Jogos Vorazes - 71º Edição escrita por GS Mange


Capítulo 5
O Trem: O Expresso da morte.


Notas iniciais do capítulo

Sem muita demora, os Tributos são embarcados em um trem em direção a Capital, onde as preparações para os Jogos Vorazes se iniciarão.
Durante a viagem até a Capital, os Tributos conhecem a equipe que os acompanharão: seu mentor e acompanhante. Cabe ao mentor passar sua experiência como antigo vitorioso dos Jogos Vorazes.



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Somos levados às pressas para dentro do Edifício da Justiça. Nunca estive aqui dentro antes. É tudo tão bonito, rico. Tudo é feito de madeira, do chão até o teto, há carpetes, quadros e decorações em algum estilo antigo que lembro-me de ter visto na escola. Meu pai adoraria este lugar. É tudo tão fantástico quanto inacreditável. Então sou levado a uma saleta, com uma estante enorme de livros, uma pequena mesa circular, algumas cadeiras e poltronas, confortabilíssimas. Fico lá sentado. Esperando. Por algum tempo nada acontece, até paro para analisar a arquitetura e a riqueza de detalhes do recinto. Há uma enorme janela que dá para algum lugar, que nem imagino onde, pois ela está fechada com trincas, o que significa que não a querem aberta. Algumas luminárias de cristal e, um curioso mapa de Panem, ressaltando o distrito 7. Quando de repente um pacificador abre a porta, meu pai entra correndo e Lilly logo atrás. Levanto-me rapidamente Ele me dá um forte abraço e põe suas mãos em minha cabeça, obrigando-me a olhar em seus olhos azuis, que estão fixos nos meus. Seus cabelos jogados para o lado, suas piscadas cronometradas, o suor escorrendo em seu rosto, são alguns sinais de sua aflição.

– olha – diz ele – lembra-se de quando nós três caçamos no bosque, acampamos a noite, estudamos arvores e plantas?

– claro – eu digo sem entender – mas o que tem isso haver com a situação na qual nos encontramos?

– eu e sua mãe decidimos prepará-los caso isso acontecesse – explica – nunca quisemos, mas não podíamos deixá-los a esmo. Como não tínhamos dinheiro para por vocês em academias, nós optamos por treiná-los secretamente, tão secretamente que nem mesmo vocês sabiam. – desabafa.

Estou perplexo. Não falo nada, só o fito e assimilo as informações.

– então você tem que fazer tudo o que te ensinamos e me prometer que vai voltar pra casa vivo. – suplica ele – você tem que me prometer.

– eu prometo, mas – ele me corta.

– aconteça o que acontecer, você tem que lutar. Nunca desista de tentar, mesmo que se frustre infinitas vezes. Não desista – me aconselha – você é bom com facas e machados. – e sou mesmo – sua mira é excelente. Melhor do que a minha. Sei que não terá dificuldade em lhe dar com uma espada. E você conhece muito bem os frutos. Sabe quais se podem comer e quais se deve evitar. E fique no alto. Sempre. Suba em arvores. Você é bom nisso. Você tem chance de voltar Florian. Tem sim. Então faça por mim e por sua mãe. Por sua irmã. Por seu distrito.

– pai – o interrompo – eu te amo – digo quase me debulhando em lagrimas, mas não faço de fato, pois tento ser forte. - Eu amo Lavender. diga isso a ela.

– eu também te amo filho – diz ele – amo a você e sua irmã, mais do que tudo nesse mundo. Mais do que minha própria vida. E Lavender saberá d – ele me abraça novamente. Minha cabeça está na altura de seu peito, ao passo que posso ouvir seu coração. Ele vira-se para mim novamente e me entrega um pequeno embrulho feito de linho. – foi da sua mãe, e do pai dela antes disso. Ela me pediu pra te entregar quando eu achasse que você estaria maduro o suficiente para lidar com coisas grandiosas. Carregue sempre perto de si.

Foi quando a porta foi aberta novamente e um pacificador entrou arrastando meu pai para longe de mim num estante – o tempo acabou. – disse ele. Depois fiquei mais algum tempo esperando quando a porta se abre novamente e me vejo em frente ao prefeito Geranium em pessoa.

