Kelsey levantou, mas não para tomar água, ela foi atrás do senhor Kadam para saber o resto da história. Estava se sentindo atraída pelo que ele disse. Queria a qualquer custo saber o que acontecera com o príncipe. Era sua missão no momento.

Desceu as escadas, passou novamente pela enfermaria e seguiu em um corredor cheio de portas, onde se encontrava a biblioteca e áreas de estudo. Viu na última porta uma placa escrita "diretor". Correu. Queria chegar o mais rápido para saber como o príncipe terminara.

Bateu na porta, esperou alguns minutos e batera novamente. Colocou o ouvido na porta para ouvir se havia alguém ali. Nenhum barulho. Estava agoniada, quem poderia talvez continuar a contar para ela?

Voltou para a sala, iria perguntar se Tifany tinha o número do celular de Nilima. Passou pelas pessoas rapidamente. Tentando não chamar muita atenção, entretanto não andando devagar. Subiu as escadas de dois em dois degrau. Chegou à sala ofegante e fora diretamente para a carteira de Tifany.

―Tifany! – Kelsey falou – Você sabe o número da Nilima?

―Sim. Por quê?

―Poderia me emprestar seu celular para ligar para ela? Esqueci o meu.

―Posso. – respondeu para Kelsey hesitando.

Tifany pegou o celular de dentro da mochila e procurou o número de Nilima. Após achar, ligou para ela e esperou a mesma atender.

―Alô!

―Oi, Nilima é a Kelsey!

―Oi, Kelsey. Como está? – perguntou Nilima.

―Eu estou bem. Eu gostaria que você em contasse sobre a história do príncipe guerreiro e o tigre branco. A partir de quando ele foi amaldiçoado pela deusa Durga.

―Por que isso agora? – Nilima interrogou desconfiada – Acho melhor você me explicar o que está acontecendo e por que esse interesse logo nessa história.

―Eu somente achei interessante, o Senhor Kadam começou a me contar, só que ele não terminou e disse para eu esperar até o final da aula. – Kelsey suspirou e continuou a falar só que com um tom mais calmo – Só estou curiosa, eu acho.

―Bom, se é isso, tudo bem. Ele lutou junto com o tigre branco e foi amaldiçoado pela deusa Durga. Ele perdeu a amada e tomou a forma de tigre. Entretanto, essa forma fora dada a sua alma e corpo, ele poderia esconder o tigre físicamente, mas a pessoa de coração puro poderia ver sua alma e descobrir que o animal estava dentro dele

―Por quê?

―Calma Kelsey. – Nilima riu do outro lado da linha – Porque a deusa é esperta. Ela queria que somente aqueles que fossem fiéis ao reino tivessem a chance de saber a forma verdadeira do príncipe e aceitá-lo como seu superior. Mas, ninguém conseguiu ver o tigre. Para todos nada tinha mudado, o príncipe continuava na sua forma humana. Muitos até desconfiaram do porque que o jovem não fazia mais pronunciamentos para um grande número de pessoa.

―Por que ele não fazia? - Kelsey perguntou concentrada no que Nilima falava.

―Por que ele tinha medo de que alguém de coração puro descobrisse que fora amaldiçoado pela deusa Durga. Na época o que tinha em si um pedaço da deusa era chamado de monstro e condenado mesmo que pertencesse a nobreza real. Entretanto um dia o braço direito do príncipe, comprou alguns escravos para trabalharem dentro do castelo. Uma das jovens que foi sujeitada ao trabalho da cozinha tinha o coração puro. Quando no primeiro dia de servidão fora levar para o rapaz um copo de vinho, ela viu um tigre. Não somente um tigre, era o tigre branco deitado no trono de ouro.

―Ela ficou com medo?

―Sim. Mas o serviu. Quando chegou perto do animal ela percebeu que era o príncipe e ele se transformou em homem para a moça e contou sobre o desejo de Durga querer proteger o reino dele.

―E depois o que aconteceu? – Kelsey estava curiosa.

―O jovem senhor, percebera que ela era a única com o coração puro que conseguia ver o tigre dentro dele. Os dois criaram uma amizade e ele se apaixonou por ela. A garota era sua escrava e nunca imaginou que seria possível ter alguma relação com o príncipe. Mas, os dois se casaram e tiveram filhos. A linhagem do tigre acabou passando para os seus descendentes. E a história do tigre continuou a se repetir, com tragédias e amores.

―Isso é... – Kelsey não conseguia falar por estar tão maravilhada com a história.

―É só um mito. Não fora encontrado nos livros da deusa essa história. Ela fora passada de pais para filhos e ninguém sabe se realmente é verdadeira.

―Mas se for... Será que poderia existir algum herdeiro do príncipe?

―Duvido – Nilima riu por Kelsey ter falado em um tom de preocupação – Isso seria impossível. Racionalmente, a descendência se enfraqueceria e por fim não mais iria existir.

―Obrigada por me contar. Acho que você conseguiu acabar com minha curiosidade.

―De nada. Espero poder te contar outras histórias mais interessantes, essa é menos de todas.

Kells olhou para a porta e viu um professor indo em direção a uma sala de aula que ficava ao lado.

―Tenho que desligar Nilima, acho que já vai tocar o sinal. Obrigada, novamente.

―Boa aula, Kelsey! E se precisar de mim é só ligar novamente.

