CELESTIAL escrita por Leonardo Pimentel


Capítulo 8
Capítulo 8 - Castas




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Quando retornou para o armazém abandonado, Nick entrou normalmente. Os anjos que realizavam as tarefas corriqueiras pararam apenas para ver o novo Nick chegar. Ele até havia esquecido da mudança física, por isso, num primeiro instante, ele estranhara a expressão contida nos rostos dos curiosos. A imponência que demonstrava ter, por mais que fosse sem querer, era respeitada. Todos, sem exceção, deram breves reverências ao anjo que entrou pelas portas duplas do lugar. Curvavam as asas brancas com respeito ou gesticulavam o braço. Nick, não acostumado com a situação, andou o mais rápido possível, até que Angélica parou em sua frente e o reverenciou como todos. Ele olhou para a mulher, estranhando a forma como ela se reverenciava. Pegou-a suavemente pelo braço e disse:

─ Você não reverencia, você merece reverência. ─ olhou-a seriamente.

A mulher anjo sorriu brevemente.

Aquele armazém disponibilizava de três andares altos, com passadiços que interligavam um lado ao outro, cortando todos os andares ao meio. E no passadiço do primeiro andar, Miguel assistia a chegada do irmão. Gabriel desceu de um voo e parou ao lado de Nick e Angélica e ambos contemplaram por alguns instantes a cena em que Nick conversava com alguns anjos.

─ Está na hora de planejamos uma defesa. ─ disse Gabriel. ─ Eu tive uma visão.

─ Nick. ─ chamou Miguel, firme e sério. ─ Suba até o terceiro andar, na sala 33. Estaremos te esperando no anoitecer. Angélica, você vem também. A reunião de guerra começa hoje.

Mediante o aviso, os anjos que estavam no térreo do local começaram a tagarelar e conversar a respeito da guerra. Já estavam a par de toda a história e das ameaças de um vingativo Lúcifer. Ademais, faltavam horas para a reunião, o que reservava a Nick um tempo vago, que ele poderia preencher com alguma atividade. Pensando isso resolveu imaginar o que poderia fazer no armazém, então, olhou ao seu redor e tentou pensar mais ainda.

─ Algum problema senhor? ─ questionou uma voz ao lado.

Nick esperava que fosse algum anjo que ele conhecesse.

─ Ah... Qual seu nome? ─ tentou Nick, pouco envergonhado.

─ Uriel, dos Serafins, senhor. ─ respondeu o anjo com certo orgulho e uma reverência rígida.

─ Legal! Você pode me ajudar... Quer dizer... Me explica. Você é um Serafim, ou seja, controla o fogo, assim como a Angélica, correto?

─ Não tão bem quanto ela, senhor, mas controlo sim. ─ tornou a responder brevemente, com um sorriso de orgulho. ─ Talvez, um dia, eu seja tão bom quanto a senhora Angélica, senhor.

Nick apreciou o anjo.

─ Faremos assim: você me explica como podemos controlar minha ‘luz’, assim como você faz com seu fogo e... pare de me chamar de senhor, por favor. Eu tenho só dezoito anos e isso é estranho. ─ Nick riu para Uriel.

─ Ok, senh... Como devo chamá-lo?

─ Nick, quem sabe?

─ Ousadia lhe chamar assim.

─ Pode me chamar, então de... Nick. Ok? ─ ponderou o Arcanjo.

Ambos passaram a caminhar pelo primeiro lance de escadarias, conversando entre si. Uriel estava explicando a parte básica de como controlar os poderes. Ele estava explicando a forma como ocorria e como os anjos o faziam. E Nick tentava absorver o maior número de informações possível, para que assim não fizesse feio diante de um embate. O que ele mais queria era poder usar os poderes da forma como lhe fosse melhor. Uriel ainda o conduziu por mais quatro lances de escada, quando adentraram por uma sala mediana. Era iluminada por velas que flutuavam no ar, lançando nas paredes sombras bruxuleantes. Nos cantos daquela sala haviam diversas almofadas em montes. Na parede oposta da porta, havia uma lareira simples feita de tijolinhos vermelhos, bem modesta, onde o fogo crepitava fortemente. Uriel recolheu duas almofadas, colocando uma defronte da outra e ofereceu um lugar a Nick. Ele sentou, cruzando as pernas.

─ Bem vindo a sala de meditação. Preste atenção. É fácil, até. ─ comentou Uriel. ─ Hoje teremos tempo para que você aprenda o básico do domínio de seu poder. Vou contar uma história antes.

Uriel moveu a mão suavemente, num movimento que abrangeu toda a sala. Pouco a pouco, as chamas das velas e da lareira diminuíram, deixando o local mais escuro.

─ Há muito tempo, quando o Altíssimo criou os anjos, alguns, ele criou de alguma matéria. Por exemplo eu: quando fui criado, Deus escolheu uma pedra incandescente e dela, moldou-me e por isso sou capaz de manipular o fogo. Quando ele criou nosso Santo Arcanjo Gabriel, o Mensageiro, ele deixou que uma lágrima caísse de seus olhos videntes, sobre a terra e dessa terra moldou o nosso querido Arcanjo, dando-lhe a capacidade de assistir ao futuro. E você, ele o fez do barro, pegou-o e enclausurou-o numa esfera de luz, até que tivesse vida suficiente. Por isso, alguns de nós tem poderes a mais. Eu controlo o fogo, Gabriel assiste o futuro e você é o portador da luz. ─ ouviu-se um risinho. ─ O que importa, senh... Nick!, é que nós precisamos aprender a domar nossa habilidade selvagem. Mas necessitamos, antes de tudo, dominar quem nós somos!

