Duas Opções escrita por Bea


Capítulo 3
Capítulo 3




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Ótimo. Eu não tenho nem terei capacidade para seduzi-lo. Ele é famoso demais, difícil demais para eu lidar com isso. Se eu já estava fingindo ser alguém que eu não era, teria que fingir mais ainda? Um pensamento repentino veio como uma voz: eu teria que ser eu. Ele não é mais um cara qualquer, e sim o meu mentor. Sem ele, seria impossível viver na arena, era essa a realidade.

Após o almoço, fui tomar um banho e tentar dormir um pouco. Fui até o vagão que era o quarto de Jared e conversamos um pouco. Ele me contou a história de sua família e eu fiz o mesmo. Após um abraço, fui direto para o meu vagão. Era lindo e tinha um papel de parede que imitava o mar. O único lugar que eu me sentia protegida era o mar. Quando eu nadava, nem que fosse uma tentativa nula para pegar peixes, tudo se apagava por um momento da minha cabeça. Na cama, havia um belo vestido roxo, que eu o peguei para colocá-lo após o banho. O banheiro, mesmo sendo comum, era claro e limpo com água quente. Era o que eu precisava.

Penteei meu cabelo, me enxuguei e sai do banheiro de toalhas, tanto no cabelo tanto no corpo. Abri a porta e um vento refrescante veio até mim, de modo que fiquei por alguns segundos de olhos fechados. Olhei para minha cama e dei um pulo. Finnick estava em cima dela mexendo no meu vestido.

– Solte-o, por favor, Finnick. Preciso vesti-lo, não sei se você percebeu mas acabei de sair do banho e não contava com a presença de ninguém no meu quarto. Mais especificamente na minha cama.

Ele riu.

– Pra mim, não tem nenhum problema ver alguma mulher se trocando na minha frente, já que qualquer garota tiraria as roupas para mim assim que eu pedisse.

– Acontece que eu não sou qualquer garota, e você sair daqui seria de suma importância para mim, se não vou ficar aqui, de toalhas, do seu lado, até você me entregar o vestido.

Ele riu novamente com desdém. Ele veio até bem perto de mim e me entregou meu vestido. Esperei ele sair do quarto e me certifiquei de que as portas estavam trancadas. O que o cobiçado Finnick Odair queria de mim? Não sei, mas o caso é que eu fui eu mesma e assim agirei com ele. Troquei-me e fiquei no quarto. O carpete era tão macio quanto o gato que Isabelle tinha, e por um momento sai correndo, pensando que o chão pode ser revestido de pelos de gatos. Pulei na cama e fiquei esparramada nela.

Pensei no quanto Luke teria gostado da cama. Ele ama ter longas horas de sono. É bom que ele possa aproveitar isso por quanto tempo precisar. Ah, Luke. Ele ainda não teve entender o que está acontecendo. Eu queria poder escrever uma carta, explicar a situação. Mas eu não conseguia. As primeiras frases saíam no mesmo instante em que as lágrimas caíam. Pensei no meu pai. Que trabalhara tanto para poder me dar pelo menos, a vantagem de não passar fome. E ele conseguiu realizar isso, mesmo sem a mamãe, sem sua família por perto, todos mortos pela Capital pela tentativa em vão que ele teve um dia, no passado, que esperava que isso acabasse. Não funcionou e aqui estou eu, a filha de um revolucionário.

Percebi que não conseguiria dormir e fui até a sala de TV, que eu nunca tinha visitado. A TV era do tamanho da parede e Finnick estava sentado em um grande sofá que era em frente àquela grande tela. Quando ele me viu entrando, sorriu e fez um gesto à espera que eu sentasse ao seu lado. Eu sentei.

– Não conseguiu dormir, certo, Annie? - eu assenti - Sei como isso é. Faz cinco anos que eu ganhei. Eu ainda tenho pesadelos com a arena.

Eu chorei e ele me abraçou.

– Eu vou tentar fazer você ganhar, eu juro que vou. Você vai de qualquer jeito sair viva daquela arena. - ele relou nas minhas bochechas com as duas mãos e delicadamente, levantou minha cabeça. - Não chore, eu estou aqui. Eu estou aqui...

Acordei com duas batidas na minha porta. Agitada, pensei porque estava no compartimento do meu quarto sendo que eu dormi na sala. Coloquei um casaco que estava pendurado ao lado da cama e atendi a porta. Era Jared.

– Vamos, Annie! Chegamos, estamos na Capital, até que enfim.

Sai apressada do quarto. E era linda. Havia prédios de todas as cores, formas e tamanhos. Enquanto crescia um reto, à sua esquerda havia um ondulado. E pessoas, muitas pessoas. Eram realmente pessoas? Uns tinham bigodes de gato, outros unhas grandes como a de um gavião. Havia gente com pele roxa, com sapatos de salto alto que ultrapassavam trinta centímetros. Os cabelos formavam vários arco-íris de todos os lados. Eu sorri e eles sorriam, gritavam, arrancavam os cabelos em resposta. Não, não era para mim. Finnick estava do meu lado, sorrindo e acenando. Ele pegou meu braço, com a tentativa falha de fazer com que eu acene também. Idiotas. Eles não se importavam com a minha felicidade. Eles queriam ver meu sangue na arena o mais rápido possível. Jared também sorria. Eu podia ver o brilho nos seus olhos. Ele era muito inteligente. Quando visitei sua casa uma vez, à pedido do meu pai, era cheia de projetos arquitetônicos e contas aritméticas. Eu o vi de relance fazendo contas desesperadamente.

