Angels And Nightwalkers escrita por Annie ONeal


Capítulo 2
O Ócio de Cada Dia (Dai-nos Hoje)


Notas iniciais do capítulo

Então esse é o segundo... Só umas coisinhas a mais, bem simples.



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   Dor. Sua cabeça doía como o inferno. A luz prateada da lua banhava o quarto juntamente com a suave luz do abajur ao lado de sua cama. Mas espera. Como Crouser sabia que aquele era sua cama? Ok, os travesseiros macios e os lençóis de cetim podiam dar pistas claras, mas a ultima coisa que se lembrava era de estar na fronteira lutando contra cinco vampiros do Norte, e estava perdendo. Vergonhosamente. Então...? Crouser fez um esforço para abrir os olhos.

   - Bom dia raio de sol! Quer dizer, desculpe, isso deve ter soado ofensivo já que você não sai ao sol nem vê a luz do dia. É que raio de lua pareceu tão errado. Lua emite brilho sabe. E brilho de lua soa errado também. Ah, acho que vou ficar só no ‘boa noite’ mesmo.  – Ah não. Ah não.

   Então não tinha sido um sonho? Aquele bastardo alegre estava mesmo ali?

   O vampiro fechou os olhos de novo e gemeu em angustia, tentando se arrastar para o outro lado da cama de casal, para o mais longe possível daquela voz que derramava animação. Ele não estava animado. Nem um pouco. Mas o mínimo movimento fez seu corpo, em especial seu braço direto, arderem em dor, e uma mão surpreendente gentil pousou em seu ombro.

   - Não, nem pense. Fique parado ok? Já vai passar. – Crouser abriu os olhos e focou em River que estava ajoelhado no chão ao lado de sua cama. Como ele ainda podia estar ali? Ele o tinha insultado, batido a porta na cara dele, dado um choque e saído de sua supervisão comprometendo o trabalho dele, e ele estava ali, colocando compressas frias em sua testa? O que havia de errado com ele afinal?

   - Você... – Deus, aquela era sua voz? Rouca e falhando. Fraca. Crouser odiava se sentir assim. Ele limpou a garganta e ficou aliviado ao ouvir sua voz segura e profunda na segunda tentativa. - Você contou a alguém? – Por que essa era a coisa sensata a fazer. E ele era um anjo. Anjos faziam coisas sensatas certo?

   - Não. Eu sei agir com discrição. – Ele revirou os olhos com um sorriso franco. – E eu entendo por que você fez. – Ah, lá vamos nós de novo. – Você é como um pássaro. Não pode ser mantido numa gaiola depois de passar tanto tempo livre. – Essas palavras surpreenderam o vampiro, que franziu a testa. Mas sério, o que havia de errado com ele? Não tinha ar de delinqüente e esconder coisas do conselho, especialmente fugas de alguém que está retido podem fazer você se encrencar e ser retido também.

   - Como você...? – Acordou tão rápido? Me achou? Me trouxe de volta? As perguntas se enrolaram na cabeça já confusa de Crouser e ele parou de falar fechando os olhos. O anjo pareceu entender.

   - O seu truque é bem legal, mas não dura muito. Pelo menos não com anjos. E essa coleira – River fez uma pausa e apontou para a gargantilha de metal ao redor do pescoço. - meio que me diz onde você está, se bem que não era difícil de imaginar. – Ele trocou a toalha úmida antes de continuar e o vampiro ficou agradecido pelo alivio refrescante que aquilo lhe proporcionava. – Você desmaiou e eu terminei com aqueles... O pessoal do Norte. Depois eu te trouxe de vota por que enfim né, é pra isso que tenho asas. – River riu.

   Crouser ergueu o braço dolorido e olhou as marcas em forma de elos sob a pele. O anjo olhou também.

   - Você se cura incrivelmente rápido. Isso é coisa de vampiro? Você estava bem mal quando eu te trouxe, mas já está quase pronto pra outra. – O que fez Crouser pensar se ele tinha arranjado um aliado e River ia deixá-lo sair de novo. Talvez essa vez sem precisar do choque. Talvez o anjo nem fosse tão ruim assim. 

   - É, é coisa de vampiro. – River assentiu e se virou novamente para focar nas toalhas úmidas. Crouser já se sentia bem melhor. Começava a formular um novo plano em sua cabeça. Um que não incluía apanhar.

   - Caso esteja se perguntando, eu não vou deixar você sair de novo, Sr. Rouxinol Aprisionado. –Os olhos do vampiro escureceram em fúria, mas River nem viu. E se viu não se importou. – Agora que você já fez o truque legal uma vez, eu sei como fazer para impedir e o choque não vai mais funcionar. – O anjo tinha um ar leve, mas as palavras eram firmes.