Dito isso, Uriel cruzou as pernas como Nick fizeram anteriormente e posicionou-se como as pessoas fazem, quando iniciam a meditação. Ele olhou para Nick, esperando que ele fizesse o mesmo.

─ Medite, exercite sua mente. Meditação, talvez, arrisco-me em dizer, é a única coisa que em excesso não faz mal. Vamos! Eduque sua mente!

Nick posicionou-se igualmente Uriel e meditou. Esvaziou a mente, eliminando tudo dela, os pensamentos mais antigos, os mais novos. Eliminou tudo o que devia, os questionamentos, as obrigações, deveres, até se permitiu esquecer das coisas. Respirava vagamente.

─ Ouça minha voz, até certo ponto. Agora imagine que por dentro de você, a luz corre como o sangue. Imagine a luz como parte de quem você é. Imagine-a como um pedaço de você. Concentre-a num ponto. Concentre-a no peito e deixe-a de livre acesso. Medite em silêncio agora.

Nick parecia poder ver a luz dentro de si. Ele a manipulou levemente, para que ela lhe obedecesse. Ele se imaginou conduzindo-a diretamente ao coração, como se ela fosse palpável. E ela obedecia. Ela se dobrava aos seus comandos. Nick a concentrou no peito, assim como Uriel havia mandado. Vezes ou outra, a luz parecia querer escapar, mas Nick fazia com que ela obedecesse, forçando-a. Talvez, ao ver de Nick, já cansada aos comandos, a luz deu o braço a torcer e brilhou mais intensamente.

Uriel, que assistia o meditar do Arcanjo, sorriu brevemente, quando viu a luz emanar dos olhos fechados de Nick, através das brechas e entre os cílios. Nick abriu os olhos e os globos estavam tomados pela luz amarelada e aconchegante.

─ Excelente! Isso mesmo. Se eu soubesse que você pegaria fácil... Vamos ver.

Nick sorriu e a luz do olhar se apagou lentamente.

Uriel, com outro movimento abrangente, fez o fogo crepitar mais imponente do que nunca. As chamas ganharam tamanho, tanto nas velas, quanto na lareira. A quentura fez o local mais aconchegante.

─ Nick, apague a luz do fogo. É. Faça isso. ─ pediu Uriel, dando um sorriso.

Nick apontou a mão para a lareira com suavidade. Ele comandou que a luz do fogo viesse ao seu encontro, porém nada aconteceu. Ele relaxou o movimento desapontado. Suspirou e repetiu o comando, dessa vez com ambas as mãos erguidas. O fogo da lareira pouco a pouco foi se apagando, como se fosse uma televisão, onde alguém controlasse o brilho. Quando Nick extraiu toda a luz do fogo, a chama que serpenteava pelos troncos queimados era somente uma sombra. Nick segurou o movimento o quanto pode, até que não aguentou mais e assim, fez a luz voltar à chama que brilhou ardentemente.

Nick ofegava.

─ Nossa! Isso cansa mesmo, hein! ─ tinha dificuldade em falar.

─ No início sim, mas você se acostuma, se você adotar a meditação nas horas vagas.

─ Obrigado, Uriel. Sério. Se não fosse você, eu simplesmente estaria na estaca zero! Obrigado. ─ Nick apoiou-se nos próprios joelhos. ─ Agora, eu vou dar uma passada pelo meu quarto e... Qualquer coisa, você sabe onde me achar.

Nick piscou para o novo amigo que fizera e ele acenara de volta. Agora, respirando melhor, Nick desceu alguns lances de escada, até que encontrasse a porta do quarto que ocupava no armazém. Adentrou no local, e largou-se na cama. O cansaço o tomara por inteiro. E se continuasse naquele ritmo, em poucos dias teria domínio sobre o seu poder. Pensando nisso, Nick acomodou a mão sobre o peito e sentiu um coração batendo desconpassado, tamanho o cansaço. Respirou profundamente algumas vezes e esperou até que o coração voltasse a bater normalmente.

Talvez pelo cansaço, no início da tarde, Nick caiu no sono. E naquele dia, não teve sonho algum, ou se teve, o sonho não era importante, para ser lembrando posteriormente.

Acordou quando abriram a porta do quarto.

─ Er... Senhor Nick, desculpe minha intromissão, porém, trago um pedido do Arcanjo Miguel que o aguarda na sala 33.

─ Obrigado,...

─ Meriel, senhor.

─ ...Meriel. Seria do meu agrado, que por favor, não me chame de senhor. ─ sorriu abertamente.

─ Desculpe, Nick, é força do hábito!

─ Obrigado, meu caro.

