Jogos Vorazes - 71º Edição escrita por GS Mange


Capítulo 19
A Arena parte 9: O Vitorioso


Notas iniciais do capítulo

O último dia na Arena é talvez o mais importante de todos. Todas as sensações estão à flor da pele. Cada passo ou medida tomada é tão importante que pode ser a última coisa que você faça em vida. Desta noite em diante o único sobrevivente será aclamado o mais novo Vencedor dos mortais Jogos Vorazes, título este que posse ser uma fardo mais pesado do que se pode aguentar.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/395752/chapter/19

Colton morto. Não posso imaginar isso. A sensação que estou sentindo é de angústia, desespero, raiva. É minha culpa. Eu jamais o deveria tê-lo deixado. Ainda mais nas condições dele. Primeiro Laureen, agora Colton. Perdi dois amigos no mesmo dia. Tudo o que me resta é Anise, mas nem sei depois de tê-los abandonado ela irá me aceitar de volta.

Pobre Anise. Deve está desesperada. Sozinha. Tenho que achá-la o mais rápido possível. Espere Florian. O que você está fazendo? Isto aqui é um jogo não é? Um jogo macabro. Um Jogo Voraz. Ou seja, nada saiu do controle, eu ainda estou vivo e, a quantidade de tributos diminuiu significativamente hoje.

Agora restam apenas eu, Anise, Carter, Daisy e Killian. Não poderei matar Anise, nem se eu tentasse. Resta-me Carter, que venho tentando matar há dias. Sobraram então Daisy e Killian, no entanto não por muito tempo. Das duas uma: ou Killian matará Daisy, ou Daisy matará Killian. Não importa quem vença. Estarei encrencado do mesmo jeito. Só o mais forte carreirista sobreviverá, então como poderei matá-lo?

O hino se encerra e eu volto para dentro, mas não entro na igreja. Fico nessa passagem, uma espécie de despensa do local, muitas caixa tombadas, papeis, poeira, aranhas, ratos, mas nada de comida. Nem se quer posso acender uma fogueira, pois não tenho materiais suficientes, nem posso chamar atenção.

Passar a noite aqui não me parece uma má ideia. A solidão será minha companhia, até que eu resolva deixá-la. Me ajeito por aqui mesmo, sentando-me perto de algumas dessas caixas, recostando-as em mim. Não é nada muito confortável eu sei, mas desde que sai da Capital, não sei o que é conforto. Deixei a porta entreaberta e por ela fico observando o céu, as árvores, o cheiro de morte que paira sobre a Arena. É quando ouço um barulho pouco perceptível. Um aerodeslizador. Na certa vieram buscar os corpos na igreja. Novamente perco-me no silencio da noite e acabo dormindo.

A luz que passa pela porta entreaberta ilumina parte do meu rosto, fazendo-me acordar enfim. Vagarosamente eu me movo. Espreguiço-me e enfim levanto, esbarrando em algumas dessas caixas. Mais um dia preso aqui. O sétimo dia, na verdade. Restam apenas cinco tributos. Talvez isto aqui esteja perto do fim, talvez seja hoje ou amanhã. Mas de uma coisa eu tenho certeza, se eu sobreviver a mais este dia, serei capaz de sobreviver a qualquer outro, dentro e fora deste lugar.

Sinto dentro de mim a esperança nascendo. Talvez eu realmente seja capaz. Ou talvez eu possa tornar Anise a grande Campeã disso tudo aqui. Mais ainda sim tenho que matar Carter, Killian e... Daisy, quebrando com isso a promessa que fiz ao seu tio, o prefeito Geranium.

Enfim, são tempos difíceis. Tempos que exigem escolhas difíceis. E é isso o que eu farei. Se, todavia, eu não conseguir vencer, então tentarei tornar Anise a vencedora.

Olho para meus hematomas. Estão cada vez melhores. Passo mais uma camada de seiva de Aloe Vera por todo o meu corpo, que já não está mais roxo, nem muito inchado. Os cortes estão cicatrizando e as queimaduras estão sarando. Engulo mais um pouco da seiva, para uma melhora interna. Certifico-me de que ainda estou portando minha faca borboleta, que é a única coisa que me restou de Colton e ponho a faca automática, em forma de bracelete.

