Doce Problema escrita por Camila J Pereira


Capítulo 2
O Vingador


Notas iniciais do capítulo

Riam bastante com o encontro dos dois.



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Bella

Como acreditar naquilo? Tinha saído da realidade e entrado em um filme de terror. Estava com um problema, mas era um problema com P maiúsculo. Mesmo com este problema não poderia permitir que me pressionassem. Ainda mais se eu não tinha culpa de nada. Poderia achar até cômica a situação, se eu não estivesse um pouco irritada.

Por sorte eu era uma pessoa otimista, sabia ver o lado bom das experiências. Assim que esclarecesse tudo com o tal xerife sairia o mais depressa possível dessa cidade hostil, de nome que não parecia combinar nada com ela: Hope Falls, tá bom. Depois de me mandar daqui a questão seria apenas uma lembrança. Desagradável, é claro, mas bem distante.

Nada que um breve telefonema para o meu querido advogado, Dr. Gilbert, ou apenas Emmet, resolveria tudo. Recordar dele fez com que sentisse uma pontada de culpa, por ter saído assim tão rapidamente e mesmo tentando negar senti saudades também. Emmet sempre tentava se aproximar, sabia que ele gostava muito de mim, e certa vez ele citou “como se fosse a minha irmã” quando falava do que sentia, mas eu não queria mais aquele tipo de apego, ou qualquer outro.

Ah droga! Nunca tinha passado por isso, não era uma criminosa, pelo menos não intencional. Foi muita má sorte ter perdido a minha carteira com dinheiro e cartões de crédito. Quando Emmet soubesse disso não poderia fugir de um belo sermão por minha decisão de atravessar o país de moto. Eu quase me arrependia por ter viajado.

Olhava para a garçonete da mesa em que estava, ela era insuportável. Olhar para ela trabalhando com ar de expectativa depois que me ofendeu de tudo quanto foi maneiras, mesmo lhe informei que tinha perdido a minha carteira, me deixava irritada. A cretina berrou que ligaria para o xerife e eu pedi, implorei que não o fizesse, mas ela fez. Aquela mulher nada agradável, era um pouco mais alta do que eu, tinha cabelos castanhos bem escuros e seu cachos proporcionavam um grande volume neles, sua pele era clarinha e tinha olhos também castanhos escuros. De vez enquando lançava olhares mortais para mim do balcão.  Como se eu tivesse medo de cara feia. Olhar mortal só do Ciclope ela tinha que saber disso.

- O xerife chegou. Prepare-se.  - A garçonete apontou o dedo em riste para a janela depois para mim. - Você esta em maus lençóis, garota da cidade! - Ela pronunciou as últimas palavras em um tom bastante agressivo.

Era fato, ela realmente me detestava e eu não morria de amores por ela. Virei-me para ver a reluzente viatura preta da polícia estacionada diante do estabelecimento. Senti uma pontada na cabeça. As minhas mãos começaram a suar. Ótimo! Vou ter um ataque cardíaco, muito longe de alguém que conheço e nesse fim de mundo o Emmet vai demorar muito para me achar. Até lá eu estarei morta. Eu abaixei a minha cabeça mirando o chão. O que tinha feito para merecer aquilo? Bem, não queria mesmo pensar em meu passado naquele momento.

Sentiu meu coração disparar ao ouvir o barulho das botas em um caminhar duro. Esperava sinceramente por uma pessoa relaxada e bondosa que risse comigo da situação e me permitisse viajar em paz. Mas eu não tinha mesmo sorte, em vez disso, vi-me diante de um vingador de Hope Falls. Alto, ombros largos, abdome reto, ameaçador no seu uniforme bege. Quase não se via o seu rosto. Usava um chapéu de cowboy e óculos escuros. Eu nunca vi maxilares tão simétricos, nem queixo tão intimidador. E os lábios finos que pareciam esculpidos em mármore! Aliás todo ele parecia escupido em mármore! Ah Deus! O que é que eu estou pensando? Não importava a sua aparência, isso não mudaria o fato de que ele estragaria o meu dia, com toda a certeza. Escondi a cabeça nos braços cruzados sobre a mesa, esperando a sentença.

- Deus porque me abandonastes? Hoje não é o meu dia! - Desabafei. Ele parou junto a mim.

- É está aqui? - A voz grave soou num tom impessoal. - “É esta aqui?”, já se referia a mim como uma criminosa.

