Duas Opções escrita por Bea


Capítulo 4
Capítulo 4




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Chegando no apartamento, já era a noite. O jantar estava na mesa, mas eu estava sem fome. Fui até a televisão que havia em uma grande sala no apartamento do Distrito 4 e estava passando uma reprise do desfile. Caesar e Louis, um homem que trabalha no Jornal de Panem e comentava os Jogos; que tem os cabelos vermelhos e compridos, com cílios azuis gigantes destacando-se, fazendo contraste com os cabelos rosa de Caesar. Demorei alguns segundos para perceber que o assunto ali eraeu. Diversas vezes passava e parava em mim, em meu cabelo se soltando e o vestido e o terno de Jared se deteriorando. Parava e voltava, parava e voltava. Realmente, comparado aos outros distritos, o nosso foi o melhor. A dupla do Distrito 10 vestia uma fantasia que se parecia com vacas e bois. Já o Distrito 3 usava um grande chapéu que mais pareciam duas pratas antenas de televisão, que eu vi muito na Capital. Ri sozinha e fiquei observando-os conversarem e mostrarem as vitórias dos antigos Jogos.

- Esse jogo foi sem dúvidas um dos melhores. A vitória de Enobaria, do Distrito 2 na 62ª edição. O último oponente ela matou com seus próprios dentes, arrancando a garganta! Quem lembra? - disse Louis, rindo junto com Caesar dessa edição.

Mesmo incomodada com o sangue na cara dela, não tirei dos Jogos. Se fosse para ganhar, eu precisava saber como, planejar minhas estratégias antes que seja tarde demais. Foram passando as edições seguintes e chegou uma que despertou minha atenção: vi um Finnick, um pouco mais jovem. A arena dele era formada por um conjunto de ilhas que eu percebi que o nome era arquipélago. Ele se aliou aos carreiristas e foi matando um a um sempre que dava com uma faca. Até que ele recebeu um tridente do seu mentor e aquela se tornou sua principal arma. Ele nada de ilha a ilha à procura de tributos quando, no fim, se torna o vencedor. Fiquei assustada. Como esse Finnick se tornou o Finnick que convive comigo? Feliz, despreocupado e sem rancor nem vergonha de ter matado tão insensivelmente aproximadamente oito tributos. Desliguei a TV, puxei o cobertor e fiquei deitada no sofá. Tudo escuro e apenas eu, ali, perdida. Amanhã nós iríamos para o Centro de Treinamento e será onde eu vou perceber que eu não tenho chance alguma de sobreviver. Sai do sofá e, arrastando o cobertor, fui até a janela. Prédios grandes estavam de todos os lados. Luzes, fogos de artifício, som alto. Clima de festa. Eu não entendo como a Capital podia ser tão ignorante, tão indiferente aos problemas que acontecem em Panem inteira.

Cansada, resolvi ir para o quarto e tomar um banho. Cada passo que eu dava ecoava no apartamento e parecia que só havia eu no prédio, exceto pelas risadas que vinham do andar de baixo, do apartamento do Distrito 5. Abri a porta no único quarto que a luz estava acesa e era ainda mais bonito e luxuoso que o do trem. Havia umtelão grande com um controle. Nele, havia uma foto de todos os Distritos, no qual eu podia escolher qual colocar como plano de fundo. Apareceu uma imagem do meu distrito e eu comecei a chorar. Eu me joguei na cama e chorei muito, até dormir.

Acordei amedrontadae com alguém me abraçando fortemente. Eu estava suando e ainda era a noite, pois estava escuro.

- Você gritou agora e eu fui o único que percebi, não estava dormindo também. - era a voz de Finnick. - Pesadelos?

Afastei-me dele. Ele me dava medo depois do Jogo queeu havia assistido, eu não posso confiar em mais ninguém a partir de hoje.

- Sim, pesadelos. Desculpe-me. Pode ir dormir, desculpe por incomodá-lo.

- Vá tomar um banho que eu vou fazer um leite. Você jantou? Eu não te vi na mesa.

