Angels And Nightwalkers escrita por Annie ONeal


Capítulo 3
Paradigmas da Convivência


Notas iniciais do capítulo

E aíí pessoas xD
Mais um cap aí, um pouco do estilo de vida e algo mais...
Curtam =3



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Crouser acordou com algo duro machucando o rosto. Suspirou e levantou a cabeça não ficando nem um pouco surpreso ao perceber que era um dos livros. Limpou a baba da página e fechou o volume se sentindo tonto. Suas veias queimavam e seu estomago roncava. Nenhuma surpresa aí também.

Vinha fazendo uma greve de fome desde que fora cortado do exercito, em sinal de protesto, mas percebeu que isso não estava afetando ninguém. No máximo Other e tudo que ele conseguia era deixar o amigo preocupado. O Conselho não ia colocá-lo de novo para lutar só por que ele estava se recusando a comer. Um soldado fraco não era um soldado útil.

- Tudo bem? – Crouser sentiu uma essência quase familiar de framboesas frescas. Mas. Que. Porra. Crescia framboesa no céu? O vampiro fez um esforço para manter os olhos abertos e virou-se para o guardião com uma expressão sombria furiosa. –Ui, alguém acordou de mau humor.

- Você não dorme? – Crouser rebateu sentindo as veias secas. Deus precisava se alimentar.

- Não. Quer dizer, raramente. Só em situações extremas. Nós anjos tiramos energia da luz do sol.

Um anjo ligado luz solar? Crouser riria se tivesse forças. Se espreguiçou sentindo todos os músculos se alongarem e... Os olhos do anjo sobre si? Mas quando olhou, River desviou o olhar. Ok, agora sim ele devia estar imaginando coisas.

Pegou um dos livros determinado a continuar a pesquisa. Ainda não tinha achado nada útil e precisava continuar. Porém já nas primeiras palavras sua mente cansada se divergiu do texto e ele moveu os olhos para seu guardião que tinha saio do seu lado e agora olha o céu escuro pela porta de vidro da varanda. Ele sempre ficava do seu lado durante os dias... Em outra situação o vampiro acharia isso perturbador, alguém vigiando seu sono, o momento de mais vulnerabilidade. Mas por alguma razão achava... Confortador.

Não que o anjo fosse alguém que transmitisse confiança para guardar vidas. Por favor. Apesar de ter músculos, eles estavam camuflados no corpo esguio. A camisa branca estava um tanto folgada e ele tinha enrolado as mangas até os cotovelos. Tinha um ar bonzinho, quase inocente. Tão diferente de um ser das trevas como ele.

Crouser sentiu outra tontura e as veias gritarem por um fluxo de sangue mais continuo. Ele as ignorou ainda com os olhos presos em River. Se ele tirava energia do sol, não precisa comer? Se alimentava como? Não comia a comida dos humanos, mas também não bebia sangue. Deus, o vampiro duvidava até que ele tivesse sangue correndo nas veias. Ou um coração que o bombeasse. A anatomia devia ser tão diferente. Ele vivia de luz, por que precisaria de algo tão banal quanto sangue? Mas se tivesse... Que gosto teria?

Argth, que tipo de pensamento era esse?? Deviam ser apenas delírios da fome. Ele estava pensando em se alimentar até nos lugares mais improváveis. Nunca estivera tão faminto, é verdade. Ele se alimentava com freqüência. Sentiu os olhos do anjo sobre si de novo e dessa vez quando olhou ele não desviou. O olhou atentamente.

- O que você tem? – River perguntou se aproximando da cama. – Está pálido e seus olhos parecem mais escuros. – A aproximação do anjo trouxe outra lufada com aroma doce. Crouser virou a cabeça para o outro lado tentando evitar aqueles olhos azuis cheios de preocupação.

- Nada. – Disse seco. Bateu os olhos no relógio e viu que já passava da meia noite. Ele tinha dormido demais. Puxou o celular do bolso e digitou um numero. Depois do primeiro toque desligou, sabendo que ela entenderia. Sentiu as mãos tremulas e xingou baixinho. Estava ficando cada vez mais fraco.

- Me diz o que houve. – River ainda estava ali? – Você precisa de alguma coisa? Esta com uma cara meio tonta. – O anjo riu. – Quer dizer, mais do que o normal. Você ta com fome? Quer que eu chame algum-...