– você tem que protegê-la – diz ele – é seu dever. Proteja-a até o fim. Até o seu ultimo instante de vida. Por mim. Pelo distrito. Suplica ele, em total amargura.

– farei o meu melhor senhor – arquejo – eu juro – hesito – mas tudo é tão difícil nos Jogos!

– não importa. Cuide dela por mim. Jurei a memória dos pais dela que a cuidaria como se fosse minha. Então passo esse dever a você. – me diz, olhando em meus olhos e eu nos deles, que estão lacrimosos em sua coloração âmbar. – agora tenho que ir, não posso ficar mais. Lembre-se mantenha-a viva.

Então ele sai da sala rapidamente. Penso em quanta consideração ele tem por mim. Afinal estou na mesmo situação que ela e meu pai, na mesma que ele. Mas tudo bem. Não devo me lastimar pelo que já passou, embora tenha vontade de gritar e correr. Novamente o pacificador abre a porte e desta vez me leva pelo braço. Sou levado até os fundos o Edifício e empurrada para dentro de um carro grande e espaçoso. Lá estão Nara Bonnet e Daisy. O carro parte em direção à estação do distrito 7. Daisy se senta de um lado, olhando pela janela, sem nos olhar no rosto. A senhorita Bonnet se senta entre nós dois, sem parar de falar.

– vocês vão adorar a Capital. – começa ela – é tudo tão moderno e prático, tudo tão fácil e bonito. Vão conhecer um novo mundo – ninguém está dando muita bola para ela, que realmente é a única que está entusiasmada. Quando de repente Daisy rompe seu silêncio e desabafa:

– pra mim, soa mais como fúnebre e mortal, essa Capital – debocha – estou realmente ansiosa para conhecer minha cova! - ela se cala e a senhorita Bonnet olha para mim e eu para ela, ambos pasmos.

– não veja por esse ângulo criança – diz, tentando ser encorajadora – afinal, você tem um vinte e quatro avos de chances de ganhar os Jogos Vorazes – ela ri, achando-se eficiente em sua tentativa frustrada de animá-la – e você também senhor Daffodil!

– um quarenta e oito avos – digo.

– como – pergunta ela, sem entender.

– os carreiristas – infiro – eles diminuem nossas chances pela metade, visto que eles têm o dobro ou talvez o triplo de chances de ganhar.

– isso é besteira – diz ela, rindo de mim como seu eu tivesse dito a coisa mais absurda do mundo – não seja ridículo.

Sabemos que não é – penso – Todos sabem. Mas não discuto. Olho através da janela do carro e, observo as coisas se mexerem rapidamente, de forma que tudo o que se vê são borrões.

– Grover Bromberg e Rose Wood são provas vivas disso – insiste ela em permanecer no assunto. Acho que é para evitar que nada seja pronunciado durante a breve ida até a estação de trem – ambos venceram. E não eram carreiristas. Eles não foram os únicos...

– que seja – a interrompo – pouco importa – ela tem razão, mas não gosto de admitir isso. Uma mulher da Capital, tola e fútil, banal e trivial, em toda a sua existência vã e insignificante, sendo melhor do eu que em argumentos?! É revoltante. – é claro que toda regra tem uma exceção. Contudo, há muito mais Vitoriosos Carreiristas do que qualquer outra coisa. E isso é um fato – consigo contornar. Ela não pode nega isso.

– tudo bem, mas – hesita – nunca perca a esperança – perco-me novamente em meus pensamentos. Mamãe era quem sempre me dizia isso. Exatamente dessa forma. Sem tirar ou por. Como uma mulher como essa pode ter tantos conceitos construtivos como ela tem? Desse jeito ela até parece alguém que tem uma leve camada de humanidade, por baixo de tantas camuflagens berrantes e impenetráveis. Mas evito pensar nisso. Não quero sentir nada além de repúdio de qualquer um que venha da Capital. Ponto final.

– a propósito – diz Nara Bonnet – já ia esquecendo. Ignorem. Todos eles. – do que ela está falando?

– fácil – diz Daisy pela primeira vez desde que entrou no carro, em um tom de ironia extrema.

O carro para. Finalmente chegamos à estação. Pacificadores abrem as portas e quando ponho meus pés fora do carro, tenho vinha visão interrompida por milhares de flashes em cima de nós. Repórteres, câmeras, perguntas e mais perguntas. Toda essa claridade artificial sobre mim são como rojões soltos em minha direção.

