Capítulo 7 - Quatro por Quatro

E é com tristeza que relatamos que o mais antigo teatro da cidade fora incendiado ontem, dia 22 de Setembro. Os culpados ainda não foram identificados, porém câmeras de prédios próximos ao teatro Annabelle captaram a imagens de quatro pessoas encapuzadas correndo pelas ruas desertas. Não se sabe distinguir a idade e o sexo das pessoas, mas investigadores locais já receberam ordens para procurar com mais clareza sobre o assunto.

Segundo a autoridade Zoe Nightshade, há uma possibilidade de que tenha sido tudo armado. “As autoridades locais estavam desestabilizadas devido a alguns sequestros, e por isso nossa reta guarda estava um pouco mais fraca que o normal” – foram suas palavras.

A jovem também relatou que é algo extremamente estranho uma bomba ter estourado no dia exato do show dos ilustres e famosos ilusionistas, os Três Grandes. “Segundo Luke Castellan, o braço direito da administradora chefe dos ilusionistas, a equipe inteira estaria no teatro as 16h00min horas, incluindo Thalia Grace, Percy Jackson e Nico Di Ângelo. É de fato uma sorte que o show tenha sido cancelado de última hora, por isso apenas algumas poucas pessoas da equipe estavam no lugar. Mas o que temos pensado é que talvez a bomba tenha estourado com o objetivo de atingir algum alvo em especial, mais especificamente, os Três Grandes.”

As câmeras internas do teatro mostram movimentação de quatro pessoas: Um assistente de câmeras, a administradora chefe dos Três Grandes, Reyna Avila Ramírez-Arellano, o apresentador Leo Valdez e uma estranha pessoa encapuzada. Diferente dos quatro fugitivos, esta pessoa estava usando calças e jaqueta pretas de couro, óculos escuros e um gorro roxo na cabeça. Devido ao porte e as vestimentas da vítima, pode-se dizer que a pessoa era uma mulher.

Nos restos do lugar foram apenas achados partes dos corpos incinerados do assistente de câmeras, mas nem sinal dos outros três.

*As imagens das câmeras eram controladas por uma central, por isso estão salvas e disponíveis para investigações de emergência*

Naquele momento, provavelmente nada no mundo poderia ser comparado com a ansiedade de Annabeth Chase.

“Por que raios esse ônibus dos infernos tem que parar em tantos pontos?” – pensou indignada.

Era inacreditável a capacidade do motorista de dirigir tão vagarosamente. O assunto que precisava tratar era mais que importante, e não havia tempo para nenhum tipo de atraso.

Como se não bastasse à lerdeza do motorista, o ônibus estava parcialmente lotado. Por sorte, Annabeth subira no segundo ponto e conseguiu sentar-se em um lugar ao fundo. Como era de se esperar, o automóvel cheirava a queijo podre e a jovem sentia-se como uma formiga dentro de um formigueiro.

E para completar sua desgraça, um homem estranho e extremamente misterioso estava sentado ao seu lado.

Olhando pela janela, podia ver as pessoas andando na calçada de pedras, falando ao celular, conversando com amigos, passeando com seus cachorros ou apenas comprando algo em alguma banca de jornal.

De fato Annabeth não conseguia esquecer o enorme texto do jornal que saíra pela manhã, que falava sobre o incêndio do teatro AnnaBelle. Era estranho, mas a loira tinha uma sensação de desconforto quanto a isso. Algo lhe dizia que a mesma pessoa que lhe mandara a carta ha alguns dias tinha relação com o incêndio.

A.M.

Quem seria esta pessoa? O que significa A.M? Teria ela relação com o incêndio? E com os sequestros? A jovem não tinha a menor ideia do que poderia acontecer em seguida, mas tinha algumas hipóteses em mente.

A.M poderia ter sequestrado as pessoas e tê-las matado só por ser cruel mesmo, ou poderia ter mantido em cativeiro e pedido dinheiro em troca, ou...

Annabeth gelou.

Não, A.M não poderia ser tão calculista (a).

Em uma fração de segundos, Annabeth colocou suas mãos na bolsa e agarrou com força o jornal. Pela milésima vez nesta manhã, ela leu o enorme texto que era a reportagem principal escrita na capa.

A cada parágrafo os olhos já arregalados da jovem pareciam querer pular de suas órbitas, e, rapidamente, Annabeth tratou de pegar uma caneta que sempre mantinha em sua bolsa e começou a marcar o jornal.