A porta do quarto se abriu antes que o anjo completasse a frase. A vampira que estava ali era de tirar o fôlego, alta e pálida como a neve, com os cabelos ruivos descendo em ondas pelas costas como uma cascata de fogo. O vestido simples e curto preto sugeriam que ela não tinha se preocupado em se arrumar para a ocasião. Era Morgan, a produtora que Crouser sempre chamava. Vampiros produtores tinham o Ciclo de Sangue invertido e produziam ao invés de precisar dele. Por isso era viável os vampiros se alimentarem entre eles, dês de que fosse com um produtor.

- Me ligou...? – Ah, aquela voz aveludada era um conforto familiar para Crouser.

- Liguei. Entra. – Ela entrou no quarto lançando um olhar indagador para River que não tinha saído de seu lado. O vampiro notou que o sorriso sumira do rosto do guardião, mas ele não estava com cabeça para fazer piada ou ressaltar isso, faria isso mais tarde. Agora, seu corpo gritava por sangue. E por mais coisas que geralmente Morgan fazia quando vinha.

- Ele vai ficar aqui? – Morgan ainda olhava para River.

-Não. – O anjo abriu a boca para argumentar, mas Crouser não deixou. – Sei que é seu trabalho e blá blá blá, mas ela não é uma ameaça. – Morgan era quase uma namorada. Só que ele não sentia nada por ela além de atração. Quem sabe se um dia ele fosse mesmo se juntar à uma fêmea e ter toda a coisa de família seria ela. Mas no momento ele não pensava nela como mais que sua produtora e quem sabe amante.

River não queria sair e Crouser via isso. O anjo se afastou para perto da porta, mas ficou parado ali. O vampiro deu ombros e Morgan se aproximou. Subiu na cama junto com Crouser e sorriu, mostrando as pontas das presas já alongadas. Ele virou o pescoço deixando a área exposta para ela e sentiu um arrepio quando ela o mordeu, as presas furando sua pele delicadamente.

Ele deixou um suspiro escapar quando sentiu o sangue dela entrando em suas veias, o liquido espesso passando pelos sulcos nas presas dela e enchendo sua veia de calor. Era como se ele estivesse acordando. Sentia seu corpo se encher de energia e força. Apesar de não conhecer o gosto dela, ele sabia sentir a diferença entre o sangue dela e o de outras produtoras, quando raramente chamava outra.

Sim por que ele nunca mordia. Era uma questão de princípios. Achava que morder era algo extremamente carinhoso, algo a se fazer com alguém que você ama. Um gesto de intimidade, morder era algo meio que sagrado para ele. Agora quem mordia ele, pra isso ele não dava a mínima.

Morgan se mexeu, sentando-se em seu colo com as pernas separadas uma de cada lado e Crouser já sabia que esse era o sinal claro que ela estava disponível e a fim de algo mais. Isso era algo normal, quase que fazia parte, porque alimentar alguém ou ser alimentado em geral excitava, por isso não era uma prática recomendada para vampiros do mesmo sexo.

E entre eles não era diferente, era uma rotina: se alimentar, transar. Sempre.

No entando, por uma razão ou outra hoje Crouser não estava no clima. Talvez por causa da presença do anjo no quarto. Quando Morgan afastou os lábios de seu pescoço e os moveu para sua boca ele correspondeu, como se fosse um agradecimento, mas assim que ela tentou fazer mais contato, ele a afastou delicadamente.

- Hoje não, Morgan. – Ela o olhou com um misto de surpresa e desapontamento.

- Por que não? – Choramingou. – Você não me quer mais?

- Eu só não to no clima.

- É por causa dele? – Ela indicou o anjo com a cabeça. – Manda ele sair...

- Não é por isso. Só não estou a fim hoje. – Ele a tirou do colo. – Valeu por ter vindo.

Ela o olhou com uma pergunta silenciosa nos olhos se ele tinha certeza. Ele negou e desviou os olhos. Ele se sentiu tentando por um momento, a fazer isso, mesmo com o anjo ali, como se para provar alguma coisa... Mas quando parou para pensar.

O que exatamente...? Não precisava provar nada. River nunca tinha dito ou insinuado nada que pusesse sua masculinidade à prova, nada a não ser piadas sem importância, como na noite anterior sobre ter ciúmes.