Quando chegamos ao prédio em que ficaríamos, percebi que passaram vários minutos. Logo na chegada, três pessoas me barraram. Uma delas eu achava que era mulher, que vestia um salto de 20 centímetros prateado com short rosa, blusa azul e o cabelo combinando. Seus cílios eram gigantes que ao me cumprimentar, pude sentir as cócegas que aquilo me provocava. A outra tinha o busto extremamente grande e usava um salto do mesmo tamanho, porém, com um vestido justo e decotado da cor amarela. Seus lábios também eram grandes e vermelhos, que dava contraste aos seus cabelos brancos. A outra pessoa era um homem. Vestia um terno com listras coloridas os sapatos eram verde-limão. Seu cabelo era preto e os olhos vermelhos. Eles me levaram para um local que havia macas que nem no "hospital" do Distrito 4. O que iam fazer comigo? Transformar-me em um daqueles bestantes e quem sabe, me deixar com a pele azul. Eu olhei aflita e selvagem para os três e eles riram.

– É sempre a mesma coisa! - disse a moça com longos cabelos azuis.

– Calma, querida! Nós não vamos fazer nada com você! - agora quem falava era o homem - Meu nome é Dallas, muito prazer.

Aliviada, estendi a mão cumprimentando-o. Ao deitar na maca, eles arrancaram todos os pelos do meu corpo. Tiraram a sobrancelha, depilaram a perna, cortaram meu cabelo, arrumaram até mesmo meus cílios. Ainda com dor, eles me levaram para um banho quente. Logo depois dali seria o desfile dos vitoriosos.

– Você é filha de quem? - disse a moça de vestido amarelo, enquanto me maquiava - Ah, desculpe não me apresentar. Meu nome é Kauine.

– Prazer, Kauine. Sou filha de Luigi Cresta e minha mãe morreu quando eu tinha cinco anos.

– Ó, meu amor, eu sinto muito. - e continuou sua obra-prima.

O homem puxava meus cabelos, acho que estava alisando-o. Logo depois percebi que era uma tentativa de fazer com que ele fique preso.

– Não está muito preso. - eu disse para Dallas.

– Ótimo! - ele ficou feliz com a minha afirmação e logo depois colocou uma espécie de tiara de prata em mim.

– Bem, se posso perguntar, como chama a outra moça e o que ela faz?

– Timber? Ela é a sua estilista. É ela quem fez sua roupa que você vai usar hoje na hora do desfile. Ela é bem reservada, não conversa muito, mas é bem simpática.

Kauine deu um gritinho de exclamação e afirmou o término da maquiagem e andou para o lado, dando passagem para o espelho. Eu me olhei. Pela primeira vez na vida, me senti bonita. Meus cabelos pretos estavam em um coque desmanchado e desarrumado, que afirmava certo desleixo no visual. O que eu achei que era uma tiara era na verdade um diadema, do qual desciam pedras que pareciam escorrer em uma cascata. Olhei bem perto. Minhas espinhas desapareceram e não havia pelos de sobra na sobrancelha. Minha boca estava marcada com um batom cor-de-rosa bem forte e os olhos, pretos, destacando o azul que se escondia. Minhas bochechas rosadas e meus cílios grandes me deixaram maravilhadas. Eu olhei para Kauine e Dallas, levantei-me da cadeira e dei um abraço.

– Obrigada por hoje. Vocês mudaram a ideia que eu tinha de pessoas da Capital.

Os dois começaram a chorar, emocionados. Então Timber chegou, carregando um vestido branco. Eles tiraram o macacão que eu vestia e colocaram o vestido. Ele era pesado, o que me deixou assustada. Não marcou minhas curvas e eu não sabia o que aquilo tinha a ver com o meu Distrito, que a principal atividade é a pesca. Mesmo com esse pensamento, fiquei calada. Aliás, qualquer palavra dita hoje pode e será usada contra mim e minha família.

Ao chegar ao local que estavam às carruagens, os 24 tributos estavam com seus mentores. Jared vestia um terno branco normal e estava ao lado de Finnick que estava sem camisa, exibindo seu físico. Eu vi uma tributo que reconheci ser do Distrito 12: usava a roupa que indicava os trabalhadores nas minas de carvão. As vestes dos dois do Distrito 1 eram extremamente chamativas e brilhantes, com pedras preciosas de todos os tipos. Já a dupla do Distrito 2 ria de mim com o sorriso violento e as roupas igualmente selvagens. As carruagens estavam começando a se posicionar em um sol que indicava o fim da tarde.

Começou. O Distrito 1 partiu e logo já era nossa vez. Eu sorria e a plateia gritava enlouquecida para os tributos. À medida que aumentava a velocidade, meu cabelo soltou e senti minha roupa se deteriorar e Jared também, pelo que eu percebi. Enquanto acontecia isso, a plateia gritava ainda mais e apontavam para nossa carruagem. Assustava, olhei para os telões. Estava com um top azul com discos que imitavam escamas e havia um diamante no meio. Mais para baixo, descia uma saia larga e a cor era como um verde misturada com prata. Jared, do meu lado, estava sem camisa e sua calça ficou prata. Juntos, sorrimos e acenamos ainda mais. O público pirava e eu fiquei satisfeita com o efeito que eu - mais precisamente, Timber - conseguia passar.

Quando acabou o desfile, pude observar as roupas de cada um inclusive a minha. Carreguei Jared até um espelho e ele assoviou:

– Nossa, nós dois arrasamos.

Eu ri e concordei, aliás, estávamos realmente incomparáveis com qualquer outra dupla de tributos dessa edição dos Jogos. Vi os olhares invejosos das meninas e alguns sonhadores para o tronco de Jared que agora estava nu. Ao chegarmos, só consegui ouvi Charlotte dar um gritinho.

– Meu Deus! Você estava parecendo uma sereia!


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