[Lysandre] Lady De Circo escrita por La-Fenix


Capítulo 4
A loucura me observa


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos pelos reviews! Vale avisar que esse cap será diferente dos outros, será mais dramático e talvez vocês estranhem mas vai ser super necessário para o enredo que estou planejando (não será algo vazio só pra ter romancezinho besta).
Qualquer coisa que eu possa melhorar é só me falar! ♥



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Desci do ônibus em seu ponto final sem nenhum outro passageiro no mesmo para descer comigo. Era a periferia da cidade, ficava numa zona isolada e consistia basicamente em um vasto campo aberto onde se podia vislumbrar somente o ponto de ônibus que ficava em frente a uma loja de conveniência.
“O Dimitry vai querer me matar. É quase uma da tarde.”
O meu sombrio parceiro era metódico em tudo que fazia e detestava ser atrapalhado por minúcias como: Meu ônibus dá a volta na cidade antes de chagar no meu ponto.
Ajeitei a mochila nos ombros e olhei no horizonte onde havia uma enorme tenda colorida montada, se eu fosse andando provavelmente demoraria uns vinte minutos para chegar lá e se eu demorasse tudo isso seria a escolhida da noite para lavar a louça.
–Bom... Se você faz em vinte pode fazer em cinco. –Comecei a correr, num ritmo acelerado pela estrada de asfalto velha.
Minha sorte foi o clima ameno do dia, porque se eu tivesse que correr no calor provavelmente chegaria no circo molhada se suor. Parei de correr a alguns metros de tenda de apresentações onde se via um letreiro luminoso com os dizeres ‘Circo Dame Des Cruzes’, ofegante, fui para a parte de trás do lugar onde se encontrava as acomodações do elenco.
Murmurei para mim, enquanto tentava ser silenciosa e passar despercebida pela tenda de Dimitry, que era (por danação divina) ao lado da minha:
–Calma Celina... Ele deve estar treinando com o resto do povo. Calma... Calma... –Soltei o ar aliviada, ao chegar à entrada da minha tenda. –Ufa!
Entrei na tenda de lona bege, confiante e quase dei um pulo ao encontrar Dimitry sentado na minha cama com uma expressão severa.
–Você está atrasada. –Ele foi hermético e frio, se levantou e ficou na minha frente.
De pé ele era quase meio metro mais alto do que eu e tinha um cabelo castanho acinzentado abaixo da cintura lindo. Sempre tive receio em lhe encarar pelos olhos, pois qualquer que fosse a expressão que ele demonstrasse por fora, eles eram sempre tristes.
-Não tive culpa, a escola é longe daqui e você sabe! –Tirei a mochila dos ombros e dei a volta por ele para colocá-la na cama. –Vou me trocar para treinar, se me der licença.
Dimitry deixou minha tenda mudo e não se deu ao trabalho de me olhar.
Eu o amava como se ele fosse meu irmão, mas suas atitudes às vezes me tiravam do sério.
‘Você deveria ser menos impulsiva. ’
A voz de Lysandre atravessou minha mente e a sensação de sua mão no meu ombro voltou. Senti um arrepio por toda a espinha e peguei minhas roupas de treino para me trocar rapidamente.
–Mas ele nem perguntou como foi o meu dia... –Após me trocar fui apressada até a tenda de treino e encontrei Dimitry se alongando perto do poste de trapézio.
Coloquei um braço nas costas para começar a me alongar, e me aproximei dele falando casualmente.
–Desculpa Dimitry, sei que não deveria agir assim com você. –Ele se abaixou e começou a alongar as pernas. Fiz o mesmo só para termos o mesmo nível de olhares. –Eu tive um dia estranho, e acabei descontando meu nervosismo em você.
Suspirando um pouco ele finalmente me olhou nos olhos e disse:
–Já entendi. Não precisa se desculpar tanto Celina. –Dimitry se levantou e começou a subir no poste do trapézio. –Vamos treinar depois você me fala do seu dia na escola, que tal?