Então por que essa súbita necessidade de provar sua atração por mulheres? Talvez para deixar claro que não era atraído por ele? Ora por favor, que pensamento ridículo. Se tinha alguém que precisava provar isso era River. Tinha um ar meio suspeito e o jeito como o outro anjo estava perto dele mais cedo foi...

Por que mesmo que estava pensando nisso...? Mas que coisa. Doce Delicado e certinho como ele era, ou aparentava ser, ele provavelmente via o sexo como uma demonstração de afeto intima e pessoal, em vez do simples prazer físico que era.

Crouser ergueu os olhos para o guardião que aparentava estar bem mais tranqüilo agora que a fêmea tinha saído. Estava quieto por que o vampiro tinha pegado os livros novamente, mas a verdade era que Crouser não estava conseguindo se concentrar. Não só porque era difícil e chato, mas também porque... Mas que diabos, anjos. Ele não conseguia parar de pensar nisso.

Eles tinham sentimentos? Deviam ter. Mas de certo era diferente dos seus, e eram diferentes dos humanos. E seus pensamentos voltaram a se divagar sobre coração, sangue... E agora ele nem podia dizer que eram delírios da fome por que tinha acabado de se alimentar.

Tentou se lembrar das grandes batalhas, mas os anjos quase nunca lutavam e ele não se lembrava de tê-los visto sangrar... Olhou para o pescoço do guardião procurando ver a carótida pulsar. E River notou. Levou a mão ao pescoço e riu, virando-se para ele.

- O que foi? – O vampiro desviou o olhar se sentindo tão estúpido.

- Nada. Não é nada. – Voltou o olhar apara as paginas.

“As leis que governam o ato de retenção são simples e devem ser aplicadas a todos sem restrição, por via do Conselho. As regras e limites devem permanecer inalterados, independente do acusado ou acusada apresentar defesa parcial ou interada do censo comum ou público.” Santo Deus.

Simples? Simples era um palavrão ali. Ele suspirou e esfregou os olhos. Tinha sido assim desde que começara e não estava chegando a lugar algum. Ele podia pedir ajuda. Não. Isso estava fora de questão. Absolutamente. A única pessoa pra quem pensaria em pedir era Other e ele estava em campo. Ai que inveja.

Seu irmão era a pessoa mais indicada, mas eles se ignoravam mutuamente e Crouser queria deixaras coisas assim. E quanto ao guardião...? Ele tinha orgulho pelo amor de tudo! Era a única coisa que tinha restado. E ele tinha deixado bem claro que não queria a ajuda ou proteção de River dês de o começo claro que não ia perguntar nada agora.

Olhou para o anjo de novo. Ah, isso estava ficando mais comum do que ele gostaria de admitir. Quase que sem pensar, as palavras se derramaram de sua boca como areia entre os dedos; impossível de conter.

- Você anjos tem coração? – River o olhou surpreso. E em seguida deu uma gargalhada.

- É claro! Eu posso não aparentar, mas sou uma pessoa bem gentil e me importo com meus amigos.

- Não assim. – Crouser bufou revirando os olhos e fechando o livro. – Coração de carne, que pulsa, que espalha o sangue pelo corpo. – River ficou sério.

- Não, vivemos só por respirar. – Crouser franziu a testa e não discutiu. Se tiravam energia do sol tudo era possiv-... Seus pensamentos foram interrompidos pela risada histérica de River. O anjo estava quase ficando sem fôlego.

- Meu Deus, você comprou isso?! – Crouser cruzou os braços e revirou os olhos. Ah, mas que palhaço River era. O anjo tentava para de rir. O vampiro dá ombros ainda de braços cruzados o que faz seus músculos se ressaltarem. Não que ele esteja tentado. Jamais.

- Nunca estudei anatomia angelical. – Disse ácido. Mas o anjo não se importou com seu tom. Nunca se importava. Deu um sorriso mais compreensivo, agora sem rir.

- Temos sim. Igual ao que bate dentro de você. Igual o que bate dentro dos humanos. – O que ainda não explicava como eram os sentimentos deles. Ele teria uma namorada? Namorado? Já tinha se deitado com uma fêmea? Crouser se chutou mentalmente por estar pensando nessas coisas. O que lhe importava? Não era como se ele e o guardião fossem ficar amigos nem nada assim.

