Não sabia se o que vira era real. Estava certa de que tinha um tigre branco na calçada e o animal analisava cada centímetro do ambiente com os olhos. Kelsey tentou abrir a janela, mas essa estava emperrada. Olhou novamente para fora e viu somente sua mãe, escolhendo qual lugar para colocar o lixo que era orgânico.

A garota ainda com o coração acelerado, procurou Dhiren. Entretanto, ele não estava mais no seu campo de visão. Sem pensar, Kelsey, correu até a porta do quarto para abri-la, desceu as escadas rapidamente e seguiu para fora da casa.

―O que foi filha? – sua mãe perguntou ao vê-la ofegante como se tivesse corrido uma maratona.

―Mãe. – Kelsey falou respirando de forma pausada - Quem. Que-quem que estava aqui?

―Você está falando do seu colega de classe?

―Si-sim. – Kelsey disse nervosa – Ele... Ele era alto, olhos azuis e pelo branco.

Kelsey não sabia o que pensar e falar, estava confundido as cenas que vira do seu quarto. A senhora Hayes não estava entendendo o que a filha tentava dizer. A única coisa que conseguiu perceber era que Kells não estava bem, parecia ansiosa e nervosa, como se tivesse se assustado com algo.

―Kelsey, você está bem? – interrogou a filha colocando a mão na cabeça dela.

―Mãe, eu vi! – exclamou em resposta com a expressão de aflição.

―O que você viu, querida? – disse calmamente para passar uma tranqüilidade.

―Mãe, tinha um bicho aqui fora e ele parecia um...

―O que ele parecia? – perguntou depois que Kelsey interrompeu a frase.

―E-eu vi um tigre – Kells estava sentindo as lágrimas descerem pelo seu rosto, sua mãe vendo aquilo a aconchegou em seus braços.

Sentia como se a qualquer momento sua cabeça fosse explodir, por estar pensando “à mil” em tudo o que acontecera. Tentava examinar o que tinha deixado passar no momento que viu o tigre e logo no que Dhiren apareceu. Talvez estivesse imaginando que um felino de porte grande estava à calçada e como pensava naquele instante em Ren, seu cérebro o colocou na cena como um meio de se defender. Não fazia sentido, na verdade, nada fazia sentindo no momento.

―Filha, acho que você está cansada. Só tinha aquele rapaz aqui, ele disse que veio te acompanhando à noite por que ficou preocupado. Não chore, querida.

―Mas, mãe eu juro que vi um tigre aqui fora.

―Querida, vamos para dentro. Você está cansada, quando a gente fica assim imagina coisas.

―E-eu não imaginei. – respondeu para sua mãe, que a levava para dentre de casa.

As duas entraram e a senhora Hayes a colocou sentada no sofá, enquanto fazia um chá. Kelsey não estava conseguindo falar direito, sua mão estava tremendo e o coração acelerava cada vez mais quando pensava no tigre e em Ren.

Quando o chá ficou pronto Kelsey o bebeu e acabou se acalmando, pois sua mãe colocara gostas de um remédio para dormir. Senhora Hayes, continuava a não entender o porque da filha estar falando que vira um tigre, ficou preocupada com aquilo pois nunca ouvira a garota mentir ou inventar coisas.

―Mãe, eu vou deitar um pouco. Acho que não estou muito bem – Kelsey falou subindo as escadas e seguindo para o quarto.

―Tudo bem. A manhã a gente conversa antes de você ir para escola.

Kelsey antes de se deitar hesitou em olhar pela janela. Quando criou coragem para vê-la não havia ninguém na parte externa da casa. Começou a pensar que não vira nada e que o tigre fosse uma ilusão de ótica. Uma ilusão que parecia real.

―Um tigre e Dhiren – murmurou quando se deitou.

*******

―Filha, acorda! – gritou seu pai batendo na porta.

―Já vou – respondeu sonolenta.

