Doce Problema escrita por Camila J Pereira


Capítulo 3
Problema


Notas iniciais do capítulo

Olá.
Mas um capítulo divertidíssimo. Veremos que o xerife Cullen parece empenhado em chamar a atenção de Bella.



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Bella

- Moça, por favor, grave isso em sua cabecinha: O pessoal aqui me conhece como o xerife Cullen, mas pode me chamar de Edward. Perceba que diferente de como nos julgou, esta é realmente uma cidade amistosa. Somos todos receptivos e agradáveis. Agora, faça-me outro favor e permaneça quieta por um minuto... Se isso for possível para você. - Ele me provocou com uma das sobrancelhas erguidas em dúvida. - Jéssica, há quanto tempo Elizabeth está aqui?

- Não sei muito bem xerife, mas acho que quase a tarde toda. - Jéssica parecia hesitante. – O Dr. Hale estava contando o quanto ela estava bem e então...

- Para mim é quase certo de que Elizabeth teve uma recaída. Daqui me parece eufórica, essa é uma característica. Jasper deve ter se enganado mais uma vez. Pode ter certeza de que conversarei com ele depois. – Apertei meus punhos e quase grunhi de frustração. Não conseguia entender o que acontecia e o porquê de estar ali.

- Dá para você me explicar o que está acontecendo aqui? Estou enlouquecendo? Ou todos aqui são loucos, menos eu? Só peço que me deixe sair por alguns momentos para que procure a minha carteira? Não procure culpar mais alguém sobre esse pequeno incidente, pois aquela adorável criatura não tem nada a ver com tudo isso.

- Então a moça nunca faz o que lhe pedem? Permaneça quieta. - O Cullen falou com ar sério.

- Não pode me obrigar a calar, xerife. Parece que todos nesta cidade estão dispostos a me fazer parecer uma criminosa. Certo, já estou encrencada de qualquer modo, não me calarei. Não pode fazer nada, ou acha que pode? Quer me prender por existir? – O xerife não pareceu afetado pelos meus comentários mordazes. Todo os seus movimentos em seguida pareceram muito nítidos para os meus olhos. Vi detalhadamente sua mão grande empurrar o chapéu e revelar uma mecha de cabelo em sua testa. Aquele tom de ruivo era incomum, parecia acobreado.

- Devo deixar claro para você, moça, que a maneira que resolveu se portar é péssima. Já adivinhei que o seu nome do meio é Problema. Diga-me o seu primeiro nome e sobrenome. - Ele me encarou.

- Bella Marie Swan. - Sustentei o olhar dele com uma sobrancelha arqueada, desafiando-o.

- Pois sim. Tem o direito de permanecer calada, Bella Problema Swan. - Ele dobrou hastes do óculos e guardo-o no bolso da camisa. – Como um bom sujeito, recomendo que aproveite esse direito enquanto eu vou até ali trocar algumas palavras com Elizabeth. – Minha reação foi imediata.

- Ela não fez nada para...Hum! - O Cullen pressionava os dedos com firmeza nos meus lábios, me impedindo de falar.

- Quieta! – Mas o que ele...? Meus olhos se estreitarem, estava bastante irritada. Mas de alguma maneira da cabeça aos pés, meu corpo todo estremeceu ao toque. Jéssica riu, divertida com a situação humilhante para mim.

- Boa garota! - Ele afastou os dedos, devagar preparado para me silenciar de novo, se preciso.

- Isso mesmo Edward, estava na hora dela fechar a boca. - Jéssica se intrometeu e eu já ia lhe responder a altura quando o xerife interviu.

- Shhh! Eu já disse. - Ele falava com o dedo indicador apontado para mim, parecia repreender uma criança. Argh! Ele me irritava. - Agora, sente-se.

- Estou muito bem em pé. – Queria revidar a humilhação, queria que ele sentisse a mesma irritação. Queria ver aquele xerife furioso como me deixava. Foi com surpresa então que vi seus lábios se abrirem num sorriso torto, que em outras circunstâncias eu teria considerado encantador.

- Problema... - Ele resmungou suave, afastando-se.

Eu mal podia acreditar. O que estava acontecendo afinal? Parecia que eu havia entrado em uma realidade paralela a que estava acostumada. Tudo me parecia estranho e distante como um sonho. Isso! Tudo isso só pode ser um sonho. Ele tinha ido conversar com a senhora delicada e Jéssica ficou no balcão conversando com um cliente.