Alguns pacificadores abrem caminho para que possamos adentrar no trem, repelindo os paparazzis. Finalmente entramos num vagão que é uma sala de estar, muito bonita de fato, com poltronas, quadros, uma mesa de centro enorme e muito luxo.

– sintam-se à vontade – diz Nara Bonnet - este trem será a casa de vocês pelas próximas horas. O trem é moderníssimo, de modo que chegaremos à Capital após o jantar – ela continua – os comissários irão levá-los aos seus respectivos quartos, lá tem tudo o que vocês precisam e, o que não precisam também haha. – declara tentando ser engraçada. Um fracasso. – Vejo vocês em breve no vagão restaurante.

Então somos levados, por dois homens de trajes cinza, cada um para uma direção do trem. Passo por alguns vagões rapidamente e percebo que são todos suntuosíssimos. Enfim chego ao meu quarto temporário. A cabine é simples, contudo bem equipado: uma cama de metal, muito moderna por sinal. Uma cômoda branca, um roupeiro espelhado, duas cabeceira, alguns abajus, tapetes, janelas e cortinas azuis, aliás, tudo tem um tom tão azulado no recinto, e uma porta que abro e vejo que é um pequeno banheiro.

Decido tomar um banho. Tiro minhas roupas e dobro-as, pondo encima da cama. Entro embaixo do chuveiro e o ligo. A água está quente! Deliciosamente quente. Mal posso crer. Então deixo a água tocar minha pele e fico lá por um bom tempo. A água é cheirosa. Cheiro de flores. Pego uma toalha e saio do chuveiro. Seco-me e fico parado em frente ao espelho por algum tempo. Olhando-me. Meu rosto, meus olhos verdes fortemente acinzentados. Minhas sobrancelhas naturalmente desenhadas, minha boca igual ao do papai. Meus cabelos cor de chocolate, bagunçado. As marcas em meu corpo. Marcas de momentos que passei e que nunca me esquecerei. E agora estou aqui. Nesta capsula minúscula, como um porco indo em direção ao abate. Vou num roupão branco até minha cama. Abro a primeira gaveta da cômoda e vejo muitas roupas de baixo. Nara Bonnet estava certa. Na segunda tem calças. Pego uma azul com listras brancas e visto. Na terceira tem blusas e camisas. Pego um blusão azul claro e coloco. No roupeiro tem muitos pares de sapatos. Escolho um tênis branco sem cadarço para calçar. Volto ao banheiro e sacudo um pouco os cabelos para por no lugar. Um atendente bate na porta e eu permito que entre. Ele me pede as roupas que usava. Viro-me para elas e as recolho. Quando algo cai em cima do tapete. É o embrulho que meu pai me deu no Edifício da Justiça. Guardo-o no bolso e digo ao atendente:

– quero-as de volta. Gosto delas. Por favor, me devolva.

Ele não diz nada. Apenas balança a cabeça em afirmativa. Em seguida saio do meu quarto e vou para o vagão restaurante. Lá estão três figuras distintas, sentadas, esperando por mim e Daisy.

– há, que ótimo. Não fomos devidamente apresentados – diz a senhorita Bonnet – Meu nome é Nara Bonnet, mas disso você já sabe – ela gargalha descontroladamente – contudo, pode me chamar de Nara apenas.

– tudo bem, Nara Apenas – eu digo, provocando-a. – meu nome é Florian Daffodil, mas pode chamar-me apenas de – hesito – Florian Daffodil. – debocho com tom de inocência.

– é realmente admirável seu senso de humor senhor Florian – diz ela – posso te chamar de Florian, não posso?

– não. – respondo rapidamente.

– rum rum – limpou a garganta, aparentemente, mas para mim soou como uma desaprovação ao meu comportamento um tanto quanto rebelde. – como eu ia dizendo FLORIAN, esta é Rose Wood. Mentora de Daisy – uma mulher lindíssima. Pálida com seus dois olhos provocantes, que parecem duas piscinas de águas cristalinas, cabelos louros ondulados, boca pequena e rosto fino, vestida num macacão preto até o pescoço. – e este aqui é Grover Bromberg, seu tutor – acrescenta. – um homem um aparentemente um pouco mais alto do que eu. Pele bronzeada como a minha, cabelos castanhos levemente ondulados e desalinhados, com uma franja batendo na altura das orelhas. Olhos escuros, costeletas, cavanhaque e bigode, vestindo um suéter grenar e uma calça jeans.

