Angels And Nightwalkers escrita por Annie ONeal


Capítulo 5
Atos Sinceros


Notas iniciais do capítulo

Salve pessoas!
Quem tah a fim de um pouco de sensibilidade da parte do Crouser e um pouco do passado?o/
Enjoy ;D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/398088/chapter/5

   

   Aquilo já estava passando dos limites. Já fazia uma semana que Crouser tentava de tudo para ficar longe de River, reprimir os sentimentos que vinham nascendo e evitando os pensamentos estranhos. Mas nada disso surtia algum efeito, não depois de tocar nele, tocar em suas asas. E também por que o anjo o seguia aonde quer que ele fosse, o que fazia o distanciamento ser muito difícil.

   Toda vez que olhava para River, ele sentia a pele formigar, desejando o contato com a do anjo, e ele fazia de tudo para ignorar tal sensação. Tudo bem. Ainda agia de maneira fria às vezes, numa vã tentativa de calar o coração.  Mas não fazia a menor diferença, River não ligava para coisas como essa.

   Os dois já estavam começando a se acostumar um com o outro, Crouser não ligava mais tanto para a falação constante e River ignorava as patadas ou comentários afiados, as vezes respondendo a alguns. E Crouser acaba por gostar da companhia do anjo e vice versa.

  Mas claro que nenhum dos dois admitiria. Naquela manhã ele apareceu falando como sempre, mas algo no meio da frase prendeu a atenção do vampiro.

  - O que foi que você disse?

   - Que a gente precisa sair, você está mofando aqui dentro. E que amanhã talvez-...

  - Não, antes disso. – Crouser o interrompeu antes que ele continuasse a bombardear palavras. River fez uma pausa tentando se lembrar.

   - Que seu irmão talvez deixe quando ele vir aqui hoje mais tarde a gente pode conversar sobre essa possibilidad-

   - Ele vem me ver?!

   - Ele disse... Audiência. Mas é muito formal, ele diz que só vem conversar.

   - Dês de quando você sabe disso? – Crouser perguntou exasperado.

  - Dês de ontem de manhã, quando ele veio falar comigo... Você estava dormindo.

   - E você não me falou nada?!

   -Você não perguntou. – O anjo disse inocentemente. Crouser queria torcer aquele pescoço pálido ou enforcá-lo com a gargantinha. Sentiu náusea. Ager. Ele não estava pronto pra isso. Nunca estaria.

   - Olha, desculpa me intrometer na relação de vocês, mas eu vi o jeito como ele fala de você, ele sente sua falta. Te quer bem. Mesmo que você não acredite nisso, ele-...

   Por mais que Crouser tolerasse o anjo, aquilo era demais. Ele não podia falar sobre o que não sabia. Ele o olhou de uma forma tão dura que as próximas palavras de River morreram nos lábios.

   - Ele me largou. Não fale como se conhecesse ele. Ele. Me. Deixou.

   - Tudo bem, você está certo eu não o conheço. Mas eu sei, eu sinto que ele gosta de você.

   - Cala a boca. – Mas é claro que ele não ia ficar quieto. Era River afinal.

   -Não. Olha, ele é seu irmão, a única família que você tem. – Crouser chegou ao limite. Levantou da poltrona onde estava e agarrou o anjo pelo colarinho o arrastando em direção à porta. Mas nem assim ele se calou. – Dizem que quando você ama uma pessoa deve deixar ela livre.  –O vampiro o empurrou porta afora e o largou.

  - Dizem que quando você odeia uma pessoa, deve bater a porta na cara dela. – E com isso, ele fez o que tinha dito e a porta se fechou com um baque surdo. Droga, ele precisava controlar os nervos.

  Seu irmão. Crouser não estava com a menor vontade de lidar com aquilo agora. Mesmo sem querer, começou a pensar no que o anjo dissera. Livre. Alguém estava confundindo liberdade com abandono não? Mas também se Ager tivesse tomado as rédeas e ficado com ele o tempo todo, tivesse guiado ele e tomado as decisões... Onde ele estaria agora? De certo não retido por mau comportamento.

