Jogos Vorazes - 71º Edição escrita por GS Mange


Capítulo 16
A Arena parte 6: O Vagalhão


Notas iniciais do capítulo

Perigos terríveis se encontram na Arena. É parte dos Jogos incitar combates e desastres "naturais". Um Vagalhão é uma onde gigantesca que se forma no mar, formando uma muralha de água e que podem ultrapassar trinta metros de altura. Um vagalhão é uma das muitas surpresas que os Idealizadores têm para os tributos e também para toda a Panem.



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Divididos os recursos, vasculhamos o local em busca de objetos que poderiam nos ser úteis, mas não achamos nada de grande importância. Optamos por levar alguns cobertores para uma eventual queda brusca de temperatura.

- vamos seguir pelo alto dos prédios – infiro

- por quê? Temos condições de seguir pelas ruas – diz Colton

- é, mas assim seremos facilmente vistos e identificados – diz Laureen.

- e não é isso o que queremos? – pergunta Anise – combate?

- depois do plano realizado – digo – poderemos lutar tanto quanto queira, An meu bem.

Subimos até onde Laureen e eu passamos a noite e começamos a passar de um prédio ao outro. São todos iguais e com o mesmo tamanho, de forma que fica fácil a nossa locomoção. Nos organizamos de maneira estratégica: eu vou à frente, pois posso atirar rapidamente minhas facas e o machado; Laureen me dá cobertura com sua espada; logo atrás vem Anise protegendo nossos suprimentos e por fim vem Colton na retaguarda, com seu arco.

Toda vez que um quarteirão acaba, devemos descer rapidamente as escadas enferrujadas localizada no último prédio da sequencia, atravessar a rua e subir as escadas do primeiro prédio novamente. Fazemos isso por pelo menos quatro quarteirões até que essa parte da Arena finalmente acaba. Estamos voltando para o centro dela, onde está a cornucópia dourada. Os prédios ainda são baixos, mas não tanto quanto aqueles de quatro andares em que passamos a noite anterior.

O lugar é uma intercessão entre duas avenidas enormes. Restaurantes, teatros, lojas. O lugar é enorme e igualmente devastado. Há crateras no chão e desníveis colossais. Numa parte o chão está mais alto e em outra está mais baixo. Carros batidos e tombados por todos os lados, postes caídos, entulhos e muita fumaça saído dos prédios.

- olha – diz Anise apontando para um prédio espelhado – lá em cima, no terceiro andar!

É neste momento em que eu olho para onde ela aponta e percebo que há dois tributos em posição de ataque, portanto um arco cada um.

- corram – grita Laureen – busquem abrigo!

- vem comigo – diz Colton, puxando-me pela jaqueta – vamos!

Laureen calcula os movimentos dos tributos que estão nos atacando e lança-se sobre Anise, levando ambas ao chão.

- eles te querem morta – diz Laureen – preste mais atenção!

- o que? – pergunta Anise sem entender – como assim?

- sua mochila – digo.

- eles perceberam que você esta com os suprimentos – explica Colton – se eles te derrubassem, ficaríamos mais suscetíveis ao erro. Entraríamos em desespero e...

- correríamos até você para tentar buscar os suprimentos – continuo

- e é neste momento em que eles dariam fim a todos nós.

- eu sinto muito – diz Anise em estado de choque – serei mais atenta daqui para frente.

- é melhor mesmo – diz Laureen apreensiva – não podemos mais vacilar já que estamos cada vez mais pertos de completar nosso plano e dar fim a tudo isso.

Nós quatro estamos atrás de um dos desníveis do chão, mas não podemos continuar aqui, pois nossa visão é pouco abrangente, devemos sair e entrar em um desses prédios que nos circundam e tentar um combate a distancia.

- tudo bem – diz Laureen chamando nossa atenção – são cerca de quinze metros de distancia da entrada e um prédio ao outro e aproximadamente uns seis metros daqui até a entrada daquele prédio ali – ela aponta para um prédio alto bem atrás de nós, com centenas de janelas espelhadas, ainda mais alto do que onde estão os outros tributos.

- se o Colton tentar atirar em um dos tributos isso vai distraí-los um pouco, nos dando aproximadamente cerca de dez segundos para corrermos e entrarmos nos prédio atrás de nós.

