Acordei assustado no meio da noite. Ouvira um barulho agudo, como se uma criança estivesse conversando. Levantei a cabeça para olhar pela porta para ver se algo acontecia na sala. A luz estava acesa. No mesmo momento que a claridade cegou meus olhos, coloquei-me de pé, pronto para atacar quem quer fosse que estivesse invadindo nosso apartamento.

Escutei novamente o barulho aguda, a pessoa parecia falar “I Love you”, quem entraria em uma casa de madrugada para dizer que ama os inquilinos? Olhei para a cama, Kelsey ainda estava dormindo como um anjo. Não deixaria um ladrão com voz de criança acordá-la para dizer que a amava, Kelsey é minha, sou eu quem a amo mais que tudo.

Enfim teria que impedi-lo de se mover, roubar, falar e depois de tentar pular do prédio, já que veria um tigre.  Tudo isso de forma silenciosa.

 “I Love you”, de novo? Será que ele não se cansa de dizer “I Love you”? Isso é irritante. No três eu rujo e mordo de leve sua perna, depois o jogo no chão e se ainda insistir no “I Love you” rujo novamente bem forte, para deixá-lo surdo.

Um. Dois. Três! Rujo. Mordo. Chão. Rujo. Mas, espera ai! Isso é...

―Reeeen!!! – Kelsey gritou do quarto – Que barulheira é essa?

Rápido. Transforma. Esconde o panda. Deita no sofá. Não, espera. Arruma o sofá. Não, espera, não tem jeito. O sofá quebrou. Esconde o sofá. Joga o sofá pela janela. Não... Por que fiz isso? Agora os vizinhos vão se perguntar por que tem um sofá novo, mas quebrado no meio da rua.

―Ren, o que está acontecendo aqui? – Kelsey perguntou acendendo a luz do quarto e vindo em direção a sala.

Não quero ver o seu olhar de espanto se transformar em um de “quero te matar”. Ela está vindo, rápido Dhiren o que um príncipe faria nesse momento?  Ah, não! Por que eu tenho que saber tanto sobre como lidar com um reino, maldições, vilões, sorvete, mas ser péssimo em saber como fazer Kelsey se esquecer de ficar brava.

Já sei! Transforma. Deita no chão. Levanta uma orelha. Olhar fofo. Ronrona. Pronto, ela não vai ficar brava comigo.

―Alagan Dhiren Rajaram, o que está acontecendo aqui?

Levantei a cabeça ainda ronronando. Tinha que passar um sentimento de culpa para ela. Kelsey olhou para a sala, o olhar “espanto” fora ativado, eu a conhecia bem para saber que estava tentando imaginar o que tinha acontecido para ter um buraco no meio da sala, as cortinas estarem rasgadas, o sofá sumido, televisão quebrada e a terra do vaso que o Sr. Kadam lhe dera estar toda esparrama pelo seu tapete favorito.

―O que... Meu tapete, meu vaso, a televisão... O sofá. – Kells estava repetindo tudo o que eu pensara – Ren... Cadê?

Pelo visto, ela não tinha mais palavras para serem flechadas em mim. O que eu faria? Como eu explicaria que escutei alguém falando “I Love you” com uma voz aguda, e que senti ciúmes, fui para a sala com objetivo de atacar a pessoa. Quando percebi o que estava fazendo já era tarde. Tinha atacado o panda de pelúcia que ganhei para ela no parque.

Aquele panda maldito! Queria ser ruim em tiro ao alvo, para nunca tê-lo ganhado! Melhor, queria ter medo de pandas para não achar esses bichos fofinhos. Se eu tivesse medo de panda poderia ter escolhido outra pelúcia! Mas, não. Ele era fofinho e eu o escolhi, por que Kelsey gosta de coisas fofas.

É isso! Transforma!

―Dhiren, o que você fez?

―Desculpa Kelsey, pensei que a sala precisasse de uma decoração nova.  Gostou? – sorri, ela não resiste a um sorriso.

―E-eu? – funcionou, estava sem reação – ESTÁ LOUCO!

Ixi, não funcionou.

―O que você estava pensando? E por que você está pisando no panda?

Esqueci desse detalhe, eu tinha escondido o bicho em baixo de mim quando deitei.

―Desculpa, meu amor. Eu...

Andei até ela e a abracei, mesmo sentindo sua força para relutar contra mim. Eu a amo tanto, quero muito ficar assim para sempre. Ah, ela se acalmou, já consigo sentir seu coração mais calmo. Deu certo! Quer saber? Que se dane o panda! Eu amo a Kelsey.

―Te amo, Kells.

―Também, te amo Ren. – ela pausou e suspirou – Quero um panda novo!