   Não, o mais provável seria ele estar junto de Ager numa sala cheia de livros velhos e pensando na diplomacia da liderança. Ok. Ele não conseguia conceber tal imagem nem na imaginação.  Precisava disso, da ação, do combate. Assim como o irmão precisava dos livros e das reuniões. Crouser queria fugir. Queria ir para o campo de batalha descarregar as frustrações. Como sempre fizera.

   Uma batida contida e educada à porta demonstrou que não era River batendo então só podia ser ele. Que saco. River dissera “mais tarde”, não “daqui a pouco”.  Ele respirou fundo e foi abrir. River não estava à vista, mas Ager sim. O irmão mais velho sorriu de modo pouco confortável e Crouser abriu mais a porta.

  - Entra. – O maior entrou e se virou para Crouser o fitando longamente. Sem muitas opções, ele fez o mesmo. Vê-lo de perto o permitiu notar detalhes que não eram possíveis do banco do réu na corte do Conselho. Ele tinha deixado o cabelo crescer mais. Como se já não estivesse afeminado o suficiente. Agora estavam passando dos ombros, e eram como os seus, lisos e escuros como a noite.

   Um perto do outro assim, parecia que Crouser era mais velho por causa dos músculos desenvolvido e o olhar ameaçador, que contrastavam com um vampiro magro e alto e com ar intelectual.

  - Só vim ver como você está. Sei que odeia ficar longe da ação, mas eu não tive escolha.

  - Como se você se importasse. – Assim que viu o olhar magoado do irmão, Crouser se arrependeu das palavras. Coisa que não aconteceria antes; muito obrigado maldito River. Agora ele estava sentindo culpa, coisa que ele nunca sentira, não perto de Ager.  Em sua cabeça, ele era a vitima. Sempre fora. Abandonado. Esquecido. Deixado. Mas ele evitava pensar nisso.

   - Eu me importo. – Ager disse e fechou os olhos como se estivesse muito, muito cansado de ter sempre a mesma conversa, a mesma briga. E pra ser sincero, Crouser estava também. Então que tal mudar o roteiro? Ele olhou o irmão tentando, se esforçando ao máximo para ler suas emoções. Viu receio, medo, mágoa. E carinho. Suspirou.

   - O que você veio me dizer? – O irmão o olhou surpreso. Tanto pela pergunta como pelo tom de voz, Crouser raramente era gentil com ele. – Quer dizer, por que é obvio que tem alguma coisa que você quer dizer, você não viria só ver como eu estava. – Se fosse só isso teria vindo antes, ele completou em pensamento. Ager riu baixinho.

   - É. Escuta... Eu não sei como te dizer isso, mas... Eu estava pensado em... Em colocar você para fazer alguma coisa sabe? Pra você não ficar entediado. E lutar. E se for um trabalho voluntario social, eu consigo diminuir sua pena. – Ager falou devagar como se não tivesse muita certeza do que estava falando.  Crouser se surpreendeu. Ele havia pensado nisso? Claro, só pra se ver logo livre dele. Crouser abriu a boca para revidar com essas palavras, mas... 

  Não. Chega de pensamentos hostis. Tentar ser legal não vai machucar. Talvez ele tivesse vindo com boas intenções dessa vez. Então ele engoliu a defensiva e acenou.

   - Obrigado pela consideração. No que você pensou? – E ele notou como o irmão tinha se surpreendido. Ele certamente estava esperando outra reação. Limpou a garganta e desviou os olhos franzindo a testa concentrado. Ele não devia ter ensaiado essa parte, Crouser pensou.  Achou que nem ia chegar aí.

  - Estivemos pensando em um projeto de treinamento avançado.  Alguns adolescentes que querem se tornar guerreiros o mais rápido possível. Quando eu os vi, aquela ânsia de sair para o campo de batalha mesmo sem saber nada... Me lembrei de você. Era igualzinho nessa idade. – Isso desarmou Crouser. O irmão ainda pensava nele...? No passado?

    Ele sentou numa das poltronas do quarto por que perdera a força. Ager o acompanhou.