Sorri alegre e subi no outro trapézio. A vista lá de cima era incrível e a rede de segurança parecia um quadriculado costurado no chão, apesar de ser uma rede com quase dois metros de distância do chão.
–Vai ser um salto simples pra começar? –Dimitry assentiu e se preparou para o salto ficando de cabeça pra baixo na barra do trapézio, somente com a parte de trás do joelho encostando-se à mesma.
–Encoste os dedos nos pés e mergulhe que eu te pego! –Peguei impulso como se estivesse num balanço de criança e quando atingi a distância máxima que a barra me permitia, soltei as mãos e dei um giro no ar encostando os dedos das mãos no pé, exatamente como Dimitry havia me pedido.
A sensação que se tem nesses momentos é difícil de explicar. Parece que você está voando e caindo ao mesmo tempo, e que tudo ao seu redor para ver o que acontece, é muito inebriante.
E sempre quem me trás de volta a realidade é o Dimitry.
Ele segurou firmemente meus pulsos e falou numa voz gentil.
–Ótimo Celina! Volte, vou te dar um impulso médio, consegue voltar?
–Sim. –Me ergui um pouco segurando os pulsos do meu parceiro e juntos demos um impulso forte o suficiente para me levar de volta a minha barra. Não sei como, pude colocar os pés no trapézio e ficar como uma garotinha em pé num balanço de parque.
–Caraca! Você viu isso Dimitry? –Ele havia se levantado e estava na mesma posição que eu, com um olhar abismado.
–Realmente você melhorou muito desde que começou aqui... –Aproveitei um pouco a sensação de ser elogiada e pulei para junto de Dimitry.
Ele segurou minha mão como se fosse um cavalheiro e me puxou para perto dele.
–Você me lembra uma pessoa que eu gostava muito... –Olhei para Dimitry estranhando sua reação, eu havia ido ao seu lado para lhe mostrar meu ótimo equilíbrio e falar do meu dia. Eu realmente nãotinha visto nada demais nesse gesto.
–Dimitry você está bem? –Tentei levar sua frase na brincadeira e coloquei a mão na sua testa para ver se ele tinha febre. –Acho que o Charlie colocou algo no seu chá...
Dei uns risinhos constrangidos e pulei na rede de segurança, caindo por alguns instantes em queda livre.
“Ele está me associando a Mary de novo...”.
De vez em quando, principalmente em dias em que brigávamos, o Dimitry começava a falar numa tal de Mary. Acho que ela era namorada dele ou algo do tipo, porem o problema acontecia quando ele me associava a ela.
Uma vez ele tentou me beijar achando que eu era ela, não foi nada sério e ele só ficou com uma marca da minha mão na cara por uns três dias. Nesses dias eu, no entanto, me afastava dele mais pelo desgosto de ser uma substituta para ele do que pela minha integridade física (admito que quando eu cheguei no circo tinha uma queda por ele).
Saí da tenda de treinos cabisbaixa e trombei com Charlie na frente da cozinha do circo.
–Oi Celina! Como foi o seu primeiro dia? –Olhei pra ele com vontade de dizer ‘Uma bos$%’.
–Você tem alguma coisa de bom pra comer? –O povo do circo almoçava cedo e o meu almoço dali pra frente seria solitário e composto por sobras.
–Na verdade eu ia pedir pra você comprar uns ingredientes para o seu almoço no mercadinho... –O moreno colocou a mão atrás da cabeça e deu um risinho constrangido.
–Você podia ter me pedido isso mais cedo! O mercado é no meio do nada e tá ficando tarde! –Não dei tempo pra ele me responder e peguei a lista de coisas que eram para serem compradas de sua mão. –Volto em meia hora.
Peguei uma ecobag que estava na bancada da nossa cozinha e tirei uns trinta reais do potinho de dinheiro para pagar pelas compras.
Saí da do acampamento com minhas roupas simples de treino e fiquei o caminho todo o caminho resmungando:
–Só eu pra ter um parceiro com distúrbios mentais! E aquele Charlie, fica o dia inteiro vagabundeando na cozinha e não vai ao mercado!