- não sei se consigo acertar – diz Colton temeroso

- você não precisa – explica Laureen – tudo que o que tem que fazer é fazê-los retroceder um pouco, nos dando tempo para atravessar.

- acho que eu posso fazer isso – responde ele

- você tem que fazer isso – diz Laureen virando-se para ele, pondo suas mãos em seu rosto, fazendo-o olha diretamente em seus olhos – pela garota. Você quer que ela sobreviva não quer? Então simplesmente faça!

- Anise ouça – digo – quando ele atirar, você Laureen e eu vamos correr até aquele prédio – ponto para o lugar – não para, não olhe para trás, não grite.

- mas e Colton – pergunta ela amedrontada – ele não pode ficar aqui sozinho.

- depois que nós estivermos no prédio e irá atirar só mais uma vez, ele terá menos tempo desta vez – explica Laureen – então você não pode distraí-lo, está bem?!

- tudo bem – responde ela – mas se ele não conseguir eu vou voltar e trazê-lo de volta.

- eu voltarei – digo – eu prometo. Não o deixaria aqui por nada... – momentos de aflição se seguem e começo a contar – 1, todos se preparam, 2, estamos pronto para sair... 3.

Colton atira e acerta em cheio o ombro do um dos tributos. Nós imediatamente corremos sem olhar para trás. Conseguimos entrar no prédio. Agora tudo o que Colton tem que fazer é atirar apenas mais uma vez e estaremos todos salvos num novo abrigo. Finalmente olho para trás e vejo Colton pronto para atirar... 1, 2, 3... – agora – grito.

Ele atira, mas erra desta vez, mesmo assim sai correndo em nossa direção. O tributo que não foi atingido mira diretamente para ele e de repente... A flecha atinge em cheio a panturrilha esquerda de Colton, que diminui a velocidade, mas não para de correr. Ele está mancando e logo aparece mais um tributo, feminino desta vez, a ruiva que vi no Centro de Treinamento, tributo do distrito 6. Finalmente os achamos.

Colton consegue chegar até onde estamos, mas está muito cansado e ainda esta com a flecha cravada em sua perna. Anise e Laureen vão buscá-lo, mas eu fico em posição de ataque. As flechas cessaram. Espero que tenham de fato ficado sem armamento.

- ajude-me com isso – diz Anise para Laureen, que está segurando a perna dele – temos que tirar isso logo, antes que ele tenha uma hemorragia.

- calma – diz Laureen nervosa – a gente tem que arrumar alguma coisa pra estancar isso aqui.

Anise revira o kit de emergência, tira algumas compressas e álcool enquanto Laureen rasga um pedaço de pano que trouxemos, pega uma faca e corta a calça de Colton até o joelho. Elas se entre olham e Anise Poe uma mordaça na boca de Colton enquanto Laureen retira com força a flecha de sua perna. Ele está gritando de dor, seus olhos lacrimejam, suas veias estão altas e seu rosto está avermelhado.

- parem – grito desesperando ao vê-lo – vocês estão matando ele – não posso vê-lo assim – ele não vai aguentar. Já está muito fraco com tudo isso o que passamos assim.

- fica calma Florian – diz Laureen – ele vai ficar bem. Temos que amarrar isso aqui na perna dele para estancar o sangue. Ele vai ficar sem poder andar por algum tempo, mas vai ficar bem. Temos que torcer para algum dos patrocinadores lhe envie dádivas curativas. Só isso.

- é tudo o que podemos fazer – explica Anise – ele vai melhorar Florian.

- quatro – sussurra Colton para mim – quatro.

Eu me aproximo dele para tentar entender o que ele quer dizer com isso – não entendo – digo – o que tem isso?

- 6... E 11– ele está fraco demais – eles são quatro.

É neste momento que eu entendo o que ele estava querendo dizer. Quatro tributos. Dos distrito 6 e 11 – deem água para ele e vão lá para cima – digo às meninas – vou ficar aqui por enquanto e tentar causar algum estrago neles. Subam logo. Escondam-se.

- ficarei aqui com você! – infere Laureen – faremos isso juntos!

- não – digo – Anise precisa da sua ajuda para carregá-lo. Leve o para cima. Farei o melhor que eu puder aqui e subirei logo depois de vocês eu prometo. Agora vá Laureen, vá! – pego o pedaço de pano que Laureen cortou e o álcool de Anise.