   - Então eu pensei que talvez você quisesse assumir a classe. – Ele falou mais animado. – Por que você entende a ansiedade deles e vai poder se distrair. – É, mas Crouser duvidava que algum deles estivesse ansioso para sair tentando fugir da dor de ficar perto de um irmão mais velho que sequer olhava apara ele. - Ensinar eles a lutar como um guerreiro bravo e valente. – O elogio terminou de ruir as defesas de Crouser. Ele baixou os olhos e fechou os punhos tentando controlar a torrente de emoções.

   Ele sempre tinha buscado exatamente isso, a aprovação do irmão, o orgulho, um elogio, o reconhecimento. E agora, tantos anos depois... Ele sentiu que voltava a ter treze anos.

   - Ah, me desculpe. Falei demais? Eu não sabia se-...

   - Tudo bem. – Crouser falou baixo. – Você só me pegou de surpresa. – Algo tão, tão raro.

   - Ah. – Eles fizeram uma pausa desconfortável. – Olha, eu sinto muito mesmo por ter te retido... Mas era a única opção. Não quero que você interprete isso como se eu estivesse tentando te punir nem nada assim. Eu só... Estou tentando-...

   -... Fazer o que é certo. – Crouser completou. – Eu sei. Você repete isso desde sempre.

  Ager deu um breve sorriso, e Crouser se sentiu arrastado pela nostalgia de novo. Por que tudo não podia se simples como antes? Antes de ele ter que virar o responsável. Antes de ele ter deixado o irmãozinho.

   - Eu sei que você me odeia. E eu sei por que. E eu... Queria consertar. Se você deixar. – Ager já tinha falado aquela mesma frase milhares de vezes, mas sempre era gritando, no meio de uma discussão. Agora era num tom baixo e contido, num sussurro suave e sincero.

   - Eu não te odeio. – Ódio era uma palavra tão forte. Ele sentira muita raiva, mas ódio era um sentimento venenoso de quem desejava a morte, coisa que ele guardava para ter dos guerreiros do norte. – Eu só estou... – Ele não conseguia exprimir em palavras.

   - Eu sei. Me desculpe. De verdade. Se eu soubesse que você ia sentir tanto, eu nunca teria-...

   - Você tinha que fazer o que tinha que fazer. Você me deixou livre para fazer as minhas escolhas. – Ah, e essa agora? Dês de quando ele fazia citações de River?! Mas pareceu adequado. E o anjo tinha melhor jeito com as palavras do que ele. – E eu sei que deve ter sido difícil para você também.

   Não, ele não sabia. Era algo que ele não acreditava. Nunca creditou. Mas ver o Irmão mais velho vulnerável e sendo sincero daquele jeito, o fez dizer isso, algo saiu do fundo da sua alma. 

   - Foi. – Os olhos de Ager brilharam com lágrimas que ele não ia deixar cair. – Quando o papai e a mamãe morreram, eu me senti tão sozinho... E não queria te sufocar como eles faziam então... Só achei que se te desse um espaço...  

  - Tudo bem. – Crouser assumiu a postura fechada novamente. Já era avanço suficiente por um dia. Cara, já era avanço o suficiente para o resto do ano.  Não queria nada forçado ou meloso demais. Quanto mais simples melhor. Ager pareceu sentir o mesmo e se levantou, limpando a garganta.

   - Tudo bem, então eu volto daqui a uns dias para te dar mais detalhes. Que bom que você aceitou. – Crouser deu ombros.

   - Tanto faz. – O irmão deu um meio sorriso incerto e tocou levemente no ombro do mais novo ao passar por ele. Crouser olhou para o outro lado. Quando a porta se fechou ele se permitiu sentir tudo o que estava reprimindo. Suas pernas fortes, e cheias de músculos começaram a tremer, e ele se sentou na cama para não cair.

   Apoiou os braços nas pernas e descansou a cabeça nas mãos. Tinha sido tão rápido, tão súbito... Tão confortador. Saber, ou ter pelo menos uma idéia de que o irmão pensava nele, se importava...  Tinha doído passar tanto tempo longe dele, mas ele não sentia que tinha sido tão bom voltar ao relacionamento de forma tão súbita. Era demais pra assimilar.

