Encontro Surpresa escrita por Flor de Cerejeira


Capítulo 5
Uma idéia para dois pensamentos


Notas iniciais do capítulo

^.~
Obrigada pelos reviews!



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Sesshoumaru apenas a convidara para tomar um licor na sala de estar.

Risa já devia estar dormindo, e mesmo Raito se recolhera na almofada e ressonava.

Rin não previu o quanto a sala ficaria aconchegante, depois que Sesshoumaru acendesse a lareira. A noite estava muito fria, e sentir o calor que emanava da lareira era delicioso.

Mas o ar de intimidade a assustava. Sentia-se muito nervosa por estar ali sozinha com ele. Já tentara de todas as formas fazer fluir uma conversa mais animada, sem sucesso. Uma tensão pairava no ar entre eles.

Culpa de Sesshoumaru. Ela decidiu. Porque ele tinha que estar tão diferente àquela noite?

Com uma calça jeans desbotada e um moletom vermelho macio, ele parecia mais jovem, menos sério, mais atraente... e Rin estava transtornada com aquilo.

Tentava não olhar diretamente para ele, nem observá-lo enquanto animava o fogo

- É muito bonita a decoração dessa sala.

- Não venho muito aqui, é muito grande. Fico mais no escritório, do lado do meu quarto.

Rin imaginou a bonita sala sempre  vazia, fechada... e Sesshoumaru também fechado em seu quarto.

- Deve se sentir solitário em alguns momentos – ela disse, arrependendo-se em seguida.

- Estou mais acostumado agora.

- Você sente falta dela o tempo todo?

- Sara? – Sesshoumaru deu um suspiro profundo. – no começo era um inferno, mas agora... vem e vai. Em alguns momentos penso que aceitei viver sem ela. Em outros sinto tanta saudade que parece uma dor física. Olho para Risa e sinto raiva porque Sara não teve a chance de vê-la crescer.

- Sinto muito... – Rin disse em voz baixa, sem saber o que mais poderia dizer.

Sesshoumaru olhou para ela com uma expressão indecifrável no rosto.

- Você sabe o que aconteceu?

- O pessoal do escritório me contou que foi um acidente de carro...

Ele assentiu.

- Ela ficou em coma por uma semana. Eu não podia fazer nada, apenas segurar sua mão, e dizer o quanto a amava. – Ele voltou-se para o fogo. – Os médicos disseram que ela não podia me ouvir.

Rin sentiu um aperto na garganta.

- Talvez ela pudesse senti-lo, sua energia...

- Era isso que eu dizia a mim mesmo. Prometi cuidar de Risa, que eu faria isso por nós dois... mas o medo de não conseguir manter minha promessa vem crescendo dentro de mim... - Tomando o resto do licor, Sesshoumaru levantou-se para colocar o cálice na mesinha em frente a eles. – Não é fácil ser “pai solteiro”. O pior é não ter com quem conversar algumas coisas, alguém para dividir preocupações. Risa é difícil em alguns momentos, e é quando mais sinto falta de Sara. Ela era calma e gentil, e saberia como lidar com Risa.

- Risa parece tão feliz... – Rin comentou, pensando na animação da pequena com o jantar.

- Graças a você.

Rin contraiu o rosto.

- A mim?

- Fazia muito tempo que não a via feliz desse jeito, e foi por causa desse vira-latas que nos deu. – ele mexeu com o pé em Raito, que dormia largado embaixo da mesinha, e mesmo assim rolou rapidamente, oferecendo a barriga para ser acariciado. – Risa não faz amigos com facilidade – Sesshoumaru continuou. – É muito reservada para uma criança. Receio que seja muito possessiva em relação à mim.

- Acho que isso é inevitável, já que são só vocês dois.

- Ela ressente ate mesmo do fato de termos uma empregada. Não entende o porque não podemos cuidar de tudo, só ela e eu. Pensei em vender a companhia e ficar só em casa – ele admitiu. -  Mas o que aconteceria com todas as pessoas que trabalham comigo? Tenho empregados leais, que já estão comigo a muitos anos. E também o que aconteceria comigo? Risa fica na escola o dia todo. Também preciso viver.

