nick assentiu.

─ Bem. Na terra, anjos e demônios se manifestam de diferentes formas. Nós, anjos, criamos nossos corpos a partir da mesma matéria que os humanos: do barro. O diferencial é o que preenche o corpo de um anjo e de um humano. A alma preenche o humano, dando a ele os diversos benefícios que eles têm. Já, nós, anjos, preenchemos nossos corpos com aura. Aura nos dá a chance de de termos poderes, de ir e vir entre dimensões e de curar a carcaça. Veja...

Angélica puxou um punhal da mesa e o passou pela pela da palma da mão, abrindo um corte que verteu sangue rubro. O sangue deslizou pela palma da mão e foi tingir o chão de vermelho. O corte produzido, pouco a pouco cicatrizou e logo sumiu como se nunca tivesse ocorrido.

─ Vê? Essa cura é produzida através da aura. Por isso humanos são incapazes de curar dessa forma, muito menos viver eternamente. Entendeu? ─ pausou. ─ Porém, se formos feridos por alguma espada produzida por anjos ou demônios, além de ferir nosso corpo terreno, ela fere nossa aura. E ai, o processo de cura demora muito mais, se não nos matar. E para não morrer aqui, não deixem que acertem o coração, pois é lá que concentramos toda a nossa aura. É como se fosse uma bomba de músculo pulsante. Se acertar, produzir algum rasgo, a energia escapa e é convertida. Por exemplo, se um Querubim morre através de um ferimento no peito, a energia explode e se dissipa. Mas se um Principado da Água morre, a energia dele se converte em vida, fertilidade...

─ E se um Arcanjo morrer? ─ perguntou curioso.

─ Vida pura, das mais diversas. É muito mais poder, um Arcanjo. ─ falou séria. ─ Por fim, os demônios. Demônios são seres impuros. Grande maioria deles foram anjos de grande castas, poderosos. Porém, apesar de brilhantes, eram ambiciosos e não tão amigáveis. E eles, junto de Lúcifer, caíram do Paraíso. E hoje formam o Ducado do Inferno, parte da Tríade Negra e até na Ordem das Criaturas Bestiais. Porém, apenas alguns deles podem projetar os corpos terrenos, como Lúcifer, Lilith e alguns dos duques. Mas os outros não. Eles necessitam possuir humanos. E é por essa necessidade, que nós, usamos sempre um exorcista na nossa linha de frente. Ele expurga todas as almas demoníacas e nesse meio tempo, recolhemos os humanos que podem ser salvos ainda. Por isso há a Ordem Psíquica, para ampará-los. Ou seja, cautela quando for lutar contra eles.

Nick fez anotações mentais e assentiu, permitindo que Angélica continuasse.

─ Porém, não hesite em atacá-los. Tanto com armas, quanto com poderes. Prive-se apenas de pontos vitais. Aparentemente, a gente pode estar ferindo os corpos, as cascas, mas quem sofre com a dor é o espírito. Logo após o exorcismo, todos os ferimentos somem dos corpos possuídos. Certo?

─ Sim, entendi. Então, ataque sem hesitar. Entendi, entendi. Mas se eu decapitar, arrancar coração ou qualquer parte do corpo, estarei matando o possuído, certo?

Angélica assentiu.

─ Mas isso não acontece com quem outrora fora anjo. Só se acertamos ou arrancarmos o coração, certo? ─ perguntou mais uma vez.

─ Exato. É complicado, eu sei, mas conforme o tempo passa, você aprende.

─ Não... Eu entendi. ─ disse em seguida.

─ Perfeito. Mais tarde, você fará o treino de espada com Gabriel. Você está livre de mim, agora. ─ concluiu Angélica, sorrindo. Bagunçou os cabelos no alto da cabeça de Nick.

─ Ahh, poxa, mas já? ─ brincou o jovem Arcanjo, enquanto tentava arrumar os cabelos novamente. ─ Gosto de ficar com você, moça.

Angélica riu, verdadeiramente.