Após fazer algumas anotações importantes na borda do jornal, Annabeth finalmente ergueu os olhos para a rua.

Quase não tinham saído do lugar, e sua tensão parecia não parar de crescer.

Com impaciência, a jovem recostou sua cabeça na janela, e ainda com o papel em mãos percebeu que o homem encarava o mesmo. Então, discretamente, dobrou o jornal e o guardou em sua bolsa, tentado acima de tudo esconder seu nervosismo.

Mesmo após ter guardado o jornal, o estranho homem continuou a encará-la de uma maneira um pouco suspeita.

“Pronto, é aqui que eu vou morrer” – não pôde deixar de pensar ao observá-lo com a testa franzida.

Mas... Espere.

De alguma maneira ele parecia familiar. Será que já o teria visto antes?

Os cabelos longos e castanhos do homem caiam sobre seu rosto e seus óculos escuros eram de marca. Ele era incrivelmente magro e pela maneira que sentava um pouco desleixado. Não deviria passar de seus um metro e setenta centímetros, e seus dedos que estavam à mostra por baixo do terno eram finos e ao mesmo tempo longos. Metade de seu rosto era coberto por uma camada fina de pelos faciais e ele não parecia ter mais de 25 anos de idade.

– Senhor – pigarreou ela, visivelmente desconfortável – Nós nos conhecemos?

No mesmo instante o homem desviou o olhar dela e negou com a cabeça.

– Estou certo que não – sua voz era um pouco rouca, do tipo que falou muito em sua vida inteira.

Poderia ser apenas impressão de Annabeth, mas aquele homem parecia estar escondendo algo.

A jovem suspirou e encostou sua cabeça na janela do ônibus. Já não tinha mais tanta certeza do que iria fazer ao chegar ao seu destino, porém era certo que teria que omitir alguns fatos.

De “provas”, ela até agora apenas tinha duas, e ambas giravam em torno de um único fato... Ou melhor, uma cor.

Roxo.

*** Y.C.S.M ***

– Malcolm! – a voz imponente do superior Frank Zhang soou pelo cômodo – Chame Nightshade, Gardner, Rodriguez, Solace, Mason e Beckendorf. Mando-os aparecer em cinco minutos na sala de reuniões.

– Sim senhor – Malcolm assumiu uma postura mais séria – permissão para sair, senhor?

Bastou um leve aceno de cabeça de seu superior para Malcolm bater continência e sair apressado pelos corredores. Era visível que o chefe estava com o humor péssimo, e ninguém gostaria de ver realmente Frank Zhang irritado.

Após alguns longos corredores, Malcolm finalmente avistou a sala de seus companheiros de trabalho.

– O que você quer, Malcolm? – Will Solace foi o primeiro a perguntar. Seus cabelos loiros brilhantes estavam meio bagunçados e seus olhos azuis pareciam fuzilar Malcolm por tê-lo interrompido no meio de seu trabalho.

– O senhor Zhang ordenou que todos vocês aparecessem imediatamente na sala deu reuniões – Malcolm ergueu uma sobrancelha e franziu a testa – Falou para aparecerem em no máximo cinco minutos.

Os companheiros pareciam visivelmente confusos, e Katie Gardner não se fez de rogada ao se pronunciar:

– Tem alguma ideia do motivo desta reunião? – indagou.

Malcolm negou com a cabeça.

– Nenhuma – fez uma pausa, olhando para os lados antes de prosseguir – mas devo assegurar que não é boa coisa.

– Por quê? – Katie perguntou no mesmo tom baixo.

– Ele parecia bem estressado. Eu acho melhor vocês correrem, com certeza o senhor Zhang não vai gostar caso demorem.

– Certo – Zoe Nightshade assumiu a dianteira e começou a caminhar a passos rápidos pelo corredor, rapidamente sendo seguida pelos outros – obrigada Malcolm.

E sem esperar para escutar o “boa sorte” de Malcolm, os seis já tinham tomando o rumo da sala de reuniões.

A.M - Chase, Annabeth Chase.

Será que é mesmo tão esperta a ponto de entender a mensagem que eu estou tentando lhe passar?

Sim?

Talvez...

Ainda continua uma pobre garotinha ingênua.

De qualquer maneira, em todo jogo primeiro montamos a estratégia, depois arrumamos as cartas da maneira certa e cuidamos para que tudo corra da maneira que planejamos, para por fim mostrarmos o "A"s escondido em nossas mangas.