– Sente-se- Ele falou com voz aveludada enquanto apontava para cadeira a sua frente. A rosada obedeceu demorando um pouco para assimilar o que estava acontecendo. Ela e Madara se encontravam em um restaurante elegante no centro da cidade.

As janelas altas projetavam a luz do sol nos móveis em tonalidade preto e branco, porém não havia muito ali para se iluminar. No meio daquele restaurante coberto por mesas vazias havia apenas duas pessoas lidando novamente com o jogo de interesses.

Madara sorria como se estivesse em um ensaio fotográfico enquanto girava um anel em seu dedo indicar. Possuía um ar sério e sombrio, mas era o seu silêncio que assustava Sakura ainda mais.

– Se passou um ano Sakura. – Ele se pronunciou sorrindo enquanto olhava diretamente naqueles olhos esverdeados. – O que está achando da Inglaterra? Foi uma boa escolha?

– Está sendo ótimo. – Respondeu quase que em um sussurro tentando lutar contra o impulso de olhar para baixo. Não poderia fica por mais tempo olhando para aqueles olhos que refletiam um brilho avermelhado que parecia querer fazer mais uma vítima.

– Apenas ótimo? – Ele perguntou com uma pontada de decepção. – Então acho que deveríamos ter escolhido outro lugar. Talvez você se adequasse mais com Nova York ou França.

– Aqui está ótimo. – Foi tudo o que disse e agradeceu mentalmente quando o garçom apareceu silenciosamente e colocou vinho nas taças colocadas em cima da mesa de vidro fosco.

– Excelente. – Madara disse em tom mais calmo enquanto pedia para que o garçom os deixasse a sós. – Fico feliz em saber que minha pequena está se saindo bem. Porque afinal não deve ser muito fácil lidar com toda essa mudança. – Ele falava calma e pausadamente instigando e tornando suas palavras mais mórbidas cada vez que saíam de sua boca. Ele queria promover aquela sensação de solidão e tristeza e estava conseguindo. – Você abandonou sua vida. Universidade, casa, amigos e família para ceder a uma vontade minha. E eu nem mesmo me dei ao trabalho de ligar. Que decepção.

– Por isso estamos neste restaurante? – Sakura se arriscou a perguntar enquanto encarava a figura saída dos filmes de terror.

– Oh não minha querida! O buraco é um pouco mais embaixo.

– Então do que se trata? – A rosada perguntou sem se importar muito com as consequências.

– Vamos chegar lá. – Ele disse bebericando um pouco de seu vinho e Sakura fazia o mesmo. – Sabe Sakura, eu acho impressionante como o mundo funciona. Tudo o que eu queria era exclusivamente preservar a minha família. É muito difícil lidar com uma família de tão poucos integrantes e que são tão expressivos no mundo. Eu não poderia deixar que uma garota influenciasse nas decisões de um herdeiro direto.

– Eu não estou entendo...

– Seja paciente! – Madara reprimiu com a mesma calma. Aquele sentimento de calmaria com certeza não era um bom sinal e à medida que os segundos passavam o medo no coração de Sakura aumentava ainda mais. – Você entende Sakura? Eu não poderia deixar que você e Sasuke ficassem juntos porque a nossa família precisa ser comandada por líderes, políticos, médicos e não simplesmente garotas comuns cujo pai trabalhava na empresa de seu namorado.

– Você veio esse caminho todo para me dizer o que me disse um ano atrás antes de eu partir?

– Sakura acho que você não entendeu o objetivo de você ter mudado para a Inglaterra. – Madara disse enquanto bebia um pouco mais de seu vinho. – Eu queria que você tivesse um futuro, mas eu precisava que o Sasuke se focasse no que era importante para ele. Eu não poderia deixar que uma paixonite interrompesse no legado de nossa família. Além do mais você quis nos processar por homicídio o que certamente não seria muito bom para a nossa reputação.

– Agora eu entendo. – Sakura disse revirando os olhos com ódio. – Você me fez jogar tudo para trás, abandonar absolutamente tudo para que pudesse desviar Sasuke e Itachi dos objetivos e ficar com o comando das Corporações Uchiha. – A rosada disse sentindo uma pontada do coração. A princípio ela não tinha conseguido enxergar tal fato, mas agora parecia bem nítido do que aquilo se tratava.

– Ora que absurdo! – Madara disse se fingindo de ofendido, mas um sorriso malicioso despontava em seus lábios. – Também precisava destruir a sua vida nesse meio caminho. Admiro sua inteligência e coragem Sakura.

– O que você quer? – Sakura perguntou deixando o sentimento de medo de lado e deixando o ódio preenchendo seu coração.

– Eu te avisei Sakura, deixei bem claro que você não poderia entrar em contato com ninguém. Mas você parece não ter me ouvido, você e seu pai se parecem muito nesse aspecto.

– Do que você está falando?