– você tem senso de humor, rapaz – diz ele – tenho que admitir.

– senso de humor – resmungo – morrerei dentro de alguns dias. Você realmente acha que ligo para isso?! – pergunto retoricamente.

– então quer dizer que além de humorista, você também é vidente – fala sem olhar para mim, passando geleia de amora num pedaço de torrada. O que me faz lembrar que estou morrendo de fome, já que minha primeira e última refeição de hoje foi o desjejum pela manhã.

Puxo uma cadeira e me sento, frente à Grover e vislumbro tudo quanto está em minha frente, pães, bolos, tortas, chás, chocolates, bolinhos. Contudo pego apenas uma fatia de cheesecake e me delicio com seu sabor incomparável. Nunca o havia provado, mas sei que é feito de queijos especiais. Depois pego um pedaço de torta de damasco e chá gelado. A menina, Daisy, não apareceu para a refeição, ao ponto que Rose pergunta por ela:

– Onde está a menina, Daisy Brendon? – diz olhando na direção da cabine dela. – gostaria de conhecê-la, para traçar seu perfil.

– certamente ela está se sentindo indisposta – explica Nara – por conta de todos esses acontecimentos recentes, é claro.

– por conta de toda essa carnificina que esta destinada – deixo escapar, enquanto olho para a janela atrás de Grover.

– por favor, senhor Daffodil – diz Nara aumentando sua voz – poupe-me de seus comentários sádicos.

– é claro – digo – senhorita “eu vivo num conto de fadas”. Como quiser.

– bom – interrompe Grover – eu gostaria de conversar um pouco com você rapaz. A sós. Há certas coisas que você deve saber o quanto antes. – neste momento ele para de olhar para suas torradas com geleias e olha para as duas damas à mesa – com licença senhoritas – sai da mesa empurrando sua cadeira para frente – vamos?

– tudo bem – digo cansado de tanto comer. Peço licença e me retiro da mesa empurrando a cadeira igualmente.

Saímos do vagão restaurante em direção ao vagão sala de TV. Observo o relevo do lado de fora enquanto ele começa a falar:

– ouça – anda até meu lado, observando os movimentos rápidos do lado de fora do trem – seja você mesmo! – me adverte – pelo que pude observar de você, percebo que é um garoto simples e carismático, apesar de angustiado por sua desventura repentina.

– no que isso me ajuda? – pergunto, ainda olhando para a paisagem – no que me fará diferença ser gentil com os meus carrascos?

– seus carrascos são também seus patrocinadores – explica ele – são eles que podem te enviar um mínimo de dádivas que podem fazer uma enorme diferença.

– digamos eu aceite me fazer de carismático com o povo execrável da Capital – hesito – que tipo de dádivas são essas que podem me ajudar, me dar vantagem sobre os outros?

Comida, fósforos – continua – água, curativos, remédios...

– armas? – interrompo-o – eles podem me mandar armas?

– em casos extremos – me olha fixamente nos olhos – podem sim. Mas... – hesita.

– mas... ? – retribuo o olhar fixo, cheio de desconfiança.

– mas quanto menos tributos vivos – arqueja – mais caras as dádivas são. – deixo cair meu semblante e torno a olhar para a janela – contudo isso não significa que eles parem de mandá-las. E é ai que entra o seu carisma! Se gostarem de você, te darão qualquer coisa que pedir.

– já entendi – digo resoluto – tenho que cativa-los se quiser sobreviver.

– exato. Mas não se preocupe – ele me olha de cima abaixo – como eu disse você só tem que ser assim. Frugal. Sem exageros ou soberba. E isso te dá uma vantagem enorme em sua parceira, quem nem se deu ao trabalho de justificar a ausência.

Ficamos conversando por horas. Eu o conheci. Ele me conheceu. Contei minha história, sobre minha mãe e o que aconteceu com ela. Em retribuição ele também me contou sua história. De como perdeu sua mulher e seu filho tragicamente num acidente na madeireira anos atrás. Espera. Acidente na madeireira. Só pode ter sido naquela explosão que matou os pais de Daisy. É claro que é. Tantas vidas ceifadas. Mas porque ela estava lá? E com uma criança ainda por cima?