   Crouser já estava se sentindo muito melhor e precisava sair. Espairecer. Ficar no mesmo ambiente que aquele ser feliz e bem humorado o estava sufocando. Se sentou sem a menor cautela e tirou a toalha molhada da testa. Sentiu uma leve tontura que ele se obrigou a controlar. Ia sair ou seu nome não era Crouser Treat.

  River abriu a boca para impedi-lo, mas ele se levantou e saiu andando pelo quarto. Roupas. Precisava se vestir, estava só de cueca e não queria pensar que River tinha feito aquilo. Um lado seu estava grato, tinha dormido bem mais confortável, mas ele mandou esse lado calar a boca.  Se vestiu sem olhar na direção do anjo se fechou no banheiro antes que ele pudesse dizer alguma coisa.

   Seu aspecto não estava dos melhores. Não estava nada bom. Os cabelos bagunçados estavam apontando para todas as direções e havia um corte, mesmo que quase curado no lábio inferior. Apesar de não ter hematomas nem machucados, por dentro ainda doía, especialmente a perna direita, e seu semblante refletia essa dor. Ele encarou seu reflexo e ordenou a si mesmo para ficar firme.  A expressão melhorou um pouco, escondendo o incomodo dolorido. Certo. Sua aura sombria estava de volta.

   Quando saiu, River já tinha recolhido as toalhas e estava esperando com um olhar de expectativa. Antes que ele pudesse abrir a boca porem, Crouser ergueu uma das mãos.

   - Você fica. E isso não é um pedido nem uma sugestão amigável.

   - Mas-...

  - Eu estou na minha maldita casa. Não creio que corra perigo indo na cozinha nem nada assim. – Crouser falou seco se dirigindo á porta sem nem olhar para o guardião. Quando a porta bateu, River soltou o fôlego que nem notara que estivera segurando. Tecnicamente um Guardião não seguia as ordens do Protegido, mas ir atrás de Crouser era pedir pra apanhar.

   - Uau, eu realmente não acredito que você esteja se submetendo a isso. – River quase riu ao se virar para encarar o dono da voz. Era sempre ele, aparecendo nos momentos mais... Inoportunos. O anjo que estava parado na sacada era alto, mais alto que ele e tinha os cabelos cor de mel que balançavam suavemente ao vento noturno e olhos verdes que pareciam queimar. Qualquer um que não o conhecesse podia achá-lo um deus. Mas a concepção mudava uma vez que ele abria a boca, e River estava mais do que acostumado a isso.  

   - Parish. O que faz aqui? – Ele perguntou com um sorriso que ficava entre educado e sarcástico.   

   - Ah, achei que ficaria fez em me ver. Vim ver como você está. Quando me disseram que você tinha se voluntariado como guardião quase não acreditei. Tinha que ver com meus próprios olhos.

  River deu ombros e foi até o outro anjo que ainda estava parado na porta de vidro da varanda.

   - Você sabe por que eu estou fazendo isso. Preciso fazer.

  - Nunca entendi essa sua neura em ser o Anjo de Platina. O cargo nem é tão bom. – River o olhou sério.

  - Não é só isso, e você sabe. Preciso... Me redimir, preciso consertar as coisas que-...

  - Você realmente acha que sete meses com um vampiro rebelde vão te absolver de todos aqueles anos? Ah, por favor, você e eu sabemos que isso já não tem mais volta.

   - Não custa tentar.

  - Não me venha com essa. Você é tão ferrado quanto eu. Só não quer aceitar. – River não respondeu. Às vezes tinha que poupar as palavras e os nervos perto dele. Parish ergueu um dos braços e puxou o rosto de River forçando-o a olhá-lo nos olhos. – Admite que você gostava dos velhos tempos. E que sente falta.

   Um sorriso involuntário apareceu nos lábios de River e ele ficou com raiva disso. Tinham passado por muitas coisas sim, e a maioria delas não tinham sido boas. Mas estavam no passado e era lá que ele queria deixar. Menos quando Parish estava por perto, evocando cada memória, cada lembrança. Ele queria seguir em frente, mas era tão complicado.

   - Tanto faz, me larga. – River se soltou das mãos do outro anjo se afastando. Ficar perto demais dele o deixava inquieto, talvez por que ele fosse imprevisível. Parish revirou os olhos e entrou no quarto.

  - Não precisa dar uma de babaca só por que você esta cuidando de um. Sinto falta do seu velho eu. – River teve que rir. Ele também sentia, as vezes. Geralmente perto de Parish. Não queria mandá-lo embora mesmo sabendo que devia, mas não sabia quanto tempo Crouser ia ficar fora e ele realmente odiava ficar sozinho. Mas uma parte sua queria que o vampiro voltasse, e o mais rápido possível.