Sesshoumaru encolheu os ombros. Obviamente tinha pensado naquilo muitas e muitas vezes.

- Uma outra alternativa seria eu casar de novo. – Ele disse. – Risa esta crescendo e vai precisar de uma mulher por perto.. mas não me parece justo pedir que alguém se case comigo só para fazer o papel de mãe.

Ele parecia tão cansado, que  Rin teve um impulso maluco de envolvê-lo em seus braços, deixar que ele recostasse a cabeça em seu peito, e ouvisse que ficaria tudo bem, que ela estava ali.

Se estava mesmo disposta a não se envolver, aquela decididamente não era a melhor estratégia. Engolindo em seco, olhou o fogo.

- Foi por isso que foi a casa de Miroku e Sango aquela noite? Procurava por uma mãe adequada para sua filha.

- Em parte sim...- ele disse. – disse a mim mesmo que precisava conhecer pessoas. Pensei que se eu encontrasse alguém as coisas poderiam mudar, não sei...

- Mas você acabou me encontrando. – Rin completou por ele.

- É verdade. – Sesshoumaru disse em seguida. – Eu a encontrei.

Houve um silêncio, que para Rin pareceu durar uma eternidade, tão cheio de palavras não ditas.

- Sango é uma de minhas melhores amigas.

- Você sabia que eu estaria lá?

- Sim. Não sabia que era você, é claro. – Rin acrescentou. – Mas eu sabia que ela convidaria alguém para que eu conhecesse.

Sesshoumaru olhou para ela com curiosidade.

- Eu não entendo isso...

- O que quer dizer?

- Você é uma garota bonita – ele disse. – Deve saber disso. É cheia de vida, inteligente... quando quer ser, claro. E obviamente tem muitos amigos. Eu imaginaria que os homens correm atrás de você. Porque precisa de encontros arranjados?

Rin deu nos ombros, um pouco corada.

- Não é tão fácil quanto você pensa. Especialmente quando já se tem a minha idade. Todos os homens legais já estão envolvidos com alguém, e você termina fazendo papel de tola na mão daqueles que ainda estão livres. – Um traço de amargura tomou o tom de voz dela. -  Bem, pelo menos comigo parece ter sido assim.

- Não com o analista financeiro.

- Não – Rin deu um sorriso triste. – ele existe sim, mas é o namorado de Kagome, minha amiga. Eu apenas o emprestei por alguns instantes em minhas fantasias para tentar impressioná-lo. Não que tenha funcionado...

- Não sei não, você me convenceu por algum tempo. – os olhos de Sesshoumaru pousaram em seu rosto.

- Então, se não foi o analista financeiro, quem foi?

- O nome dele é Kouga... – Rin olhou para o fogo, deixando que as lembranças voltassem a sua mente. – Rin olhou para o fogo, deixando que as lembranças voltassem à sua mente. – Eu era louca por ele. Era um dos executivos da empresa onde eu trabalhava. Eu costumava a fantasiar que tinha um caso com ele. Ele era tão bonito, tão charmoso... tinha uma reputação horrível! Mas aquilo, claro fazia parte de seu charme – ela disse com ironia. – Quando ele me notou, entre todas as garotas que havia lá, não pude acreditar na minha sorte.

Ela deu um leve suspiro, perceptível apenas para Sesshoumaru.

- Sango e Kagome  nunca gostaram dele, mas eu estava enfeitiçada, é difícil explicar agora, depois que tudo passou. Ele tinha um carisma, um jeito sedutor... eu não podia pensar claramente enquanto estava com ele. Eu dizia a elas que não o entendiam como eu. Convenci-me de que o modo egoísta dele era resultado da criação que tivera,  e que havia um pequeno garoto perdido escondido dentro dele. Pensava que tudo que ele precisava era amor de uma mulher generosa, e que eu conseguiria mudá-lo... – ela sorriu, mas não conseguiu esconder a magoa que sentia. Fui uma tola.

- Todos nós cometemos erros – ele disse em tom compreensivo.