- tudo bem – ela Poe suas mãos em meu rosto e me beija com intensidade. Seu beijo é quente, saboroso, firme. Não consigo parar de beijá-la. No fundo, eu queira isso há muito tempo. Até que infelizmente ela para – fica com meu beijo. Pra te fazer companhia! – ela pica para mim e se volta para Anise e Colton que assiste a tudo calados. Imóveis. Posso ver que eles se entreolham, mas Laureen continua firma. Pega um lado de Colton e Anise o outro. Elas se arranjam de forma que ele só possa tocar o chão apenas com a perna boa. Elas sobem de forma que em alguns instantes desaparecem pela escada

Subo por outra escada até o terceiro andar. Tento visualizar os outros tributos. Colton estava certo. Ele acertou Cirian, o tributo do 11, Maura, sua parceira esta cuidando dele. Vejo também Carter, o tributo do 6 e sua parceira. A ruiva que vi antes. Observo bastante à entrada do prédio. Uma única saída na frente, mas com certeza há outra nos fundos. Tenho sete flechas na aljava. Isso significa sete chances. Só tenho que mirar em um lugar em que o fogo possa se propagar. Mas onde? É só então que eu decido que é melhor prevenir do que remediar. Então corto o pano em sete pedaços menores e um maior e enrolo cada um deles numa flecha. No pedaço maior jogo quase todo o álcool e começo a fazer fogo com uma pederneira que estava na mochila de Laureen. Rapidamente coloco fogo em cada uma delas e me preparo para lançá-las.

Lanço no primeiro, no segundo, quarto, no quinto, no sexto, no sétimo e por ultimo no terceiro andar, onde eles se localizam. Eles entram em desespero, em pouco tempo as chamas se espalham, mas infelizmente eles ainda podem se salvar caso sejam rápidos.

O que eu estou dizendo? Infelizmente? Em que monstro devorador de vidas eu me tornei? Estou matando sem remorso, calculando sem escrúpulos. E pensar que quando comecei a caçar lá perto de casa, me sentia mal por burlar uma dúzia de leis do meu distrito, além de matar animais. No começo eu até os enterrava com algumas pedras, depois eu simplesmente os deixava lá... Até que um dia eu resolvi levá-los para casa.

Quando percebo, o prédio está ardendo em chamas, decido subir as escadas à procura do resto do grupo. Subo freneticamente e de repente ouço um estouro de canhão. Deu certo. Um já está morto. Faltam três. Eu vou conseguir! Eu tenho que conseguir. Continuo subindo, mas nem sinal deles até que esbarro com Laureen.

- nós conseguimos Florian! – diz ela, lançando-me um sorriso – você conseguiu!

- eu sei, mas – não estou nada feliz com isso – mas é que não me pareceu certo. Foi covardia.

- covardia é prender meninos e meninas em Arenas malditas todos os anos – diz ela, tentando animar-me – você não é covarde, pelo contrário, se mostrou muito corajoso. Vamos, vamos subir q comer alguma coisa.

Pegamos rapidamente algumas barras de cereal e um pouco de água. Anise está alimentando Colton, é quando olho pela janela e vejo algo estranho. Uma imensidão azul vindo de uma extremidade da Arena. Laureen vem logo atrás de um e deixa sua garrafa cair no chão.

Eu olho para Anise e Colton e grito – um vagalhão. Corram!

Uma onde gigantesca está vindo em nossa direção. Ela vem destruindo tudo em seu caminho, cobrindo tudo quanto esteja à vista. Pego Colton e coloco em meu ombro. Rapidamente estamos todos correndo pelas escadas acima. Degrau após degrau, andar após andar. É quando sentimos o impacto a onda gigante na estrutura do prédio. Ouvimos o barulho a água, de tubulações contorcendo-se e de ratos desesperados. Continuamos subindo e subindo até que chegados num dos últimos andares. Já não aguento mais carregá-lo. Não tenho mais forças e ele esta gemendo de dor. De repente ouvimos mais um estouro. Parece que a onda atingiu toda a Arena. Enquanto ela não retroceder estamos presos aqui. Quem sabe até definharmos? Não! Os idealizadores não querem isso! Eles querem ver combate. Provavelmente fizeram essa onda gigante por que acharam que tudo estava muito parado por aqui. Olho pela janela e vejo o prédio em que os outros tributos estavam. Esta quase que completamente submerso. Apenas dois andares os separam da água. Pelo menos dois deles ainda estão vivos. Agora tudo o que temos de fazer é esperar.