Nick saiu da sala, dando uma piscadela para a Serafim. Desceu três lances da escada. Desde que chegara ali, conversara com poucos anjos. Ele era novo entre eles, por isso não queria parecer superior. Precisava passar uma imagem boa, de bom líder. Endireitou a postura, deixando a coluna reta e pareceu mais alto. Passou entre os anjos que caminhavam pelo armazém, realizando freneticamente suas atividades diárias. Vez ou outra era contemplado com uma reverência, enquanto alguns anjos falavam seus nomes e castas, apertando-lhe a mão. Outros olhavam para Nick como se ele fosse um pedaço de carne qualquer.

Um estrondo ecoou pelo armazém e todos os anjos pararam. Miguel irrompeu da sala de reuniões no último andar e com aspereza, agarrou-se ao corrimão e berrou:

─ ESTÃO ATACANDO A CIDADE. NICK, CASTIEL, GABRIEL, CORRAM PARA O CENTRO, estão atrás da primeira parte da chave. AGORA! ─ informou o Arcanjo, exasperado.

Miguel abriu as asas e com um movimento rápido dos membros, ergueu voo e desceu em rasante, pousando próximo à saída. Empurrou as portas e virou-se:

─ Irmãos, protejam o esconderijo. Angélica comanda a partir de agora. Frida, reforce as defesas, crie armadilhas pela terra. Loriel, Goloriel e Calandriel, por favor, arrumem os guerreiros. Protejam o armazém, protejam as armas, protejam tudo.

O Arcanjo Primogênito saiu andando rapidamente pelas portas, seguido por Nick, Castiel e Gabriel. As asas balançavam, enquanto andava. Ele estava nervoso, era notável, Nick sentia o poder do irmão emanando fortemente. O quarteto alcançou a rua em poucos instantes e logo estavam misturados ao fluxo de pessoas. Andavam e desviam com suavidade e por estar entre humanos, Miguel optou por ocultar as asas. Miguel liderava o grupo e rapidamente passou as instruções.

─ Atenção. ─ chamou o Arcanjo, a voz grave e séria. ─ Ainda mais você Nick. O Inferno é uma imensa dimensão adjacente a essa. E para vir de lá, você necessita um tipo de permissão. Somente os antigos anjos, que agora são infernais, conseguem isso. Mas existem demônios que não. E o propósito desse ataque, creio eu, é a reconquista da Chave Dimensional. Existem três peças, uma aqui, próxima de Nick, outra em um outro ponto do planeta e a terceira parte no Céu. Com as três, Lúcifer monta uma chave circular, que abre um portal e que dá acesso a qualquer uma das cinco dimensões. E nosso objetivo é impedir que conquistem a primeira peça. Pois se Lúcifer conseguir as três peças, ele pode trazer o inferno para a Terra e Milwaukee será o centro dessa cena dantesca!

─ E deixaram aqui por qual motivo? Logo na cidade onde o Nick morava? ─ perguntou Castiel, olhando Nick de lado.

─ Pense, Cas! É muito mais fácil vigiar duas coisas, quando estão juntas, não separadas. ─ começou Gabriel, virando a esquina, enquanto corria ao lado de Miguel. ─ Pensamos que... Deixando aqui, as coisas ficariam mais fáceis. Tolice nossa!

Já estavam no centro da cidade. Uma explosão fez o solo tremer e eles pararam para garantir equilíbrio. Castiel arfou e voltou a falar:

─ E onde exatamente está a peça?

─ No Museu de Arte Moderna de Milwaukee. ─ quem falou dessa vez foi Miguel, retomado a corrida.

Uma multidão de pessoas começou a surgir conforme o museu ficava próximo. Corriam para todos os lados, os gritos eram caóticos, enquanto o chão sofria leves abalos. O quarteto de anjos custou muito em desviar de algumas. Outras pessoas, porém, escondiam-se próximas, para poderem assistir o acontecimento: não sabiam o que estava acontecendo, mas sentiam necessidade de assistir.

