Jogos Vorazes - 71º Edição escrita por GS Mange


Capítulo 6
A Capital: Onde Carnificina é deleite!


Notas iniciais do capítulo

Já na Capital, os Tributos conhecem a equipe de preparação. Cabe ao estilista montar um traje que reflita as principais características do seu distrito e a equipe de apoio cuidará da sua limpeza e lhe deixará visivelmente agradável ao público da Capital. Quando todos os Tributos reúnem-se na Capital, são apresentados ao público em um desfile colossau.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/395752/chapter/6

Sou levado ao Centro de Transformação. Com uma banheira. Alguns espelhos, cadeiras retráteis e coisa e tal. Eles tiram minha roupa, mas não parecem nenhum pouco constrangidos. Ao contrário de mim, que mal consigo olhar-lhes nos olhos.

– olá Florian – diz o homem – Meu nome é Trevor. De agora até os Jogos, nós somos sua equipe de preparação. Estamos aqui para cuidar de sua imagem na Capital. Lloyd nos escolheu a dedo.

Não respondo. Apenas o olho e balanço a cabeça de forma positiva. Ele é muito agradável, mas sua imagem me parece irreal. Ele é bem novo. Uns 10 anos mais velho do que eu, acho. Sua pele é branquíssima, como se nunca tivesse tomado um banho de sol na vida. Tão lisa, sem manchas. Não há um único resquício de pelos no corpo a não ser em suas sobrancelhas, finas e escuras. Cabelos com baixo corte, platinados. Tão brancos, que me lembram a neve no meu distrito. Seus olhos azuis, longínquos e frios. Sua boca pálida. O que é curioso, pois reparei que aqui também os homens usam baton. É da minha altura e ágil com os utensílios de beleza.

– está é Blanck – diz Trevor – não se assuste com seu visual. Ela não morde – diz, rindo, olhando para uma mulher com longos cabelos, lisos, azul lazuli. No topo da cabeça, seus cabelos formam dois círculos, um de cada lado, até atrás. Sua franja termina logo acima dos olhos. Pele alva em demasia, boca vermelho-alaranjado com alguns piercings na boca e um entre as narinas. Seus olhos são da mesma cor dos cabelos. Maquiagem forte e escura. Seus braços são tomados por tatuagens multicoloridas, cujos desenhos de tão misturados que não consigo identificar um sequer.

– olá – diz ela com um tom pesado.

– e esta é Nancy – que não diz nada, apenas sorri. Ele aponta para uma mulher com os cabelos tão verdes, mas tão verdes que me ofusca a visão. Sua pele rosada contrasta com o cabelo. Sua maquiagem é menos intensa, mas ainda sim forte. Seus lábios carnudos, cor lavanda. Um piercing no meio de caba lábio. Sobrancelhas e longos cílios pretos. Madeixas cacheadas caindo por sobre os ombros e um círculo em cima da cabeça, como os de Blanck. Seu braço direito é tomado de tatuagens escuras.

Eles me lavam, tiram meus pelos, aparam meus cabelos, limpam minhas sobrancelhas, cortam minhas unhas, passam óleos e cremes e me lavam novamente. Passaram-se horas. Estou cansado. Eles também.

– pronto – diz Trevor – finalmente você está em condições de ser entrega a Lloyd – seus rostos cansados, porém satisfeitos me olham de cima abaixo. Balançam a cabeça em aprovação e riem.

– peço desculpas se lhes dei muito trabalho – digo em tom ameno – é que não temos muito tempo para nos preocupar com beleza lá no 7.

– entendo – diz Nancy – mas agora você está na Capital. E precisa conquistar os patrocinadores, não é mesmo?

Sorrio e balanço a cabeça em afirmativa.

– vamos deixá-lo agora. – diz Blanck – boa sorte!

Uma porta se abre. Nem a havia percebido ali. É uma sala branca. Com uma espécie de maca bem macia, dois sofás, um de frente para o outro, e uma mesinha de centro vermelha, com alguns lápis escuros e um bloco de folhas brancas.

Deito-me na maca, afim de descansar. Estou só de roupão devido a minha cessão de limpeza. Mas logo após uma outra porta se abre. Um homem alto, com um casaco vermelho cheio de zíperes prateados e uma calça preta justa, entra, com seus sapatos pretos brilhantes.

– você deve ser Lloyd – digo, afirmando mais que perguntando.

– sim – diz ele – e você é o jovem Florian.

Confirmo com a cabeça. – você é meu estilista?

– sou sim – responde ele, me observando – Trevor e as meninas fizeram um excelente trabalho em você! Preservaram o que você tem de melhor.

– o que? – pergunto sem entender.

– sua simplicidade pitoresca – responde Lloyd

– pode ser pitoresca aqui – hesito – mas lá no 7 é perfeitamente normal.