Nick se ergueu da cama, quando Meriel sumira. O sono ainda o chamava. Ele olhou na mesinha ao canto da sala e ali estavam diversas peças de roupas novas. Ele escolheu uma calça jeans preta, uma camiseta branca, sem nenhuma estampa e uma jaqueta que lhe caíram bem. Ousou calçar sapatos sociais, o que o deixou ligeiramente elegante e ele olhou-se no espelho. A imagem que via, não era a habitual, mas era bonita. Passou as mãos pelos cabelos e gostou do que viu.

Na sala 33, Nick parou na porta. Talvez seria a maior sala de todas que o armazém possuía. No fundo da sala havia um imponente quadro, que prendia a atenção de todos, quando entravam pela porta. Retratava quatro anjos, lutando contra uma criatura bestial que possuía chifres pelo corpo todo e asas de couro nas costas. Nick conseguiu reconhecer Miguel, Gabriel e Lúcifer na imagem. Mas o quarto elemento ele não reconhecia, por mais que forçasse a memória, não se recordava de ter visto o quarto anjo naquele lugar. Havia uma mesa longa de reunião, coberta por uma toalha branca e com um enorme mapa esticado sobre o tecido. A luz no local provinha de várias lâmpadas, que eram exclusivas naquela sala. Miguel sentava à cabeceira da mesa, a sua direita vinha Gabriel e a esquerda estava vazia. Alguns anjos já estavam em seus devidos lugares, outros entraram atrás de Nick.

O mapa na mesa, Nick reconheceu na hora: era o centro da cidade de Milwaukee. As principais construções estavam marcadas em caneta vermelha, em sua maioria os grandes prédios. Haviam diversas anotações espalhadas pelo mapa e alguns escritos em outra língua. Nick sentiu um frio na barriga. Ficou em pé, próximo da mesa, analisando o mapa ─ coisa que o jovem era muito bom, cartografia. Coçou o queixo levemente, sentindo a barbicha crescer.

─ Nick, você senta à minha esquerda. Os outros, acomodem-se conforme a vontade. ─ exigiu Miguel.

Nick, assim como os outros aderiram a ideia e sentaram-se. Um último anjo entrou pela porta, fechando-a atrás de si. O Arcanjo contou os anjos e a reunião teria dez anjos. E naquele instante, enquanto contava, Nick analisou. Primeiro depositou os olhos num cara do lado oposto da mesa, sentando ao lado de Angélica. Ele falava gesticulando as mãos, falava com elegância. A barba estava feita com uma impecabilidade invejável, usava roupas simples, porém modernas e estilosas. Era forte, musculoso, tinha dentes impecáveis e um penteado bonito. Parecia exalar poder. Era um típico galã de filmes de Hollywood. Ao lado dele estava acomodado um senhor, visivelmente menor que todos naquela sala. Era careca no topo da cabeça, mas possuía cabelo na traseira e nas laterais da cabeça. Os cabelos saiam como tufos de algodão branco e os olhos sempre mantinham-se fechados. Tinha diversas cicatrizes pelo corpo, marcas da idade e apoiava-se num cajado simples. A boca era desprovida de dentes, por isso era tão enrugada. E Nick sentiu vontade de proteger aquele senhor. E ele não conseguia imaginá-lo como anjo. Nick sorriu, enquanto fitava-o.

Do lado de Nick sentava-se um homem, ligeiramente maior, mais musculoso, parecia um guarda-roupa. Possuía ações duras, trajava um sobretudo enorme e encouraçado, o cabelo era raspado e possuía diversos brincos que cobriam as orelhas. Os olhos eram castanhos e a pele negra. Mantinha os punhos fechados sobre a mesa e olhava sempre para o mesmo ponto. Bufava vez ou outra. A espada estava encostada na parede atrás dele. Nick parou de fitá-lo quando o mesmo o encarou.

Do lado deste homem, Nick enxergou um pedaço de uma mulher. Era uma mulher anjo de cabelos tão pretos quando a noite mais escura ou então o mais bonito ébano. Ela possuía olhos absurdamente brancos, dava toques suaves sobre a madeira da mesa. Vez ou outra, ela tocava no arco e na aljava, com uma suavidade anormal. Gesticulava demoradamente e sorria vez ou outra para os dois anjos postados na sua frente. Os dois devolviam os sorrisos. Um deles era um homem magro, porém definido. Tinha cabelos médios, pretos, beirando a cor azul. Não carregava nenhuma arma, aparentemente e mostrava-se calmo, como um lago sem ventos.Tinha feições pequenas, mas era expressivo. A última mulher anjo da mesa era uma mulher esbelta, possuía braços fortes, um corpo malhado e escultural, como se tivesse sido esculpido por algum artista muito bom. Ela tinha cabelos castanhos, olhos marrons e expressões marcadas como a terra seca. Estava arrumada impecável como seu armamento. Trazia na mão duas pequenas rochas, que fazia flutuar conforme sua vontade. Ora ela transformava a terra em pó, ora ela fazia o pó virar uma pedra só. E assim ela passou o tempo, até que Miguel tomasse a palavra.

O Arcanjo pigarreou. A mulher que mexia com a terra parou, o homem-guarda-roupa acordou do transe e fitou Miguel, e todos se silenciaram. Apenas o velho anjo permaneceu na mesma posição.

─ Esta reunião de natureza urgente foi convocada para alguns fins cruciais. Temos um novo Arcanjo. ─ com um movimento amplo, Miguel dirigiu-se a Nick. ─ Nichollas, a Estrela do Alvorecer.

