Encontro Surpresa escrita por Flor de Cerejeira


Capítulo 6
Realidades


Notas iniciais do capítulo

Resolvi postar hoje durante a madrugada... estou de folga amanha mesmo... =P
Espero que gostem do capítulo!



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- Algumas pessoas querem tanto nos aju­dar que passam dos limites... — Rin começou, reflexiva.

O vento continuava batendo em seu rosto e fazendo com que seus cabelos voassem, suaves e sedosos, e ela se sentia estranhamente sensual. A gola de seu casaco havia se dobrado e guardava as mãos nos bolsos, para evitar o frio e impedi-las de se dirigir por vontade própria para o corpo de Sesshoumaru. O magnetismo que a atraía a ele era quase incontrolável.

— Quando eu estava saindo com Kouga, Sango e Kagome não cansa­vam de dizer como aquilo era prejudicial para mim. No íntimo eu sabia que estavam certas, mas não podia aceitar o que diziam... E também não podia brigar, pois sabia que só faziam aquilo porque me amavam e queriam me ver bem. Mas às vezes... — ela admitiu —, eu queria que sumisse do mapa e me deixassem em paz!

Sem que percebessem, caminhavam mais lentamente e Risa ha­via se distanciado um pouco à frente com Raito. Em determinado momento, Sesshoumaru parou totalmente e fitou Rin, uma expressão cu­riosa nos olhos dourados, usualmente tão insensíveis.

Era como se ele procurasse as palavras certas. Por fim acabou dizendo simplesmente:

— É exatamente como me sinto em relação a minha mãe.

Por um momento alguns raios de sol ultrapassaram as nuvens, emprestando à paisagem um colorido digno de ser fotografado. Para Rin era como se estivessem no paraíso, onde não era necessário respirar, falar... Estava consciente apenas da batida forte de seu coração, do correr rápido do sangue em suas veias, e do brilho dos olhos de Sesshoumaru. Estava enamorada por ele, não havia como negar.

Então as nuvens subitamente cobriram o sol, e foi como se alguém houvesse apagado a luz. Risa voltara correndo, chamando por Raito, e Sesshoumaru desviou o olhar de Rin.

Ela se sentia abalada, desconcertada. O coração parecia bater em sua garganta, estava emocionada.

Sesshoumaru tossiu e, sem saber o que fazer com as mãos, olhou para o relógio.

— Melhor irmos embora.

Rin ficou aliviada pelo fato de Risa manter a conversa animada no caminho de volta. Sentia-se ainda muito estranha. Estava atormentada pela consciência de cada gesto de Sesshoumaru, do re­flexo dos olhos dele no espelho, do modo como virava a cabeça para olhar a filha.

Ela precisava voltar ao mundo real!

Sesshoumaru apenas a olhara com intensidade por alguns segundos, e naquele momento, com certeza, já estava pensando em algo comple­tamente diferente. Mas ela, ainda assim, reagia como se ele a hou­vesse deitado na grama e feito um amor louco, cheio de paixão.

Esse pensamento estava tão vivido em sua mente que era quase como se houvesse acontecido mesmo. A possibilidade de que Sesshoumaru pudesse lê-lo em seu rosto a aterrorizava.

Sesshoumaru encontrou uma vaga para estacionar bem em frente à casa dela, e desligou o motor.

— Vamos entrar e tomar um chá? — Rin convidou com a voz mais aguda e alta do que o usual, deixando transparecer o quanto estava nervosa. — Fiz biscoitos...

— Oh, um chá de verdade! — Risa exclamou. — Raito pode entrar?

— Claro que sim.

Kagome estava em casa, e passou a conversar animadamente com Risa, sobre o gato de Rin.

— Ele não sai de casa nem para dar uma volta. Você pode dizer o que quiser desse gato, mas ele não é nada burro. Sabe que nunca encontrará alguém que o mime como Rin. — Kagome sorriu para Risa  e Sesshoumaru. — Se você estiver à beira da morte, e quiser ser salvo sem nunca precisar dar nada em troca, Rin é o seu alvo perfeito. E tenho certeza de que essa notícia já correu entre todos os animais aban­donados desse país, porque eles estão sempre cruzando o caminho dela ou parando em nossa porta, estendendo a pata, carentes.