– imagino que seja – diz ele, ainda me observando. – sinto muito!

– também sinto – retribuo a sinceridade de suas palavras.

Lloyd é bastante alto. Cabelos negros, com uma extensa demanda de tintura cor de cobre na parte superior de sua cabeça. Sobrancelhas grossas e definidas. Brincos na orelha. Cavanhaque perfeitamente aparados. Boca também em tom cobre. Olhos cinza. Frios. Maquiagem simples. Sombra amarronzada. Pele pouco mais clara que a minha.

– vamos ver o que farei com você – diz ele tentando me imaginar com alguma alegoria – você disse que gosta bastante de floresta, não é mesmo?

– sim, quando não estou ajudando meu pai, com certeza estou na floresta – hesito – descansando. – o que não é verdade. Descobri que estava todo esse tempo treinando para esse momento.

– pois bem. Vamos ver o que capta o seu eu interior!

– meu eu interior? – pergunto – que droga é esta? Pra quê?

– você irá desfilar com o restante dos tributos – havia me esquecido – e terá de se caracterizar de acordo com seu distrito.

– por favor – suplico – gosto bastante de árvores, mas não quero me parecer uma. – digo isto porque todos os anos, estilistas idiotas vestem os tributos do distrito 7 como arvores. É repulsivo. Somos mais do que isso.

Ele ri – tudo bem – eu também não gosto disso. Por isso pedi para ficar com o tributo do 7 este ano – explica – você conhece Pã?

Pã? Pergunto curioso, balançando a cabeça em negativa – o que é isto?

Tudo bem – diz – imaginei. Não se ensina isso nas escolas desde os dias escuros.

Conversamos muitos a respeito da fantasia, de Pã, pois agora sei o que é, e de como devo me comportar perante a Capital. Taí, goste dele. Pensei que seria fútil, mas até que é bem inteligente e simpático esse Lloyd Kimball.

Ele aperta um botão próximo a mesa. Que se divide e revela um pequeno lanche para nós dois. Penso em como tudo aqui é tão fácil de se conseguir. Comida, roupas novas. Tudo tão diferente de casa. Onde no final do mês muito mal da pra comer.

– lá nos distritos é tudo tão sôfrego não né? – pergunta ele com um olhar distante – eu sinto muitíssimo.

– pouco importa – digo, expulsando de minha mente os pensamente que me fazem querer voltar para casa. – que bom que você nunca sentiu na pele sofreguidão de verdade.

Ele tira então de um armário na parede, uma alegoria magnífica. Ele me dá licença para que eu ponha uma calça justa grossa, feita de pelos, que parecem de urso pardo. Ponho um par de botas, que parecem patas de carneiro com um salto em matéria transparente. Plástico eu acho. Observo-me num espelho que toma toda uma parede. É como se eu fosse um ser híbrido. Metade carneiro, metade homem. É uma sensação estranha. Lloyd põe em minha cabeça um capacete estranho. Um elmo. Acho que esta é a palavra certa. Aberto em cima, no meio, com chifre também de carneiro em cada lado. Os chifres são prateados com linhas douradas como sobressalto. Meus braços são cobertos com algumas folhas de mentira. Pego um machado de madeira. Todo adornado com dourado. Estou pronto.

Subimos alguns níveis do centro de transformação. Um estábulo. Lá estão os outros tributos, com seus cavalos e carruagens. Então avisto Daisy e sua estilista. Jamie, eu acho. Pelo menos foi o que Lloyd mencionou.

Ele tem a pele morena, como chocolate, boca e cabelos vermelhos, ondulados e jogados para trás. Olhos castanhos sombreados também de vermelho. Brincos amarelos e um casaco laranja, por cima das calças, pretas e largas.

Daisy está linda com um vestido que parece ser feito de folhagens de verdade. Como uma ninfa. Com folhas nos ombros e abaixo da cintura. O vestido termina pouco acima dos joelhos. Seus braços estão descobertos e com folhas como as minhas. Seus cabelos estão presos para trás. Ela usa uma capacete parecido com o meu, com a abertura encima, no meio, mas no lugar de chifres, ela usa camadas e mais camadas de arcos de laurel, dourados.

Somos maquiados rapidamente. Lloyd e Jamie disseram que a maquiagem tinha que ser simples e natural, para que todos lembrassem de nossos rostos depois.

As primeiras carruagens começam a sair. Faço um rápido carinho nos cavalos e subo na carruagem.

– lembrem-se – diz Lloyd – se porventura lhe perguntarem o que vocês representam...

– respondam então – diz Jamie – Pã, o deus das florestas, e Dafne, a ninfa laureada.

– tudo bem – dizemos juntos, Daisy e eu.