– Neste momento o Sasuke deve estar desembarcando no aeroporto Heathrow* para te ver. – Madara se explicou enquanto olhava para o líquido avermelhado na taça.

– O que?

– Não finja que não sabia criança. Ele simplesmente te achou depois de um ano que eu escondi perfeitamente todos os seus passos e como eu acho improvável que ele tenha te achado sem algum tipo eu devo considerar que você entrou em contato com ele.

– O que? Eu não fiz isso?

– Sakura vamos ser sinceros. Você já não é mais uma criança que precisa esconder um segredo da mãe. Apenas admita que você falou com ele e as consequências serão menores.

– Eu não sei do que você está falando.

– Okay. Como queira. – Madara falou fechando seu semblante. – Acho que não deixei bem claro não é mesmo? Isso não se trata apenas de você, eu ou o Sasuke, mas se trata de todos que você ama. Não se esqueça que neste momento sua mãe e suas amigas não estão em uma situação confortável. A qualquer sinal meu a morte delas pode parecer suicídio.

– O que você quer? Eu não contei a ninguém. Eu não liguei para o Sasuke. Eu fiz tudo o que você mandou durante um ano, mas não faça nada a elas. – Sakura suplicou enquanto olhava a expressão vazia no rosto de seu oponente.

– Eu não creio que isso pode acontecer. – Madara disse se levantando. – Mas para a sua sorte eu sou bem compreensivo e ainda posso ajeitar essa situação. Agradeça a secretária do Sasuke que trabalha para mim e avisou imediatamente que ele estava vindo para a Inglaterra. Eu mandei uma mensagem para o Sasuke, com o seu nome, no aeroporto dizendo para que ele e você se encontrassem aqui.

– O que? Eu não entendo! O que você quer? O que pretende com isso?

– A verdade Sakura é que eu não gosto quando as pessoas me desobedecem e eu disse que você deveria seguir exatamente o que eu disse. Infelizmente você não ouviu e alguém tem que pagar por sua desobediência.

Sakura o encarava praticamente exalando medo e a tudo o que conseguia pensar era a vida de sua mãe que estava em jogo.

– Quando o Sasuke chegar aqui você vai dizer por que partiu. Que você foi embora do Japão porque não poderia mais aguentar a pressão da empresa do Sasuke e que o assédio excessivo da mídia estava te sufocando e que você tinha quando o resultado do intercâmbio saiu você viu uma oportunidade. Você vai dizer que você não quer mais contato com aquelas pessoas e que você foi embora e não quer mais se envolver com eles.

– Mas...

– E então quando ele se negar a acreditar no que você disse vai ser tarde demais porque você já estará morta. – Ele disse mantendo a calma enquanto Sakura o encarava com os olhos arregalados. – Eu disse que alguém precisa pagar por sua teimosia e esse alguém é você. Você assim como o seu pai interferiu nos meus planos. O seu pai morreu porque ele foi curioso demais e me desobedeceu quando eu disse que ele precisava parar de procurar.

“Eu estava lidando com negócios ilegais. Enquanto eu administrava parte das Corporações eu fazia uso da mão de obra e da excelente equipe química para fabricar drogas poderosas e vendê-las a milhões de dólares para todo o mundo. Ele descobriu e disse que me denunciaria. Eu não poderia deixar que isso acontecesse então o matei.“

– Então foi você... – Sakura disse com a cabeça baixa, porém um segundo depois ela se levantou com toda a fúria que vinha contendo avançando em cima de Madara aos berros, porém ele era consideravelmente mais forte e agarrou pelos pulsos.

– Não seja tão teimosa Sakura. – Madara disse apertando os braços dela com mais força. – Além do mais você já está condenada.

– O que? – Ela perguntou sentindo o suor escorrer pela testa.

– Vai ser trágico quando o Sasuke vir sua amada prostrada no chão, desfalecendo em sues braços. Ou você acha que vai sair deste prédio viva? Depois do que lhe contei? Não mesmo. Logo, logo a droga que coloquei no seu vinho, ou melhor, no seu copo, vai fazer efeito, mas não se preocupe... – Ele disse acariciando as bochechas de Sakura. – Você não vai sentir mais nada do que uma dormência. Eu preciso ir querida. Tudo vai ficar bem. – Ele disse beijando levemente os lábios dela e saindo do prédio seguido de duas figuras truculentas trajadas de preto.

Sakura sentou-se na cadeira ainda tentando digerir tudo o que tinha acontecido. Tremendo encarou as mãos alvas enquanto sentia as lágrimas querendo descer.

– Sakura? – Uma voz conhecida chamou enquanto a rosada sentia um aperto no coração. A rosada se levantou e se virou lentamente. Demorou um pouco para que ela conseguisse compreender que aquele era Sasuke.

Ele estava impecável com um terno azul e naquele segundo a rosada tentava memorizar cada traço de seu rosto porque aquela seria a última vez que se viriam.