Quando saio do lugar e olho para o sol, percebo que já passa das nove da manhã. Consegui dormi bem esta noite, já que estou mais bem disposto do que nos outros dias. É certo que fui bastante imprudente, mas nada me importa mais. Tenho dois caminhos: ou saio daqui com vida ou sem vida. O mais importante é sair daqui.

Saio andando pela Arena, espreitando os caminhos, com muito cuidado. É quando ouça uma voz saindo do nada e de todos os lugares ao mesmo tempo.

– bom dia tributos. Aqui é Claudius Templesmith – a voz dele não me é estranha. Deve tê-la ouvido em edições anteriores dos jogos. Seu sotaque da Capital é forte. O que indica que ele nunca saiu de lá. – hoje é um excelente dia para um banquete! Como cortesia do presidente Snow pela coragem e força de vocês, um grande abono lhes será dado. Às dez horas da manhã vocês serão presenteados com um kit na Cornucópia. Algo que vocês precisam muito. Algo no qual não poderiam seguir sem.

Esta é sem dúvida mais uma artimanha dos Idealizadores para incitar mais combate. Mas não devo me dar ao luxo de deixar passar essa. Deve haver remédios para mim no kit. Tenho que pegá-los.

Vou andando em direção à Cornucópia. Não há sinais de ninguém por aqui. Devo demorar uns dez minutos para chegar lá. As ruas estão vazias. Não há mais incêndios nem água. Agora, a Arena nunca foi tão grande. Imensa, na verdade, já que só restam cinco de nós.

Quando chego próximo à cornucópia vejo o chão se abrir e uma mesa ser erguida. Há quatro sacolas com os números do nosso distrito. A preta e amarela com o número dois é para Killian. Ao lado está a de Carter que é preta e cinza, com o número seis escrito. Logo depois está a minha, preta e verde com o número sete. Por ultimo está a sacola de Anise, marrom e preta, com o número 9.

Logo aparece Carter correndo, atravessando a cornucópia. Ele escorrega e não consegue pegar a sacola. Killian aparece logo depois correndo atrás dele, feito um louco com a espada na mão. Carter está sem armamento algum. Eu tento me esconder atrás de algumas arvores e arbustos para que eu não seja visto, já que isto aqui é uma caçada. Killian já não aguenta mais correr atrás dele, então ele lança sua espada na direção de Carter, acertando-o bem nas costas. Isto o faz cair no chão, de costas para cima. Killian retira a espada cravada em Carter, o vira com o pé e o perfura novamente com a espada, no estômago desta vez. O canhão toca. Carter está morto. Killian corre para a mesa e pega sua sacola. Então ele foge para a mesma direção de onde ele saiu. Fico imóvel, sem saber o que fazer.

Minutos passam e desta vez é Anise quem aparece. Ela estava escondida atrás de um bloco enorme de concreto. Ela com certeza viu tudo. Esperou para ver se alguém a aprecia, mas nada aconteceu. Só resta Daisy, mas ela deve estar com medo de Killian. Resolvo aparecer para ela, mas quando começo a sair de trás das arvores vejo Daisy.

Ela estava ali o tempo todo. Chegou antes de todo mundo. Estava escondida dentro da cornucópia, esperando o momento ideal. Anise corre grande perigo. Ela está desesperada. Não é muito hábil para armas, ao contrário de Daisy que está com uma lança na mão. Ela sim sabe muito bem o que fazer com tal arma.

Sem aguentar mais esta agonia toda eu saio d trás das árvores.

– corra Anise – grito. Ambas se viram para mim. Anise dá um largo sorriso, mas Daisy parece não gostar muito de me ver vivo – sai daí.

Neste momento Killian aparece correndo em minha direção. Agora sou eu quem está em apuros. Não tenho nenhuma arma para lutar com ele, minhas facas não vão dar conta disso. Só servem para um combate mais próximo, corpo a corpo. Eu então corro dele que ainda está o mesmo rosto de desesperado que estava quando matou Carter.

Ele tropeça, o que me dá uma margem de vantagem significativa. Eu pulo por sobre uns escombros, me afastando cada vez mais da Cornucópia. Pedras e poeira caem sobre mim e me deixam completamente sujo. Levanto-me para ver onde está Killian, mas ele está correndo para a direção oposta.

