Jogos Vorazes, 1° Edição. escrita por Yukine


Capítulo 16
Cabelos Vermelhos.


Notas iniciais do capítulo

Está chegando ao fim (Felicidade para uns, tristeza para outros). Os próximos capítulos irão finalizar a história. Espero que gostem.



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Estou ofegando de dor. Retiro a garota de cima de mim, rolando-a para lado. Minhas mãos estão frias e suadas e meus dentes rangem. Passo a mão pelo ferimento e sinto pedaços finos de madeira enterrados sobre minha pele. Não tenho coragem de olhar, e pela cara de Vinn o ferimento parece ser feio.

– Me desculpe, eu deveria estar vigiando.

– Não foi culpa sua. – digo com dificuldade. Nunca senti tamanha dor – Obrigado por me ajudar.

– Não foi nada. Vamos até o rio lavar esse ferimento e tirar os estilhaços da madeira, eu te ajudo.

Sigo até o rio apoiado sob seus ombros e com a mão sobre o ferimento. O frio só piora a dor, e a água gelada também. Tiro a camiseta e me escoro em uma pedra na margem do rio. Limpo bem devagar o ferimento com a camisa e um a um vou retirando os pedaços do galho que ficaram sobre minha pele. A ferida é mais profunda do que imaginei. “Como uma garota daquela conseguiu me furar tão fundo com um galho?” pergunto a mim mesmo. Não a ouvi chegar. Talvez estivesse nos observando desde o momento que acendemos a fogueira. Talvez a própria fosse a ocupante daquele local.

– Ela estava nos observando, – digo. – se não teríamos a ouvido chegar.

– Eu a conheci. Era do Distrito 7. O mesmo do menino que Peter matou quando estávamos em cima daquela árvore. Falei com eles enquanto treinávamos.

– Me parecia muito zangada. Pena que errou o seu alvo. Não fui eu quem matou seu amigo. Eu não matei ninguém.

– Acho que ela só queria se vingar, afinal, atacou você com um galho. O prazer de te ferir já bastava pra ela. Não queria tê-la matado, não daquele modo. Mas eu me desesperei e...

– Não. – digo interrompendo – Você vez o certo. E eu deveria começar a fazer também. Milene estava certa, não posso ter piedade aqui dentro. Ou eu, ou eles.

– Pegue essa atadura e enrole em torno de você. Não é muito mais pelo menos irá estancar o sangramento e poderemos seguir andando.

– Sabe Vinn. Você é mais maduro do que eu em todos os sentidos, mesmo sendo mais novo.

– Eu tenho que ser. Vivo com meu avô e mais três irmãos mais novos. Meu avô - um velho pescador - não consegue mais sair da cama. Eu e o meu irmão de dez anos sustentamos a família. Todos os dias saímos com um barco pesqueiro do porto e só voltamos a noite. Meus outros dois irmãos ficam em casa, cuidando do vovô. É assim que nós sobrevivemos, cuidando uns dos outros.

– Lamento pelo seu avô –digo. – Sua vida parece ser muito difícil e mesmo assim todos vocês parecem muito responsáveis. Em minha casa sou apenas eu e meus dois pais. Eu os ajudo no serviço, mas eles que fazem a maior parte. Nunca tive irmão, a não ser um que nasceu morto.

– Eu lamento – diz Vinn.

– Não lamente. – sorrio - Eu não era nascido quando isso aconteceu. Às vezes eu penso em como seria legal ter um irmão mais velho, sento até falta de ter alguém com quem conversar, alguém que possa me ensinar coisas e que possa partilhar coisas. Eu amo meus pais, com todas as minhas forças, mas não é igual, entende?

– Oh, se entendo. Não sei o que seria de mim seus meus irmãos. Somos pobres, mas somos muito felizes juntos... – nesse momento Vinn começa a chorar, e eu não ouso tentar consolá-lo. Como disse, sou péssimo nisso. – Vamos indo? Temos que atacar agora se quisermos estar na montanha em dois dias.

Coloco minha Blowgun nas costas e verifico meus dardos e minhas facas. Está tudo do jeito que deixei antes de dormir. Antes de saímos encho um Cantil com água do rio para que possa desinfetar meu ferimento. Ao caminhar decidimos seguir por outro local, para não darmos de cara com o corpo da garota do Distrito 7. A lua brilha enorme sob o céu, e o frio agora é cortante. Meu ferimento está cada vez mais dolorido o que nos obriga a fazer algumas paradas para que eu possa descansar, às vezes arrumar a faixa em meu peito. Durante a caminhada, ouvimos um canhão. Perguntamos-nos se os outros também já começaram a agir, ou se alguém além de nós teve a mesma idéia. Em uma de nossas paradas, chegamos numa clareira aonde ouvimos gritos. Decidimos ficar mais ao longe e observamos o que está acontecendo.

Dois tributos, um homem e uma mulher estão lutando. A garota de cabelos vermelhos que eu vi no desfile está aos socos com um homem, um tributo que aparenta ter seus dezesseis anos. Vinn e eu ficamos chocados com a cena. Os dois se acertavam com socos e chutes, e ninguém parecia estar perdendo, mas o garoto deu um vacilo. E foi nessa hora que a garota dos cabelos vermelhos o derrubou no chão com uma rasteira, e depois de desacordá-lo com um chute no rosto, ergueu uma enorme pedra que encontrou pelo chão que jogou sobre a cabeça do tributo desacordado. Ouvimos o soar do canhão e em seguida as palmas da garota limpando as mãos.

– Mas que porra foi essa! – é a única coisa que consigo dizer naquela situação.

– Cale a boca – sussurra colocando a mão em meu rosto, tapando a minha boca. – se ela ouvir estaremos encrencados.

– Tarde de mais – diz a garota. – Saiam de onde estão, ou eu irei até vocês.

Encaramo-nos por um momento. Eu não acreditava naquilo que estava acontecendo, e Vinn parecia também não crer.

Saímos de trás das árvores um ao lado do outro. Eu com minhas facas e Vinn com o seu tridente em mãos. Ela era realmente linda com aqueles cabelos avermelhados. Se não tivesse visto aquela cena segundos atrás nunca imaginaria que uma garota tão bonita seria capaz de fazer algo tão horrível.

– Não queremos problemas. Vimos o que você fez por acaso – explica Vinn.

Mas a garota não quis nos ouvir, ela pula em cima de Vinn e começa a esmurrá-lo. Só então percebo que ela tem duas soqueiras entre os dedos. Pulo sobre a garota e rolo no chão com ela. Trocamos murros e chutes, mas ela é mais velha e mais pesada do que eu e Vinn e também fica sobre mim no chão. Ela me esmurra mais e mais, e dessa vez não tenho Vinn para me ajudar. Ele está deitado no chão. Não sei se está desacordado, mas não se mexe e eu continuo a receber socos no rosto.

– Vou matar você primeiro e depois termino o que comecei com seu amigo.

Tento girar meu corpo para que ela saia de cima de mim, mas é inútil. Ela segura maus braços com os joelhos n consigo me mover. Sinto um dos meus dentes trincar, e a dor percorre pelo meu rosto. Procuro em desespero por algo no chão, tateando loucamente, ate que acho uma pedra, que ergo e acerto sua têmpora com toda a força que me resta. Só então consigo me livrar do peso que me prendia ao chão.


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Notas finais do capítulo

Mais três capítulos para acabar, espero muito muito mesmo que vocês gostem. Comentem o que acharam :)



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