—Kagome, tenho certeza de que eles não querem escutar essas his­tórias. — Rin disse, lançando um olhar significativo para a amiga.

Quando Kagome começava a falar, era difícil fazê-la parar.

— Queremos sim! — Risa gritou entusiasmada, e Kagome deu uma risadinha marota com o canto da boca.

— É claro que querem — ela respondeu, piscando para a amiga e, em seguida, começou a contar seu imenso repertório de histórias, uma mais exagerada que a outra, e todas ilustrando o bom coração de Rin e as terríveis confusões em que se metia por causa disso.

Kagome exagerava muito, mas sabia como ser engraçada. Risa es­tava gargalhando e até Sesshoumaru por vezes esboçava um sorriso.

Nervosa, Rin se atrapalhava para organizar o chá e assar os biscoitos. Podia sentir os olhos de Sesshoumaru sobre ela, provavelmente imaginando como uma idiota daquelas conseguira se cadastrar na agência e ser indicada para sua empresa.

— Espero que percebam o quanto Kagome exagera as histórias só para torná-las engraçadas — ela disse enquanto procurava se aco­modar no confortável sofá para esperar os biscoitos.

— De jeito nenhum! — protestou Kagome.

— E exagera sempre para pior... Já percebi que não conta nem uma história em que eu pareça inteligente ou sofisticada.

— Mas elas não existem, Rin...

— Muito engraçado — disse Rin, fingindo-se ofendida. Pelo menos logo Kagome se distrairia comendo biscoitos.

— Mas isso não é novidade para nós — disse Sesshoumaru, olhando para Rin, que imediatamente corou e começou a argumentar que aquilo não acontecia sempre, e que, na maioria das vezes, apenas andava pela rua como todo mundo.

Kagome olhou de Sesshoumaru para Rin, com um olhar curioso. Rin podia sentir que ela percebia alguma coisa, mas por sorte não fez nenhuma brincadeira inconveniente.

— Que cozinha legal! — Risa exclamou quando seguiu Rin para ver em que ponto estavam os biscoitos. — Queria que a nossa fosse parecida com essa, papai!

Rin acompanhou os olhos de Sesshoumaru passeando pela desordem da cozinha, pelas garrafas vazias que esperavam para ser recicladas, a lingerie que secava no varal do hall...

— Dá muito trabalho manter uma cozinha tão desorganizada como essa — ela disse solenemente para Risa. — Não sei se seu pai conseguiria.

Rin quase teve uma vertigem quando percebeu que Sesshoumaru sorria. Ele sorrira, de verdade, por alguma coisa que ela dissera!

— E, você deve ter anos de experiência — ele disse, desatento à reação de Rin frente à visão de sua expressão suavizada.

— Gosto de praticar no escritório também — ela disse, ainda sem poder respirar direito.

E ele sorriu de novo.

— Isso eu posso atestar.

 

Kagome estava devorando o último biscoito, quando Rin  entrou.

Sua alegria evaporara-se depois da fria despedida de Sesshoumaru. Ela havia abraçado Risa  e acariciado Raito, mas Sesshoumaru fora logo entran­do no carro, sem nem um gesto mais amigável.

— Vejo-a amanhã! — foi tudo o que ele disse.

Bem, o que ela esperava? Que a enlaçasse pela cintura e lhe desse um beijo apaixonado? Precisaria despertar mais do que um sorriso em Sesshoumaru para que ele esquecesse que trabalhavam juntos.

— Sim, nos veremos amanhã — ela repetiu mecanicamente.

— Ele não é muito animado, não é? — Kagome resmungou entre uma mordida e outra do biscoito.

Rin  começou a organizar as louças do chá.

— Ele é reservado, só isso.

— Nunca conheci alguém tão difícil. É quase impossível saber o que ele pensa.

Rin sentiu um fio de desapontamento. Não queria que Kagome achasse Sesshoumaru indecifrável. Queria que ela dissesse que vira o modo como Sesshoumaru a olhara, que percebera de alguma forma que se interes­sava por ela. Sabia que se Kagome  houvesse visto qualquer pista, não hesitaria em falar.