- A diferença é que algumas pessoas aprendem com ele, e eu não. – Rin se inclinou para pegar seu copo. – eu me humilhei por meses. Desviava meu caminho apenas para encontrar com ele, esperava desesperadamente que ele me telefonasse. Checava os recados em meu telefone e meus e-mails obsessivamente, Kouga sabia disso. Ele dizia que entraria em contato comigo e me ignorava completamente,apenas para que eu continuasse a ter esperanças.

Sesshoumaru a fitava e parecia compreender o que ela dizia.

- Ele era perfeito nisso. Vinha me ver ou me telefonava de vez em quando, e eu ficava tão feliz que não percebia que ele tina segundas intenções. Sempre me pedia dinheiro emprestado, ou que lavasse suas roupas... E eu não percebia! – Rin olhou de repente para Sesshoumaru. – Oh, sim – ela disse com um sorriso tristonho. Eu lavava as roupas dele, passava e cozinhava para ele. Fico com raiva quando lembro, mas parecia tão natural...

- O que fez com que você mudasse de idéia a respeito dele? – foi tudo que ele perguntou.

- Fui à sala dele uma noite – Rin contou -  Encontrei uma desculpa para trabalhar ate mais tarde, sabendo que ele estaria lá, e o encontrei gritando com uma das faxineiras. Eu não sei o que ela havia feito, mas a pobre mulher estava aterrorizada. Ela não sabia nosso idioma, não era sua língua natal, e não devia estar entendendo metade do que ele falava. Foi horrível – disse ela com um arrepio – Eu não podia crer que ele estava sendo tão mal educado, tão intolerante. Quando eu disse que ele não podia falar daquela forma com as pessoas, ele se voltou contra mim e tivemos uma briga. Eu disse que ia denunciá-lo por abuso de autoridade.

- E o que ele disse?

- Ele disse que eu não me incomodasse, porque ele iria me processar por perdas e danos morais. E “em quem  acha que eles vão acreditar?” Kouga perguntou. “ Em uma secretaria ou em um executivo brilhante que esta começando a despontar?” E foi exatamente o que ele fez, e eu perdi meu emprego. – Rin terminou.

Sesshoumaru tinha um olhar intrigante.

- Foi por isso que saiu de seu emprego, então? – Sesshoumaru parecia ainda mais enraivecido.

- Ninguém me despediu claramente. Disseram-me apenas que eu podia ser feliz em um outro lugar e que se eu ficasse, minha vida podia se tornar insustentável. – Rin acompanhou a frase com um gesto das mãos para enfatizar o quanto eles foram enfáticos no tipo de frase que usavam.

Kouga fora promovido, mas isto Rin não contara a Sesshoumaru.

- Você devia ter reclamado. – ele disse franzindo o cenho.

- Mas eu já não queria continuar trabalhando lá. Não queria encontra-lo mais. O problema é que fizeram minha carta de referencia com má vontade, o que significou que não consegui arrumar emprego em lugar nenhum. – ela continuou. -  Fazer inscrição na agencia de empregos temporários foi a opção que me restou, e a sua empresa foi o primeiro trabalho que me arranjaram.

Não havia problema em recordar a Sesshoumaru que ela sabia que a relação deles era estritamente profissional.

- É por isso que tento causar boa impressão a você antes de Kagura retorne.

Era verdade. Se Sesshoumaru não fizesse um relatório elogioso, ela podia se considerar fora da lista dessa agência também.

- É isso o que esta fazendo agora? – ele perguntou,  colocando seu copo com deliberada força na mesinha.

- Agora? – Ela repetiu sem entender.

- Pegando Risa na escola, fazendo jantar e tudo mais?

Havia um tom rude em sua voz, quase como se estivesse desapontado.

- Não – Rin disse sinceramente. – Nem mesmo pensei nisso. Além disso, saber fazer lasanha não é uma referencia que os executivos apreciam. Esperava que houvesse percebido que estou tentando ser mais pontual e eficiente.

- Entendo.  - Comentou, com um tom mais ameno.

- Tudo foi parte de minha nova atitude – Rin continuou, como querendo certificar-se de que ele não entendera de forma errada o fato de estarem ali sozinhos a  meia-luz.