Desviou a mente das possibilidades da vida pessoal do anjo e tentou pensar em outra coisa para dizer. Mas o que saiu de sua boca foi:

- Posso sentir?

Uma pergunta sussurrada, inesperada até mesmo para quem tinha pronunciado. De onde aquilo tinha vindo??? Tudo bem. Sem pânico. Crouser encontrou os olhos azuis celestes de River. O anjo não estava mais rindo. Parecia tão focado quanto ele. Sentia o estomago torcer e se agitar, mas o que ele tinha na cabeça?? Por acaso perdera p filtro que controlava o que pensava e o que saía da boca? Quando estava prestes a abrir a boca e mandar ele esquecer o que tinha dito, a River falou.

- Tudo... Tudo bem. – O consentimento tinha saído tão baixo e incerto quanto a pergunta feita. Os dois se encararam por um momento que pareceu décadas. River se aproximou da cama lentamente e se sentou na beira, sem tirar os olhos de Crouser. Sentou perto o suficiente para que ele pudesse o alcançar ou se afastar se fosse o caso. Esperava que ele o tirasse dali ou dissesse que era uma brincadeira, mas o vampiro não costumava brincar não é...?

Esperou por alguma reação, mas tudo que Crouser fez foi descruzar os braços e ficar olhando para ele. River respirou fundo e baixou os olhos. Ele estava a disposição. Depois de alguns segundos ele sentiu o vampiro se mexer. Prendeu a respiração sem saber muito bem por que.

Crouser ergueu o braço, hesitante e estendeu a mão. River continuou parado, mas levantou os olhos. O olhar do vampiro estava escuro e sombrio, intenso como o anjo nunca tinha visto. Crouser desviou os olhos dos dele e encostou a palma da mão sob o lado esquerdo do peito do anjo, primeiro levemente, depois com mais força.

River continuou no lugar e o vampiro podia sentir a pele quente por baixo do fino tecido da camisa branca. Sentir as batidas ritmadas e fortes do anjo foi surpreendente. O coração ele batia tão rápido quanto o seu, e aquele contato o fez se sentir vivo...

E sentir que seu guardião também estava vivo, ali, do seu lado. Naquele momento ele sentiu como se uma ligação estivesse se estabelecendo, se criando algo único e poderoso que o unia. Algo que ia além do físico, o contato que acabara de ser feito, algo como se eles finalmente estivessem se entendendo, de alguma forma.

Mas que tipo de pensamento era esse?!

Crouser tirou a mão rapidamente e recolheu o braço. River arfou com a súbita quebra de contato e abriu os olhos, que não tinha notado fechar. O vampiro tinha se retraído e estava tenso. Sem querer piorar a situação, o anjo se levantou da cama e as afastou, dando um espaço. Riu sem graça e passou a mão pelos cabelos.

- Acho melhor você sair hoje. – Crouser disse murmurando.

- O que...? – Não porque não tivesse ouvido, mas por que era um pedido estranho. River tinha achado que ele já tinha se acostumado com sua presença.

- Quero dormir sozinho. – Crouser disse sem o olhar. River deu ombros e se virou para a porta. Tudo bem, ele devia precisar de espaço, tinha realmente sido algo... No mínimo intenso.

Quando ouviu a porta do quarto se fechar, Crouser soltou o fôlego. Mas o que, em nome de tudo o que havia de mais sagrado, tinha sido aquilo? Quer dizer, não era para ele ter se sentido daquele jeito, era? O que fora todo aquele acelerar do coração, ou a queimação na boca do estomago?

Irritado com as próprias reações, Crouser tirou os livros da cama e fechou as pesadas cortinas, pois o sol já estava começando a se levantar. Deitou-se de novo e apagou o abajur, imaginando-se cansado de toda a leitura inútil e complicada que fizera.

Mas não conseguiu dormir. A sensação do coração de River pulsando contra sua palma o deixava agitado e inquieto. O que era aquela sensação de... Querer mais?

O que era??

E afinal depois de muitas horas sem dormir pensando, adormeceu, sem chegar a lugar algum.




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Notas finais do capítulo

E aí? Reviews?



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