- O que? Está tremendo tanto que nem consegue falar?

- Se fosse para me matar, você o teria feito ainda na primeira vez em que nos encontramos.

- Você tem razão.

- Sempre tenho.

- Você é estranha, mulher.

- Você acha? Eu só estou conversando com um vampiro que já me salvou duas vezes no mesmo ano.

- E é melhor parar de se meter em confusões. Não vou te ajudar da próxima vez.

- Não esperava que fosse. Na verdade, pensei que nunca mais o veria desde o nosso primeiro encontrão. Ou, no caso, ouviria... – Calou-se por um momento. Tudo ficou silencioso novamente, até Nami quebrar a atmosfera quieta – Onde está você?

- Não interessa.

- Por que está aqui?

- O que te importa?

- Coma torta.

- Hã?

- Esquece. – Desconversou – Por que não me deixa te ver?

- Nada feito. Eu vou embora, isso sim. – Kid comentou e começou a andar, porém a voz feminina o deteve.

- Pode me dizer ao menos o seu nome?

-... Kid. – Respondeu mesmo estranhando a pergunta. Isso era a última coisa que esperava de um humano, perguntar-lhe o seu nome.

- Kid?

- Eustass Kid.

- Eustass Kid... Gostei do seu nome. Não é pomposo demais, porém também não é muito simples. Realmente, é um belo nome... – Não ouviu nenhum ruído – Você ainda está aí? – Nada. Não obteve nenhuma réplica. Ele fora embora – Vampiro mal educado... – Sorriu travessa – Não que eu possa falar alguma coisa, não? Até mais, Kid. – Fez seu caminho até em casa, sem perceber o ruivo escondido num dos telhados.

- Até mais... Nami... – Eustass sussurrou e foi-se embora para seu castelo.

Mais uma semana se passou. Kid saía à noite, depois de se alimentar, claro, para ver a ruiva trabalhar e ir para casa. Decorou o caminho, praticamente. Tomava cuidado para não ser visto por ela nem por ninguém, mas parecia que Nami sentia sua presença, pois sempre andava com uma expressão de desconfiança e dava passos cautelosos, como se soubesse que estava sendo observada. Nenhum outro bandido havia ido até ela novamente, porém o ruivo, e com certeza a moça também, sabia que era só uma questão de tempo até eles voltarem a atacar. E foi na sétima noite daquela semana que Eustass seguiu a mulher até em casa. Seguiu, se empoleirou num galho de uma árvore que ficava por perto e analisou tudo com certa curiosidade, principalmente uma caixa que produzia imagens. É, ele estava ficando velho. Ou o mundo estava crescendo rápido demais. Ficou ali por exatas duas horas, vendo Nami interagir com uma mulher de cabelo azulado e tatuagem no braço e arrumar as coisas para o dia seguinte.

- Boa noite, Nojiko. – Ouviu a jovem dizer para a outra.

- Boa noite, maninha. – O mistério já havia sido desvendado. Aquela tal de Nojiko era a irmã de Nami.

A ruiva, ainda se sentindo vigiada, foi para seu quarto, colocou a camisola branca que ia até os joelhos e abriu a janela, para, assim, sentir a brisa noturna. Sorriu feito criança, apoiando-se no batente da janela, e fitou a lua minguante.

- Boa noite. – Murmurou para o vento, saindo dali e indo deitar-se na cama.

Kid deu mais uns vinte minutos, tempo suficiente para a mulher dormir, e entrou no quarto dela, afastando as cortinas para facilitar a passagem. O lugar não era muito grande, nem muito chique, mas era aconchegante. O ruivo se aproximou da cama com passos silenciosos, não queria acordar a garota que dormia tranquilamente na cama de solteiro. Os cabelos alaranjados estavam espalhados pelo travesseiro e pelos lençóis, o peito subia e descia num movimento ritmado e os lábios rosados estavam entreabertos, dando o toque final na aparência pura e angelical que a ruiva demonstrava.

- Yumi... Você se parece tanto com Yumi... – Ergueu uma das mãos e tocou com delicadeza a bochecha dela. A pele da mulher parecia queimar a mão gelada do vampiro – Mas é só na aparência... Yumi nunca falaria com sarcasmo ou se vestiria de modo tão provocante... – Ele mordeu o lábio ferozmente, fazendo-o sangrar por culpa da força que usara e das presas pontiagudas.

Estava com sede... Sede do sangue dela... Do sangue daquela mulher de madeixas alaranjadas... Será que era tão bom quanto seu perfume...? O seu próprio sangue não tinha gosto algum. Nem corria por suas veias, apenas ficava parado, como um rio escarlate sem vento nem correnteza. A mão que acariciava a face macia estremeceu. O vampiro travava uma luta interna. Uma parte desejava o sangue da mulher, desejava deixa-la seca. Outra, queria ir embora dali antes que a ferisse. E mais outra, a menor de todas, dizia para ele torna-la sua, fazê-la viver ao seu lado para sempre. Nami se remexeu em seu sono, deixando o pescoço claro à mostra e parte do ombro, cuja alça que ali estava já havia caído. Aquilo era um tormento para o homem. Todas as partes de seu ser intensificaram o apelo, até que Kid se decidiu pela segunda. Ele virou-se e já ia em direção a janela, porém uma mão quente na sua o impediu. Voltou-se para a ruiva, que agora o fitava com os olhos castanhos bem abertos.

- Você veio... – Disse com a voz baixa e se sentou.

- Aguardava-me? – Questionou tentando não olhar muito o corpo esbelto que a camisola fazia o favor de quase não esconder.

- Sabia que você viria atrás de mim algum dia, Kid.

- Passou de menina indefesa para vidente? – Ela sorriu de modo travesso.

- Não... Apenas... Não sei, eu apenas sabia... E, aliás, quem é Yumi?

- Ninguém que você precise conhecer. – Retrucou frio.

-... Você já vai embora? – Perguntou olhando fixamente para os olhos rubros dele e segurando a mão fria com um pouco mais de força.

- Você quer que eu fique? – Ergueu uma sobrancelha e sorriu cínico. Já sabia a resposta.

Ou achava que sabia.