- Depois que o tempo passou, percebi que Kouga me ensinara uma lição. Duas, na verdade. Manter minha vida pessoa totalmente afastada da vida profissional, e não levar nenhum relacionamento tão a sério. Eu vou me dar a oportunidade de conhecer novas pessoas, mesmo que seja através de encontros arranjados. Por isso Sango me ligou e disse que queria me apresentar alguém, ai eu pensei “Porque não?”, eu não estava interessada em nenhuma relação mais profunda ou significativa. – Rin disse a ele. – Só queria me divertir.

- Mas me encontrou. – Sesshoumaru devolveu as palavras de Rin.

Algo no tom de voz dele fez com que ela se voltasse. Ele a olhava com uma expressão indecifrável, e seus olhos capturaram os dela sem aviso, fazendo com que sua respiração quase se interrompesse.

Rin não sabia por quanto tempo haviam ficado se olhando, o silêncio insuportável imperando, quebrado apenas pelo estalar da madeira na lareira acesa. Sesshoumaru, por fim, desviou o olhar, e ela se sentiu como se fosse subitamente atirada de uma roda em movimento.

Tudo que tinha que fazer era se lembrar do que falavam antes.

Ah sim. Queria convencê-lo de que fora ao jantar apenas para se distrair e não para conseguir um casamento ou qualquer tipo de relacionamento sério. Então, não precisava entrar em pânico.

- Bem, mas de todo jeito aquele jantar foi um choque.. – ela forçou-se à sorrir. – um encontro às cegas com o chefe! É demais!

Sesshoumaru apenas concordou com ela, com um gesto de cabeça e o olhar distante.

 

***

 

Não fora difícil de convencer Sesshoumaru de que queria apenas de divertir, mas era difícil viver isso na prática.

Kagome gostava muito de sair com os amigos e sempre havia um lugar para Rin, mas já não era tão divertido como antes.

Havia ficado irritada, por exemplo, em uma festa, ao se pegar pensando em como Sesshoumaru e Risa estariam se arranjando com o jantar, já que a empregada ainda não havia retornado.

Claro que aquilo não era problema dela. Deveria se divertir e não preocupar-se com viúvos e crianças sem mãe.

Kagura voltaria em três semanas. Rin não sabia se estava ansiosa para por um fim àquele desconforto diário, ou se entraria em desespero quando o momento chegasse. Tentava se imaginar trabalhando em outro escritório, com outra pessoa, mas não conseguia.

Não haveria nenhum cachorro com que passear na hora do almoço. Não haveria um arrepio  a percorrer seu corpo toda vez que ouvisse o barulho da sala de Sesshoumaru..

Desde a tarde em que fora buscar Risa na escola, o clima entre eles era de um constrangimento disfarçado. Sesshoumaru era educado mas áspero, e Rin desejava que ele voltasse a gritar com ela.

As coisas eram mais fáceis aquele tempo.

Era o inicio de sexta-feira, e Rin percebera que não conseguiria dar conta da lista de tarefas que Sesshoumaru havia lhe passado. Sentada em frente a ele, deveria estar fazendo anotações, mas se distraía o tempo todo, ora com as mãos fortes, ora com os movimentos de sua boca sensual. E quando ele a olhava, seus olhos pareciam tão penetrantes que ela imediatamente esquecia o que estava fazendo.

- Você esta bem? – Sesshoumaru perguntou por fim, depois que ela lhe pedira que repetisse o que dissera pela sexta vez.

- Estou sim. – Rin respondeu já corada. Não conseguia falar normalmente com ele sem enrubecer.

- Hoje você esta parecendo ainda mais distraída que o normal.

- Acho que estou cansada – ela disse – fui dormir tarde.

Era verdade, ela havia saído com Kagome.

- Fomos à um clube ontem e estava tão gostoso que acabei me esquecendo do horário. – ela continuou, aproveitando a oportunidade para convencer Sesshoumaru de que não estava parada, sonhando como uma colegial apaixonada. – Esqueci de olhar para o relógio – disse com voz afetada, como se fosse uma garota cujo único objetivo na vida fosse se divertir.

Uma garota que jamais perderia tempo  pensando no que um homem ocupado com problemas domésticos estaria fazendo.