Os anjos posicionaram-se em uma linha defronte ao museu, fitando-o. O silêncio reinou conforme haviam chegado e eles não sentiram nada. Nick atentou o olhar e viu o prédio do museu. As curvas eram arte pura, haviam diversas janelas de vidro escuro. O Arcanjo da Luz conseguiu enxergar ainda uma mureta que rodeava a estrutura e um teto em forma de pirâmide. O jovem Arcanjo deu um passo a frente e perante o quarteto, uma sombra oscilou, enquanto levitava a dez centímetros do solo. Dela surgiu um homem esguio de altura mediana e cabelos tão longos que tocavam o chão. A pele alva era incrustada com algumas escamas e a língua ofídica tremeu entre os dentes. O sorriso surgiu.

─ Uma visssssssssita. ─ disse o o homem de língua ofídica. ─ Interessante. Trêsssssss Arcanjossssss e um peão.

A risada ofídica ecoou. Castiel tentou avançar, mas Miguel o interrompeu.

─ Samael, saia da frente! ─ exigiu Miguel, ponderando o tom de voz. ─ Eu, particularmente, não tenho tempo para escória.

─ E como ssssssempre, o Arcanjo acha que manda em alguém. Tsc, tsc, tsc... Tolice. Eu não obedeço e nem recebo ordensssssss de um falsssssso moralissssssta. ─ disse suavemente.

O vento frio tomou conta do lugar, embalando os cabelos de Samael, que ondulavam como cascatas de Petróleo. Ele sorria ameaçador, enquanto permanecia imóvel.

─ Quem é esse? ─ perguntou Nick, num tom baixo.

─ Ei. ─ chamou Samael. ─ Se quer saber de mim, pergunte diretamente pra mim.

A língua tremeu, e um silvo pode ser ouvido.

─ Ei. ─ imitou Nick. ─ Se eu quisesse saber por você... Eu teria te perguntado, criatura repugnante.

─ Esse daí é Samael... Braço direito de Lúcifer. A Serpente que envenenou as ideias de Eva. Uma cobra... ─ contou Gabriel.

Samael sorriu abertamente, fazendo uma reverência de falso agradecimento.

─ Não percamos mais tempo. Nick, atire um feixe de luz para trás, ofusque a visão dos humanos. Castiel, cuide dele.

Nick girou rapidamente nos calcanhares e deixou que sua energia fluísse pela mão direita, que erguera na direção dos humanos. Dos dedos brotaram feixes de luz que se alargaram e iluminaram a cidade. As pessoas curiosas, ofuscadas pelas luz, fugiram atrás de abrigo. Nick fechou o punho e junto de Gabriel e Miguel entraram no museu.

─ Agora, Casssssssss, ssssssssssomente eu e você. ─ sibilou Samael.

─ Como queira, Cobra.

Ambos correram para a peleja.

Miguel, Gabriel e Nick entraram pela entrada principal do prédio, dando de cara com um salão de teto transparente. O teto era formado por vidro em forma equilátera e era unido por uma placa também de vidro. As paredes eram brancas e nuas, com alguns quadros. Haviam dois corredores possíveis.

─ Por qual lado?

─ Esquerda. ─ lembrou-se Miguel, liderando.

Correram por um corredor e um tremor tomou conta do prédio. A luta entre Samael e Castiel estava ocorrendo naquele instante, mas o tremor partiu de dentro do museu, sinalizando que estavam no caminho correto. Chegaram num salão apinhado de estátuas e trabalhos modernos. Nick viu uma cadeira impregnada com tarrachas. O diferencial era sua posição: de ponta cabeça. Aquilo é arte moderna?, pesou o Arcanjo. E continuou a corrida. Tomaram um segundo e um terceiro corredor, chegando a uma sala. Maior que as anteriores, a sala detinha uma estátua no centro. Estava protegida por uma campânula grande de vidro polido. Distribuída pela sala existiam outras estátuas e quadros.

─ Não foi difícil achar esse pedaço da chave, Miguel. ─ zombou um dos ladrões.

O dono da voz virou para o trio, revelando seu rosto oculto por um capuz. Era Belzebu, Senhor das Pestilências. Miguel pigarreou.

─ Parece que Lúcifer não aprende. ─ riu-se Gabriel. ─ Já não bastaram as duas vezes que você fracassou, para ele aprender que seu lugar é no mais profundo poço do Inferno? Coitado. Iludido!