Quando olho para Anise vejo-a virada para mim. Daisy vem por trás dela sem que se perceba e enfia a lança em sua barriga. Pobre Anise. Como poderei aguentar mais esta perda irreparável? Ela cai de joelhos e fica lá olhando para mim. Daisy imediatamente pega uma faca e corta-lhe o pescoço, olhando em minha direção. Vadia. Como ela pôde? Nunca irei perdoá-la.

Anise cai completamente no chão, de costas para cima e o canhão toca. Daisy que ainda está olhando para mim dá um largo sorriso e aponta sua lança em minha direção.

– você será o próximo Florian – grita ela – não pode fugir de mim!

Eu corro. Não sei para onde exatamente, apenas corro. Sem rumo. Sem direção.

Quando olho para trás me surpreendo ao ver que ela não vem ao meu encontro, mas volta para a mesa onde estão dispostas as sacolas. Ela pega todas. Então volto. Recuso-me a fugir mais. Voltarei e enfrentarei aquela garota desprezível.

Killian também volta. Ambos estão lutando. Ambos portam uma espada e tentam ferir um ao outro. Um corte aqui, outro ali. Até que ele consegue quebrar a espada dela que corre em direção à cornucópia. Ele lança sua espada no chão e corre atrás dela. Ele a agarra e ambos começam um combate corpo a corpo, com socos e chutes. Ambos são bons. Estão de igual para igual.

Já estão muito machucados, os dois. Então uma imensidão negra vem do céu. Aves bestantes. Elas aparecem a princípio por entre os prédios, mas logo saem de todas as direções. Eles se dispersam. Um para cada lado. Até que não posso mais vê-los.

Estou ferido mais uma vez. Tento esconder-me, mas me movo com dificuldades. Estou mancando. As pedras me machucaram. Minha cabeça está sangrando novamente e meus joelhos e cotovelos também. Entro através de uma janela em um ônibus que está virado de lado. As aves bestantes não me veem. Fiarei seguro por um tempo.

O envio de dádivas já deve ter sido suspenso desde a noite anterior. Grover fez um excelente trabalho. Não teria ficado tanto tempo vivo se não fosse por ele me enviando comida e remédios. Devo agradecê-lo muito, mas infelizmente acho que vou morrer aqui.

O barulho das aves desaparece. Fico espreitando. Calado. Imóvel. Encostado num banco quebrado do ônibus. Rasgo uma parte de minha blusa e faço um torniquete, para estancar o sangue, em meu braço. Reclino minha cabeça num apoio e lá permaneço por algumas horas. Não tenho um plano. Não tenho armas. Mas pelo menos me resta um pouco de coragem.

É quando ouço um barulho de canhão. Mai uma morte. Resta-me saber quem. Daisy ou Killian? Levanto-me e ouço uma voz me chamando.

– agora somos apenas eu e você Florian – diz a voz. – como eu disse desde o começo – é Daisy – somos só você e eu. Venha para sua morte!

Saio o ônibus. Estou mancando e com minha mão segurando o torniquete do outro braço. Agora é a hora. O Dia é hoje. Vou andando em direção à Cornucópia novamente. É de lá que a voz dela vem. Agora é definitivo. Killian está morto, assim como outros vinte e dois tributos. Somos só eu e ela. É matar ou morrer.

Vou andando lentamente até que posso vê-la com uma espada não mão. Ela não esta mais sorrindo e seu visual está péssimo. Rosto inchado, olho roxo. Cabelo desgrenhado. A luta contra Killian não foi tão fácil, mas de qualquer forma ela conseguiu matá-lo de algum jeito.

– você é patético sabia?! – diz ela. – patético – reforça.

– e você é um monstro – digo – um monstro que agora todos conhecem. Tenho pena de seu tio.

– deveria ter pena de você – diz – já que vai morrer em alguns instantes.

– como fez isso? Como matou Killian?

– Nuz-vômica – responde ela para o meu espanto – sua mãe era uma ótima professora de botânica.

– você passou na sua espada – afirmo – ele foi envenenado sem saber.

– exatamente. Assim como Genevieve. Digamos que ela tomou erva de lobo pensando ser um remedinho para dor.

– então por isso ela morreu. Você já pensava em matá-los antes que eles se voltassem contra você.