- Vou acreditar em sua palavra – ele disse secamente. Depois de uma pausa, ele decidiu continuar: -  Eu disse a Risa que você tinha uma vida social intensa... Mas prometi a ela  assim mesmo que lhe perguntaria...

- Perguntaria o que? - Rin não disfarçou a surpresa.

- Ela parece acreditar que  você é uma autoridade no que diz respeito a cachorros. Assim ela quer saber se você poderia ir ate nossa casa no final de semana para lhe dar umas dicas sobre como treinar Raito. Parece que você disse a ela que poderia fazer isso. – Ele disse em tom quase acusatório, como  se a responsabilizasse pelo convite.

Ela havia mesmo prometido a Risa que ajudaria a treinar Raito, Rin se lembrou. Aquele não era o problema. O problema  era a ansiedade com que desejava ir.

- Eu disse a ela que você era muito ocupada. – Sesshoumaru falou quando percebeu que ela hesitou.

- Não... Eu não estou ocupada – Rin disse, embora pretendesse ela se corrigiu, sua boca ainda resistindo a obedecer as ordens de sua mente, que lhe avisava que a coisa mais sensata a fazer era não se envolver. -  Talvez possamos dar uma volta no parque.

- Seria muito gentil de sua parte – Sesshoumaru disse de um jeito empolado, fazendo com que Rin pensasse que desejava que ela recusasse.- Risa vai ficar muito contente.

“E você?” ela queria perguntar a ele. “Vai ficar contente?”

- Domingo a tarde é adequado para você? – Ele ainda mantinha um tom cortês e controlado.

- Domingo será ótimo.

- Passaremos para pegá-la em sua casa. Duas horas?

A despeito de saber de cor todas as razões  pelas quais não deveria se envolver com Sesshoumaru, Rin  tinha que admitir que não via a hora de que domingo a tarde chegasse. No sábado a noite saíra com Kagome, por insistência da amiga, mas viera embora assim que conseguira uma boa desculpa para fugir do compromisso.

Esperou que Kagome percebesse sua falta de entusiasmo, mas não teve sucesso.

- O que esta acontecendo com você? – Kagome perguntou em tom de acusação quando ela saiu do quarto, na manha de domingo.

- Nada. – Rin tentou dizer com vivacidade.

- Convidei um amigo de Inu-Yasha especialmente para conhecê-la, e você lhe deu o maior fora. Pensei que ele fazia seu tipo.

- Oh ele era ótimo. – Rin começou a guardar as louças do escorredor e  colocar em vários potes no lugar.

Kagome olhou para ela com ar suspeito. – E porque esta arrumando a cozinha?

- Porque esta uma bagunça!

- Esta sempre uma bagunça, você nunca se importou com isso. Quem vai vir aqui?

- Sesshoumaru e a filha dele virão mais tarde. -  ela tentou responder casualmente, mas seu esforço foi em vão.

- Sesshoumaru? O chefe que você odiava e de quem depois passou a ter pena? Aquele com quem não tem a menor intenção de se envolver?

- Ele mesmo. – Ela admitiu, não parando de arrumar o lugar.

- Então me convença de que recebê-lo em sua casa no domingo a tarde não quer dizer se envolver.

- Se quer mesmo saber, na verdade é um encontro com a filha dele. Vamos levar o cachorro que dei a ela para passear, e Sesshoumaru vai nos dar apenas uma carona.

- Certo – disse Kagome obviamente sem acreditar em uma palavra do que dizia.

- É verdade. Eu só vou porque me sinto responsável pelo cão.

Kagome encheu uma chaleira com água.

- Então o que devo dizer ao meu à Toby, se quiser encontrá-la de novo?

- Aquele americano loiro, alto de olhos verdes? Diga que tudo o que quero é me divertir!

- É por isso que esta se aprontando toda para dar uma volta no parque com um cachorro? O que vai usar?

Não queria parecer desarrumada, mas também não queria parecer que cuidara demais de sua aparência. Suas calças  jeans estavam um pouco apertadas, assim resolveu usar um macacão clarinho, um dos que mais gostava. Não que Sesshoumaru pudesse gostar dele. Ou de qualquer outra peça que fosse usar.