Nove pares de olhos se depositaram no Arcanjo.

─ Sim, temos um novo Arcanjo, como também temos mais uma batalha pela frente. E precisamos reagir mediante os caprichos de Lúcifer, o Desertor. ─ Miguel pareceu sério. ─ Antes de tudo, irmãos... Ensinemos o jovem Nick.

O primeiro a se dirigir a Nick foi o homem ao lado. Moveu-se pesadamente e olhou-o.

─ Eu sou Loriel, guerreiro-chefe dos Querubins, a casta dos guerreiros. É um prazer estar ao seu lado, Anjo da Luz. ─ e sorriu brevemente.

Nick aliviou-se, por ver que Loriel poderia produzir algo que não lhe deixasse apreensivo. Loriel voltou o olhar para Miguel, mostrando ter terminado sua saudação. Nick não soube o que fazer, então tocou no ombro de Loriel de modo cordial.

A mulher que se sentava ao lado de Loriel se ergueu suavemente. Conforme movia-se, um misto de cheiros e gostos invadia o ar. Ela reverenciou Nick com lentidão e respeito, abaixando a cabeça e deixando os cabelos sedosos caírem pelo ombro. Voltou o olhar para o Arcanjo.

─ É um prazer todo meu, Arcanjo Nick, estar em um mesmo âmbito que você. Sou Gretel, Prostante do Ar e Senhora de Rapina dos Prostantes do Ar. ─ ela sorriu suavemente.

Miguel sorriu, enquanto Gretel sentava. Disse:

─ Gretel é uma exímia arqueira e duelista. Os Prostantes do Ar são exímios voadores, alcançam velocidades inigualáveis. Não aposte corrida com eles.

Nick maravilhou-se com as palavras de Miguel e olhou para a mulher anjo. Ela sorria com um orgulho desmedido. E o sorriso fazia os olhos dela fecharem numa curva, que tornava o rosto ainda mais belo.

Um pigarro.

─ Eu sou Frida, Prostante da Terra. Sou também a Comandante Suprema dos geobellators. É muito bom ver sua cadeira ocupada, senhor. ─ breve e rápida, Frida se apresentou. Nick viu potencial nela. Frida era uma mulher forte, musculosa. O cabelo curto, porém bonito lhe rendia um visual ameaçador. O anjo ao lado de Frida moveu a mão e chamou atenção de Nick. Sereno, ele fitou o Arcanjo.

─ Sou Castiel, Prostante da Água e Chefe dos Cetaceamiles. ─ disse o anjo de feições pequenas. ─ Caso tenha calor, meu senhor.

Frida cotovelou o amigo. Nick riu. E os olhos estranharam a reação.

─ Entendam. Nick não é tão sério quanto Miguel. ─ disse Gabriel.

Miguel sorriu para o irmão.

O velho anjo, que não se movera demais, ergueu a cabeça suavemente e os olhos abriram um pouco. Ele analisou Nick, incomodando o jovem Arcanjo. Nick notou brilho nos olhos do senhor.

─ Então... Esse é o menino? ─ disse o velho, a voz fraquejando.

─ Sim. ─ respondeu Miguel.

─ Ele será muito bom. ─ o velho voltou a fechar os olhos, e abaixar a cabeça.

─ Nick. Esse é Manaeus, ele é um Trono. Ele é o conselheiro principal de Deus, ele quem conversa com Deus e auxilia nosso Pai a tomar decisões. Ele já foi Querubim. ─ comentou Angélica, sorridente.

Nick tentou imaginar o velho Manaeus como Loriel. Difícil.

─ Ele possui o dom da vidência. ─ disse Gabriel, olhando-o com respeito. ─ Nasceu dos pensamentos do nosso Pai. A opinião dele é de grande valia na nossa reunião.

─ E para finalizar essa apresentação, cá estou eu, Brock, ao seu dispor meu senhor. Sou o Trono-Líder, mas prefiro um simples Erelin. Comando minha casta, que comigo somam doze anjos de alto escalão. Somos nós quem ajudamos a Deus a tomar decisões. Porém, ultimamente, Deus não tem falado conosco. Estou ao seu dispor, meu senhor Arcanjo.

Brock mensurou a cabeça suavemente, logo em seguida direcionando o olhar para Miguel, que esperava pacientemente as apresentações. Ao findar das mesmas, Miguel gesticulou com as mãos. O mapa sacudiu sobre a mesa, esticando-se em seu máximo. Outro pigarro.

─ A marca apareceu. ─ começou Miguel. ─ Sempre, Nick, antes de uma batalha, Lúcifer precisa marcar em algum lugar da terra, um local onde ele deseja que a batalha comece. E dessa vez, ele escolheu o centro de Milwaukee, o que não é coincidência.

─ E como foi a marca, irmão? ─ perguntou Gabriel.

─ Lembram da última vez? Ele desenhou com sangue humano um enorme pentagrama. Doente! ─ comentou Frida.

Algumas vozes concordaram.

Miguel nada disse. Apontou para a televisão no canto da sala, coisa que Nick não havia percebido anteriormente. Ele moveu a mão e a televisão ligou-se, naquela tela cheia de chuviscos cinzas e barulho de estática. Ele mensurou a mão novamente e um canal surgiu. O número do canal exibia-se verde no canto superior da tela. Era um noticiário.

