CELESTIAL escrita por Leonardo Pimentel


Capítulo 10
Capítulo 10 - Um Palpitar Mais Forte




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O retorno para o armazém não foi a melhor parte do dia. Quando o quarteto de anjos chegou no armazém, a atenção de todos se voltaram para eles. As perguntas nasceram naturalmente e as respostas foram rápidas e bem ditas por Miguel, que justificou-se. O Arcanjo também contara que passaria o resto do dia em meditação. Gabriel sumira de vista e Castiel fora repousar. Nick ficou para trás, olhando os anjos. Estavam em menor número. Angélica contara que grande parte do contingente que estava abrigado no armazém, voltara para o Céu, levando as armas. O plano basicamente traria apenas poucos anjos, anjos suficientes para a proteção da cidade. Miguel queria prevenir grandes perdas e uma batalha de grande nível.

Algumas horas mais tarde, Angélica convidara Nick para um treino diferenciado. Combinaram de se encontrar na saída.

E Nick foi.

Rumaram pelo centro da cidade, matutando, conversando e trocando informações. Nick contou com mais detalhes o que ocorrera mais cedo e Angélica absorveu as informações o quanto pôde. Ela era esperta e sempre guardava a forma como os inimigos batalhavam, para no fim, achar um ponto fraco onde pudesse atacar. Depois, ela contou para Nick sobre o Céu. O jovem Arcanjo fazia diversas perguntas e a Serafim as respondia. Era sobre política, sobre a arquitetura, sobre os lugares.

─ Lá tem de tudo um pouco. Não é como aqui. Mas lá tem A Grande Biblioteca, tem um enorme pátio ao céu aberto, com enormes pilastras, onde os anjos lutam entre si, treinam, conversam. As construções não são que nem aqui, cinzas e uniformes. Lá elas adquirem formas arquitetônicas, monumentais, algumas em ouro, bronze, prata, mármores e adornadas em pedras preciosas. Lá tem o Conselho também, um prédio gigante, onde ficam os Erelins, tem também alguns templos e o mais bonito de tudo é que as construções são erguidas num complexo gigantesco de falésias flutuantes. ─ contava ela, sorridente e com os olhos brilhantes. ─ Existem cachoeiras termais, existem pássaros de especies que nem existem aqui, campos verdejantes com árvores que possuem frutos dourados, pratas, bronzes e os convencionais também.

Nick ouvia atento, enquanto ela o guiava pelas ruas.

─ E lá é possível ver diversos anjos voando. Muito mais dos que você viu por aqui... Muitos mesmo. Existe uma conexão para o Jardim do Éden. Um dia você o verá. É tão lindo... ─ disse ela.

─ E quando visitarei o Céu? ─ questionou inocentemente.

A inocência que Nick tinha não combinava com ele. Ele parecia um adulto formado, um homem, porém, questionava ainda como um adolescente. A transição não acabara.

─ Em breve. Precisaremos ir lá antes das batalhas iniciarem. Lembre-se: você tem uma tarefa com Somnus. ─ respondeu.

Viraram numa rua em que os prédios se tornavam raros. As casas iam ganhando as ruas, as cercas de metal também. Naquela área da cidade, os carros eram poucos também, assim como o movimento dos humanos. Adentraram um beco, saindo do outro lado do bairro. Pularam uma cerca e estavam num enorme campo. A grama alcançava a cintura dos anjos, tinha tons dourados e balançava com o vento suave provindo do sul. A Serafim arrumou os cabelos num rabo de cavalo no alto da cabeça, deixando uma pequena mecha, o que a tornava mais charmosa. Estalou os ossos do pescoço. Suas vestimentas transformaram-se. Agora trajava a roupa típica dos celestiais, alva, impecável e bela. Trazia uma aljava e um arco nas costas.

Angélica pegou uma pedra no chão e a analisou. Com sua força sobre-humana, a Serafim atirou o objeto para cima, que subiu, subiu, subiu e no seu ápice passou a cair em queda livre. Rapidamente, tirou uma flecha da aljava, posicionou-a arco e arrumou a postura do corpo, alinhando o arco ao membro superior. Passou o dedo pelas penas da flecha e a atirou. Acertou em cheio a pedra, que caiu no chão, inofensivamente em vários pedaços no chão. Notou que a mira continuava excelente.

─ Vamos treinar, Nick?

─ Como?

─ Eu atiro em você e você defende. Depois a gente faz um combate corpo a corpo, quem sabe...

Nick liberou as asas e tirou a espada da bainha. As roupas dele também mudaram. Trajava uma túnica violentamente branca, que ondulava ao vento. As asas estavam presas às costas, imponentes e de grande envergadura. Angélica sorriu e mirou a primeira flecha na direção do Arcanjo. Ele retirou a espada da bainha e fitou-a como um felino selvagem.