— Eu não me importo com isso — Rin disse, tentando parecer convincente. — Para mim, ele é apenas o chefe. E temporariamente.

O problema era que Kagome  percebia tão bem seus sinais quanto percebera os de Sesshoumaru.

— Claro — Kagome disse, levantando-se e passando o braço pela cintura de Rin. — Não se importe com isso!

 

— Escritório de Sesshoumaru. — Rin atendeu ao telefone na terça-feira seguinte.

— Aqui quem fala é Kagura, a secretária dele. — Uma voz arrogante se fez ouvir.

— Oh... Olá. Como está sua perna?

— Bem melhor, obrigada. Como tem se saído? — Havia um tom de condescendência na voz dela, que fez com que Rin se eriçasse como um gato.

— Bem, eu imagino — ela disse, tentando um tom de voz impar­cial. — Gostaria de falar com Sesshoumaru?

— Por favor — Kagura disse, como se desaprovasse o fato de Rin tratá-lo por Sesshoumaru e não por Sr. Sesshoumaru.

— Vou passar para ele.

Sesshoumaru saiu de sua sala poucos minutos depois.

— Era Kagura — ele disse casualmente.

— Sim — Rin respondeu, certa de que a voz de Kagura o relembrara de quão eficiente e confiável ela era. Diferente de sua assis­tente temporária.

— O médico disse que ela poderá voltar ao trabalho na próxima

segunda-feira.

— Segunda-feira? —Rin não pôde esconder o desapontamento

em sua voz.

Esperava que ela demorasse pelo menos mais duas semanas, mas faltavam apenas alguns poucos dias. Ela queria gritar.

Sesshoumaru tossiu e continuou:

— Eu disse a ela que não havia necessidade de que voltasse antes que estivesse totalmente restabelecida, mas Kagura disse que está aflita para voltar ao trabalho.

— Entendo.

O que mais poderia dizer?

— Pensei que você ficaria um pouco mais... — ele disse. Houve uma pausa incômoda, como se nenhum dos dois soubesse o que dizer.

— Bem... — Rin  tentou fingir um tom mais animado. — São boas notícias.

— São — Sesshoumaru concordou, como se não estivesse totalmente con­vencido disso.

— Terá seu escritório mais organizado de novo. — Ela lançou um olhar para Raito, que havia se aproximado de Sesshoumaru e colocava as patinhas em suas pernas. — Nada de cachorros abandonados...

— Não.

Com desânimo, olhou para as pilhas de papéis e arquivos na mesa. Três dias não seriam suficientes para colocar ordem no caos. Ela forçou um sorriso vivo.

— Vou ligar para a agência para informá-los.

— Qual agência? — Sesshoumaru perguntou, ainda parado em frente à janela com as mãos nos bolsos, olhando para a rua.

— A agência de empregos temporários. Assim, poderão me arru­mar outro emprego já para a segunda-feira.

— Claro. — Ele se virou, olhou para Rin e então afastou nova­mente o olhar, como se quisesse dizer alguma coisa, mas hesitasse. — E melhor que ligue, sim.

Então era assim. Melhor mesmo não ter se envolvido com ele, Rin pensou ao sentar-se no trem à noite, sentindo-se miserável.

E não estava envolvida, mesmo que Kagome pensasse o contrário. Sempre soubera que não haveria futuro em se apaixonar por Sesshoumaru. Não queria passar o resto de sua vida sendo a substituta da bela, perfeita e insubstituível Sara.

Queria se divertir. E muito.

 

Os últimos três dias daquela semana foram muito difíceis. Sesshoumaru tornara-se ainda mais reservado, e qualquer conversa entre eles era tão breve quanto possível.

Quando a sexta-feira chegou, Rin estava quase feliz por estar partindo. Pelo menos, não teria mais que prolongar aquele clima constrangedor.

Quando Sesshoumaru chamou-a à sua sala, preparou-se para ouvi-lo dizer algo sobre sua saída. Já havia decidido que manteria um clima ami­gável, mas extremamente profissional. Com certeza ele teria que dizer alguma coisa, pelo menos sobre o que fariam com Raito, já tão incorporado à rotina do escritório.