- o que faremos – pergunta Anise – estamos presos!

- esperamos – responde Laureen – apenas esperamos!

- esperamos para viver – digo – para morrer. E por uma absolvição que jamais virá.

Colton me chama atenção para si. Ele está sentado de costas para a parede, ainda com cara de sofrimento – nós conseguimos! – ele esta tentando sorrir, ou dar um brado de felicidade – nosso plano deu certo.

- é campeão – respondo lançando um largo sorriso para ele – nós conseguimos. E você, meu amigo, foi muito corajoso. Não pensou duas vezes em arriscar sua vida por nós.

- eu não vou morrer assim.

- eu sei. Não foi muito grave. Você vai conseguir.

- fiz tudo àquilo por que queria ser um pouco como você é!

- não queira ser outra coisa que não seja você mesmo. Você é forte e esperto. Vai conseguir sair dessa. Eu garanto.

- parece que você está muito bem.

- mais ou menos. Queria poder ter te carregado mais lá pra cima.

- não é disso que eu estou falando. Estamos bem aqui. Eu falo do beijo.

- eu não soube o que fazer. Mil e uma coisas passaram por minha cabeça, mas ao mesmo tempo não conseguir fazer outra coisa a não ser, continuar a beijá-la.

- e como foi?

- incrível! Foi rápido e surpreendente. Quente e voraz.

- sei – ele ri – isso tudo de um único beijinho?

- ora, é claro.

- parece que as meninas do 2 realmente são boas em tudo, já que ela tem mexido com você desde o Centro de Treinamento.

- é. Espera... Não. – hesito – É claro que não.

- ah, qual é Florian. Você não parava de olhar para ela durante os treinos. E lá na noite, com Caesar Flickerman, você quase babou quando a viu vestida de “noite”.

- ela realmente estava linda, não estava?! Parecia o céu à noite. O universo.

- seu universo!

- claro que não – é só então que me lembro de Lavender. Oh, que grande burrada que eu fiz – deixei alguém me esperando lá em casa.

- depois dessa? Será que ela ainda está te esperando?

- eu não sei. – e sinceramente não sei mesmo. Nunca me senti assim tão desconectado com Lavender assim antes – mas eu a amo. E sempre amarei. – dou a conversa por encerrada.

- o que estão falando ai, meninos? – pergunta Laureen, sentando-se ao meu lado.

- estamos falando sobre como o nosso plano foi genial – foge Colton do assunto – não é Florian?!

- é – responde, sem graça – foi excelente. Agora só restam dois.

- não se preocupem ficaremos de olho neles – diz Laureen – quando as águas baixarem, nós estaremos um passo à frente deles.

- você é sempre assim – pergunta Anise sentando-se ao lado de Colton – tão estratégica e sem coração.

- um bom campeão sempre tem um estratagema na cabeça. – responde ela.

- é isso o que lhes ensinam nas academias do 2? – pergunta Colton.

- isso e mais um pouco – responde ela, baixado a cabeça – mas não quero falar sobre isso.

Ficamos lá sentados naquela mesma posição a tarde toda. Todos perdidos em seus próprios devaneios. Calados. Imóveis. O dia já chegou ao seu fim. Devido a enorme quantidade de água, a temperatura caiu bruscamente, de forma que podemos perceber o ar quente que sai de nossa boca. Ficamos todos cobertos pelo enorme lençol isolante que estava no kit da mochila. Colton foi o primeiro a cair no sono, depois Anise.

- hoje o dia foi muito bom – diz Laureen

- é – respondo – foi mesmo não é?!

- mais uma vez, feliz aniversário Florian. Você foi muito corajoso hoje.

- obrigado por isso. E... – hesito – e também pelo beijo!

- não foi nada - ela ri – não fiz por você. Fiz por mim. Era uma coisa que eu queria fazer a muito tempo.

Eu rio e nós trocamos olhares, até que toda a imensidão azul marinho ao nosso redor me começa a me embalar e os sons da estrutura do prédio vão diminuindo gradativamente até que não ouço mais nada além da voz do silêncio.


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