Kelsey desligou o telefone, estava com o coração acelerado, não sabia o porquê daquilo. A história tinha dado a impressão que tudo era possível e que o irreal estava bem mais próximo do que imaginava. Sentou em uma cadeira, ainda distraída e pensativa, não queria mais se lembrar do tigre branco que vira na noite anterior. Não queria acreditar nos seus olhos. Mas, era impossível fazer isso. Por mais que pensasse que fora uma ilusão de ótica, o seu coração ainda afirmava que o tigre era tão real como o ambiente que estava agora, como ela mesmo era.

―Kelsey! Kelsey! – Tifany a chamava enquanto pegava o celular em cima da mesa – Aconteceu alguma coisa?

―Na-não. Eu só estou...

―Você está com cara de uma pessoa que levou o maior susto do mundo. Tem certeza que está bem?

Kelsey assentiu.

―Acho que hoje não vão vim muitas pessoas. A festa da Ambre rolou até cinco e meio da manhã. Eu estava conversando com uma garota do primeiro e ela disse que Ambre estava muito nervosa na festa, parece que o Dhiren só foi aparecer lá depois das onze horas.

―Dhi-Dhiren? – Kelsey perguntou aérea, pois viera a imagem dele sorrindo.

―Terra para Kells – Tifany estralou os dedos.

―Desculpa. Estava pensando em outra coisa. O que você estava falando?

―Eu estava falando que a cobra da Ambre, ficou furiosa porque o Ren chegou depois da onze horas. Pelo que essa garota falou, ele ficou meia hora e foi embora. Como desculpa falou para a Ambre na frente de todo mundo que ele tinha que acordar cedo para correr. Desculpa mais estranha, não existe.

―Correr? – Kelsey se lembrou de quando ela caiu e Dhiren a deu apoio para se levantar.

―Sim. Mas, me conta ontem você esbarrou nele e só isso?

―É. Ele ficou um pouco bravo quando isso aconteceu, mas depois me perguntou por que eu não ia à festa de Ambre e eu disse que é porque não tinha sido convidada.

―Nossa e depois?

―Depois disse que eu deveria ir, para fazer amigos.

―Amiga! – Tifany gritou – Isso é muito bom, ele estava preocupado com você. Que fofo!

Kelsey ficou em silêncio, Ren havia a seguido, então quer dizer que ele estava mesmo preocupado. Mas e o tigre? Será que ele também o viu? Ela não queria aceitar que talvez não estivesse sã de si.

―Kelsey, olha quem está entrando! – Fany falou e a garota se virou para olhar.

Ao encarar os olhos azuis cobalto, seu coração acelerou, sentiu um choque passar por sua espinha e a respiração ficar profunda. Ren entrou com a expressão séria, parecia não estar de bom humor. Atravessou a sala e se sentou na sua carteira, colocou a mochila em cima da mesa e deitou a cabeça com os olhos fechados. Os cabelos negros caíram por cima do rosto de forma natural e espontânea, deixando a impressão de estar cansado.

―Bom dia turma! – o professor entrou logo depois com um sorriso no rosto e quem estava na sala estranhou – O sinal da escola está passando por manutenção hoje, então não me olhem com essa cara. Apesar de ter a metade da turma aqui, vou passar matéria normalmente.

―Kells, não vai voltar para o seu lugar? – Fany murmurou.

―Si-sim. - respondeu pensando que teria que ficar na frente de Dhiren.

Kelsey se levantou e caminhou devagar até o seu lugar, o tempo pareceu parar enquanto andava até a cadeira. Passou pelas pessoas sentindo que seu coração iria parar. A imagem do tigre não saía de sua cabeça. A de Ren acenando para sua mãe estava desaparecendo, se transformando na do felino grande e majestoso.

Sentou virada para frente sem olhar para trás, percebeu que sua pulsação somente aumentava, sentiu o perfume de Dhiren a ludibriar. Não estava conseguindo raciocinar. Não conseguia explicar o que era aquilo, a sensação de se sentir atraída como acontece com os pólos negativos e positivos do universo.

―Kelsey – escutou uma voz baixa a chamar e novamente o choque passou pelo seu corpo, entretanto com mais intensidade – desculpe-me por ontem, eu te segui não foi legal.

A garota continuou em silêncio, não queria falar algo ou perguntar o que a deixaria confusa.

―Está me escutando? – Ren perguntou ainda sussurrando para somente ela ouvir – Eu acho que tenho que me explicar, certo?

Kelsey balançou a cabeça fazendo um sim e continuando na mesma posição.

― Eu fiquei preocupado, o bosque é o lugar que corro todos os dias. – ele levantou a cabeça – Quando você falou que morava perto eu fiquei me perguntando se realmente era verdade, pois nunca te vi ali perto.

―Tudo bem – ela respondeu no mesmo tom que ele.

―Sua mãe parece ser legal, perguntou o que eu estava fazendo parado na sua porta e eu sem graça disse que vim te acompanhar.

Ren parou de falar. Kelsey estava sentindo a mesma aflição de quando estava com os olhos fechados em frente a janela. Queria se virar. Queria olhar para Ren. A história que Nilima lhe contara ecoava em sua cabeça confundindo a realidade. “Somente a jovem de coração puro poderia ver o tigre dentro do príncipe”.

Kells fechou os olhos. Estava decida a se virar. Começou a mover primeiro suas pernas, as colocando de lado. Depois o rosto, estava agora pronta para encarar Ren. Encarar o seu verdadeiro eu.