─ O serial-killer de Milwaukee ainda está foragido. ─ uma pausa e logo a jornalista retomou o discurso. ─ Na manhã de hoje, foram encontrados cinquenta corpos de pessoas nuas, num terreno abandonado no centro de Milwaukee. Os corpos estavam dispostos num desenho que nenhum simbologista da universidade local soube decifrar. ─ a imagem mudou novamente para um senhor na casa dos quarenta anos, que movia diversos papéis na frente da câmera. Ele dizia: ─ Nenhum de nós têm ciência da origem do símbolo e nem o que ele venha a representar. O que sabemos é que a pessoa que usou os corpos para desenhar o símbolo tem sérios problemas. As autopsias realizadas nas primeiras vítimas constam a causa da morte, como natural. Resta aos...

E com um movimento da mão, Miguel fez a televisão se desligar de súbito. Ele ergueu um pedaço de papel para todos analisarem um símbolo. Era um círculo com vários desenhos dentro.

─ Este é o símbolo. ─ disse Miguel.

Os murmúrios cresceram.

─ Que doente! Lúcifer passou os limites! ─ Angélica pegou o pedaço de papel da mão de Miguel. Tremia levemente. ─ Doente...

─ Miguel. Como protegeremos os humanos da cidade? ─ perguntou Brock, enquanto analisava a figura ao lado de Angélica.

─ Eis a questão. Hoje eu estive falando com Gabriel a respeito disso. ─ respondeu Miguel.

─ Vocês veem os círculos em vermelho? São os maiores prédios da cidade. Poderíamos abrigar os humanos neles, enquanto a luta acontece. ─ propôs Gabriel, completando o pensamento do irmão. ─ No caso, precisaríamos apenas conseguir um meio de facilitar a escolha dos humanos... Livre arbítrio.

O silêncio tomou conta da sala. Nenhum dos anjos propôs nada.

─ Tantos anjos com habilidades incríveis e nenhum deles tem controle sobre o sono? ─ questionou Brock, fitando Miguel.

Miguel permanecia em pé, com a mão sob o queixo, pensativo e silencioso. Nick jurava poder ver as engrenagens da cabeça do anjo trabalhando de modo insano. Ele olhava os cantos da sala, enquanto alguns cochichavam entre si. Nick apenas fitava um por um, analisando-os. Miguel moveu-se até a janela e todos fitaram-no.

─ Existe sim um anjo que pode nos ajudar, porém ele não está aqui nos Estados Unidos, nem no mundo terreno. Ele não desce na Terra há anos. ─ começou, enquanto tocava no vidro gelado. Parecia contemplar o próprio reflexo na superfície transparente. ─ Lembra de Somnus, Gabriel? Sim... Aquele que foi caçado no século XVII... Lembra?

Gabriel pensou um instante, logo assentiu com um sorriso.

─ Somnus era um anjo que preferia andar entre os humanos, do que entre os celestes. Ele dizia que a complexidade humana era muito mais atrativa do que a dificuldade que ele tinha em entender os seus iguais. Somnus estudava o comportamento humano, estudava os costumes, a forma como se vestiam até o mais simplório detalhe. Ele detinha estudos avançados demais para a época, desde o modo como escrevia e usava as palavras, isso é: ele tinha um vasto domínio em diversas línguas. E chegou a estudar a medicina. E como estudou... Na época, diversos estrangeiros vinham a ele, pediam cura e ele usava da medicina para curá-los. Ele aplicava conceitos que estavam à frente de seu tempo. E ainda mais na época em que vivia, no Renascimento Científico... Nossa, ele era um perfeito estudante. Um homem autodidata. Só que isso assustava as pessoas.

Miguel andou até a cadeira que ocupara antes e apoiou-se no encosto da mesa. Fitou os presentes da mesa seriamente.

─ E assim, depois de um tempo, após um delato, caçaram-no na casa que ele ocupava numa vila no norte da Alta Normandia... ─ continuou o Arcanjo.

─ Normandia ficava na França, não é? ─ questionou Angélica.

─ Sim. ─ respondeu Gabriel. Miguel sorriu.

Miguel fitou agora o fundo da sala, vazio, mas havia encontrado lá um ponto fixo, que desejou olhar, enquanto continuava a história. Suspirou brevemente.

─ Antes de alertarem-no do mandato, desenharam em volta da casa um pentagrama invertido. Atearam fogo na moradia dele e ele incapaz de usar sua Desmaterialização, deixou-se pegar para ser levado a julgamento público.

─ Mas Miguel... ─ começou Nick pela primeira vez na reunião. ─ Pentagramas não só afetam demônios? Como um poderia afetar um anjo?

Miguel sorriu brevemente.