Belzebu se conteve, bufando fortemente.

─ Afaste-se da redoma, Belzebu. Afaste-se. ─ alertou Gabriel, erguendo sua espada.

─ Ou o que, Anjo da Revelação? ─ esse era um dos nomes pelo qual todos invocavam Gabriel, já que fora ele mesmo quem levara a mensagem para Maria, mãe de Jesus, quando a mesma estava grávida do filho de Deus. ─ Hein? Vai me expurgar como naquela vez, quando eu caçava o Arcajinho, ai?

─ Você o expurgou? Precisava ter exorcizado, Gabriel! ─ berrou Miguel, erguendo a espada também.

─ Eu não tinha tempo, irmão, ele estava atacando o Nick. Não tinha...

─ Chega de lorota, anjos. ─ brandou Belzebu.

Nick estava atrás dos irmãos e observava os outros dois demônios. Ainda não haviam revelado os rostos e muito menos pararam de tentar arranhar a redoma. O primeiro encapuzado afastou-se alguns centímetros do objeto de vidro e encostou a mão no objeto transparente. A mão brilhou e uma explosão aconteceu. Miguel e Gabriel tamparam os olhos e Belzebu cambaleou.

─ MIL DIABOS, Asmodeus, eu já avisei que não dá. Acorda, filho da puta! ─ berrou Belzebu.

O demônio chamado Asmodeus parecia um armário. Alto e corpulento, virou-se e sem tirar o capuz fitou Belzebu, que silenciou-se. Asmodeus desferiu um golpe na face de Belzebu e o jogou contra o chão. Arfou forte.

─ Tem muita coragem de xingar, mosca imunda. ─ disse, o tom de voz sobreposto.

Belzebu cuspiu um líquido viscoso e enfurecido ergueu-se. Não se vingou nem revidou, apenas limpou o sangue da boca. Ao lado de Asmodeus, Belzebu era pequeno e menos forte, porém, todos sabiam que ambos eram problemas. Miguel deu um passo a frente e indicou o terceiro demônio.

─ Quem completa sua corja? ─ perguntou firmemente, sem se abalar pela presença de nenhum dos três.

O terceiro demônio virou o rosto e descobriu a face, mostrando-se. Era um demônio de braços grandes, um tronco avantajado e pernas longas. Sorriu brevemente, mostrando dentes impecáveis e ponteagudos, como presas caninas. Os olhos cinzas e os cabelos vermelhos contrastavam-se entre si, chamando atenção do demônio. Brevemente reverenciou os três anjos, em uma atitude inesperada.

Astaroth, o demônio das diplomacias. ─ apresentou-se para Nick. ─ Ao seu dispôr, Anjo da Luz. ─ mentiu ironicamente, sorrindo.

─ Nos entreguem a chave. ─ ultimou Asmodeus em poucas palavras roucas. ─ Ou eu destruo vocês.

Miguel não respondeu. Correu em direção de Asmodeus, saltando no ar quando faltavam poucos metros para o choque dos corpos. Posicionou os pés na direção do peito do demônio, acertando-o em cheio. Miguel rolou estrategicamente para o lado, tomando a posição de ataque, enquanto Asmodeus tombou para trás. Nick caçou Gabriel ao seu lado, porém, o Arcanjo encontrava-se no outro lado do salão, numa furiosa luta contra Astaroth. Nick encarou Belzebu.

─ Ora, ora... O menino cresceu, vejam. Quanto músuculo... Cadê as asinhas? Não ganhou ainda do Papai? ─ zombou. ─ Vem aqui e explica pro Tio Belzebu como é que abre essa caixa com esse vidro maldito. Eu preciso daquela pecinha ali, olha... Na mão da estátua.