Rin mal pôde acreditar quando Sesshoumaru pediu apenas que resol­vesse algumas poucas coisas antes que Kagura voltasse.

— Temos que tentar deixar as coisas o mais organizadas possível para ela.

Claro, ele não queria que a preciosa Kagura tivesse muito que fazer quando voltasse. Rin estava furiosa. Podia não ser Kagura, mas estivera ali por seis semanas, e trabalhara muito, para não mencionar que passeara com o cachorro dele todos os dias na hora do almoço. Esperava ao menos ouvir um "obrigado".

— É só isso? — ela perguntou tão friamente quanto pôde.

— Apenas mais uma coisa — Sesshoumaru disse quase com relutância. Seus olhos pousaram em Rin, que segurava seu bloco de anota­ções contra o peito, e olhava para um ponto atrás dele.

- Sim?

— Não precisa anotar — ele disse, com um resquício da velha irritação. — Quero saber se já tem um emprego para segunda-feira.

Rin  abaixou a caneta. Estava tentando não pensar na segunda-feira.

— Não, ainda não.

— O que pensaria sobre fazer uma outra coisa... Temporariamen­te...? — ele perguntou com cuidado.

— O que por exemplo?

— Poderia me ajudar em minha casa por alguns dias. - Rin sorriu.

— Não está falando sério!

— Por que não?

—Você sabe como sou desorganizada — ela disse, ainda sorrindo. — E viu o estado de minha cozinha no domingo. Pensei que eu fosse a última pessoa que você iria querer em sua casa.

— Organização não é o importante. Risa gosta de você como você é. Ela não gosta de muitas pessoas, já lhe disse isso. Preciso de alguém que possa buscá-la na escola e que possa cuidar dela até que

eu chegue em casa. Talvez você pudesse cozinhar também... Eu lhe pagaria...

Procurando desviar de Raito, que estava deitado no meio da sala, Sesshoumaru resmungou alguma coisa e voltou-se para Rin.

— Também poderia cuidar do cachorro. Risa não lhe deixará levá-lo para seus pais. Vou ser obrigado a ficar com ele, e tenho certeza de que Kagura não quer um cachorro no escritório.

— E Kaede? Não vai voltar?

— Ela telefonou a noite passada. A irmã dela ficou muito depend­ente dela, e ela não sabe quando poderá voltar.

— Então, não está me oferecendo um emprego permanente? - Sesshoumaru balançou a cabeça.

— Não. Risa não quer ninguém morando conosco, então vamos ter que nos arranjar sem uma empregada.

— Então por que quer que eu vá?

Ele parou de andar e colocou as mãos nos bolsos.

— Porque minha mãe estará aqui em algumas semanas.

- Oh, sim. A terrível. - Rin se lembrou.

— Ela vai criar uma terrível confusão se não tivermos ninguém para nos ajudar. — Sesshoumaru continuou: — Vai ser apenas pelo período em que ela estiver aqui, então seria um favor, por algum tempo... Por isso pensei que, se você ainda não tivesse um emprego, poderia pensar nisso. Posso lhe pagar um salário que compense, claro. Até mais do que ganharia em outro emprego temporário.

Rin colocou o bloco no colo, como se pensasse sobre a oferta de Sesshoumaru. Havia se tornado secretária apenas porque não arranjara na­da melhor para fazer, não pensava em investir nessa carreira.

O pior era que quanto mais se imaginava fazendo o que ele pedia, mais a idéia lhe parecia atraente. Poderia guardar o dinheiro que ganhasse, e um emprego garantido era melhor do que uma incerteza na agência.

Além disso, gostava muito de Risa. O fato de que passaria ainda algum tempo ao lado de Sesshoumaru era apenas incidental, e não tinha nada a ver com a animação que sentia crescer dentro de si.

Umedecendo os lábios, Rin tentou fazer parecer que aquele seria apenas um negócio.

— Terei que dormir lá?

— Prefiro que sim.

— Preciso conversar com Kagome. Se me mudar, por algum tempo, ela ficará sozinha na casa.