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   Crouser não ia para a cozinha. Mas não queria a companhia do curioso e falante anjo. Queria paz e silencio por que precisava usar a cabeça e não era muito bom nisso. Se não podia ganhar pela força, ia ter que ganhar pela inteligência. Foi no ultimo lugar que esperava por os pés um dia, e o único lugar que o podia ajudar; A biblioteca da mansão.

   O lugar tinha um ar pesado de sabedoria e frio como se o conhecimento repudiasse sua presença ali. Ele nunca se sentira confortável entre estantes cheias de livros, mas ele precisava começar. Demorou uns bons minutos até achar a seção que procurava, os livros antigos das leis. Diziam que eram os mais chatos, mais difíceis e mais cansativos de serem lidos, mas em algum lugar dentro daquelas paginas frágeis e amareladas estava a chave para diminuir sua pena, ele acreditava. E valia tudo para sair da gaiola mais cedo.

   Tirou um dos pesados volumes da estante e folheou. Sentiu um desespero abater-se sobre ele, por que quando disseram que era difícil, estavam apenas sendo gentis. Respirou fundo e tirou outro. Mesma coisa.  Estava prestes a jogar todos no chão e pular enraivecidamente em cima quando sentiu um aroma escuro de vinho. Não precisou se virar para saber quem era sua companhia.

   - Ouvi dizer que você arranjou uma babá cheia de plumas que salvou sua bunda de ser chutada ontem. – A voz de Other tinha um som casual, mas Crouser podia ouvir o sorriso torto.

   - Nem me lembre disso. – Crouser murmurou se virando para encarar o amigo.  – Como ficou sabendo?

   - E quem não está sabendo? – O vampiro maior amaldiçoou.  

   - Achei que você ia ficar em campo por mais uma semana.

   - Eu vou. Diferente de você, eu posso ir e vir e... Aliás, o que você esta fazendo aqui?? Isso aí na sua mão são livros? – Other começou a rir e Crouser revirou os olhos.  

   - Vou tentar reduzir minha pena.

   - Você sabe que não precisa disso tudo... – Other suspirou. – Basta você engolir esse seu maldito orgulho e ir conversar com Ager.

  - Vou fingir que você não acabou de sugerir isso. – Crouser bufou se virando para sair com  pilha de livros.

  - Não pode ignorar ele pra sempre. Ele é seu irmão, a única família que você tem.

  - Dane-se.

  - Mas Crou-...

  - Não insista no que não diz respeito a você. – Crouser disso com raiva na voz. Other sabia que mesmo sendo o melhor amigo tinha que respeitar certos limites e se calou. Abaixou a cabeça e seus olhos sumiram sob a base do chapéu alto. Quando chegaram à porta do quarto de Crouser ele suspirou.

   - Desculpe. Não ligue pra mim, só estou uma pilha de nervos.

   - Imagino que sim. Se quiser relaxar, sabe onde me encontrar. – Tocando a aba do chapéu num cumprimento silencioso Other se desmaterializou deixando para trás apenas o silencio e a suave fragrância de uvas.

   Crouser suspirou e abriu aporta do quarto. Franziu a testa. River estava na porta da varanda, conversando com quem parecia ser outro emplumadinho. O anjo desconhecido ergueu os olhos pra ele e deu um sorrisinho de deboche. Crouser lhe lançou um olhar flamejante e entrou no quarto batendo a porta. 

 - Ah, você voltou...!- Aquilo era alivio na voz de River? O outro anjo revirou os olhos e recuou na varanda abrindo as asas.

  - A gente seve depois Rivy. – E saiu voando pelo céu escuro. River tinha enrubescido com o apelido, mas Crouser fingiu que não notou. Largou os livros na mesa de cabeceira.

 - Namorando na sacada, Julieta? – River não pareceu afetado, apenas abriu o sorriso divertido de sempre.

   - Está com ciúmes? – Crouser quis rir daquilo. Mas por algum motivo não conseguiu. Olhou para o anjo e depois desviou os olhos sentindo um nó na boca no estomago. Estava confuso, queria mandar o anjo pra fora de seu quarto, mas ao mesmo tempo não conseguia imaginar o silencio solitário que isso causaria.

   Mas que droga, era apenas o segundo dia e ele já tinha... Se acostumado com a presença dele por assim dizer. Talvez fosse o lance do salvamento.

   Não, ele se corrigiu. Ele não tinha gostado daquilo. Ele tinha interferido, ele estava indo bem, obrigado.

   Talvez.  

   Talvez não.

   Mas o que ele tinha certeza é que não queria pensar naquilo. Deitou-se na cama abrindo um dos livros e reparando a mente para a tempestade de palavras complicadas.  O anjo se postou ao lado da cama com o sorriso de sempre e graças a Deus, não fez nenhum comentário.                                


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Notas finais do capítulo

Reviews fazem uma autora feliz xD



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