Eu não tinha idéia do que o xerife dizia à pobre velhinha sentada à mesa do canto. Eles conversavam baixo e por mais que aguçasse a audição, não ouvia nada. Também não dava para ver a expressão de Elizabeth, uma vez que os ombros largos do Cullen me impediam. Só podia esperar, mordiscando o lábio inferior.

Entretanto, quando o xerife retornou, tratei de erguer meu queixo e os dedos trêmulos escondi nos bolsos da calça. Eu não pretendia dar a ele a satisfação de saber que me fazia tremer. Não tinha feito nada de errado e não agiria como se tivesse feito.

Ignorando-me ele chamou Jéssica de lado e cochichou no ouvido dela. Assentindo, a garçonete intriguenta correu para o telefone e fez uma ligação. Havia aprendido que quando essa abelhuda fazia ligações isso queria dizer que alguém iria se encrencar. Só não queria que a minha situação piorasse. Pelo menos depois da ligação ela voltou a se ocupar com o seu trabalho e pareceu me esquecer.

- Acredito que não devo esperar algum tipo de explicação sua. Parece que não se daria ao trabalho. – Critiquei acidamente. - Ei, espere! Eu sei! Você vai prender essa doce senhora só porque foi gentil comigo. Que crime hediondo ela cometeu! - A minha petulância tinha justificativa e eu não me incomodei em proferir as palavras ditas. Queria ter dito mais, mas não era imbecil a tão ponto. Meu objetivo era ir embora e não ser presa nessa cidade.

- Problema, você não sabe o quanto está encrencada. Deveria começar a se preocupar. Penso que alguns anos na cadeia vão lhe fazer bem. - Senti meus olhos arregalarem diante do que ele disse e eu sabia que minha expressão tornou-se vulnerável, era tudo o que ele queria.

- Alguns anos? Cadeia? - Eu disse com a voz um pouco alterada e meu olho esquerdo sofreu um leve tremor.

- Sim, Problema.

- O que é isso afinal? Um filme de terror? - Falei olhando para os lados, talvez houvesse câmeras, eu estava ficando irritada e um pouco assustada ao mesmo tempo.

- Sabe o que é ainda pior nisso tudo? Não vejo nenhum sinal de remorso por seus crimes. Isso não é nada bom para você, Problema.

- Como assim?! Só perdi minha carteira! - Falei com voz esganiçada pelo nervoso.

- Então, anda se comportando pessimamente. - Ele suspirou. – Lamento informar que o Juíz Aro Volturi não aprecia pessoas rebeldes. Também não gosta de quem anda de moto. Você se enquadra nos dois. Imagine que no nosso último Quatro de Julho, uma gangue de motoqueiros invadiu a cidade bem na hora do desfile. Deve ficar e ver o desfile que maravilha! Mas naquele dia, esses motoqueiros derrubaram cercas e atropelaram o buldogue do juíz. - Ele colocou as mãos na cintura e me olhou meio de lado. – Imagine um criatura inocente, o pobre cachorro estava até vestido de acordo com a ocasião, de azul, vermelho e branco e de cartola. Foi uma confusão danada. - Ele falou pesadamente, agora abaixando os braços. Eu retiro o que disse, isso não era um sonho, era um terrível pesadelo. Por favor alguém me acorda! Eu me sentei e escondi o rosto com as mãos complemente derrotada.

- É uma bela história, Sr. Xerife!

- Edward. - Ele corrigiu.

- Que seja. Pode me prender. Prenda-me e acabe logo com a minha miséria. - Estiquei as minhas mãos unidas.

- Acalme-se aí, porque o juíz costuma ser mais condescendente com as mulheres. Você poderá ser solta dentro de um ano, ou mais até, por bom comportamento. Luta caratê?

Eu o encarei incrédula, recolhendo as minhas mãos. Aquilo tudo era surreal de mais para mim. Se alguém me contasse que passou por uma situação dessas eu riria e não acreditaria, mas vivendo-a a vontade que eu tinha era de estapear alguém.

- O quê? - Finalmente perguntei.