Meus resmungos fizeram o tempo passar mais rápido e quando dei por mim estava em frente ao ‘Mercado de Tudo’. Entrei no lugar com a lista em mãos e fui pegando os ingredientes sem prestar muita atenção nas marcas ou coisas assim para ir direto ao caixa.
-Deu R$ 24,40. –A moça no caixa pegou o dinheiro distraída e eu coloquei as compras na sacola saindo do mercado em seguida.
O cansaço me dominava e a fome também, o que me fez andar vagarosamente pela estrada por alguns minutos, quando fui interrompida.
–Oh gatinha! –Ignorei os garotos que haviam começado a me seguir. –Vai nos ignorar é?
Fui cercada por uns três garotos e comecei a suar frio.
–O que vocês querem?
Eles começaram a rir da minha cara, e eu abaixei a cabeça com medo, tinha péssimas lembranças com pessoas assim.
Senti minha sacola ser arrancada da minha mão, minha respiração estava audível e fui empurrada violentamente contra o chão tendo minha bochecha ralada no impacto. Como se aquilo não bastasse recebi um chute no ombro e depois uma sucessão deles nas costas.
“Isso não pode estar acontecendo de novo... Não pode... Não pode...”.
Fechei os olhos e recebi cada golpe submissamente sem me importar mais com a dor.
“Garota inútil! Você deveria morrer!”
Outras vozes tomaram minha mente, eu voltava no tempo e ouvia a voz de outras pessoas.
“Seu filho do demônio! Merece morrer!”
Meu corpo estava dormente, cada músculo parecia ser alfinetado por agulhas de gelo.
–Vendo agora ela realmente parece ser bonita... –Senti mãos passarem pelo meu corpo e deixei lágrimas caminharem pelo meu rosto. Neste momento... Meu corpo se desligou para o mundo, isso me fez esquecer a dor e a humilhação.
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Um rapaz com cerca de dezessete anos saiu do mercado carregando uma sacola nas mãos. Ele olhou para o horizonte e viu um grupo de jovens aglomerados na estrada.
-Que estranho este lugar costuma ser deserto... –Contradizendo sua lógica de se afastar de encrenca ele se aproximou da confusão.
“Não pode ser... Você não está indo até lá porque acha que a Celina está no meio.”
A teoria não era impossível, o circo dela era perto dali.
Era um trio de rapazes, havia um moreno mediano com cara de malandro, um loiro com a sua altura e outro moreno baixo. Lysandre deixou a sacola de compras cair no chão quando viu o que eles faziam. Todos estavam aglomerados ao redor de uma garota caída no chão, muito maltratada lhe tocando e rindo. Sem ter que pensar muito investiu contra o mais baixo o pegando pelo colarinho e lhe deu uma joelhada no estômago, o moreno caiu no chão surpreso pelo ataque surpresa, e o grisalho se virou para os outros dois com os olhos em chamas.
Poder-se-ia dizer que galhos de fogueira, eram quebrados para quem ouvia de longe... Pois foi esta a melodia macabra que foi ouvida naquela tarde...
–Perdoe-me, não deveria ter sido tão bruto. –Lysandre tirou seu casaco e o colocou na garota caída, ela ainda tinha os olhos abertos, mas sua expressão de choque e o sangue que escorria de sua boca diziam que ela ‘não estava mais ali’. –Se bem que eles mereceram.
O rapaz a pegou nos braços e a levantou sem dificuldade, sua cabeça se acomodou no ombro dele e enquanto caminhava até o circo Lysandre sentiu lágrimas escorrerem soltas e se infiltrarem no fino tecido de sua camisa.
–Me deixe... Levar minhas tristezas só vai lhe fazer sofrer.
Lysandre continuou a caminhar e tentou se manter integro. Se ela continuasse em choque não teria que sofrer pelo que acabara de acontecer, o coração do rapaz se retraiu no peito ao imaginar o que ela estaria sentindo.
–Sofrimento seria não ver mais seu sorriso.

Continua no próximo episódio...



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Notas finais do capítulo

Ui, essa me deu um calafrio na espinha!Fiquei com pena da Celina mas quando eu postar o próximo vocês verão que de certo modo valeu a pena.



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