Jogos Vorazes, 1° Edição. escrita por Yukine


Capítulo 15
Separação.




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Vinn está com a pior cara possível. Aborrecido e com frio, ele anda com passos pesados atrás de nós quatro. Depois de ouvirmos o segundo tiro, Peter se vira na direção de Vinn com um sorriso no rosto, e tocando o dedo na testa dele, diz:

– Melhore a cara. Eu não ia te matar. Não ainda.

– Você é doente. – diz em resposta, afastando a cabeça, se desencostando do dedo de Peter.

– Você também foi, quando lançou aquele tridente sem piedade nas costa daquele garoto.

– Ele ia fugir com as nossas coisas, não tive outra opção. Mas nós podíamos muito bem ter salvado aquela garota de se afogar.

– Você e o garoto do 1 não irão calar a boca e usar suas armas até que corram perigo de verdade. Nessa hora, eu espero que a piedade de vocês tenha sido esquecida.

– Não se preocupe Peter – respondo. – Na hora que for preciso, eu as usarei.

– Vê se antes disso não chora e implora para voltar pra casa. Pois parece que não entenderam ainda que só um de nós vá sair vivo daqui. Então essa amizade de vocês vai acabar em breve. Triste seria se acabasse um pela mão do outro. – ele solta uma gargalhada e toma a frente na caminhada.

– Não liguem para ele – diz Nataly. – Eu nunca o vi assim na minha vida. Lá no nosso distrito ele era tão gentil, mas depois da colheita ele começou a enlouquecer. Vocês não são os únicos que tem pena de matar outras pessoas.

– O estranho é que nas entrevistas e nos treinamentos você me parecia tão confiante. Pra mim você tinha tanto sangue frio quanto Victor.

– Fui obrigada, não quero parecer uma perdedora.

– Não matar as pessoas não te faz uma perdedora. – diz Vinn. – Te faz mais humana que qualquer um deles.

Chegamos à parte alta da floresta, estamos sob um enorme paredão de pedra, uma montanha. Abaixo dela o rio corre veloz. Lá está mais frio ainda, mesmo o sol já estando sob as nossas cabeças. Resolvemos fazer uma fogueira e assar algumas das frutas secas que nos restam. A maioria dos nossos suprimentos foi levada pela água, e só nos damos conta disso quando procuramos por eles.

– Temos de ir atrás dos outros tributos rápido. Estamos com poucos recursos e ainda não matamos nem metade deles. Esse jogo tem que acabar em pelo menos mais dois dias.

– Mas como vamos achar todos eles em dois dias? Somos cinco, eles estão em maioria.

– E se nos dividirmos? Acharemos eles bem mais rápido. Podemos nos encontrar aqui mesmo daqui duas noites e fazemos as baixas. – digo

– Até que você está sendo útil “verdinho”. – diz Victor.

– Obrigado. – respondo em sarcasmo. – A montanha em que estamos fica no oeste da cornucópia. Usando ela como base, podemos nos repartir. O rio corre por toda a arena, de leste a oeste, até chegar ao pé da montanha. Para chegar ao sul não será preciso atravessar o rio, mas quem for para o norte terá que saber nadar. Vinn e eu iremos para o norte, Peter e Nataly podem ir para o Sul e Victor vai sozinho para o leste. Assim cobrimos todos os cantos. Daqui duas noites nos encontramos aqui mesmo nesse lugar.

Victor, Vinn e Peter parecem concordar, mas Nataly se recusa a ir com o Peter.

– Não posso ir com o Peter. Eu só iria atrapalhar. Ele pode ir junto com o Victor, eu me viro melhor sozinha.

– Sua inútil, você vai morrer sozinha por ai. – diz Peter. – Mas acho melhor assim, pelo menos não vou precisar carregar você por ai.

Lágrimas surgem nos olhos dela, mas não chegam a escorrer, antes disso respira fundo e segura o choro. Ela estende a mão para mim e eu fico observando por um tempo, até que ela aponta para minha jaqueta.

– Uma faca. Eu preciso dela se eu quiser matar alguém. Me entregue essa que conseguiu com o garoto do Distrito 3.

Eu entrego a faca pra ela. Depois de analisar o fio da lâmina ela aponta para Peter e Victor e diz:

– Vocês dois vão para o Sul, eu ficarei com o Leste. Vou precisar de uma das bolsas, se não forem precisar. – Ela coloca a bolsa nas costas e desce em direção ao lago abaixo. Eu e Vinn vamos logo atrás e Victor e Peter em seguida.

Chegando à margem do rio finalmente nos separamos. Vinn e eu atravessamos o rio nadando até chegar à outra margem. A roupa pesa por causa da água e o frio piora. A floresta no lado norte é cheia de vegetação rasteira e plantas que nunca vi na minha vida. Resolvemos descansar um pouco até que as roupas sequem e possamos prosseguir mais rapidamente. Vinn prefere atacar no escuro, então só saímos da margem do rio quando o sol está se pondo e a roupa completamente seca.

Andamos por entre as raízes até acharmos uma fogueira recém apagada numa clareira.

– Alguém passou por aqui, acha que devemos ir atrás dele?

– Talvez pudéssemos ficar aqui. Temos o aparelho auditivo, se qualquer coisa se aproximar podemos ouvir, só precisamos ficar atentos. E eu estou morrendo de frio, acendemos a fogueira e ficamos aqui até eu me esquentar e depois seguimos.

– Se você prefere assim, vamos passar um tempo aqui. – digo.

Acendemos a fogueira com um pouco de folhas secas e com um galho e nos aquecemos. O clima e o calor do fogo são tão acolhedores que me lembrar minha casa. No inverno sempre acendíamos a lareira e dormíamos na sala de estar da nossa cabana, minha mãe, meu pai e eu. Deito-me sobre o chão e olho pro céu. As estrelas estão surgindo uma a uma e a lua já brilha, enorme e branca. Meu corpo não resiste, eu estou exausto da longa caminhada de hoje. Observo Vinn, que cria círculos na areia entre as folhas. Meus olhos cerrados de sono.

– Pode dormir – diz ele. – Dessa vez eu tomo conta.

Olhando para o céu quase inconsciente de sono vejo os pixels surgindo no céu e a foto de Milene sob as estrelas. Em seguida Paul, e os dois tributos do Distrito 11, mas já não estou prestando atenção, caio no sono.

Sinto uma dor incomoda até que quando dou por mim já estou gritando de dor, desesperado. Não sei o que está acontecendo, mas estou sangrando e não consigo me mover. Uma garota alta de cabelos grandes e pretos está montada em mim com um galho socado na minha costela.

– Vocês mataram meu parceiro, e agora eu vou acabar com todos vocês. – diz ela chorando.

Antes que ela possa me acertar mais uma vez com o galho, Vinn a golpeia na cabeça várias vezes com o seu do tridente.


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