Jogos Vorazes, 1° Edição. escrita por Yukine


Capítulo 17
Mais um tiro de canhão.




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Me levanto e sacudo a poeira da minha roupa. Meu rosto está coberto em sangue, posso sentir o gosto dele a escorrer para dentro de minha boca. Seguro Vinn pelos ombros e então o coloco em minhas costas. Vou andando aos tropeços por entre as árvores. Tudo dói.

– O que aconteceu?

– Apanhamos para uma garota. – digo

– Mas que droga, cara. – responde, antes de apagar novamente.

Depois de minutos de caminhada não aguento mais o peso dele sobre mim, tenho que descansar. Aos poucos vou me ajoelhando até conseguir tocar o chão e então o retiro das minhas costas e o deito encostado numa árvore. Abro a nossa mochila e pego a pomada que consegui na Cornucópia. De tudo o que temos, ela é a única coisa que pode servir. Arranco um pedaço da minha camiseta com uma das facas, enrolo e despejo um pouco da água do cantil no pedaço de pano. Paço sobre os meus ferimentos, limpando o sangue do rosto e por fim espalho um pouco da pomada em cada corte. Faço isso também em Vinn que continua desacordado.

O ferimento na minha costela está inflamando, e agora tenho medo de pegar uma febre. Olho para Vinn desacordado, e eu nesse estado critico e busco uma solução. Se ficarmos aqui em baixo seremos alvos fáceis dos outros tributos, então a única opção que temos é subir. Olho para cima a procura de um galho onde possa acomodar Vinn e então retiro minha corda da bolsa. Jogo uma das pontas sobre o galho e então a amarro na cintura, segurando a outra ponta com as mãos. Ponho Vinn em minhas costas prendendo seus braços nas alças da bolsa para que não caia para trás e então começo: com os joelhos firmes vou escalando a árvore passo a passo, como se fosse uma montanha. Demora algum tempo, mas consigo chegar ao topo e sentar no galho aonde pus a minha corda. Acomodo Vinn sobre o galho e o amarro em volta do tórax na árvore para que não caia. Preciso urgentemente de um pouco de água e de um tempo para respirar. Estou exausto. Não durmo bem desde ontem, mas dessa vez sob a árvore me arrisco a pegar no sono sem o medo de ser atacado novamente. Subo mais alguns galhos até chegar a uma folhagem densa e então me acomodo lá mesmo, entre as folhas, até cair no sono.

Acordo com um pássaro posado sob minhas pernas a me bicar. Ele parece nervoso com algo e só então percebo que cochilei em cima de seu ninho. Há dois ovos lá, e minha fome os faz pega-los para nosso café da manhã. Abro o cantil e tomo um gole d’água e desço os galhos. Vinn continua imóvel no mesmo local onde o deixei. Despejo um pouco de água sobre a mão e jogo em seu rosto.

– Ei, Vinn. Acorde! Temos que ir andando, esse é o ultimo dia que temos até nos encontrarmos com os outros pela manhã.

– Cara, estou acabado. Meu rosto dói tanto e... Espera! O que aconteceu com a garota? Você a matou? E como eu vim parar aqui em cima dessa árvore?

– Eu que te subi. Aliás, você é mais pesado do que aparenta. – digo rindo. – Ontem enquanto você ficava desacordado no chão eu me atraquei com a garota do 8. Ela me espancou, mas consegui pegar uma pedra e acertá-la na cabeça. Ela apenas desacordou, então provavelmente ela está viva. Ah! Má noticia: Ela quebrou o aparelho auditivo.

– Mas que droga! Depois que ela matou aquele garoto, morreu mais alguém?

– Não que eu tenha ouvido. –digo

– Então... Quantos de nós restamos?

– De acordo com meus cálculos e excluindo os carreiristas, sete. - ouvimos o som de um canhão ao longe.

– Seis – corrigi Vinn.

– Acho que agora só os fortes restaram. E eles vão lutar até o fim pra sobreviver.

– Então temos que pega-los antes que nos peguem.

Fazemos uma pequena fogueira sob uma pedra lisa que encontramos e lá despejamos os ovos para que fritassem. Depois de comermos e tomarmos um pouco d’água pegamos nossas coisas e saímos a procura de outros tributos.

Andamos por todos os lados a procura de pessoas. Vasculhamos cada canto da região norte e não achamos nada além de um corpo. O da garota do Distrito 5. Ela estava com a boca cheia de terra.

– Ela se suicidou – digo.

– Talvez não estivesse agüentando a pressão de estar aqui. – comenta Vinn. - Ou então, deveria estar faminta...

O jeito que ele diz aquilo soa de um modo tão engraçado, mas pela sua cara não foi uma piada de mau gosto. Cubro minha boca para que ele não perceba que estou rindo e então continuamos a caminhada. A tarde chega mais rápido do que percebemos e estamos muito afastados do local aonde dormimos na noite anterior. Resolvemos voltar para lá, antes que a noite caia, para que possamos nos encontrar logo cedo pela manhã com os outros.

Ao chegamos ao local o sol já de pôs e a lua começa a surgir. Não temos mais comida, não temos mais água e Vinn reclama de sede o tempo todo.

– Não podemos ir até o lago, é perigoso. Vamos ficar aqui e esperar amanhecer.

– Só um pouco d’água, Gus. Pelo amor de deus.

–O.k – digo. – Mas se mais uma maluca daquelas aparecer, eu não irei levar uma surra no seu lugar.

– Certo. – ele ri.

Caminhamos com a atenção dobrada até chegarmos ao rio. Vinn pula dentro do rio assim que o avistamos. Ele nada de um lado ao outro numa velocidade incrível que só os pescadores do Distrito 4 conseguem. Tiro minhas botas e arrisco colocar meus pés dentro da água. O alivio é imediato e aquele momento dentro da arena foi um dos únicos que eu queria que durasse. Enquanto calço novamente os pés nas botas e Vinn enche nossos cantis ouvimos mais um tiro de canhão.

– Mais um – diz ele. – Quem será que foi?

– Não faço idéia, mas temos que sair daqui antes que sejamos os próximos.

Boom! Mais um tiro.

– De novo?! Vamos logo embora daqui. Estou com um mal pressentimento.

Pegamos nossas armas e nossa água e voltamos para dentro da floresta, dessa vez, ficamos no acampamento onde fui atacado pela garota do Distrito 7.

Ouvimos o hino da Capital e então as baixas do dia com as fotos dos tributos surgem. Olhando para o céu esperamos para ver quem foram os dois últimos tributos a serem mortos que ouvimos perto do lago. A primeira foto vai se formando e nós não acreditamos no que ela se torna. Logo acima da frase “Distrito 2” vemos a foto de Peter.


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Notas finais do capítulo

Mais dois para acabar, então não percam ;)



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