   Tão absorto que estava na bagunça emocional que estava por dentro, ele não notou que River tinha voltado, e estava sentado do seu lado, até o anjo por a mão em seu braço, num gesto compreensivo de conforto. Crouser suspirou.

   - Eu passei tantos anos com uma determinada imagem dele na minha cabeça. – Crouser sentia como se fosse quebrar a qualquer momento. E ele definitivamente não queria fazer isso na frente do anjo. Mas River continuou ali, como já era de se esperar.

   - Shhh... Tudo bem. Você quer falar sobre isso? – A voz de River tinha um tom calmante que o fez relaxar. Não, ele não queria falar. Nunca quis dividir isso com ninguém. Nem mesmo Other sabia direito o que os irmãos tinham. Mas antes que pudesse se dar conta, lá estava ele contando ao guardião tudo. Como podia ser tão simples, tão fácil de sair aquilo que nem para si mesmo ele gostava de admitir?

   Dês da morte dos seus pais, quando ele ainda era criança, com o irmão cuidara dele nos primeiros anos e desaparecera depois, saindo para “cuidar da própria vida”. Passava os dias fechado na biblioteca cercado de livros e pessoas cultas, sem dar muita atenção ao irmão. O vazio e solidão que ele sentiu, sem entender que Ager só estava tentando fazer o melhor.  River escutou tudo em silencio, apenas fazendo breves comentários de compreensão.

   A sombra que era a aura de Crouser parecia pior e mais densa enquanto ele contava, e o anjo se surpreendeu pelo vampiro estar falando com ele. Ver Crouser se abrir daquele jeito para ele o fez se sentir importante, capaz e... Algo mais que ele não sabia muito bem o que era.

  Quando Crouser terminou de falar, um silêncio suave se instalou, que nada tinha de desconfortável. River de repente sentiu um impulso de abraçá-lo, e assim o fez. Sabia que provavelmente ia apanhar, a primeira coisa que o vampiro ia fazer era jogar ele longe, mas ele precisava de um jeito para demonstrar que estava ali, que o apoiava no que quer que fizesse. Que não o julgava. Crouser estava triste e ele podia ver que a parte que não culpava o irmão pela separação, se culpava.

   River queria dizer que não era culpa dele, que a vida era assim, que ele não podia consertar tudo sozinho... Mas sabia que palavras não surtiriam efeito nenhum. Então seguindo o impulso, como sempre fazia, passou os braços ao redor do pescoço do vampiro, o puxando para perto. Fechou os olhos com força esperando a reação mais óbvia. Ser jogado na parede oposta. E ia ser muito bem feito.

  Só que nada disso aconteceu. O anjo arfou e surpresa quando sentiu os braços grandes de Crouser se fecharem em volta de seu corpo. Eles estavam tão próximos, os peitos tão juntos que River podia sentir as batidas do coração de Crouser. Eles ficaram assim por um tempo até que o vampiro o soltou devagar, sem se afastar muito. O anjo baixou os braços, mas continuou com as mãos nos ombros dele. Sussurrou;

   - Eu sou seu Guardião e meu dever é te proteger, nem que seja te proteger de si mesmo. E mesmo que você diga que não precisa de nada disso, eu-...

   Crouser pôs os dedos sobre os lábios de River delicadamente. Primeiro por que de repente se viu desesperado por mais contato e segundo para calá-lo.

   - Você fala demais. – Ele murmurou.  River sorriu.

  - Já me disseram isso. – Ele murmurou e volta. Crouser mantinha os olhos fixos na boca do anjo e sem saber por que sentiu que precisava sentir o gosto dele. Se inclinou devagar e sem pensar, tirou a mão, substituindo por sua própria boca. Tocou os lábios o anjo com os seus de leve, e sentiu uma corrente elétrica atravessar seu corpo que lhe disse tudo que ele precisava saber. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí?
Amaram? Odiaram?
Comentários?

Até o próximoo, amo vcs xD



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Angels And Nightwalkers" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.