Não poderia dizer que pensou antes de simplesmente procura-la e tirar satisfações, ou que tinha ao menos ponderado e dito a si mesmo “espere um segundo” porque isso definitivamente não havia acontecido. Naquele momento foi levada totalmente pelo ciúme e medo de tê-la perdido de vez. Não pensou, não ponderou, apenas o fez.

            Quando chegou a emergência e a avistou falando com um dos residentes não pensou em recuar, estava cega por aquele sentimento, seu coração estava acelerado, e seu rosto levemente ruborizado. Caminhou até ela e a puxou pelo braço, até a sala vazia mais próxima a deixando surpresa demais para reagir.

            Callie a olhou furiosa – O que pensa que está fazendo? – gritou quando entraram em uma das salas de trauma.

            Esse era o problema, ela não pensava. – Sei que está irritada comigo...

            - Irritada? – ela indagou ironicamente – Eu não estou irritada, Arizona, estou magoada, com raiva, irritada é muito pouco.

            A loira a olhou tristemente. – Ok. Mas não é por isso que te puxei até aqui.

            - Então qual é o motivo? – indagou com impaciência.

            - O que há entre você e Miller?

            - O quê? – ela a olhou chocada – Isso não pode ser sério!

            Arizona apenas ficou parada olhando para ela, esperando uma resposta.

            - Você me puxou até aqui para me perguntar isso? – ela gritou – Está de brincadeira, certo?

            Ela apenas negou com a cabeça. Naquele momento não parecia uma ideia tão absurda assim, afinal, ela era sua mulher.

            - Você não tem direito nenhum de me fazer essa pergunta, está ouvindo? Nenhum! – gritou mais uma vez, era difícil manter-se calma com aquilo.

            - Callie... – chamou.

            - Você mentiu! Me fez acreditar que estava tudo bem entre a gente e depois me traiu, e jogou tudo aquilo na minha cara. – ela gritava como se aquilo pudesse tirar toda a dor que estava sentindo, mas não poderia, nunca. – Então você não tem nenhum direito de me arrastar até aqui e me perguntar o que está acontecendo entre eu e ela – Arizona tentou argumentar, mas foi cortada pela morena, ela não queria ouvir nada, apenas falar e tirar tudo aquilo que estava preso. - Porque você não é mais nada minha, e aqueles votos, não valeram nada porque você os desonrou. – ainda gritava mostrando toda a magoa que guardou durante todo aquele tempo.

            Arizona sentiu seus olhos enchendo de agua, queria chorar, queria pedir perdão, e dizer que sentia muito que fora um erro aquilo tudo, que gostaria de voltar ao tempo e fazer tudo diferente, mas não podia.

            - Calliope... – chamou mais uma vez, mas antes que ela terminasse a morena saiu da sala e bateu a porta.

            A loira olhou para onde a mulher que amava havia acabado de sair e não aguentou, chorou por tudo, desde o acidente até a tempestade, e por estarem desse jeito, separadas.

            -Fix a Heart-

            Tinham bipado ela há muito tempo, mas não estava pronta, depois da discussão com Callie sentia-se frágil, e não poderia demonstrar isso, lavou o rosto seu rosto, colocou um sorriso no rosto, e andou o mais depressa que podia até a pediatria. Quando chegou ficou surpresa com Amber ali, tentou não demonstrar seu desgosto ao vê-la ali perto do paciente e foi até ela.

            - Onde está a Callie? – indagou Arizona. Por que não estava surpresa? Era obvio que não iria aparecer, ainda mais depois daquela discussão, mas mandar a nova namoradinha dela, sério?

            - Está ocupada com alguns pacientes, então ela me mandou. – respondeu Amber sorrindo.

            - Ah sim, certo. – disse com um sorriso forçado. - Então, qual é o problema?

            - Scott, 12 anos, sofreu acidente de moto, e está com dores intensas na região do abdome. – diz Brooks.

            - Certo, faça uma CT do abdome, e me chamem quando estiver pronto. – disse Amber sorrindo. – Já voltamos para te ver, rapazinho.

            Ele acenou brevemente com a cabeça enquanto elas saiam da sala.

            - Sabe que provavelmente vamos ter que opera-lo, não é? – questionou Arizona.

            - Não trabalho com suposições, vamos esperar o resultado dos exames. – respondeu ela saindo.

            Que mulher mais impertinente, pensou. Definitivamente Arizona a odiava.

            -Fix a Heart-

            - O que deram os exames? – indagou Amber olhando para os exames do garoto.

            - Quebrou a patela, e está sangrando internamente devido à perfuração no intestino? – Indagou Brooks.

            Ela balançou assentiu, ainda olhando os papeis.

            - Está correto, agende uma SO, vamos opera-lo, enquanto isso, irei avisar os pais. – ela disse.

            - E posso entrar na cirurgia? – indagou a interna.

            Amber sorriu – Claro. – respondeu saindo da sala para avisar os pais do garoto quando Arizona passou por ela e a parou.

 – Então o que deu?

            - Está meio atrasada, não? – indagou.

            Ela olhou para Amber com raiva. – Certamente, porque está um caos na emergência.

            - Certo. Vamos opera-lo mandei, Dra. Brooks agendar uma SO.

            - Qual foi o diagnostico?

            - Se atualize, Robbins. – disse saindo sem dar a mínima para os resmungos de Arizona.

            -Fix a Heart-

            O clima da Sala de Operação não poderia ter ficado pior, todos esperavam no momento que elas iriam cortar uma a outra com o bisturi, quando não estavam fazendo comentários sarcásticos e irônicos, estavam brigando por não aceitar o jeito uma da outra de operar, mesmo o jeito de Amber sendo parecido com o de Callie.

