Jogos Vorazes - 71º Edição escrita por GS Mange


Capítulo 15
A Arena parte 5: O Plano


Notas iniciais do capítulo

Ter sempre um plano. Este é sempre o plano que se deve ter quando se está numa Arena onde todos os outros também possuem um. não é tarefa Fácil, visto que tudo muda com muita facilidade lá dentro. ter um plano é essencial para se matar mais tempo vivo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/395752/chapter/15

As horas passam lentamente, meus olhos já estão ardendo. Minhas mãos já têm calos e bolhas de tanto que aperto minhas facas. Tudo está muito silencioso. Isso é bom. Mas carreiristas podem muito bem andar pela Arena à noite, sem fazer barulho. Matando.

– oi – diz Laureen

– oi – digo um pouco cansado. Ainda em observação.

– vá deitar agora. É minha vez – diz ela, sorrindo para mim.

– tem certeza? Dormiu bem?

– sim. Você nos protegeu perfeitamente!

– então está bem. Eu realmente estou cansado.

Deito-me e viro de costas para ela. Não posso evitar pensar no que ela me disse. Sobre si e sobre os outros. Também não posso evitar pensar no garoto do 10 que matamos hoje. Tecnicamente eu só retardei ao lançar aquela faca. Colton é que realmente o matou, mas mesmo assim. Sinto-me como um cúmplice. Todo esse vendaval de informações e pensamentos me levam em direção ao caminho do sono em poucos minutos.

– acorde – diz Laureen, com sua voz doce, porém firme – dorminhoco!

Eu rio, mas estou com dores em minhas articulações – desculpe! Eu estava realmente cansado ontem!

– e você esta melhor agora?

– estou sim – levanto-me rapidamente – estou novinho em folha. – mas isso não é verdade.

– há mais uma pergunta que eu gostaria de fazer!

– então faça!

– você pensou no que eu disse ontem? Sobre deixá-los?

– sim – respondo deixando cair o semblante – mas temo no que pode acontecer!

– na melhor das hipóteses... – hesita – estaremos mortos em alguns dias e você será aclamado o vitorioso da 71º edição dos Jogos Vorazes!

É neste momento eu vemos flutuando sobre nossas cabeças um par de paraquedas prateados.

– dádivas – diz ela

– seria para nós dois, ou para os outros?

Um cai ao lado de Laureen. Não temos dúvidas sobre de quem é tal dádiva. Já o outro cai entre nós dois. Ela também o pega e o abre.

– isto deve ser para você Florian! Não reconheço este pão.

Então eu o pego. Mais um pão de frutas secas. Do mesmo tamanho. E... Outro recado de Grover...

“partir é cuidar” – é isso que está escrito. Partir é cuidar! Grover quer que eu deixe a aliança que ele me encorajou a fazer? Tudo bem que fui eu quem escolheu os membros de minha equipe, à exceção de Laureen, mas daí a querer que eu os deixe?

Ela lê o bilhete – está vendo só! Até seu mentor concorda com meu plano. É necessário!

– espera! – digo – ainda não me decidi!

– está bem, mas não demore. Não temos todo o tempo do mundo!

Ela abre então seu paraquedas. Há um pão redondo. É bem claro, diferentemente do meu e tem gergelim cobrindo a superfície do pão. Parece apetitoso, mas não me pronuncio sobre isso.

O dia está realmente bonito hoje. Não há nuvens, nem sinais de fogo. E nenhum canhão tocou até agora. Isso significa que a caçada por hoje ainda não começou.

Nós descemos até o terceiro nível. Colton e Anise ainda estão dormindo. Sigo direto para o banheiro e lavo meu rosto. A água está mais gelada do que me lembrava, mas ainda está deliciosa. Laureen os acorda e lhes mostra nossos pães. Colton está mais gentil com ela do que ontem. Acho que percebeu que ela não é tudo quanto pensava que fosse, já Anise está igualmente grossa.

– e para nós? – pergunta Anise num tom furioso – há algo?

– sinto muito – responde Laureen – não há nada!

– mas que grande droga – resmunga Colton – nós realmente não estamos agradando os patrocinadores?!

– pelo menos você recebeu alguma coisa – grita Anise indiretamente e descontrolada – aquela gororoba! E eu? Nem isso eu ganhei! Nada! Nada, foi o que ganhei!

– Acalme-se, por favor – diz Laureen tentando consolá-la!

– não me diga o que fazer! Você é uma carreirista. É isso o que você é. Não importa o quanto você consiga enganá-los, mas a mim você não engana. Quer nos ver pelas costas. Todos nós!

