Certa vez, em um surto de curiosidade infantil, Sakura decidiu que iria se embrenhar na mata sozinha para provar para Sasuke e Naruto que era tão forte quanto eles. Os dois ficaram esperando um pouco antes do início da floresta enquanto ela ia buscar algo que provasse que estivera no meio da floresta.

A princípio ela não tinha ficado com medo. Mesmo com a densidade das árvores a lua iluminava boa parte do caminho, mas ela não contava com o fator surpresa: toda floresta tem animais.

De repente, quando já tinha certeza que tinha chegado ao centro, um animal grande apareceu por entres as árvores. Ela não se lembrava de ver o rosto do animal, mas definitivamente tinha quase dois metros de altura.

Ela se sentiu encurralada pelo animal e exatamente essa mesma sensação se alastrava por seu corpo ao ver Sasuke encarando-a querendo conversar.

Como dizia a avó: Não são atos físicos que nos machucam. As palavras doem mais.

-Conversar? – Sakura perguntou quase como se não estivesse entendendo o que ele queria. Queria ganhar tempo.

-Você me entendeu. – Sasuke respondeu se recostando na porta. Os olhos do moreno continham algo acusatório quase como se a rosada fosse uma criminosa a qual ele precisava deter.

-Na verdade não. – Sakura se virou tentando não encará-lo. – O que você possivelmente quer conversar?

- Podemos pegar como exemplo o fato de você apenas me ignorar e fingir que eu não passo de um completo estranho. – Sasuke sempre foi muito aberto com Sakura e Naruto. Para o mundo exterior ele era frio e inexpressivo, mas era diferente com os dois melhores amigos. Ele tinha mais voz quando estava no meio que mais conhecia.

-Isso é simplesmente porque você é um estranho. – Respondeu Sakura ainda tentando não encará-lo. Em seu coração mágoa e tristeza se acumulavam.

-O que?

-Sasuke encare os fatos... - Sakura disse se virando desta encarando-o. Não conseguia mais anular o problema. – Você se tornou o estranho a partir do momento que entrou no avião em Osaka e veio para Tóquio para seguir carreira.

-Então o problema é ser famoso? – Sasuke mantinha um tom de voz calmo beirando o mórbido.

-O problema é o que você fez para conseguir! Você foi embora! Deixou todo mundo na mão e fingiu que já não conhecia ninguém. - Sakura bradou aliviando um pouco do que estava guardado.

-É por isso que você tem tanta raiva?- Ele disse se aproximando.

-Você sabe que não é só por isso. Você sabe o que fez! – Sakura gritou novamente e em um ato ímpeto Sasuke puxou a rosada colocando os lábios dela nos dele. Sakura tinha os lábios macios e o sabor adocicado da cereja saía de sua boca. Os braços do moreno seguravam os ombros da rosada que por um momento de choque não fez nada.

Porém o conto de fadas durou apenas alguns segundos porque logo em seguida Sakura se afastou estapeando o rosto do moreno com força.

-O que você pensa que está fazendo?- Bradou passando as mãos nos lábios tentando tirar as impressões do beijo.

-Não era isso que você queria? – Sasuke, pela primeira vez, se alterou gritando de volta e colocando uma das mãos na face.

-Não! O que você estava pensando?

-Não foi por isso que você ficou com raiva? Porque no dia que eu fui embora você iria se declarar e eu não quis?

-Quem te disse isso? – Sakura gritava a plenos pulmões. – Encare os fatos Sasuke! Eu pedi para não ligar. Pedi para o Naruto não falar de você. Pedi para ele não falar de mim. Eu não estou com raiva porque eu queria me declarar. – O tom dela era desdenhoso. – Eu estou com raiva pelo o que você fez e falou antes de ir embora. – Por um momento o tempo todo parou. Não havia som e nem mesmo o farfalhar das folhas com a leve brisa.

Os dois apenas se encaravam.

-Você quer saber Sasuke? Esquece! Eu nem sei por que você se deu o trabalho de falar comigo naquela maldita praça. Você poderia ter ignorado e fingido que nunca tinha me visto. Você fez isso nos últimos anos.

-Eu fui naquele lugar porque eu sabia que você estaria lá. – Ele respondeu atônito. – Eu não te liguei porque eu achei que poderia ter acabado com a nossa amizade. Eu achei que você gostava de mim.

-Como amigo? Sim! –Ela parou por um momento se acalmando. – Apenas esqueça. Eu vou embora depois dessa noite. Vou para a faculdade e você segue sua vida de astro. Eu não vou te incomodar e você não vai precisar nem olhar para minha cara.

-Sakura não... – Sasuke começou, mas a rosada apenas ignorou. De repente batidas rítmicas na porta. Sasuke se virou resignado pegando a chave no bolso e abrindo a porta.

Gaara estava recostado na parede.

- O que você quer? –Sasuke perguntou em seu tom normal.

-Temos que ir para a gravadora. Você tem dez minutos. – Ele falou indo embora, mas não sem antes de checar de Sakura estava bem. Apenas uma olhada.

-Acho melhor você ir. – A rosada disse.

-Isso não acaba aqui. – Foi tudo o que ele disse saindo e jogando a chave na cama.

Tudo estava bagunçado e fora do lugar. Nada parecia normal e conexo. Mas ela tinha apenas que lidar com mais uma noite. Apenas isso.

Não ficaria por ali e experimentar a vida de celebridade. A sua cota tinha se esgotado e não queria renová-la.

A vontade que tinha era de chorar. Maldito dia em que decidiu ir para Tóquio. Talvez fosse o carma da vida. Tinha mentido para estar ali e a vida a punia por isso.

Sakura saiu de seus devaneios sentindo o celular vibrar no bolso. Pegou o aparelho olhando no visor quem era. Mas o nome parecia ser a resolução de seus problemas e sua carta de alforria. Com esta simples ligação poderia esquecer os problemas mesmo que por alguns segundos.

O celular continuava vibrando até que Sakura o atendeu.

-Sai! – Falou da maneira mais feliz que conseguia. Mas ela estava feliz. Feliz por poder retomar parte da normalidade de sua vida.