-... Você já vai embora? – Perguntou olhando fixamente para os olhos rubros dele e segurando a mão fria com um pouco mais de força.

- Você quer que eu fique? – Ergueu uma sobrancelha e sorriu cínico. Já sabia a resposta.

Ou achava que sabia.

- Fique. – Pediu, surpreendendo o vampiro.

- Mulher, eu sou um vampiro.

- E...?

- E que posso te matar. – Respondeu amargo, livrou sua mão das quentes dela e refez seu caminho até a janela.

- Kid! Fique, por favor! – Nami exclamou e se levantou com rapidez, tentando segui-lo.

- Dizer "Por favor" não vai adiantar nada, mulher... – Debochou e já ia chegando ao seu destino, mas braços delicados, porém firmes, o detiveram – O que você...?

- Por favor, Kid, fique aqui mais um pouco. – Ela pediu encostando a testa nas costas largas que, estranhamente, estavam nus. Sim, o ruivo usava apenas uma calça qualquer e as botas. Não gostava de camisetas.

- Mulher... Se quiser continuar viva... É melhor me soltar... – Rosnou entrecortada e ofegantemente. O cheiro de laranjas ficou mais intenso, assim como o calor do corpo feminino, e os braços dela o rodeavam com suavidade, mesmo detendo-o ali. A pele daquela mulher era macia, como a pétala de uma rosa. Isso era muita tentação para o vampiro e ele já estava no limite do autocontrole.

- Eu não quero.

- Solte-me. – Ordenou rude. Pela primeira vez, estava com medo de algo que não era as assombrações de Yumi. Estava com medo de ferir Nami por culpa de seu instinto de sanguessuga.

- Não. – Teimou e abraçou com mais força o tronco gelado – Não até você dizer que vai ficar aqui comigo.

- Tola! – Exclamou raivoso e, num movimento brusco, empurrou a mulher com força o suficiente para fazê-la cair. E foi o que aconteceu. Nami caiu sentada no chão de seu quarto. – Vê? Consegue ver o que eu realmente sou? – Ela fitou assustada o homem, mas não por estar vendo a verdadeira face de um vampiro, e sim pelo modo rude com que ele a tratara. Os olhos de Eustass estavam mais vermelhos do que nunca e duas presas pontiagudas despontavam por sobre seu lábio inferior. Elas reluziram, se mostrando ainda mais brancas graças aos lábios rubros dele.

- Kid... – O homem se aproximou dela rapidamente, agachou-se para ficar da mesma altura que a jovem e aproximou os rostos.

- Você é um estorvo. Você me faz lembrar coisas que deveria ter esquecido há muito tempo... E eu realmente odeio isso... Mas, mesmo assim, algo em você me atrai. Algo que não consigo explicar...

- Kid... – Murmurou atônita.

- Sinta. – Pediu e levou uma das delicadas mãos ao próprio peito, onde seu coração deveria pulsar. Se ele estivesse vivo – Vê? Estou morto e me alimento de sangue. E, ainda assim, quer minha companhia... Por quê?

- K... Kid... Eu... – Gaguejou, sem saber ao certo o que dizer.

- Por que se parece com ela? Por que é tão diferente? Por que não foge? Não grita? Não tenta salvar sua vida? Apenas fixa os olhos castanhos em mim e me responde com ironia, mesmo com medo... Mas por quê? – A torrente de perguntas continuaria se ele não tivesse parado. Fitou bem a face surpresa da mulher, querendo guardar os detalhes na memória, e se distanciou. Sem dizer alguma palavra, sem nem mesmo olhar para trás, o ruivo foi para a janela.

- Espere! – Nami pediu e se levantou. Kid parou. E agora, o que ela queria? – Kid... Apenas sinto que você é um mistério que eu adoraria resolver. Não sou assombração nem nada... Sou humana, assim como você foi um dia.

- Humanos costumam fugir para salvar suas vidas. Principalmente de um morto-vivo.

- Bem, então você admite.

- Admito o quê? – Indagou e virou-se para a jovem o suficiente para que ela visse seu olhos esquerdo.

- Que nunca conheceu uma humana como eu.