– já chega! – berro, ficando entre as duas. Olho fixo nos olhos de Anise – não é culpa sua! Nem de sua mentora – não é culpa de ninguém! Mas você precisa para de gritar! Agora!

– vem An – Colton a puxa para o canto – não precisamos de mais comida por enquanto. Temos o bastante por mais alguns dias!

– não é pela comida Ton – responde – é por mim! Por nós! Nós merecemos dádivas também!

– eu sei disso – diz ele – eu sei! Mas nem sempre as coisas acontecem da forma que desejamos. É assim que funciona. É a vida. Você tem que continuar em frente!

Depois de todos nós acalmarmos os ânimos, nos sentamos em roda ao redor dos nossos pães e o restante dos suprimentos. Anise recusa-se a comer os pães. Contenta-se apenas com algumas barras de cereais. Já Colton, apesar de não esconder o ciúme, não se faz de orgulho e come conosco. Não é de seu feitio, fazer esses tipos de coisa. Ele é bem humilde. Com certeza já passou fome lá no 12 e não deixa de comer nada que lhe é oferecido.

Ainda estamos todos sentados comendo quando de repente Colton para, se levanta, vem até mim e me abraça:

– feliz aniversário Florian! Me desculpe, eu estava contando os dias, mas com toda essa agitação esqueci-me de dizer antes. Parabéns! E que este dia seja melhor do que os outros, sei que isso parece impossível, mas apenas creia!

Eu sorrio – obrigado Ton. Valeu mesmo – foram tantos acontecimentos que até havia me esquecido que hoje é meu aniversário. Dezesseis anos finalmente. Mal acredito que sobrevivi ao quarto dia nesta Arena maldita.

– Oh Florian, mil desculpas – diz Anise - Eu não sabia! Não sabia mesmo. Feliz aniversário! – ela que antes de Colton se lembrar estava ao meu lado, se levanta e me abraça também.

– feliz dezesseis anos! – diz Laureen que está ao meu lado. Seu sorriso enigmático escondido num canto da boca me faz parar de pensar em qualquer perigo que possa nos circundar e, por um instante sinto-me no paraíso, livre, flutuando, sentindo a grama abaixo dos meus pés – espero que você realize todos os seus desejos!

É quando volto ao normal – muito obrigado pessoal. Eu realmente agradeço por se recordarem de mim – tudo isso aqui está piorando cada vez mais. Quanto mais tempo passo ao lado deles, mas apegado a eles fico. E menos capaz de deixa-los sou.

– sinto muitíssimo interromper toda essa felicidade, mas... Já estamos aqui há quatro dias. E ainda não temos um plano. Isso não é bom! - digo

– o que você sugere? – pergunta Colton

– devemos nos equiparar aos carreiristas! – responde Laureen

– ninguém aqui, com exceção de você, é claro, é assassino – infere Anise.

– olha garota – começa Laureen, num tom bastante irritável – eu não quero mais problemas com você. Mas caso você tenha esquecido, o seu amorzinho ali – ela aponta para Colton – MATOU – grita – um tributo ontem!

– foi pra me salvar! – replica Anise, amedrontada.

– ainda assim... Matou. Não matou?

Ela não responde. Ninguém responde, na verdade. Estamos todos nos entreolhando sem muitas explicações.

– peço desculpas a vocês – diz Laureen – eu realmente não queria dizer isto. Por favor, vamos voltar ao plano?!

– excelente ideia – digo, tentando retomar o raciocínio e espantar a culpa que paira sobre nós – você disse que devemos ser como os carreiristas?!

– sim – diz ela, aliviada – eles gostam de caçar. Mas é como dizem... Um dia é a caça e...

– o outro é do caçador! – completa Colton.

– exato! – afirma ela – devemos caçá-los também. Mas devemos nos preparar.

– eles são treinados para matar – diz Anise mais calma – você mais do que ninguém aqui sabe o quão eles podem fazer – desta fez na há ironias ou criticas, nem mesmo sarcasmo em sua expressão.

– sim... – responde – e é por isso que precisamos de um plano.

– e como seria isso? Se lutarmos corpo a corpo com eles, perderemos! – digo

– e feio – diz Colton.

– é isso! – ela exclama – você acaba de me dar uma ideia genial Florian. Não precisamos lutar com eles... Precisamos apenas encurralá-los em um lugar e... – ela hesita – queimá-los. E não restará nenhum deles!