Sua cabeça doía e parecia que não tinha dormido o suficiente, apesar de ter adormecido por volta das nove horas da noite. Levantou se e entrou de baixo do chuveiro para ver se passava o mal estar que sentia. Colocou a água no mais quente possível e deixou cai em seu ombro para massagear e relaxar os músculo.

Colocou o uniforme e arrumou o cabelo fazendo uma trança solta. A sensação de ansiedade passara, mas o coração ainda continuava a acelerar quando pensava no tigre branco. Desceu as escadas e fora para a cozinha tomar o café da manhã. Sua mãe a olhava pensando se Kelsey agora estava bem, queria o melhor para filha e vê-la ontem assustada a deixou preocupada.

―Kelsey, o que aconteceu ontem? Você chegou com um sorriso no rosto e depois quando eu estava colocando o lixo para fora veio correndo até eu e começou a falar algumas coisas sobre tigre. Não entendi. – a senhora Hayes disse séria.

―Mãe, melhor não tocar nesse assunto. Eu...

―Você viu um tigre? – o pai dela perguntou entrando na cozinha – Foi no zoológico?

―Não Joshua, ela viu um tigre aqui na porta. Acho que essa mudança não fez bem a Kelsey.

―Kelsey, tem certeza do que viu? – ele perguntou olhando nos olhos da garota que estava calada tomando café.

Kells negou com a cabeça, ela não sabia se realmente tinha visto um tigre, tinha certeza que viu Dhiren, mas o felino ainda era um mistério para si mesma. Quando supostamente o viu, sentiu medo e quando percebeu a luz se acedendo entrou em desespero, por pensar que ele poderia atacar alguém. Fechou os olhos e quando abriu olhava somente para Ren, que estava cumprimentando sua mãe.

―Não sei pai. Acho que estava cansada. Ontem sai com Tifany e voltei a pé.

―Filha, se não estiver se sentindo bem, fique em casa hoje.

―Pai, eu estou bem. – ela disse e abaixou o rosto.

Kelsey entrou no carro e foi para escola em silêncio, não conseguia tirar da cabeça a noite anterior. Desceu e atravessou a rua correndo, pois vinha um automóvel. Ainda não havia muitas pessoas, então seguiu pra sala para colocar seus materiais.

Passou pela porta que tinha os desenhos indianos. Naquele instante viu algo que a deixou atordoada. Era um tigre e ao lado dele um homem que aparentava ser jovem. Sua aparência era a de um guerreiro bravo que estava lutando em uma batalha acompanhado pelo animal. O felino parecia ajudá-lo a se defender de seres com capas.

―É o tigre de Durga – alguém comentou perto de Kelsey a assustando e tirando de seu devaneio- Desculpe se a assustei senhorita Hayes.

―Tu-do bem – respondeu gaguejando para o senhor de idade – é o tigre da deusa Durga?

― Sim – falou o Sr. Kadam – ela deu ordem para o tigre ajudar o príncipe em uma batalha para que o reino dele não fosse invadido.

―Príncipe? – perguntou tímida lembrando-se do tigre branco que estava na sua calçada.

―Sim. O príncipe não queria mandar os soldados do reino porque eles tinham famílias, então ele foi sozinho lutar contra o seu inimigo.

―E o que aconteceu? –interrogou Sr. Kadam, pois estava curiosa.

―Como disse, a deusa Durga mandou o tigre dela para ajudá-lo. Eles venceram só que o príncipe acabou sendo amaldiçoado e condenado pela mesma. Perdera a noiva e tomou a forma de um tigre branco.

―Bran-branco?

―Sim. Algum problema? – Kadam percebera que a jovem estava assustada com a história e sorriu para ela de forma ternura – Senhorita Kelsey, eu que sou indiano acredito que essa história não seja de terror.

― Eu, eu somente achei interessante. – respondeu tentando se acalmar.

―Bom se a senhorita quiser posso depois da aula lhe contar o desfecho do príncipe. É só ir à minha sala que a atenderei.