Nick olhou de longe e notou uma peça rústica na mão da estátua. Mesmo longe, conseguia ler as inscrições com sua percepção aguçada. A peça parecia uma enorme fatia de pizza, representado um terço de um círculo. Tinha inscrições negras por ela toda e um pedaço vermelho próximo do centro. Belzebu virou-se para a redoma e passou a encarar o pedaço da chave. Nesse meio tempo, Nick soltou as asas e suas roupas mudaram para as clássicas vestes angelicais. A espada surgiu numa bainha e ele a retirou. Caminhou suavemente na direção de Belzebu, esperando pegá-lo no momento de maior desprevenção. Faltavam seis metros. E Belzebu encarava a chave. Faltam três. E Nick ergueu a arma.

Belzebu soltou um sonido agudo, que inundou o salão. Das costas brotaram milhões de moscas, que rodearam Nick. Elas zumbiam, iam e vinham, tentavam entrar pelo nariz e ouvidos, atormentando o jovem Arcanjo. Belzebu nesse meio tempo sacou as duas facas que trazia e tentou atacar. Em vão. Nick desviara no momento propício, mesmo tendo os insentos no seu encalço. Uma luz brotou dos olhos de Nick, afastando as moscas, que voaram e procuraram abrigo em seu dono.

─ Atacar pelas costas? Que feio. ─ ponderou Belzebu, fazendo sinais negativos com a cabeça.

Alguns metros atrás de Nick, Gabriel passou voando na captura de Astaroth. Miguel e Asmodeus estavam em outra sala.

─ Vamos brincar. ─ determinou o Duque das Pestilências.

Ele balançou as facas e as lâminas tornaram-se gládios maiores. Segurando-as firmemente, Belezebu iniciou o ataque voraz. Usava as armas uma como extensão da outra, com golpes potentes, rápidos e acima de tudo, combinados. Nick defendia cada um deles e sentia o impacto das lâminas. Fazia o que podia, já que havia treinado luta com espadas. Fez o que pôde. Esquerda, direita, esquerda, direita, cima, baixo, esquerda direita. As lâminas vinham ferozes na direção do jovem Arcanjo. E ele defendia mais confiante, conforme o tempo passava.

As asas o levitaram e ele se afastou. Tomou impulso e atacou. Com auxílio das duas espadas, Belzebu defendeu o golpe de Nick no alto e chutou-o na lateral do tórax. Nick rolou para o lado, chocando-se contra um pedestal de uma estátua, que caiu próxima. A dor se espalhou.

─ O problema dos anjos é a confiança excessiva. Nem sempre o bem ganha do mal. ─ falou Belzebu profeticamente, erguendo as espadas para o golpe final. ─ Glória para os vencedores. ─ falou, deixando uma mosca escapar da boca.

Com a arma longe, Nick só achou uma solução. Ergueu as pernas e girou as costas no chão, passando uma rasteira no Duque, que tombou como fruto maduro da árvore. As espadas caíram próximas e Nick pôde se erguer. Correu na direção da própria arma. Agora armado, prestou atenção em Belzebu, que ergueu-se com dificuldade. Olharam-se e quando estavam prestes a se atacar, a parede lateral da sala explodiu.

Miguel e Asmodeus engalfinhavam-se no ar, enquanto havia uma troca de socos e pontapés. O corpo deles chocou-se contra a redoma de vidro, fazendo-a estourar em placas de menores proporções. A estátua que segurava o objeto tombou, fazendo-o rolar pelo piso. Nick voou na direção do objeto, Belzebu correu. Nick agarrou a chave com os dedos. A parede que ficou mais próxima foi usada como impulso pelo Arcanjo, que foi de encontro com Belzebu. As espadas chocaram-se e o show de fagulhas ocorreu magnífico. Belzebu foi pro lado, tamanho impacto e Nick foi pousar numa das maiores estátuas da sala. Longe do alcance de todos, segurou a peça com força.

A batalha entre Gabriel e Astaroth ocorria menos violenta, já que Gabriel submeterá seu oponente ao fracasso. Com a mão em sua garganta, Gabriel encostou violentamente Astaroth contra a estátua na qual Nick pousara. O Arcanjo Mensageiro falou alguns dizeres baixo demais e o demônio se dissolveu nas mãos do anjo. Asmodeus, longe das mãos de Miguel, socou o chão, causando um gigantesco tremor na sala. A estátua em que Nick estava tombou, levando o Arcanjo consigo. A peça rolou pelos dedos do Arcanjo da Luz, deslizou pelo chão, até chegar próxima de Belzebu, que agarrou-a. Preparando para o bote, Gabriel correu na direção de Belzebu. No momento propício, Asmodeus grudou as costas nas costas do Senhor das Pestilências e Miguel veio para dar o golpe.