─ Defenda... ─ pediu ela.

Com um puxão da corda, Angélica atirou a primeira flecha que zumbiu no ar e foi de encontro com o Arcanjo. Em contrapartida, Nick moveu a espada num arco horizontal, desviando a flecha para o solo logo atrás dele. Angélica sorriu. Dessa vez, a ruiva colocou na corda três flechas, que seguiram mortíferas contra o jovem Arcanjo. E a defesa seguiu impecável. Nick cerrou os olhos e balançou as asas, erguendo alguma poeira do chão.

Angélica alçou voo e começou a atirar as flechas, enquanto movia-se no ar ao redor do anjo. Nick seguia o movimento da Serafim, fazendo as defesas. O barulho das flechas contra o metal do gládio era claro e emitia faíscas. Numa das flechas, Nick ousou e deu um mortal para trás, fincou a espada no chão de terra batida e com uma potente pisada no chão, Nick ergueu uma rocha no ar. Chutou-a na direção da Serafim, que desviou do ataque em pleno voo. A rocha voou pesadamente e caiu alguns metros distante do pequeno embate dos dois. No solo restou uma cratera.

Angélica colocou velocidade nos movimentos e assim iniciou uma saraivada de flechas contra o Arcanjo da Luz. O jovem pensara estar batalhando contra cem homens, tamanha a intensidade dos ataques. Mas era apenas Angélica. Com a espada novamente em mãos, Nick rodou a lâmina diversas vezes fazendo as setas quebrarem ou serem desviadas com maestria. Ficou alguns instantes fazendo a repetição do movimento, até que todas as flechas fossem desviadas.

No caso, as aljavas de anjos detinham setas infinitas, prevenindo-os do trabalho de recolhê-las pelo campo de batalha. Ela retirou uma última seta da aljava e a mirou com precisão. Visava a testa do Arcanjo. Quando ela largou a corda, Nick fitou-a com os olhos cerrados. Parecia que a flecha vinha em câmera lenta, pois Nick viu-se pensativo na forma de como se defenderia do ataque. Depois, posicionou-se e com precisão, quando a flecha estava em seu alcance, fez um movimento de cima para baixo, de trás para frente com a lâmina, acertando a flecha que se partiu ao meio em dois e caiu atrás de si, como se fosse galhos secos de uma árvore qualquer. Angélica largou o arco e aljava no chão, desceu num voo rasante e iniciou uma luta corporal contra Nick. Desceu mirando os pés no peito do Arcanjo, que com os braços se protegeu. Largou a espada no chão e mirou um soco contra o braço de Angélica. Saltando para o lado, a Serafim preveniu o ataque, armando um potente chute contra o Arcanjo. A defesa veio em seguida.

Lutaram por um bom tempo, tendo em mente que não iriam ferir um ao outro. O sol descia pelo oeste, em tons alaranjados. O vento frio ganhava espaço, ainda vindo do sul. Pararam a luta. Olharam entre si, os sorrisos no rosto. Provavam de uma sensação não provada antes.

Quando Nick embainhou a espada e olhou mais uma vez para Angélica, que arrumava o cabelo. Talvez fosse a luz alaranjada do sol, combinando os tons roxos no céu da tarde, quem sabe, mas Nick gostou do que viu.

Ambos não tinham arranhões, porém, ofegavam. Nick ainda a olhava.

─ O que foi? ─ perguntou ela, enrubescendo.

─ Não é nada, é que... eu queria perguntar uma coisa... ─ disse ele, com a voz quase sumindo.

─ Pergunte, então.

─ Você não gostaria de sair comigo hoje a noite? ─ e olhou os pés, que naquele momento pareciam seus melhores amigos.

─ Claro que sim. ─ respondeu ela, sorrindo abertamente.

─ Ah, deixa então, eu não queria mesmo, que tolice a minh... ─ olhou para ela, arqueando as sobrancelhas. ─ Você disse que sim?

─ É... Foi sim o que eu disse... ─ ela riu.

─ Ahh...

Ambos riram.

Ainda ventava, o que inspirou Nick a retirar o próprio casaco e cedê-lo para a Serafim, que o aceitou de bom grado. Ela encaixou o braço dela no musculoso braço de Nick e embalados numa conversa deliciosa, voltaram para o armazém. Ela falava sobre a admiração que tinha pela inteligência dos homens e como eles dominavam as ciências da natureza. E ele mostrava-se interessado em ouvi-la. Ele gosta de ouvir, gostava de responder e gostava mais ainda de ensinar. Atravessaram a avenida principal, adentraram mais a cidade por uma rua e terminaram no armazém. Nick se separou da Serafim. Iria se arrumar.