            Ela sabia que Miller apesar de ser uma pessoa detestável, era uma ótima cirurgiã, apenas com o que viu na SO, mas não admitiria nunca aquilo, para ninguém. A cirurgia havia corrido bem, o garoto estava estável, e não corria nenhum risco, isso a deixou com um bom humor para tentar ser cordial com a loira.

            - Ótimo trabalho, Dra. Miller. – elogiou Arizona.

            - Digo o mesmo, Dra. Robbins – sorriu Amber estendendo a mão para a loira.

            Ela olhou para a mulher a sua frente com uma sobrancelha arqueada, aquilo seria uma trégua?

            Hesitou por alguns segundos antes de apertar a mão dela sorrindo um pouco forçadamente, mas se soltaram rapidamente cada um seguindo seu caminho.

                        -Fix a Heart-

            Estava pensando muito naquilo ultimamente, em contar tudo a Callie, de como se sentia, pois parecia estar a cada segundo ficando mais sufocada com tudo, e depois que teve que ficar duas horas na mesma sala com Arizona, sua vontade, havia diminuído, por mais que não gostasse dela, não poderia competir.

            Mas mesmo assim, mesmo tendo diminuído alguns centímetros a vontade, a cada segundo parecia que iria explodir se não falasse, e aquilo estava a deixando maluca, quando enfim, a tortura de passar o tempo com Arizona passou, saiu da sala apressadamente.

            Andou pelos corredores até encontrar a sala onde os atendentes ficavam, e entrou sem nem se dar conta que Callie estava no canto sentado com o rosto e os olhos vermelhos de tanto chorar.  Quando a notou ali, sentiu seu coração apertar, e chegou mais perto, e tocou em seu ombro, ela se assustou com o toque repentino, mas ao vê-la ficou mais tranquila.

            - Desculpe, não queria te assustar. – disse Amber sentando ao seu lado.

            - Tudo bem. – disse sorrindo um pouco.

            - O que aconteceu? – indagou colocando a mão na perna da morena que sentiu um arrepio.

            - Nada, não se preocupe. – respondeu colocando sua mão em cima da dela a apertando de leve.

            - Sabe, que pode falar para mim, não é? – ela assentiu e ficou a fitando por algum tempo até decidir falar.

            Ela resolveu contar tudo, Amber estava sendo uma ótima amiga, não iria esconder as coisas dela, disse desde o acidente até a parte que elas brigaram a pouco menos de três horas, Amber ouvia com atenção, e enxugava as lágrimas de Callie, e a consolava, mas não dizia nada até ouvir a parte que a deixou alerta máximo.

            - Espera... Ela acha que estávamos tendo algo? – indagou nervosa. Ela tinha dado tão na cara que gostava dela?

            - É... – respondeu estranhando o nervosismo de Amber.

            - E por que ela acharia algo assim? – disse mexendo nervosamente nos cabelos.

            - Não sei... – Ela a olhou alguns segundos.

            Ela estava surtando, se Arizona já tinha percebido ou alguém contado a ela, seria questão de horas, ou dias para ela saber também, e se soubesse por outra pessoa que não fosse ela, talvez, a amizade delas acabasse.

            - Callie, acho que preciso te contar uma coisa. – disse levantando e andando de um lado para o outro deixando a morena ansiosa.

            - Tudo bem, mas pare de andar de um lado para o outro está me deixando nervosa.

            Ela assentiu e parou a olhando fixamente, molhou os lábios com a língua e respirou fundo.

            Agora não tinha mais volta.

            - Amber? – chamou Callie ansiosa.

            Ela respirou fundo mais uma vez, tomando coragem.

            - Nós temos apenas uma coisa em comum, você gostava de homens, então um dia se apaixonou por uma mulher, e agora é casada com uma que lhe magoou profundamente, sem você merecer, porque você é mulher maravilhosa. – Callie sorriu um pouco com elogio - Aonde eu quero chegar é que, Callie, eu me apaixonei por você. – o sorriso dela desmanchou um pouco, dando lugar a uma expressão preocupada - Eu não sei por que, eu apenas vi nesses meses em que estou aqui no hospital que todos te adoram, e posso perceber o porquê, você é magnifica, e eu te amo. – Ela a olhou ansiosa, seu coração acelerado, era a primeira vez que estava dizendo isso para alguém - Eu sei que nunca vai ser reciproco o sentimento, que você nunca vai sentir o mesmo que eu sinto, porque por mais que você esteja magoada com a Arizona, ela ainda é a mulher da sua vida, e nunca vai deixar de ser. Só quero que saiba que apesar de eu te amar, não irei sair do teu lado, e se você decidir voltar pra ela, eu vou te apoiar, mas se eu tenho alguma chance com você eu quero que me diga – A morena não dizia nada, estava chocada demais para formular alguma palavra ou frase - Não vou prometer porque promessas são facilmente quebradas, mas vou te mostrar que eu posso tentar te fazer feliz.

            Quando enfim terminou de dizer apenas ficou fitando Callie em expectativa, medo, ansiedade, uma mistura de sentimentos, e o melhor deles era o de ter tirado aquele peso dos ombro, depois que havia falado aquelas três palavras, estava se sentindo mais leve do que nunca.

            Callie havia levantado e estava a apenas alguns metros de distancia sem dizer nada, com uma expressão que ela não sabia decifrar, começou lentamente se afastar arrependida. Droga, não devia ter dito nada.

            - Desculpe – disse começando a se afastar – Desculpe de verdade.

            Era uma idiota, pensava.

            Mas antes que pudesse se afastar totalmente sentiu a mão de Callie envolvendo seu pulso e virou a olhando mais uma vez em expectativa. E antes que Amber pudesse se dar conta do que estava acontecendo sentiu Callie a puxar e seus lábios tocarem no dela com suavidade.