Devia oferecer-lhes chá? E biscoitos seriam bem vindos depois de uma caminhada?

- Sabe se ainda temos bicabornato, Kagome?

Kagome levantou os olhos da revista que lia.

- O que esta pretendendo fazer?

- Biscoitos... – Rin disse quase se desculpando.

- Biscoitos? - Kagome balançou a cabeça. – Esta pior do que eu pensava.

Rin ziguezagueou pela cozinha o resto da manhã, enlouquecendo Kagome para que ajudasse.

- Queria que Sesshoumaru chegasse logo para acabar com esse seu tormento.

Pouco depois a campainha tocou. Rin precisou de muito esforço para dominar os nervos.

Ajeitou o macacão e passou os dedos nos cabelos negros, presos em ambos os lados por duas presilhas, montando assim um penteado charmoso, que não deixava seu rosto branquinho coberto nas laterais. Apenas a franja ficava sob a testa. Respirou fundo antes de abrir a porta.

Sesshoumaru estava parado a lado de Risa, e o coração de Rin deu um salto de felicidade ao vê-los. Risa deu um abraço afetuoso, que foi correspondido com naturalidade. Seria bastante natural também que cumprimentasse seu visitante com uma inclinação menos profunda, ou um beijo no rosto, mas a simples idéia de ter mais intimidade com ele, mesmo que por um segundo, fazia com que entrasse em pânico. Contentou em sorrir-lhe, usando a cordial maneira de se falar com o chefe, inclinando-se não muito profundamente, mas muito respeitosamente.

- Olá.

Risa sentou-se no banco de trás com Raito, que estava no auge da alegria, latindo e pulando. Ela falava sem parar do cachorro, facilitando a vida de Rin, que podia se restringir a alguns comentários ocasionais.

Foi um alívio poder descer do carro e se envolver com Risa e Raito.  Rin mostrou a ela como agradar Raito quando ele lhe obedecia, e logo ele já estava sentando e esperando pelo chamado antes de correr e saltar nelas.

Risa estava maravilhada.

- Ele é muito esperto, não é papai?

- Esperto e interesseiro – disse Sesshoumaru, que as observava com uma expressão resignada.

O dia estava frio e nublado, e o vento teimava em jogar os cabelos de Rin no rosto. Risa corria na frente com Raito, e Rin tentava não se importar com a presença de Sesshoumaru que caminhava ao seu lado, cabeça baixa, mãos dentro dos bolsos, os longos cabelos também desarrumados pelo vento.

De quando em quando Risa corria ate eles, as faces muito vermelhas e olhos brilhando por detrás de seus óculos.

- Queria poder fazer isso todos os finais de semana.

-  Você nunca gostou de caminhar! – Sesshoumaru observou.

- Mas é diferente se você tem um cachorro. Estou tão feliz que tenha ido trabalhar com papai, Rin! Você não está, papai?

Sesshoumaru olhou diretamente nos olhos de Rin, que estava ocupada em manter os cabelos longe do rosto. Os olhos cor de chocolate estavam brilhantes, e o exercício também trouxera cor ao seu rosto. Tinha uma expressão envergonhada que a deixava...

- Ela com certeza mudou minha vida – ele disse, e Rin sorriu incerta, sem entender bem o que isso significava. Seria um comentário bom ou ruim, ou ele estaria apenas brincando?

Por fim ela decidiu que seria mais seguro apenas ignorar o que ele dissera.

- E Kaede, voltará logo?

- Não sabemos. Ela tem nos telefonado sempre, mas sua irmã ainda está muito doente, e ela não sabe quando poderá deixá-la. Enquanto isso, Risa e eu estamos tentando nos arranjar.

- E tem sido ótimo – Risa disse. – É muito melhor sem empregada.

- Você não vai pensar assim quando sua avó chegar – Sesshoumaru disse – ela estará horrorizada  de não haver ninguém para cuidar de você.

- Você cuida de mim – Risa disse lealmente, segurando a mão de Sesshoumaru, e Rin viu um tremor emocionado no sorriso dele.

- Minha mãe disse que isso não é o suficiente, e ela tem razão.