Todos se mostram entusiasmados com a ideia de Laureen, até mesmo eu. É um plano incrível e pode muito bem dar certo. Mas se não restar mais nenhum, então nós teremos que nos matar!

– mas como faremos isso? – pergunta Colton – esta Arena é imensa. Tem tantos prédios aqui.

– então devemos atraí-los para um prédio em especial. Onde tudo estará armado!

– atrair?! – Anise se pronuncia – para atrair alguém para alguma coisa, é necessária uma isca!

– ou mais de uma se for o caso – diz Laureen – assim chamaremos a atenção deles.

– não gosto desse plano – replica Anise – é arriscado. E se não der certo?

– então estaremos em menor companhia na Arena – treplica Laureen – tanto nós quanto eles. De onde eu venho... Aprendemos desde bem cedo que... Certos sacrifícios são necessários para um bem maior!

– não gosto de sacrifícios – diz Anise – podemos muito bem seguir com outro plano. Um menos suicida!

– querida, você na qualidade de tributo é um sacrifício. Você está aqui para que seu sangue seja derramado no lugar de milhares de outras meninas tão indefesas e tão amarguradas quanto você! Todos nós estamos aqui por conta disso!

– sacrifício altruísta! – digo divagando.

– como? – pergunta Colton.

– o nome disso... Que estamos nos submetendo se chama sacrifício altruísta! – responde voltando à tona!

– eu concordo sobre o que Laureen disse sobre o sacrifício! – diz Colton

– até você? – pergunta Anise repulsiva – estou cansada disso!

– mas é verdade – replica ele – já que vamos morrer aqui mesmo, que seja com honra e dignidade. Eu darei minha vida para que um de nós possa sair desta Arena com vida. E este se lembrará de mim. E agradecerá à minha memória para sempre!

– eu também estou disposto a me sacrificar por qualquer um de nós. Pelo menos chegamos até aqui. Juntos! – digo – não me importo em morrer aqui. Tudo o que eu quero, é sair deste inferno... E descansar – hesito – nem que seja o mais perene dos sonos! Eu estou disposto!

– está ótimo – diz Laureen – Queimamos todos! Só precisaremos de duas iscas e dois alvos!

– basicamente – digo – alvos, na verdade serão também iscas. Eles já estarão onde no local marcado. As iscas, por sua vez, levarão os carreiristas até lá e depois os prenderão.

– exato – confirma Laureen – apenas uma passagem deve estar aberta para que os outros dois saiam.

– isso pode não dar certo – diz Anise.

– é um risco que todos estamos dispostos a correr – digo – e você? – estendo minha mão para ela que hesita um pouco, mas finalmente retribui o gesto.

– vamos em frente – diz ela.

O plano é simples. O problema são os pormenores: onde, quando, como e quem...

A Arena está calma demais. Não há movimento algum. Nenhum barulho de canhão. Nenhum sinal de fogo. Tenho a leve impressão de que os habitantes da Capital estão se entediando com nossa passividade.

– e se fizermos isso mais de uma vez? – pergunta Colton – e se queimarmos mais de um prédio? Ainda há mais tributos...

– sim – respondo – do 6 e do 11.

– é – diz Laureen – mas quem sobreviver ficará mais atento!

– eu devo dizer – me pronuncio – que devemos sair daqui e fazer isso o quanto antes! Nunca pensei em dizer isso, só que devem ocorrer mais mortes! Quase não houve combate desde que saímos da Cornucópia!

– eu também temo isso Florian – confirma Laureen - por isso temos que agir rápido!

– é um bom plano – diz Colton – haja o que houver... Nós tentamos!

Rapidamente nós recolhemos e conferimos todos os nossos pertences. Ainda temos um pouco de comida. Enchemos todos os recipientes com água. Colocamos nossos macacões, calças e jaquetas. Dividimos nosso arsenal. Pego uma espada e prendo-a na cintura. Ponho o bracelete com a faca de abertura automática no pulso direito. Ponho um machadinho também na cintura e algumas facas escondidas na jaqueta, junto com a faca borboleta que Colton havia me entregado logo no primeiro dia na Arena.

Laureen fica com a outra espada, pois Colton cedeu-a, para ficar com o arco. Ela trouxe mais facas de modo que dividimos igualmente. Entrego um machado menor para Anise que esta carregando alguns chakrans. Como ela está com menos armas, resolvemos entregá-la a mochila mais importante, que está com comida e o kit de primeiros socorros. Colton está com duas aljavas nas costas então eu levo a outra mochila.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Jogos Vorazes - 71º Edição" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.