– eu sabia que quando a garota caísse morta Killian viria atrás de mim. Então tive que envenena-lo também, mas seu veneno tinha que ser mais potente dessa vez. Mais rápido. Então cada vez que eu o cortava. O veneno se espalhava por sua corrente sanguínea. Aliás, muito abrigada pela explosão na estação! Você quase me matou, mas eu fui mais esperta. Vi quando você e a garota traidora estavam abrindo as passagens de gás. Salvei Killian, pois ele abriu os olhos quando me levantei. Ele ficou extremamente grato a mim, mas a garota do 4 também acordou. Felizmente a explosão começou antes de ela acordar os outros então saímos correndo de lá. Veja como eu fui boa pra você Florian. Contribui para que seu plano tivesse êxito.

– estou vendo – digo, pensando na mente diabólica que essa garota tem – vejo que você se saiu muito tem com os carreiristas.

– ah, você sabe. Algumas brigas aqui, algumas mortes ali. Nada de mais. Até que foi bem fácil acabar com esse bando de carreiristas. Estive ótima durante esses sete dias de Jogos Vorazes. Tudo saiu perfeitamente bem.

– infelizmente eu não posso dizer o mesmo. Mas não se preocupe comigo, daqui a pouco eu estarei viajando dentro de um aerodeslizador indo de volta pra casa e você, bem você ficará aqui, como todos os outros. E então eu poderei dizer eu estou perfeitamente bem.

– só por cima do meu cadáver seu desgraçado – ela diz com tom de raiva, correndo em minha direção – você morre aqui e agora!

Eu vou correndo ao seu encontro, mas quando estamos a tempo de nos confrontar eu desvio e sigo para a Cornucópia. Ela sem entender corre atrás de mim. Quando entro no lugar pego duas espadas de tamanhos parecidos.

– tome – jogo para que ela pegue – vamos lutar de igual para igual.

– seu tolo. Vou cortar todas as partes do seu ser.

– mate-me se for capaz – digo lançando um sorriso no canto da boca. Discreto, porém que provoca ira.

Estamos lutando. Lutando muito. Estou cansado e com dor, mas ela também esta arrasada. Se Killian não tivesse enfraquecido por conta do veneno da toxina, com certeza Daisy estaria morta agora e eu teria de lutar com ele.

Ela é esperta e esta tentando me golpear em meus pontos fracos, que são meus ferimentos. Mas sou bom de reflexo. Sempre fui. Nossa luta é árdua e demorada. Estamos ficando cada vez mais exaustos. Basicamente todos os golpes que eu conheço ela também conhece, de forma que nossa luta fica bem equilibrada. O tempo está passando e ninguém se mantém no domínio da situação.

– já basta – diz ela, fazendo nossas espadas caírem longe – vou ter que te matar com minhas próprias mãos. Ela então me dá um golpe na cabeça. Estou ficando tonto com o soco. Sinto cheiro de sangue e ele escorre até minha boca.

– se é assim que você prefere – digo, socando a boca de seu estômago. Ela se inclina para frente, com as mãos na barriga. Imediatamente dou outro soco, desta vez no nariz – você é perversa. Merece apodrecer neste lugar maldito!

Ela se irrita e revela possuir uma faca. Mas eu também tenho uma. A faca borboleta de Colton. Ela tenta me acertar, só que eu desvio com a dobra da faca. Ela joga a faca para a outra mão e rapidamente corta a maça do meu rosto. Com minha faca eu consigo desarmá-la e novamente nós estamos num combate corpo a corpo. Consigo contorná-la e sufocá-la com um golpe de gravata, mas ela me golpeia com uma cotovelada. Eu caio no chão e ela vem por sobre mim.

É nesta hora que eu olho para minhas mãos e lembro que estou usando o bracelete com a faca automática. – está tudo acabado – digo, liberando minha faca automática em sua barriga. Ela ainda sem acreditar sai de cima de mim e se levanta, com suas mãos sobre o corte.

– você não... – ela não consegue concluir a frase.

– eu não vou morrer! – digo sem pesar. E como um gesto de misericórdia em relação ao seu sofrimento eu pego uma faca e enfio em sua têmpora esquerda – adeus Daisy Brandon!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Jogos Vorazes - 71º Edição" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.