Leo

Nem uma única chamada de faculdade. Bolas! É assim tão difícil encontrar um trabalho como fotografa? Estamos em L.A. Há montes de estrelas por ai. Estar em casa também não ajuda nada. acho que vou para a praia. Tenho saudades de fazer surf. Com a faculdade deixei de ter tempo para fazê-lo.

Quando era mais nova sempre que íamos de ferias o destino teria de ser um local com praia por isso digamos que sou tipo "a filha do mar". Sempre que estou mal vou para a praia e fico a observa-lo. De alguma forma ele acaba por acalmar-me sempre. E neste momento é o que preciso.

A praia onde costumo ir é escondida da cidade. É uma espécie de refugiu para mim. Por ser escondida de tudo e de todos. Ninguém a conhece e é raro encontrar pessoas aqui.

Vesti o fato de surf, peguei na prancha e fui para o mar. Só ele me ajuda a relaxar. Sabem o que é sentir que nada daquilo que se faz é suficiente? Que desiludimos constantemente as pessoas e que existe sempre um abismo ou uma barreira a impedir os nossos sonhos? Pois. É mesmo isso que sinto. Durante todos os meus anos escolares esforcei-me para conseguir aquilo que queria. Sempre disse aos meus pais que em L.A teria mais oportunidades de trabalho e por isso não fiquei em Portugal, vindo assim com a Olivia para os Estados Unidos.

Fiz isso por saber que em Portugal não iria arranjar trabalho no que queria mas parece que enganei-me, já que praticamente todos os alunos do ultimo ano de faculdade que têm estágio, estão a estagiar, e eu...nada. Sou aquela que fica a olhar para o nada. Parece que estou num túnel e vejo a luz lá ao fundo mas por mais que corra nunca consigo alcançar essa luz e torna-se numa luta interminável para alcança-la.

Quando a Olivia não está sinto que entrei num buraco negro pois ela é a única que consegue distrair a minha cabeça impedindo-a de pensar em coisas más. Nunca tive muitos amigos e dos que tive nenhum sobrou. Ela é a única que sempre ficou la do meu lado nos bons e maus momentos. Sempre esteve la independentemente do que acontecesse. Os meus colegas sempre gozaram comigo quando era mais nova e apesar de ter uma boa relação com os meus pais, discutíamos algumas vezes.

Eu era o alvo de chacota nas minhas turmas. Só havia pressão em cima de mim para ser a filha perfeita, para ser bonita pois do meu grupo eu era aquela que não se comparava às outras e para ser a aluna perfeita com excelentes notas. Devido a essa pressão toda, cheguei a cortar-me algumas vezes.

Nunca mais o fiz mas não vou negar que já não me passou isso pela cabeça quando a pressão era demasiado mas consegui aguentar-me...excepto uma vez em que tive uma enorme discussão com os meus e a pressão em cima de mim também não ajudava. A Olivia ficou a saber disso pois acabei por ir para o hospital. Ainda tenho as marcas apesar de já ter sarado.

Quando dou por mim, estava debaixo de água tentando voltar à tona para poder respirar, mas sempre que o fazia a rebentação da onda era sempre sobre mim e por isso acabava sempre por voltar para debaixo da água.

Já pensei muitas vezes que a minha vida não fazia sentido e que não fazia nada aqui. Apenas estava a estorvar e a incomodar a vida dos outros, mas nunca pensei que tudo poderia terminar de baixo de água. No local que sempre que acalmou.