―Ela ainda não terminou? – perguntou ainda mais curiosa.

―Não. Acho que a melhor parte é o final. É um pouco maior, então se estiver interessada depois da aula estarei disponível.

―Eu vou sim. – Kelsey assentiu com a cabeça enquanto o senhor se afastava.

O que mais achara interessante em toda a história é que o príncipe foi condenado a se transformar em tigre. No fundo sabia que aquilo era um mito, como muitos outros que existiam na índia, mas uma angustia tomou conta de seu coração por saber que o rapaz perdera a noiva. Não era justo, ele ter ido lutar sozinho e ainda ser condenado pela mesma deusa que o ajudou. Isso seria...Injusto.

Kelsey foi para a sala, passou pelo corredor da enfermaria e subiu as escadas. Passou por várias salas que estavam ainda vazias. O relógio que ficava no final do corredor marcava que faltavam quinze minutos para o sinal bater. Kells viu que estava no seu horário normal e estranhou o ambiente estar vazio.

Entrou na sua sala e viu que tinha somente cinco alunos. Avistou Tifany que estava passando um creme no rosto e olhando no espelho. Kelsey colocou seus materiais na sua carteira e foi ao encontro da amiga, que ainda não percebera sua chegada.

―Oi - disse para Fany.

―Oie – respondeu a garota ainda com o creme – ontem você me deixou preocupada. A ligação caiu do nada e você não me atendia quando eu retornava.

―Desculpa eu – Kelsey parou para pensar se falaria para ela sobre o tigre.

―Eu o que? Desmaiou de felicidade, por ter encontrado Ren?

―Antes fosse, eu... Eu.

―Kells fala logo, estou preocupada. – exclamou Tifany impaciente.

Kelsey ficou em silêncio, suspirou para encher os pulmões de ar e decidiu que falaria sobre o animal.

―Eu vi um tigre. - falou baixo.

―Um o que? – Fany perguntou fazendo expressão de incógnita.

―Um tigre. – disse rapidamente em um tom mais alto.

―Fala sério, você viu um tigre? Na cidade? Tipo, na sua casa?

―Não. Ele não estava dentro da minha casa, ele estava na calçada, em frente ao gramado.

―Só pode estar brincando comigo. É uma piada?

―Não, Tifany, não é uma piada. Eu vi um tigre em frente minha casa.

―Tem certeza? Seria meio impossível ter um tigre na cidade, eles nem são encontrados no nosso continente.

―Não tenho muita certeza – Kelsey respondeu - , mas sei lá, eu estava conversando com você sentada no beiral da minha janela, na parte de dentro. Quando eu olhei para fora eu vi um tigre branco, com olhos azuis encarando a casa.

―Encarando? – Tifany interrogou duvidando da história.

―É, encarando. Minha mãe ligou a luz da porta para sair e colocar o lixo pra fora. Eu tentei avisar que tinha um tigre, só que a janela não abria. Foi o tempo de eu abrir e fechar os olhos, não tinha mais animal nenhum. Só o Dhiren cumprimentando ela.

―Dhiren? Kelsey, sinceramente não estou entendendo, isso é uma história em código? O tigre seria o pseudônimo que você deu para o Ren? Por que se for até faz sentido, mas se não for eu realmente não entendi nada do que você falou.

―Eu vi um tigre, e não, não é o pseudônimo para ele. Eu... – Kelsey suspirou novamente – Esquece o que falei, devo estar cansada.

―Deveria ter ficado em casa hoje. Tome uma água, talvez seja desidratação, li em uma revista que as pessoas que são tímidas como você quando se desidratarem têm visões, assim meio que imaginárias. Às vezes até surtam. – Tifany falou com o tom de médica.

―Você deve ter razão, vou tomar água.

Kelsey levantou, mas não para tomar água, ela foi atrás do senhor Kadam para saber o resto da história. Estava se sentindo atraída pelo que ele contara. Queria a qualquer custo saber o que acontecera com o príncipe. Era sua missão no momento.