─ Bem, existem dois tipos de pentagramas no mundo, Nick. O normal, usado por nós e o invertido, usado para aprisionar, enfraquecer e drenar os poderes de um anjo. Ambos detêm cinco pontas. O que usamos, sua ponta volta-se para o cima ou céu, lembrando de que lá existe uma força maior que rege tudo. E o que usam contra nós, tem a ponta voltada para baixo. Os humanos atribuem ele ao satanismo também, pelo fato de simplesmente conseguirem desenhar a cabeça de um bode, animal que simboliza Lúcifer... Bobeira. ─ Miguel riu brevemente, sendo acompanhado de Gabriel e Brock. ─ Ele passou alguns dias sob custódia da Inquisição aprisionado numa sala. Vestiram-no com uma camisa que impossibilitava a mobilidade dos braços e que ele deixasse as asas livres. A cela era protegida por barras grossas de ferro, o que fez com que ele aguardasse o momento propício para que a fuga desse certo.

─ E ninguém sentiu falta dele? Quer dizer... Ele é um anjo. ─ questionou Frida, com o punho sobre a mesa.

─ Pensávamos que ele havia decidido desistir de suas obrigações conosco... Pensávamos que ele não apreciava ser um anjo. Por isso, julgamos o sumiço dele como um alerta... ─ respondeu calmamente Miguel. ─ Mas ele se virou muito bem. ─ respirou para continuar a fala. ─ Quando o dia de seu julgamento chegou, amarraram-no num poste em praça pública e começaram a montar a fogueira. Ele viu as pessoas surgirem e ficarem amontoadas em sua volta, ele via as expressões sádicas nos rostos dos humanos e ele pensou desentender tudo o que julgara correto. A imagem que ele tinha dos humanos simplesmente desapareceu com mais facilidade do que tudo. Foi o que ele me disse depois.

Miguel resolveu andar, para tornar o monólogo menos chato. Passava a mão pelos encostos das cadeiras, conforme caminhava.

─ Ele foi xingado, agredido e nada fez. Apenas aguardou. Quando terminaram de montar a fogueira, ele já tinha se concentrado o suficiente. Foi quando eu apareci.

─ E já dizia nosso Deus: "Não recorram aos médiuns nem bus­quem a quem consulta espíritos, pois vocês serão contamina­dos por eles. Eu sou o Senhor, o Deus de vo­cês." ─ dizia um homem, a bíblia na mão e a pira de fogo na outra. ─ E ainda dizia: "Voltarei o meu rosto contra quem consulta espíritos e contra quem procura médiuns para segui-los, prostituindo-se com eles. Eu o eliminarei do meio do seu povo." ─ pigarreou fortemente. ─ É assim que vocês querem ver o mundo? Sujo? Uma maçã podre em um cesto, infelizmente apodrece todo o resto.

O homem gritava para uma multidão que se aglomerava na praça. Pessoas queriam, de qualquer maneira, assistir ao espetáculo que estava prestes a acontecer. Várias pessoas olhavam feio para o homem atrelado ao poste de madeira no centro da praça. Outras ousavam em lançar tomates podres contra o rosto do prisioneiro, já sujo.

─ Bruxo! ─ berrou uma criança, lançando pedras sobre o prisioneiro. A atitude foi copiada por outros, que colhiam as pedras no chão.

Uma pedra pontiaguda acertou a testa do homem preso, abrindo-lhe um corte na pele, que verteu sangue rubro.

─ Não se engane meu povo. Ele pode sangrar, mas esse sangue está imundo de magia negra. Ainda temos aqui: "Os homens ou mulheres que, entre vocês, forem médiuns ou consultarem os espíritos, terão que ser executados. Serão apedrejados, pois merecem a morte". A morte é a única maneira de limpar o mundo da imundice da magia negra. A bruxaria é pecado. E você não fala nada? ─ questionou. ─ Olhe nos meus olhos...

─ Não... ─ respondeu o prisioneiro.

O homem que segurava a bíblia e a pira gesticulou e um segundo homem próximo, armado de um bastão, acertou a face do prisioneiro.

─ Olhe para mim quando eu falo. ─ falou outra vez, cuspindo as palavras.

O prisioneiro ergueu os olhos, a ira emanando dos globos oculares. Respirava fortemente.

─ Antes de morrer, quero que saiba meu nome. Gianbatistta Churchill. ─ sussurrou o mais próximo que pôde.

Os gritos ecoavam pela praça pública, diversas pessoas assistindo à fogueira da varanda das construções mais próximas. Algumas pessoas ainda atiravam pedregulhos, outras lançavam pedras que acertavam o prisioneiro. As palavras de baixo calão penetravam pelo ouvido do homem, que suavemente sorriu.

─ Me queimem... Queimem um servo de Deus mesmo e tenham a ira Dele. QUEIMEM! ─ incentivou, a ira emanando dos olhos. A raiva estava incontida e os olhos já não eram capazes de conter as lágrimas. ─ Eu duvido que me queimem...

─ Iremos te queimar, Feiticeiro Negro. Mas antes, deixe-me lembrá-los: já dizia em Êxodo, capítulo vinte e dois, versículo dezoito: "Não deixem viver a feiticeira."

Quando as palavras foram ditas e o silêncio se instalou pela praça, Somnus moveu a boca rapidamente, falando em silêncio diversas palavras. Entre os espectadores um homem caiu desacordado e todos miraram o prisioneiro com o olhar. Absorto e ensandecido, Churchill berrou vorazmente, porém era tarde demais. Todos que montavam a guarda do juiz começaram a cair. Um por um caíam, deixando-se levar pelas palavras do homem, que cantarolava em silêncio. As palavras voam como borboletas entre os aldeões, fazendo-os cair.