— Posso arcar com a custo do aluguel enquanto estiver fora, para que ela não precise alugar para outra pessoa — ele disse subita­mente, e Rin olhou-o surpresa.

— A casa é de Sango. Não há nada como ter um marido rico que a ajude a pagar todas as contas. Eu e Kagome pagamos apenas um aluguel simbólico e tomamos conta da casa. Eu estava pensando sobre o gato.

— O gato? — Sesshoumaru repetiu, como se não pudesse acreditar no que ouvia.

— Terei que pedir a Kagome que cuide dele para mim. A menos que eu possa levá-lo comigo? — Rin olhou para ele espe­rançosa.

— Não — Sesshoumaru disse firmemente. — O cachorro já traz problemas o suficiente. Estou certo de que Kagome alimentará o gato, não será para sempre. Minha mãe geralmente fica apenas algumas semanas por aqui. Durante uns dez dias visita alguns amigos, e depois fica os últimos dias conosco antes de voltar ao Canadá. Preciso que fique conosco apenas um mês, talvez mais alguns poucos dias.

Bem, aquilo dizia tudo. Sorte não ter se apaixonado por ele!

Rin brincava com a tampa de sua caneta. Não havia por que se sentir magoada por Sesshoumaru lhe empregar por tempo limitado. Estava apenas sendo prático, e Rin devia fazer o mesmo.

— Está bem — ela disse, sentindo subitamente que sua mente clareava.

— Vai fazer isso? — Sesshoumaru pareceu tão surpreso quanto ela.

— Vou.

Teria que fazer um acordo com Kagome, que reclamaria mas aca­baria concordando. Durante esse tempo, Rin deixaria claro para Sesshoumaru que podia ser tão objetiva quanto ele, tratando de negócios.

— Quando vai me querer? — ela perguntou, desatenta para o duplo sentido que teriam suas palavras. — Digo, querer que eu comece? — acrescentou, o rosto vermelho.

— Talvez possamos conversar sobre isso no jantar. Está livre essa noite?

— Estou — Rin disse, sacrificando a oportunidade de conhecer muitos amigos em uma festa.

Telefonaria mais tarde para Kagome e explicaria tudo. Ou quase. Uma festa não poderia se comparar a um jantar com Sesshoumaru, mesmo  que o assunto fosse suas obrigações como empregada.

— Ótimo. — Sesshoumaru parecia desconcertado. — Você pode fazer as reservas?

— Tem algum restaurante em mente? — ela perguntou, tentando tratá-lo como chefe.

Aquele não era exatamente um jantar romântico, certo? Talvez devesse apenas pedir que entregassem uma pizza ali mesmo no escritório.

— Você escolhe — Sesshoumaru disse com um tom indiferente, voltando-se para a janela. — Escolha um lugar tranqüilo — ele disse quando ela chegou à porta.

— Quero lhe pedir algo.

 

— "Pedir algo"? — Kagome repetiu quando Rin lhe contou a con­versa que tivera com Sesshoumaru. — Ele não disse o quê?

— Acho que tem a ver com o emprego.

— Ora vamos, Rin! — Kagome piscou. — Não se convida uma garota como você a jantar para conversar a que horas deve-se passar o aspirador. — Ela fez uma pausa. — Será que não é uma cantada?

— Se é, ele disfarçou muito bem.

Rin não quis dizer a Kagome que já pensara nesta possibilidade, mas não conseguia imaginar Sesshoumaru nesse papel romântico.

— Ele poderia fazer isso no próprio escritório, sem ter que gastar o dinheiro do jantar.

— Ah, mas você estava trabalhando para ele. — Kagome lembrou. — Ele parece o tipo que não aprova romances no trabalho. Deve estar nutrindo uma paixão secreta por você há semanas e sabe que, agora, é sua última oportunidade e decidiu ir em frente.

Rin sentia-se nervosa enquanto se vestia. Tinha feito reservas em um restaurante italiano, bem próximo à sua casa. Kagome lhe dis­sera que deveria ter escolhido um lugar mais caro, mas não queria que Sesshoumaru achasse que ela estava esperando uma noite especial. Seria apenas um encontro de negócios, decidiu.