- Caratê. Pelo menos defesa pessoal ou qualquer coisa parecida? – Ele me olhou e com certeza estava meio abobalhada. O xerife balançou a cabeça lamentando. – É um dado estatístico Problema, as penitenciárias femininas são tão ou mais violentas do que as masculinas. Seria bom dar uma recapitulada nos golpes que você aprendeu. - Ele só poderia estar brincando, mas não via nenhum vestígio que indicasse isso no rosto dele.

- Acha mesmo que estou acreditando nessa conversa toda? - Tentei parecer indiferente e segura.

Ele sorriu, empurrando mais um pouco o chapéu para trás.

– O caso é que não é muito importante para mim se acredita ou não, Problema, mas terá que avisar alguém da sua prisão.

Senti que meu sangue fugia das minhas veias. Provavelmente estava pálida, branca feito cera. Além de tudo ele tinha que me lembrar o que tanto queria esquecer. Estava quase me convencendo que ele era meu diabinho particular.

- Você tem direito a um telefonema. Gostaria de falar com o coitado do seu marido? - Detectei zombaria e algo mais nessa pergunta.

- Você com certeza tem um invejável senso de humor, xerife.

- Edward. - Ele corrigiu novamente.

- Sim Xerife, se eu fosse casada, seria estúpida o suficiente para ligar para o meu marido no lugar do meu advogado. - Minha voz saiu pausada e baixa pela irritação. Ele deu de ombros pela minha resposta.

- Tudo bem. Ah, tenho uma coisa para você! Em meio a tanto entusiasmo por prender um criminoso tão perigoso, já ia me esquecendo. - Tirou algo do bolso traseiro e jogou-o na mesa. - Conhece isto? - Eu mal pude acreditar.

- Onde a encontrou? - Olhei para a carteira perplexa.

- Aqui mesmo no Mocha. Para ser mais claro, Elizabeth entregou-a. A minha avó disse que seus cabelos são lindos e que espera não ter lhe causado muitos transtornos. Como você mesma disse, ela é um doce, mas tem a péssima mania de pegar o que não lhe pertence. - O xerife falava com um sorriso inocente no rosto.

Como eu me senti? Jogada dentro de um redemoinho medonho assim como a Dorothy do Mágico de Oz. Me senti zonza e arrisquei olhar para a senhora absorvida no seu crochê. Depois, voltei com um olhar furioso para o xerife malvado e insuportável que estava a minha frente. Meu sangue voltou potente às minhas veias e ele fervia. Bati os pulsos na mesa com tanta força que a carteira quase caiu.

- Você é mesmo um miserável xerife Cullen! Sabia esse tempo todo que Elizabeth tinha roubado minha carteira, e mesmo assim, me fez pensar que...

- Protesto! - Ele me interrompeu fingindo-se de inocente. - Não a fiz pensar nada. E Elizabeth não é uma ladra. É algo compulsivo, deve saber disso. Ela costuma pegar objetos emprestados em momentos de excessivo entusiasmo. Minha avó sempre devolve o que pegou, mais cedo ou mais tarde. Acreditávamos que estivesse curada. Porém, vejo que teremos que mantê-la sob vigilância.

A minha fúria não diminuiu com a explicação. Minha vontade era de dar uns tapas nesse xerife terrorista. Mas eu tinha que me controlar, não daria a chance dele me prender em uma cela para o resto da vida. Eu queria desesperadamente sair dessa cidade e não vê-lo nunca mais.

- Isso foi tortura! Não sei que tipo de pessoa se diverte fazendo isso, falando sobre a violência das prisões femininas e de buldogues mortos. Você pretendia me pôr atrás das grades apenas porque não foi com a minha cara. Eu deveria processá-lo! - Falei com toda a minha fúria.

- Pensei que não estivesse acreditando nessa conversa. - Ele riu torto.

- Ora...eu vou processá-lo! - repeti e ele riu mais, os olhos brilhando me deixando com mais raiva.

- Acalme-se. Está exagerando e imaginando coisas. O cachorro não morreu, apenas rolou alguns metros na rua e estragou o chapéu. E eu não disse que não fui com a sua cara. E por último, sou o único policial da cidade, e não poderia mandar prender a mim mesmo. Imagine como seria complicado colocar as algemas em meus próprios pulsos! - Eu cerrei os dentes.

- Eu ajudaria.

- Acalme-se, garota. Estava apenas lhe dando uma lição. Você precisava de um corretivo.


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