─ Seu feiticeiro maldito, minha mente não vai deixar-se levar por sua magia negra... ─ vociferou.

Quando fez menção de lançar a pira sobre os pés do prisioneiro, Gianbatistta Churchill caiu de joelhos, os olhos pesando, o sono tomando conta de si. Com o pouco de forças que restava, Churchill lançou a pira sob os pés do prisioneiro e adormeceu próximo da fogueira. A bíblia voou para longe.

O prisioneiro debateu-se amarrado no poste, sem êxito. Fazia o máximo de força que os braços e pernas permitiam, mas não conseguia fugir. O fogo começou a queimar a madeira próxima dele, os óleos que besuntavam a fogueira começaram a deixar o fogo mais forte.

─ Somnus! ─ berrou uma voz.

Somnus não conseguiu distinguir quem era. Desfaleceu antes mesmo de ver o rosto de quem o chamava. O calor que outrora sentia nas pernas aos poucos sumiu e a última coisa que lembrava ter visto fora asas. Estava a salvo, isso ele sabia.

─ E foi assim que ocorreu o Julgamento de Somnus. ─ relatou Miguel, sorrindo amarelo.

─ Ele adormeceu uma cidade inteira sozinho? ─ questionou Gretel boquiaberta.

Miguel apenas afirmou, com um sorriso amplo no rosto.

─ Qual é a casta de Somnus? ─ perguntou Loriel, enchendo o peito para respirar.

Todos os anjos pareciam tensos durante a reunião, Miguel, com sua forma mais enigmática, fitava a todos com desdém. Ele respirou brevemente, fitando ambos (Loriel e Gretel) na sala e quando a pergunta parecia perdida e esquecida, ele respondeu:

─ Somnus é um Querubim, assim como você, meu caro Loriel. Ele, ao meu ver, atingiu um grau de poder elevado. Ele é exímio lutador, possui uma estrutura corpórea boa, além da habilidade incomum dele. Porém, atualmente, ele está entre o alto escalão dos Potestades. Ou seja, sem chances...

Miguel olhou para a toalha da mesa, enquanto os três Principados, Castiel, Frida e Gretel conversam baixo entre si. Gabriel e Angélica ingressaram numa conversa acalorada com Brock, o Erelin, enquanto Manaeus nada expressava. Loriel passou a fitar os punhos, raciocinar sozinho. Nick olhou para Miguel.

─ Miguel, o que seria um Potestade? ─ questionou o jovem Arcanjo.

─ Postestades são anjos estudiosos, que povoam as bibliotecas dos Céus. Eles não tocam em armas e não se envolvem em conflitos internos ou externos. Dificilmente alguns deles descem aqui na terra, ainda mais depois do incidente com Somnus, o Clemente. ─ respondeu o Primogênito.

─ Clemente? ─ voltou a questionar Nick.

─ Sim, Somnus outrora queria se vingar dos humanos, porém, ele refletiu e percebeu que seus ideais não iriam levá-lo a lugar nenhum, além da escuridão, Nick. Vingança não é a chave e nem um fundamento bom... Para nada. ─ Miguel falava lentamente, com pausas e escolhendo bem as palavras ditas. Falava com se estivesse se precavendo de algo. ─ Entende?

Nick assentiu suavemente, a cabeça fervilhando as ideias. Tentava organizar as novas informações, mantendo o mais necessário. Ele guardou alguns nomes ditos na conversa, aprendeu sobre as castas e sobre os novos companheiros. Não viu problema em nenhum deles e achou que seria uma tarefa fácil se adequar aos novos amigos. A única coisa que incomodava verdadeiramente, era o corpázio. A transformação ocorrera havia poucas horas e Nick ainda necessitava de um tempo para se aperfeiçoar ao novo corpo. E nesse meio tempo, o jovem anjo olhou para Angélica.

Passou a fitar os cabelos, que caiam pela lateral da cabeça, como se fossem uma cascata de fogo vivo, tamanha a intensidade que o rubro coloria os fios. E ele olhou a pele branca e lisa, perfeita e macia. E ele no fim das contas reparou que ela o olhava, curiosa, querendo saber alguma coisa.

─ Que foi, Nick? ─ perguntou a Serafim, fazendo Gabriel e Brock pararem a conversa. Miguel o olhou. ─ Esse sorriso...

E ela tinha razão. Nick estava sorrindo.

─ Ah, não... Não... Não é nada. ─ e o jovem sentiu o rosto ferver. ─ Eu só... estou pensando.

Por sorte, pensou ele, talvez estivesse tão vermelho quanto os cabelos de Angélica. E assim, manteve o olhar no chão.

A conversa prolongou-se por mais alguns minutos, enquanto os anjos discutiam uma forma de tornar a batalha o mais segura possível.

─ Será que não há uma forma de convencer Somnus se juntar a nossa causa? ─ questionou Brock, num tom firme. Ele era expressivo. ─ Conversação?

─ Podemos arriscar. Mas não garanto que dê certo, irmão. ─ respondeu Miguel, num tom calmo.