Os tributos do 5 e do 6 passam pelo portão que dá para uma avenida enorme, com mais de 100 mil pessoas nas arquibancadas infindas. Nossa carruagem logo começa a andar. As figuras de Lloyd e Jamie ficam para trás. Cada vez mais distante. Passamos pelo portão e então começo a sorrir incansavelmente para a multidão histérica.

Os outros tributos já estão atrás de nós. Logo, todos os tributos formam uma fila única em direção a um prédio altíssimo com a insígnia da Capital. Gritos e mais gritos de louvor, aplausos, acenos, flores sendo lançadas para nós. Luzes, risos e sorrisos. Tudo para nós.

Seguimos por uma longa avenida. Quando chegamos ao seu final, os cavalos se alinham espantosamente no anel do Círculo da Cidade. Imagino que foram muito bem treinados. Vejo nossos rostos por milhares de telões espalhados por todos os lados. As pessoas estão espantadas com nossas alegorias. Não somos mais árvores, porém deuses.

Pela primeira vez desde que deixamos o estábulo olho para Daisy. Até ela esta sorrindo. Este fato deve ter se dado devido as conversas com Rose e Jamie, eu creio. Quando a ultima carruagem, a do distrito 12, por fim para, o presidente Coriolanus Snow aparece, nos dá as saudações e discursa:

– Bem vindos, tributos. Sejam Vem vindos. Saudamos sua coragem e, seu sacrifício – a multidão vai a loucura, menos nós, desde que a palavra “sacrifício” foi mencionada. – desejamos a vocês bons Jogos Vorazes. E que a sorte sempre esteja a seu favor. O único vitorioso será banhado em riquezas e, servirá como lembrança de nossa generosidade e de nossa clemência. – ladainha pura, penso - É assim que lembramos nosso passado. E é assim, que guardamos nosso futuro.

Falar é fácil. A vida aqui é infinitamente mais leve do que nos distritos. Suas crianças não precisam por seus nomes na colheita, nem necessitam das tésseras. Cretinos. Hipócritas. Porque carregar o fardo de uma geração extinta a décadas?

Olho para cada tributo. Muitos deles estão nos olhando. Os carreiristas do distrito 1, do 2 e do 4. Todos eles sem excessão. Os tributos do 8 parecem reconhecer bem as nossas roupas. Os tributos do 9 e do 11 também estão vestidos como deuses gregos. Só que bem diferentes de nós. Suas roupas douradas brilham e suas maquiagens fortes me impedem de reconhecê-los. Lloyd e Jamie estavam certos quanto a isso. Aparentemente os tributos do 2 e do 4 também estão vestidos a moda grega. Não gostei disso. Lloyd queria que a alegoria fosse algo singular. E eu também. Entretanto, nossas alegorias são de longe as mais elaboradas e bonitas. Lloyd quis que eu realmente me parecesse com um sátiro. De forma que eu realmente pareço ter pernas e patas de carneiro. Eu rio só de pensar nessa ideia.

Os portões se fecham atrás de nós. Estamos em frente ao centro de treinamento. Todos descem de suas carruagens inclusive nós. Estendo minha mão para ajudar a Daisy, mas ela me ignora como de costume. Está cada vez mais complicado manter meu juramente ao prefeito Gerarium.

Ficamos parados perto da carruagem ainda estonteados com tudo isso. Logo aparecem Lloyd, Jamie e... Nara.

– vocês estavam fantásticos – diz Lloyd – realmente fantásticos

– nem imaginam o impacto que causaram a plateia lá atrás – disse Jamie. Todos estamos rindo agora, inclusive Daisy.

– esplêndido – Nara se pronuncia – vocês foram magníficos. Melhor impossível.

– continuem assim e vão acarretar muitos patrocinadores – Lloyd diz olhando para mim fixamente.

– é o que todos queremos – diz Daisy – não é... Florian?!

Ela diz, olhando diretamente para mim, como se fosse me comer com os olhos. – espero sinceramente que você consiga bastante deles. Vai precisar.

– o que você quer dizer com isso? – pergunto sem entender, porém sem perder a compostura.

– significa que eu mesma irei te matar – diz ela levantando as sobrancelhas e apertando seus olhos castanhos – eu faço questão. Fama e glória eterna. Agora eu entendo porque fui escolhida naquela maldita colheita. Não por acaso – enfatiza – mas por destino.

– acho que já é o bastante crianças – interrompe Nara, lançando um olhar de espanto para Daisy – isso não é hora e nem lugar para esse tipo de conversa.

– tudo bem Nara – arquejo – nunca esperei nada dela mesmo. Não quero fama ou glória eterna Daisy Brandon, pode leva-las junto com você – digo – para o seu túmulo – termino.

Não estou feliz por ter dito essas palavras. Contudo, sinto-me melhor por não deixá-la pisar em mim. Ninguém fará isso. Não enquanto eu estiver vivo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Jogos Vorazes - 71º Edição" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.