Os demônios sumiram em pleno ar, deixando os Arcanjos chocarem-se violentamente. Caíram desnorteados de lado, sendo embalados pelo silêncio que surgiu na sala.

Miguel virou-se encarando o teto e respirou profundamente. Gabriel fez o mesmo e sentiu a testa molhada em demasia e passou a mão. O sangue surgiu pelo supercílio, originado pelo choque com o irmão. Nick gemeu.

─ Como fui tolo... ─ ponderou Miguel, virando o rosto para o irmão, ainda deitado ao seu lado. ─ Minha tolice as vezes é maior do que minha sabedoria.

─ Como assim, Miguel? ─ questionou Gabriel, erguendo-se para olhar melhor o irmão.

─ Quando eu coloquei a chave nessa sala, eu utilizei uma habilidade rara: eu fiz do vidro um objeto indestrutível aos outros, porém, destrutível ao meu toque. Ou seja, aquele que tentasse pegá-la (a chave), não conseguiria jamais destruir o vidro. Porém, caso eu esbarrasse ou tentasse abrir a redoma, eu conseguiria. Tudo minha culpa! Eu subestimei Lúcifer. Esqueci que ele sabe ler meus pensamentos, sabe prevenir-se de mim.

─ Não... Não se puna, irmão. Detemos ainda duas partes da chave, estamos com vantagem. ─ refletiu Gabriel.

Nick caminhou até Miguel e estendeu a mão suja para o irmão. Miguel agradeceu com um sorriso e deixou-se receber auxílio de Nick. Sentou-se.

─ Você nunca é tolo, Miguel. Não se martirize, irmão. Sua liderança é impecável e sua voz de comando é perfeita. Você é símbolo de admiração, símbolo de força, você é um guerreiro nato. Você inspira, então, não se preocupe, iremos recuperar a chave, iremos proteger as outras... ─ elogiou Nick sério.

─ Mande reforço e proteção para a próxima chave, então. ─ sugeriu Gabriel inocentemente.

─ Não... ─ Miguel apoiou a mão no joelho e levantou-se lentamente. ─ Se movermos uma contigente de proteção para a chave, eles saberão da localização da mesma e assim, até o próprio Lúcifer pode massacrar a segurança. E perderíamos outra parte. E não vou dizer onde está. Se um de nós for pego, eles com certeza irão extrair as informações de nós... O que me deixa sem opções.

Da entrada do salão surgiu Castiel. Apresentava um corte na bochecha, o rosto está suado e sujo de terra. As roupas estavam rasgadas e trazia consigo um pedaço do rabo de um ofídio.

─ Aquela cobra nojenta fugiu. ─ contou, largando o rabo na frente de todos. Ele mexeu levemente. ─ Verme.

Com um movimento da mão, Castiel fez o suor do rosto levitar para longe da pele. As gotículas de água caíram na fronte do anjo.

─ Me diz. Lá no céu, aonde fica o esconderijo da terceira parte? ─ perguntou Gabriel.

─ Fica na Biblioteca das Potestades, no centro dela. Brock colocou lá...

Houve silêncio. O som de sirenes invadiu o local.

─ Precisamos ir.

Os anjos correram pela parede destruída, passaram por alguns corredores e saíram pela lateral do prédio, ganhando as ruas da cidade. Sumiram de vista, antes mesmo que policiais e paramédicos pudessem ter notado a presença deles.

Mais tarde, as autoridades alegaram no noticiário um ataque terrorista mal-sucedido, já que naquela manhã o museu estava fechado para limpeza. A polícia ainda alegou que os seguranças não foram ao local, temendo pela vida deles. Alguns relataram, ainda, que o barulho era tão intenso, que imaginavam uma guerra acontecendo das câmaras do local.


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