Miguel andou pela sala, e Nick o analisou: era alto e forte. Nada exagerado. Possuía uma energia, que emanava de seu corpo constantemente. Trajava uma camiseta de algodão simples cinza, coberta por um casaco tweed, jeans modernos e com alguns rasgos estratégicos. Os tênis não eram lá tão modernos, porém, aquele visual lhe atribuía uma imagem. Qualquer menina ou mulher que o visse na rua, se encantaria por sua beleza simples, pura, sem nenhum exagero. Os cabelos eram negros, tão negros quanto a noite mais escura, e eram cortados, diferentemente de Lúcifer. Os olhos traziam amabilidade, coisa que Lúcifer não tinha e eram azuis como o céu da manhã. Sua presença trazia calmaria e seu semblante mostrava uma expressão cansada. Olhando no fundo dos olhos de São Arcanjo Miguel, dava para notar uma sabedoria de eras, como se ele tivesse sido capaz de assistir ao longo espetáculo da humanidade.

Depois de rodear a mesa algumas seis vezes, Miguel já havia pensado o suficiente. Do fundo da sala, o Arcanjo já havia decidido quem seria incumbido de realizar a tarefa crucial, para aquele dado momento. Sem cerimônias, Miguel iniciou:

─ Após uma breve análise, eu decidi quem irá conversar com Somnus. E será Nick, o incumbido de falar com o Querubim Somnus. ─ propôs.

─ Não querendo questionar sua inteligência e soberania, Miguel, mas porquê o jovem Nick, que há pouco chegou entre nós? ─ disse Brock, afastando a cadeira da mesa. Parecia aderir a ideia, mas queria saber o fundamento daquilo.

Miguel sorriu amável.

─ É óbvio, meu caro Erelin. Nick, assim como Somnus sabe esperar para falar, analisa as coisas e os outros... ─ Miguel pausou e sorriu brevemente para Nick, que entendeu a mensagem. ─ Ele tem as armas capazes de mudar as pessoas, pela vontade delas. E ele, acima de tudo, tem argumentação. Eu já vi ele usando o poder persuasivo dele antes... E creio que ele conseguirá... Digamos... Trazer Somnus para o lugar certo, na hora certa. ─ e findou.

Manaeus moveu a cabeça e em tom profético, disse:

─ Não se preocupem, jovens, Nick é uma boa escolha. Não é à toa que nosso Pai ─ Nick estranhou ver o senhor anjo falar daquela forma. ─ o escolheu, dentre tantos.

E o silêncio se instalou pela sala.

─ Até segunda ordem e o findar da missão de Nick, nossa reunião está encerrada. Loriel, continue a treinar os Querubins mais novos, o resto de vocês, continuem as atividades de antes. Nick, fique. ─ falou Miguel, o tom mais grave.

Os anjos, pouco a pouco foram se levantando. Manaeus foi o último a sair e fechar a porta. E o silêncio incomodou Nick, que não se moveu na cadeira. Ele sabia em seu íntimo, que adorava receber elogios, porém, julgava-se indigno de recebê-los. E como se lesse seus pensamentos, Miguel o chamou com um aceno. Ambos se posicionaram de frente para a janela, olhando o movimento da cidade.

─ Eu raramente elogio alguém, Nick. Vez ou outra, Gabriel, ou alguns anjos. Sua presença nos trás alegria. ─ disse Miguel. ─ O buraco deixado por Lúcifer aqui, eu não espero que você o preencha. Jamais. Isso significaria que você teria o mesmo destino que ele e isso, eu sei que não acontecerá. Mas você trouxe uma diferença. Desde que nasceu, eu, particularmente, assisto seus passos. E eu sei, que você, com toda a rebeldia, com a língua afiada, é capaz, mais do que qualquer um, ser o melhor. Nosso Pai o escolheu bem. Você tem vontade, mas também tem inteligência. Agora... ─ Miguel tocou o braço musculoso do irmão. - ...você é forte fisicamente. Possui uma mente invejável, complexa demais. A sua forma de análise me assustou, devo dizer. Eu percebi como você me analisava, como se eu fosse uma fortaleza. E quero que você analise Somnus da mesma forma. E faça dele uma fortaleza e penetre na mente dele, faça ele mudar de ideia, irmão. É isso que eu te peço.

Nick ficou parado, sem reação. Sentia o rosto quente, e tremia. A vergonha crescia. Ser elogiado por um Arcanjo, o mais poderoso entre todos, não era pouca coisa. Nick o olhou, a perplexidade emanando pelo semblante.

─ Eu confio em você, Estrela da Manhã. ─ findou Miguel, olhando Nick de lado.

─ Obrigado. Estou sem palavras. Eu me sentia apenas mais um entre bilhões e parecia que ninguém enxergava o que havia de bom em mim. A centelha que queimava em mim, agora é um fogaréu. Hoje, existe algo pelo que vale a pena lutar. O carinho por você, pelo cabeça dura do Gabriel e pela Angélica só crescem... Até o velho Manaeus fazer eu querer lutar. E de mim, irmão, você tem minha palavra de que trarei Somnus à terra e juntos, protegeremos Milwaukee.

E ali, Miguel e Nick firmaram um acordo que se estenderia até o fim dos tempos. Apertaram as mãos, num cumprimento de irmãos e se abraçaram diante da vidraça da sala. E Nick se sentiu querido, pela primeira vez.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado dos meus novos anjos



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