Quando me preparo para perguntar-lhe sobre o acidente ele retira-se do recinto em direção ao vagão restaurante. Então ponho a mão no bolso e percebo que coloquei aquele embrulho que meu pai me deu no edifício da justiça. Ainda não abri. Depois de tudo o que houve desde então, acabei me esquecendo completamente. Tiro-o do bolso e o abro. Uma aliança. Uma aliança de ouro. Muito bonita por sinal. Meu pai disse que pertenceu ao meu avô, pai de minha mãe, e ao avô dele antes dele. Mas o que é isso? Há algumas inscrições nela. Inscrições que não consigo identificar. As letras estão arranjadas de forma que não há sentido algum para mim. Bem, que seja. Usarei assim mesmo. É a única coisa que tenho de casa agora.

Dirijo-me para o restaurante. Grover e Rose já estão na mesa. Sento-me para esperar o restante da equipe, sem muita certeza de que a presença delas irá realmente nos contemplar para o jantar. É então que Nara entra, trazendo consigo Daisy, que está visivelmente impaciente.

– podemos começar – diz Nara – sirvam-nos, por favor – pede aos cozinheiros, que rapidamente enchem a mesa com inúmeros pratos, perus, saladas, caldos, bebidas. Enfim, comida em abundância, como jamais vira antes em minha vida.

Agora com todos sentados, Nara apresenta Rose a Daisy, que não dá muita bola. Ela nem se quer olha nos olhos de alguém. Sempre se mantém calada. Com o semblante fixo e imponente. Não ri. Não fala. Pouco come. O que é estranho, visto que ela não põe algo na boca há horas. Mas tanto faz. Nunca falei com ela antes. Não é agora que tenho de matá-la que irei fazer isso.

O jantar estava maravilhoso, mas só houve interação entre as três figuras que já se conhecem há anos. Eu me mantenho quieto. Só observando. Já Daisy, não move uma palha. Olha fixo para seu prato perfeitamente arrumado. Bife cortado em pequenos pedaços de um lado, um punhado de purê de batata do outro e, algumas ervilhas excessivamente verdes no outro extremo do prato, entre o bife e o purê. A observo pegar as ervilhas, uma a uma, com o garfo de prata. Estranho.

Quando o jantar finda, despeço-me de todos e volto a minha cabine. Caio na cama e durmo.

– já está na hora – diz Nara, com uma voz firme e rígida. Lavo o meu rosto, escovo os dentes e saio para o desjejum.

Quando chego ao restaurante vejo uma mesa tão farta quanto a do jantar na noite anterior.

– que horas são? – pergunto. Pensei que a viagem seria mais rápida. Sempre achei o distrito 7 fosse perto da Capital.

– e é – diz Nara – mas o trem teve algum problema logo depois que você se retirou – explica – então tivemos que parar por algumas horas.

– quatro ou cinco horas – diz Grover – se não me engano. Desde então paramos mais uma vez para abastecer.

Novamente estamos todos nós de volta à mesa. Nós cinco, para o desjejum. É quando avisto pela primeira vez, o eu creio que seja a Capital. É tão grande que de longe dá para ver. Prédios e mais prédios. Bandeiras com a insígnia da Capital. Passamos por mais um dos inúmeros túneis e, quando enfim ele acaba, estamos bem próximos à estação. Grandessíssima. Milhares de pessoas. Todas tão coloridas quando Nara Bonnet. Ou até mais do que ela. Rostos, bizarros e irreconhecíveis. Quilos e mais quilos de maquiagem berrante e exótica. Mas estão todos rindo para nós. Lembro-me do que Grover disse, de forma que aceno também e devolvo os sorrisos. Ainda que falsos, mas ainda sim sorrisos.

Percebo então que todos já estão no mesmo vagão que eu. Inclusive Daisy, que ainda repudia a todos, com exceção de sua mentora, Rose Wood. Depois do jantar elas conversaram bastante, e percebo indícios de uma amizade surgindo. Ou talvez, um papel, assim como estou desempenhando com a Capital agora.


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