Mesmo assim, era difícil escolher o que vestir. Ele já conhecia todas as suas roupas de trabalho e, mesmo não sendo uma ocasião oportuna, Rin queria que ele visse como podia ficar elegante se assim o quisesse. Optou por um vestido justo de malha estampada. Alegre e curto, realçava suas pernas bem-feitas. Seus sapatos favo­ritos não eram os melhores para andar em uma noite tão úmida, mas ela não tinha nada mais adequado.

—Você está ótima! — Kagome logo exclamou, quando a viu descendo a escada. — Não se parece em nada com uma "governanta".

Rin e imediatamente se sentiu insegura. Talvez o vestido não fosse mesmo apropriado.

— Acha que eu devia mudar?

— Como assim? — Kagome pareceu desanimada. — Não me diga que quer usar um vestido cinzento e comprido, com um colar de pérolas nos pescoço? Claro que não deve trocar nada! Você está ma­ravilhosa. Sesshoumaru não vai conseguir manter as mãos longe de você!

Pela primeira vez, Kagome parecia estar enganada. Sesshoumaru não pare­cia estar com dificuldade em manter suas mãos nos bolsos, Rin refletiu desanimada, enquanto tentavam manter uma conversa a caminho do restaurante. Ele havia notado a mudança em sua ima­gem, mas apenas dissera que ela estava "diferente", sem nenhum entusiasmo.

Também não pareceu impressionado com o restaurante. Deveria se dar por feliz por ela não ter aceitado a sugestão de Kagome de re­servar uma mesa no restaurante mais charmoso.

— E aqui? — ele perguntou, olhando para as toalhas verdes e vermelhas, os pôsteres descoloridos nas paredes e as garrafas de vinho usadas como candelabros.

— Não sou de gastar muito — Rin  disse em tom desafiador. E então, quando ele ergueu as sobrancelhas, ela se irritou. — Isso não é um encontro!

Infelizmente os garçons não sabiam disso. Acomodaram o casal em uma mesa isolada, sob luz de velas, dizendo-lhes que ali pode­riam ficar mais à vontade. Um minuto depois dois violinistas se aproximaram para uma serenata, e, em seguida, dois vendedores insistiram que Sesshoumaru comprasse uma rosa de presente para a dama.

Sesshoumaru estava tenso, e Rin desconcertada. Não previra aquilo. Nunca fora tratada daquela forma ali.

Quando o garçom cumprimentou Sesshoumaru pela bela mulher que tinha a seu lado, Rin pensou que iria queimar de tanta vergonha.

Sesshoumaru olhou furioso para Rin, mas ela se sentia tão desconfortável que a expressão dele pareceu relaxar um pouco.

— Sim — ele disse seriamente. — Muito bela. Agora, pode nos dar o menu, por favor?

Rin procurava as palavras, mais envergonhada do que nunca.

— Sinto muito — ela disse quando o garçom se afastou. — Eles não costumam agir assim aqui.

— Talvez esta noite você esteja mais bonita — Sesshoumaru disse com tranqüilidade, enquanto apanhava a carta de vinhos.

Rin chegou a abrir a boca para responder, mas fechou-a nova­mente. Antes que dissesse algo, dois garçons se acercaram deles, servindo os aperitivos e oferecendo-se para anotar o pedido de vinho.

As mãos dela tremiam, e seu pulso estava acelerado. Sesshoumaru dissera que ela estava bonita.

Arriscando um olhar para ele, percebeu que estava atento à carta de vinhos, com uma expressão indecifrável. Os olhos dourados con­centrados davam a Rin a oportunidade de reparar melhor em seu nariz bem-feito, e na linha forte de sua boca atraente.

Rin sentiu um frio no abdome desviou seu olhar. Devia ter ou­vido mal. Ninguém, nem mesmo Sesshoumaru, poderia lhe dizer aquilo e continuar calmamente escolhendo o que beberia a seguir.

Rin tentou se concentrar no menu, mas as palavras dançavam na frente dos seus olhos. Ele a achava bonita? Será que Kagome estaria mesmo certa?

Por fim, fizeram o pedido. O vinho foi provado e servido, e o garçom se afastou, deixando-os sozinhos.