Mexi a cabeça em negativa e sai para tomar o banho. Eu estava tonta, portanto não demorei muito no banho. Pesadelos... Pesadelos. O terror começou. Amanhã conhecerei o Centro de Treinamento, conhecerei os tributos e terei que me aliar aos carreiristas. Trocada, sai em direção à cozinha do apartamento e lá estava Finnick, o homem responsável pelos meus pesadelos, fazendo um leite. Não resisti e eu falei bem alto:

- Como você conseguiu? Como você conseguiu matar todos aqueles tributos sem dó? Ver a morte sair dos olhos deles, ver o sangue espirrando na sua cara, sentir o cheiro dele e não expressar nenhuma vergonha sobre isso? Você não tem nojo de si mesmo? E hoje você age como se nada disso tivesse acontecido, parece que você tem orgulho disso.

- A arena... - ele disse, olhando para baixo - ela muda as pessoas. Eu não sou assim nem nunca fui, mas eu precisava voltar. Eu tenho pesadelos com isso até hoje, mas eu precisava voltar para a minha casa. Minha mãe sofria depressão e ela precisava de mim.

E deixou o copo em cima do balcão e saiu, batendo a porta do seu quarto ao entrar nele. Comecei a chorar de novo. Uma das únicas pessoas que talvez se importasse comigo e queria me manter viva estava agora, desapontada com a minha atitude. Mas não pude me conter. E por enquanto, eu estava sendo eu, eu não mudei. Tomei o leite, que tinha um sabor adocicado, trêmula. Larguei o copo em cima da pia e fugi, em direção ao meu quarto e lá fiquei até dormir.

O sol na minha cara fez meus olhos ficarem irritados. O relógio indicava oito horas da manhã. Com sono, levantei da cama e passei uma água no rosto. Meus olhos estavam vermelhos. Droga. Além de tudo que eu passei ontem ainda apareceria como uma menina indefesa. Batidas na porta. Ao abrir, não era ninguém que eu conhecia. Ela fez um gesto para que eu a seguisse. Segui e comecei a puxar assunto.

- Sol lindo, né? - sem respostas. - Oi, tá me ouvindo? - o mesmo resultado. - Que porcaria, por que você não me responde?

- Ela é uma avox. - era a voz de Charlotte. - As avox não tem língua, minha querida, não tem como ela falar.

Parei bruscamente e olhei nos olhos da avox, com um pedido de desculpas a partir do olhar. Ela assentiu e foi para o local que ela provavelmente deveria se posicionar. Nojo. Nojo da Capital. Era tudo que eu sentia. Eu tinha vontade de sair correndo dali, sair correndo e nunca mais voltar para aquele lugar. Disfarçando e varrendo esses sentimentos para fora da minha cabeça, voltei a ser sã.

- Bom dia, Annie - disse Jared.

- Bom dia, Jared, bom dia, Finn, bom dia, Charlotte.

Charlotte retornou comum grande sorriso no rosto e Finnick agiu como se eu não tivesse falado nada. Na mesa do café, ele começou a dar suas dicas de como agir no Centro de Treinamento que irá se iniciar hoje, às dez horas.

- Vamos discutir então o que vocês fazem de melhor. Jared, o que você sabe fazer? Você é forte, inteligente, ágil?

- Eu... Eu não sei.

- Ele é muito inteligente. - eu o interrompi - O quarto dele é repleto de desenhos e contase antes de pescar, ele calcula qual o melhor ângulo para saber como pescar um exato tipo de peixe. E ele sabe o nome de cada órgão do peixe, meu pai me disse.

- Não é bem assim. Eu só me esforço. Eu não saberia lidar com alguma atividade na arena repentina, eu precisaria analisar antes.

- Ótimo. Agora você, Annie, o que você faz?

- Eu sei correr. Corro muito bem e eu sei pescar, sou eu que pesco a quantidade de diária que minha família precisa para se manter em uma casa no Distrito 4.

- Bom, vocês não vão expor nenhuma de suas qualidades. Tentem ideias novas, como escalar em árvores ou como manusear uma faca. Fiquem em dupla sempre, se mostrem unidos. Façam amizades com os carreiristas que eles podem ser suas únicas chances. Isso é tudo o que eu tenho para te dizer por hoje.

Descemos para o térreo, onde era o centro de treinamento de acordo com a avox.

- Eu estarei aqui, qualquer coisa, vocês podem sair e me consultar caso tiverem alguma dúvida - falou Finnick - Sejam simpáticos. É meu ultimo conselho.


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