Não havia nenhum sinal de cordialidade no sotaque regional. O meu otimismo desapareceu por completo, como água na areia. Perguntei-me que idade eu teria quando conseguisse sair da cadeia. A garçonete contou a história, desde o início, e ouvir a sua voz enjoada me desanimava ainda mais. Ela encerrou com desdém:

- O mais engraçado xerife, é que ela só notou a falta da carteira depois de ter comido por dez pessoas! - Como ela se atreve?

- Ora essa, eu protesto! - Levantei a cabeça focalizando a odiável garçonete. Não me atrevia a olhar para o xerife. - Comi uma refeição muito bem balanceada. Aprendi a me alimentar bem. Experimente dirigir uma moto por oito horas só para saber o que é ficar faminta!

- Tá bom. - Ela bufou.

– Aquela Harley lá fora é sua? - O xerife quis saber. Eu suspirei fundo antes de me obrigar a enfrentar os olhos dele, escondidos pelos óculos escuros.

- Talvez... - Falei evasiva. - A essa altura, nem sei se é melhor confirmar ou negar, só para não ser acusada de mais nada.

Por um longo e desconfortável minuto, ele não disse nada. Assim de perto, eu percebi a covinha em seu queixo. Os maxilares eram moldados com perfeição, o nariz reto, a postura irrepreensível. Devia ser verdade o que falavam sobre os benefícios do ar puro do campo. O vingador assobiou.

- Sabe de uma coisa? É você mesmo. - Ele falou em fim. Eu fiquei totalmente perdida, parecia que eu tinha sido abduzida no momento em que estava conversando com ele e de repente voltei no meio da conversa. A irritante ao lado dele também parecia confusa. Franzi o cenho, sem entender nada. Aquilo só poderia ser uma cilada para me obrigar a admitir algo.

- Não sei do que esta falando, mas não fiz nada de errado. Sou apenas uma viajante inocente que teve a infelicidade de perder a carteira. Acredite, eu teria passado reto se soubesse que o povo daqui era tão paranóico e amargo. - Olhei para a garçonete quando falei a última palavra, ela fez uma pequena careta. Voltei a olhá-lo e seus lábios recurvaram-se num sorriso torto quase imperceptível.

- No momento em que vi seus cabelos ruivos soube que estava arranjando uma grande encrenca para mim.

Eu o encarei sem acreditar no que ouvia. Aquelas pessoas nem me conheciam e já me julgavam e pessimamente. Limpei os farelos de tortilhas da calça jeans e me levantei. Chegou a hora de assumir uma atitude defensiva. Sentada, me sentia em desvantagem. Ainda assim, faltava muito para ficar da altura dele. Se ele esticasse o braço, roçaria direto em meus cabelos. Que pensamento para se ter agora Bella!

- Vamos esclarecer essa questão. Eu estava com fome e decidi parar para comer. Antes que tivesse tempo de me defender, fui acusada de todos os tipos de coisas que não fiz. Pelo menos, não de propósito. Não sou nenhuma criminosa que viaja de cidade em cidade de moto aplicando golpes em restaurantes como ela parece pensar.  - Eu fulminei a garçonete com um olhar feroz e ela me olhou como se não acreditasse em nada o que eu dizia. - E vou lhe dizer mais uma coisa.

- Oh, céus! Ela ainda não terminou! - Ele zombou.

- Este lugar já é um problema por si só. Todos são muito hostis. - Eu fiz uma pausa e acrescentei de má vontade: - Bem, nem todos. Aquela senhora de cabelos brancos fazendo crochê ali no canto foi muito simpática. Veja como ela está sorrindo para mim. Gostei dela, mas mesmo assim não vejo a hora de ir embora daqui. - Ouvindo a conversa, a referida senhora acenou para o xerife que virou para olhá-la.

- Olá. Você está muito bonito de chapéu novo. - A senhora falou sorrindo.

- Sempre bem falante, Elizabeth. - O xerife fitou a garçonete. - Você não disse que minha avó estava aqui, Jéssica. Isso explica muita coisa, deveria ter observado isso. - Então o nome da cretina era Jéssica?

O xerife tirou os óculos, girando-o em pequenos círculos. Os olhos verdes que me encararam eram luminosos e penetrantes, realçados pelo rosto corado do sol. Muito mais bonitos e humanos do que eu poderia ter imaginado. Eu arfei e isso não foi nada bom.


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