- Ela é tão mandona... – Risa fez uma careta insatisfeita. E Rin olhou curiosa sobre aquele assunto.

- Ela mora no Canadá, atualmente... – Sesshoumaru esclareceu, sem que Rin perguntasse. – Vem para cá todos os anos, para se certificar de que eu e Risa estamos bem. – Ele hesitou. – Ela tem um bom coração, mas é um pouco dominadora...

- Mandona. – Repetiu Risa.

- Minha mãe decidiu que Risa precisa de uma madrasta, e agora, sempre que está por perto, faz uma lista de mulheres que considera adequadas para eu me encontrar.

- E elas também são horríveis, não são papai?

- Vamos apenas dizer que ela tem uma idéia diferente da nossa sobre o tipo de mulher com quem eu deva me casar. – explicou Sesshoumaru. – Eu compreendo as preocupações dela em relação a Risa, mas gostaria que me deixasse cuidar de minha vida.

Rin estava intrigada.

- Não consigo imaginar sendo dominado por alguém. – ela confessou.

- Não conhece minha mãe. Eu e Risa temos ate medo de suas visitas.

- Sabe o que deveríamos fazer, papai? – Risa perguntou subitamente, ao lado deles.

- O que?

- Deveríamos  fingir que você arrumou uma namorada, então a vovó não poderia dizer mais nada.

- Não acho que possamos enganá-la com facilidade. Ela iria querer conhecer essa namorada de qualquer jeito, e pareceríamos tolos se não pudéssemos apresentá-la, não é mesmo?

- Talvez pudéssemos pedir a Rin para fingir ser sua namorada. – sugeriu Risa.

- Fingisse o quê? – Rin quase caiu.

- Fingisse ser sua namorada. – Risa abriu  um enorme sorriso quando realmente percebeu o potencial de sua idéia.

Seguiu-se um silêncio desconfortável

O coração de Rin batia descompassado com a sugestão de Risa, mas ela sabia que devia tratá-la como uma brincadeira, então sorriu, mostrando que não poderia levar aquela sugestão a serio.

- Não acho que seja uma boa idéia. – Sesshoumaru disse seriamente depois de um momento.

- Porque não, Rin não se importa, não é Rin?

Rin fez um gesto incompreensível com o rosto, que parecia ser sua única opção.

- Seria divertido – Risa continuou – imagine a cara da vovó quando ela vier com uma nova lista, e você disser que achou alguém sem a ajuda dela. Eu acho que seria o máximo!

- Já é o bastante, Risa. – O pai disse energicamente.

- Mas, porque não? – a menina insistiu -  poderíamos ter bons momentos ao invés de gastarmos todo o tempo tentando nos afastar das mulheres que a vovó convida para nos visitar.

- Eu já disse que é o bastante!

Risa calou-se, resmungando baixinho, e afastou-se mal-humorada para atirar gravetos para Raito.

- Sinto muito por isso... – Sesshoumaru disse quando ela se afastou. – ela se empolga demais com suas idéias.

- Esta tudo bem.

Mais um silencio constrangedor pairou sobre eles.

- Ela e Risa passaram a discutir desde que Risa percebeu as intenções dela. Minha mãe não tem muito tato e acha que as pessoas tem que fazer o que ela acha certo. Sempre age do mesmo jeito.

Rin tentou imaginar a versão feminina de Sesshoumaru, mas não disse nada, a mãe dele parecia muito assustadora.

- Não pode dizer apenas que você e Risa estão bem como estão?

- Acredite em mim, eu tentei. – disse Sesshoumaru. – A questão é que devo muito à ela, foi ela quem me deu todo apoio quando Sara faleceu. Não sei o que teria feito sem ela. Mora no Canadá e tem sua própria família, mas veio para cá e tomou conta de Risa, e de mim, pelo tempo que precisei.

Rin ouvia com atenção e interesse.

- Ela acha que, a não ser que interfira e me apresente algumas mulheres, nunca vou conseguir me casar novamente. Eu realmente tenho dificuldades de me aproximar das pessoas...

Rin desejou acreditar piamente no que ele dizia.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima meninas! (e meninos se houver algum que lê)



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