Segundos depois, Rin já desejava que os garçons e violonistas voltassem. Podiam ser constrangedores, mas ajudavam a evitar o horrível silêncio entre ela e Sesshoumaru.

Ele parecia ter esquecido que queria dizer algo a ela. Por que se importara em convidá-la para jantar se não queria conversar?

— Quando quer que eu comece a trabalhar? — ela perguntou casualmente, incapaz de agüentar mais um minuto de silêncio.

Sesshoumaru estava cortando um pedaço de pão, mas olhou para ela, como que aliviado por ela ter começado uma conversa informal.

— Assim que puder — ele disse. — Seria interessante que pu­desse estar acostumada à rotina quando minha mãe chegasse.

— Posso me mudar nesse final de semana, se estiver bem para você — Rin ofereceu.

— Sim. Iremos buscá-la no domingo.

— Quando sua mãe vai chegar?

— Daqui a duas semanas. Teremos que fazer alguns prepa­rativos.

— Sou ótima nisso — Rin disse, sentindo-se um pouco mais à vontade. — Farei com que a estada dela seja especial. Flores no quarto, toalhas e sabonetes perfumados, um excelente jantar de boas-vindas... Vou me esforçar para que tudo esteja perfeito.

Sesshoumaru ergueu um pouco as sobrancelhas.

— Você fala como se já houvesse feito esse tipo de coisa antes.

— Sempre tivemos muitos hóspedes em casa quando eu morava com meus pais — ela contou a ele. — Adoro receber pessoas.

— Receio não poder ajudá-la muito — disse Sesshoumaru, movendo distraidamente o garfo entre os dedos. — Não recebi ninguém desde a morte de Sara. Na verdade, minha mãe é a única pessoa que vem algu­mas vezes ficar conosco.

Os pratos que haviam pedido chegaram naquele instante. Rin esperou até que fossem servidos. O silêncio novamente era total.

— Era sobre isso que queria falar comigo? — Rin perguntou diretamente, sem poder conter a curiosidade.

Sesshoumaru havia pegado garfo e faca, mas colocou-os de volta na mesa.

— Em parte sim. Não, na verdade não.

— O que era então?

— Não sei como vai entender o que vou falar. Sesshoumaru não se decidia, e mal olhava para ela. Nunca o tinha visto tão nervoso antes.

— E não vai saber mesmo, a não ser que fale. - Ele pegou a taça e tomou um pouco do vinho.

— Minha mãe me ligou há alguns dias. Já havia agendado vários en­contros com mulheres indicadas por suas amigas. — Ele fez uma pausa, sem desviar os olhos do prato. — Foi Risa quem falou com ela primeiro. E minha mãe lhe disse isso. Bem, você pode imaginar a reação de Risa, não? Ela disse a minha mãe que não precisava se preo­cupar porque eu já conhecera a mulher com quem iria me casar.

— Oh, pequena...

Um sorriso desconcertado se esboçou nos lábios de Sesshoumaru.

— Claro que minha mãe quis confirmar aquilo comigo. Eu podia ter dito que Risa estava brincando, mas elas já têm uma relação difícil, e eu não queria que ela  conversasse sobre isso com Risa. Ela iria ficar ainda mais distante, na defensiva. — Sesshoumaru suspirou. — Enfim, não desmenti Risa. Lembrei o que ela havia sugerido no dia em que estávamos no parque, e pensei... "Bem, por que não?" e fiquei quieto. Claro que ela me pediu detalhes, queria saber o nome da minha noiva, como nos conhecêramos e tudo o mais.

Rin sentiu uma sensação amarga na boca.

— O que disse a ela?

Sesshoumaru olhou diretamente nos olhos de Rin.

— Disse que minha noiva era você.

 


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Notas finais do capítulo

“Rin imaginou como se sentiria se fosse capaz de dar a volta na mesa, segurar a mão dele, colocar os braços em torno de seu pescoço, ousar beijar-lhe... E como seria sentir aquela boca na sua, desejando que se encontrassem por inteiro, até que o ar lhe faltasse nos pulmões.”

— Aguardem...



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