A espera diante dos impetuosos portões de ferro parecia ser imensa. De todos os lados fotógrafos se espremiam ao lado do carro preto tentando capturar uma foto do interior do mesmo. Flashes iam e viam inundando a visão de todos os presentes com luzes brilhantes.

Finalmente depois de algo como dez minutos os portões se abriram. Foi preciso chamar a polícia para reforçar a segurança na mansão para que eles pudessem entrar. O furo do ano não era a volta da Smoky Factory ao Japão e sim a garota que tinha começado a andar com eles.

Sakura estava imersa em pensamentos encostando a cabeça no vidro do carro. O machucado na testa ardia, mas a dor tinha sumido algumas horas antes de receber alta do hospital. A seu lado estava Naruto e Gaara e a sua frente Neji e Sasuke. Shikamaru estava no banco do carona ao lado do motorista falando alguma coisa em inglês ao celular.

A rosada preferia não olhar para fora ou prestar atenção porque o que lhe aguardava era simplesmente o passado. Algo que considerava temoroso e extremamente perigoso. Mas a medida que o carro se locomovia por dentro da mansão Sakura não pôde deixar de notar as altas árvores de cerejeira, a grama rasteira que cobria o chão, a vivacidade com que o mediano lago artificial tomava metade do lado direito do jardim. As construções em madeira em bancos, uma pequena ponte sobre o lago – que ela adorava brincar- e o pequenino balanço que era pendurado sob a mais majestosa árvore do jardim.

Tudo ali remetia a infância. Claramente se lembrava dela e Naruto pulando dentro lago e Sasuke apenas observando com um sorriso torto. De cair inúmeras vezes do balanço por tentar balançar em pé. Longas conversas da madrugada sob a luz do luar resplandecente quando algum deles tinha um problema. Era tão magnifico e ao mesmo tempo estava longe.

Demorou algum tempo para que ela notasse que o carro já tinha parado e que todos desciam em frente à porta de madeira maciça que em seu meio estampava o brasão da família Uchiha. Lar Doce Lar. Pensava enquanto Naruto tocava seu braço.

Saiu de seus devaneios olhando para o rosto feliz do amigo. Sua expressão indicava que ele lembrava tão bem quanto ela os anos passados na mansão.

Segurando a mão dele Sakura saiu do carro. Ao longe podia notar os flashes esporádicos que insistiam em continuar tentando captar uma imagem. Tecnicamente impossível.

–Finalmente! – Naruto disse espreguiçando-se. – Não aguentava ficar mais naquele carro. Sakura-chan o que acha da mansão? – O loiro perguntou a fim de dar uma leveza no clima de tensão. A rosada podia sentir os olhares ardentes sobre si.

–Está igual ao que eu me lembro. – Foi tudo o que disse sorrindo de leve para o amigo que a pegou pelo pescoço em um abraço desajeitado.

–É verdade e essa é a melhor parte! – Naruto disse.

–É melhor entrarmos. – Finalmente Shikamaru se pronunciou e deixou o celular de lado. A longa porta de madeira se abriu por dentro, como Sakura bem conhecia, revelando a figura de Sanoy o mordomo da família. Seu rosto continuava o mesmo. Os olhos negros e cabelos lisos faziam com que parecesse mais jovem do que realmente era.

Todos entraram e ele fez uma reverência a cada passante. Sakura se aproximou dele e em um ato quase ímpeto ele soltou:

–Senti sua falta Senhorita Sakura. – Ele disse e Sakura sorriu lembrando-se da brincadeira. Ele insistia em chama-la de Senhorita Haruno e Sakura não gostava do título. Ela gostava de ouvir seu nome ser pronunciado de maneira melódica como todos faziam e por isso pediu para que ele a chamasse de Senhorita Sakura. Ambos ficavam felizes.

–Também senti sua falta Sanoy. – A rosada disse abraçando-o rapidamente e sorrindo. E de verdade ela sentia.

Adentrou ainda mais a mansão que continuava intacta. Sua estrutura de mármore branco se mantinha impecável deixando a casa em um tom antigo e frio. A escada emendada no hall de entrada continha o mesmo tapete vermelho vinho e em suas duas extremidades vasos negros com a flor de lótus.

–Eu jogo primeiro! – Naruto disparou correndo em direção à sala que ficava um pouco mais adianta ao lado esquerdo da escada. Neji saiu correndo em sua direção xingando o loiro e dizendo que ele iria jogar.

–Crianças. – Shikamaru disse entediado, mas sua expressão refletia cansaço. – Eu vou para o meu quarto. Tenho que subir a escada. – A sua voz mostrava certo desânimo. – Vou dormir na sala. – E saiu na mesma direção de Naruto e Neji.