Ele não esqueceu do perfume e muito menos de arrumar os cabelos. Comprara algumas roupas no decorrer das semanas e daquela vez ele estava impecável. Desconhecia-se: trajava uma camiseta branca, que estava agarrada aos músculos. Por cima colocara um terno simples, que lhe fazia parecer maior. As calças jeans eram escuras e contrastavam com os sapatos sociais que conseguira. Estava, aparentemente bonito e isso fez com que ele se estranhasse. Ele admirou mais uma vez a imagem refletida no espelho e gostou da metamorfose que sofrera. Virou de costas, admirando-se, olhou os pés, ergueu o terno levemente para ver a camiseta e gostou da forma como ela se agarrava aos músculos. Ficou alguns instantes olhando os olhos, o rosto e a barba. Aquele momento único, em que ele tinha que lidar somente consigo mesmo era raro, logo aproveitou.

Saiu pela porta e andou pelo corredor. Foi encarado por muitos, o que não o intimidou. Desceu as escadas e esperando por ele estava a mulher mais linda do mundo. Em um vestido simples, Angélica arrumara os cabelos num rabo de cavalo comum e corriqueiro, coisa que Nick gostava nela. Tinha brincos nas orelhas, um batom vermelho nos lábios e um cheiro de flores que atraía Nick. Usava sapatilhas floridas, mas o que chamava atenção era o decote. Nick parou para fitá-la. Beleza.

Nick concedeu o braço direito, para levá-la. Ambos saíram pela porta, deixando para trás uma multidão curiosa e aflita de anjos com os olhos neles.

─ Você sabe que eles vão comentar, não é? ─ falou a mulher anjo, olhando para o chão. ─ Não é comum.

─ E a gente liga?

Ambos sorriram, enquanto caminhavam pela cidade. A noite não estava tão bonita quanto Nick desejava, mas ele não pensou muito nisso. As luzes do parque já podiam ser vistas ao longe e Nick ficou feliz por isso. Olhou Angélica pelo canto do olho e a viu sorrir. E sorriu junto. Naquelas circunstâncias, o simples fato de vê-la sorrir já fazia as coisas melhores ainda mais se fosse a Angélica. Nick queria entender o que ela pensava, apesar de conhecê-la a pouco tempo. E eles entraram no parque, pagaram alguns tickets e começaram a jogar.

A princípio, a noite foi bem agradável, ambos se alternavam nas brincadeiras. Nick, usando de sua pontaria excelente, venceu um jogo em que o objetivo era derrubar todas as latas em pirâmide e ganhou um urso de pelúcia gigante. Ele o deu a Angélica, que o apertou firmemente. Ela agradeceu e deu um sorriso largo. Clichê? Talvez.

Nick se sentiu bem.

Depois de um tempo, Angélica começou a chamar atenção de um grupo de homens. Eles passavam e mexiam com ela, chamando-a. Ele (Nick) sabia o motivo: Angélica era linda demais, era perfeita, tinha um sorriso bem estruturado, um corpo escultural e por mais que estivesse trajando um vestido simples, ele se adequava a ela perfeitamente. E graças a isso, Nick fez menção de ir até os caras, sendo impedido pelo aperto de Angélica.

─ Não. Eu não ligo. Nick, eu não ligo. Não se lembra minha real natureza? Eu sei me cuidar.

E ela o segurou até que os caras se afastassem e até que a respiração dele voltasse ao normal. Apesar do grau da situação, Angélica gostou de ser alvo de proteção. E sorriu. Quando abaixou o braço, livrando Nick, Angélica o olhou. Ela sentiu coragem no coração dele. E sorriu de novo.

─ Obrigado. ─ foi tudo o que ela disse.

Nick a fitou e tentou sorrir. A tensão tomava conta dos músculos dele. Começaram a andar na multidão.

Naquela noite era comemoração de alguma coisa, já que próximo das dez horas, o céu foi preenchido de fogos de artificio coloridos e brilhantes, chamando a atenção de todos, que talvez estivessem ali, apenas pelo espetáculo. Os olhos dos dois anjos se encheram de brilho e luz, enquanto admiravam o céu. Deram as mãos e ficaram ali, admirando e olhando o fogo no ar, queimando e embelezando a noite. Os fogos coloridos, Nick viu, estamparam o rosto e olhos da mulher anjo, que fitou o céu maravilhada com aquilo. O Arcanjo segurou firmemente a mão da mulher, que retribuiu energicamente o aperto e ficaram ali, curtindo. Talvez, para ambos, aquela noite tenha tido um significado maravilhoso. Fora uma noite única, desigual. Nick estava tendo seu primeiro encontro de verdade e devemos ressaltar, fora o melhor primeiro encontro que qualquer um possa ter. E Angélica que sempre quisera ter as emoções humanas, estava ali, pela primeira vez deliciando-se de uma sensação exclusivamente humana. E Nick viu-se cumprindo sua promessa, feita alguns dias antes para a Serafim.


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Notas finais do capítulo

Nickangel ♥



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