Um silêncio mortal tinha se instalado entre os restantes e esse silêncio foi cortado apenas por uma voz no topo da escada.

–Faz muito tempo Sakura. – O homem dizia descendo vagarosamente a escada. Após terminar de descer Fugaku continha um sorriso que Sakura tinha visto poucas vezes. – Senti sua falta minha filha. – O homem disse abraçando a rosada. Sakura não se recordava quando ele tinha começado a chama-la assim e por um tempo tinha gostado, mas não mais. Sentia-se sufocada.

O abraço de Fugaku transmitia paternidade, amor e carinho. Tudo o que sentiu falta por longos e nebulosos anos de sua vida. Afastou os pensamentos evitando que as lágrimas brotassem de seus olhos. E por mais que tentasse não poderia olhá-lo com os mesmos olhos.

–Também senti a sua falta pai. - Ela disse abraçando-o ainda mais forte. Ele não era realmente o pai dela, mas era praticamente. Abraçada a ele um calor circundava os dois e o buraco que tinha em seu coração parecia se fechar momentaneamente. Em suas palavras uma mágoa se escondia.

Os dois se afastaram e o mais velho a encarou por alguns segundos.

–Está ainda mais bonita. Cresceu e agora é definitivamente uma mulher. – Ele disse com um olhar cálido e calmo. – Uma mulher de cabelos rosa. - Ele disse debochado.

–Eu gosto de mudar. – Sakura disse sorrindo.

–Eu tenho que ir, mas quero que fique a vontade. A casa também é sua e quero que descanse. Nada de abusos depois do seu acidente. – Ele falava sério com uma preocupação de pai. A rosada riu e fez uma continência. – Gaara, Sasuke. – Foi tudo o que ele disse passando pelos dois rapazes e indo em direção ao lado direito da casa. Andava calmamente pelo longo corredor e parecia não querer demonstrar que aquele momento tinha sido especial.

– Eu vou praticar. Até mais. – Gaara se pronunciou com seu típico tom calmo e expressão apática. Subiu as escadas sumindo logo em seguida. Restavam agora Sasuke e Sakura.

Um clima constrangedor se abatia sobre os dois. Pareciam dois estranhos que se conheciam por amigos e não tinham algo a dizer para o outro. Para, novamente, surpresa de Sakura o moreno se pronunciou:

–Eu vou te mostrar o quarto. – Sasuke disse pegando a mochila prateada dela jogando-a nos ombros. Sakura não contestou e apenas o seguiu pela escada a passos largos. Parecia que ela nem existia para ele.

Sasuke estava mudo e a conduzia de forma simples pelos corredores da mansão. Com a infinidade de quartos Sakura não saberia realmente dizer onde ficaria, mas tinha sua preferência. Um quarto não muito grande, mas que tinha usado durante anos quando passava horas na mansão Uchiha. As conversas entre os amigos sempre acabavam nela dormindo no sofá da sala e com o tempo um quarto tinha sido dado à ela.

Também não contestaria Sasuke porque estava cansada, com dor de cabeça e uma imensa vontade de tomar um banho quente e deitar em uma cama. A cama do hospital não era nem próxima de confortável.

Não demorou para que eles chegassem ao quarto. O quarto que ela ansiava. A porta também feita de madeira maciça estava entreaberta e Sasuke fez um sinal para que ela entrasse primeiro.

Exatamente do modo que tinha deixado. As paredes continuavam cor de rosa, a cama ao centro forrada com um lençol creme, a janela aberta mostrando a imensidão do jardim da família, a escrivaninha com alguns papéis e os livros abarrotados em longas prateleiras brancas e que faziam a decoração do local. Ao fundo a guitarra velha, jogada no chão, que Sasuke adorava tocar e as fotos pregadas na parede que Naruto tinha tirado de momentos hilários.

O quarto cheirava a cerejas e morangos. Algo que a rosada prezava bastante. A essência da beleza que não poder ser vista apenas sentida.

Estava entorpecida de lembranças, mas foi capaz de ouvir quando Sasuke trancou a porta e jogou a mochila dela na cama.

Assustada com o ato repentino a rosada se virou para encará-lo. A expressão taciturna continuava em seu rosto quase como uma máscara e o corpo dele tampava toda a porta.

–Sasuke o que é isso? –Sakura perguntou com hesitação na voz.

–Agora nós vamos conversar. Você querendo ou não. – Foi tudo o que ele disse. Um turbilhão de emoções sondavam Sakura, mas ela não sabia identificar o que. Porém uma linha de medo a percorria. Aquilo era mais sério do que parecia.