Jogos Vorazes - 71º Edição escrita por GS Mange


Capítulo 10
A Entrevista: Não Caesar, ela não foi!


Notas iniciais do capítulo

O desempenho dos Tributos neste período que precede os Jogos influenciará a audiência e pode lhes render uma grande vantagem: um patrocinador rico, que gastará seu dinheiro para fornecer comida, remédios, armas ou o que for preciso para mantê-lo vivo dentro da Arena.



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–Despeço-me de todos e vou para o quarto. Quando ainda estou no corredor Lloyd me chama:

– não se preocupe. Você estará sensacional amanhã eu garanto.

– acredito, você e a equipe são excelentes – digo um pouco cansado.

– amanhã depois de treinar com Grover, nós iremos fazer alguns ajustes e treinar um pouco o que você deve fazer e fala – completa – você vai conseguir todos os patrocinadores possíveis. – diz ele rindo. Será que ele realmente acha que tenho alguma chance. Ou está apenas fazendo seu trabalho? De qualquer forma. Estou cansado de mais para pensar sobre o assunto.

O bom de estar cansado é que você não é atormentado por pesadelos sobre Arenas, a Capital ou o presidente Snow. Durmo a noite inteira. Sem levantar uma vez sequer. De manhã ouço a voz extravagante de Nara e logo grito:

– já levantei! – às vezes ela é um saco. Às vezes eu a odeio. Mas às vezes, gosto dela!

– melhor assim – responde – não demore, o café da manhã será servido às nove. Impreterivelmente – enfatiza.

No desjejum volto a comer a mesma porção de antes. Agora acrescento mais carnes nas minhas refeições. Menos doces e mais líquidos. Quero ganhar peso para não sofrer de desidratação e desnutrição. Nada de bolos, bolachas ou conservados. Pego o dobro de frutas. Como tanto que Nara se assusta.

– olha os modos Florian. Não quer parecer um leitão na Arena quer? – Eu a ignoro. Continuo comendo. Já são quase dez horas. Daisy e eu terminados e pegamos o elevador até o subterrâneo para mais um dia, o último, de treinamento. O tempo voa, num pulo já estamos aguardando nos chamarem para os treinos particulares.

Quando sou chamado, entro rapidamente na sala ao encontro de Grover. Nos exibimos mais um pouco para os idealizadores. Ele me garante que estamos fazendo um bom trabalho. Fizemos basicamente igual à última vez, só que mais intenso desta vez. Logo somos liberados, visto que esta é a grande noite de entrevistas com Caesar Flickerman.

Quando chegamos ao nosso andar, Nara está organizando os preparativos finais para que Daisy e eu possamos ir ao encontro de Lloyd e Jamie. Dentro de 40 minutos Daisy e Rose chegam e então partimos ao encontro dos estilistas.

Há um enorme palco montado em frente à torre do Centro de Treinamento. Há também arquibancadas muito altas circundando o palco. Lá, luzes e câmeras, fotógrafos e repórteres. As pessoas estão começando a chegar.

Descemos até o Centro de Transformação. Lá sigo ao encontro da minha equipe. Trevor, Blanck e Nancy. Eles fazem comigo o mesmo processo de limpeza que fizeram da ultima vez. Longo e demorado. Lloyd aparece vestindo um terno vermelho escuro, com camisa e gravata preto, além dos brilhantes sapatos pretos.

Ponho meu terno. É preto. Liso e brilhante de tão novo que é. Confortável e macio. Nunca vi algo tão deslumbrante. A camisa de baixo também é preta. Gostei bastante da gravata amarela contrastando com o resto do traje. Então Lloyd me traz um par de sapatos exatamente iguais aos dele. Brilham mais que uma pérola. Olho-me no espelho. Nem pareço aquele garoto que passava as tardes dentro de uma oficina de carpintaria, ajudando meu pai. Tenho medo do que a Capital me transformou.

– aja naturalmente – diz Lloyd – cative-os pela sua simplicidade e carisma.

– sim. Grover já me orientou com relação a isso – respondo.

– Caesar é muito cortez – enfatiza – certamente ele vai querer te deixar a vontade. Seja simples e alegre. Assim vai cativar o público. Modéstia é bom. Mas não de mais. Ria pouco e naturalmente. Não se passe por boçal. Fazendo isso você sobreviverá. Entendeu?

– nossa – digo sem ter o que pensar – isso tudo é realmente necessário?

– infelizmente – responde. Ah, a propósito, dependendo do rumo da conversa, improvise. Não minta, assim não se atrapalhará e, sempre se dirija ao público.

– improvisar? Eu? – pergunto estupefato – não posso! Não consigo! Já estou tremendo só de pensar em improvisar.

– Florian – diz olhando em meus olhos – eu confio em você. Grover e Nara também confiam em você. Nós não apenas torcemos, mas queremos que você ganhe. De todos os tributos de quem já tratei e que certamente tratarei. Você foi a melhor coisa que aconteceu em nossas vidas. Até Trevor, Blanck e Nancy te adoram. E, certamente a plateia vai te adorar. Eles querem um show, então vai lá naquele palco e dê um show a eles.

Depois de tudo isso nem me atrevo a duvidar de mim mesmo. Não respondo. Apenas balanço a cabeça e retorno o olhar de Lloyd. Depois saio e prossigo até onde estão os outros tributos. Todos estão muito bem arrumados, mas os elogios da noite estão voltados paras as damas. Estão todas mais lindas do que nunca. Anise se aproxima de mim. Ela está usando um vestido todo dourado... Seus cabelos estão muito diferentes. Lisos, porém ondulados. São maiores do que eu pensava. Aliás, ela é mais bonita do que eu havia notado. Colton se aproxima de nós logo em seguida, está usando um terno cinza com preto muito bonito. Daisy usa um vestido roxo com renda preta, muito apertado, tem uma espécie de faixa com um laço preto na cintura e cabelos soltos. Mas de todas as meninas, ninguém está tão bela quanto Laureen com aquele vestido azul brilhante que vai ficando quase branco conforme vai se estendendo. Ela até parece um céu à noite, com suas estrelas brilhando e vai amanhecendo sutilmente.

Somos organizados em uma fila única, de acordo com nossos distritos. Primeiro as meninas depois os garotos. Caesar logo começa a nos chamar. A primeira é Sapphire e assim sucessivamente. Cada um de nós tem apenas três minutos para responder a Caesar e entreter o público.

– você vai entrar em trinta segundos – diz um assistente da equipe técnica – prepare-se.

Tudo bem. Não estou oficialmente pronto, mas acho que consigo. É, eu consigo. Vou andando lentamente em direção ao palco e conforme ando todo o meu nervosismo vai ficando para trás de forma que quando chego estou completamente à vontade.

– senhoras e senhores... – dez Caesar – Florian Daffodil. – a multidão está vibrando, há muitas pessoas aqui. De todas as cores e gostos. Avisto Lloyd sentado bem na minha frente. Então olho para Caesar. Ele tem um cabelo verde. Um topete alto penteado para trás. Um terno azul brilhante e um enorme carisma. Ele me faz ficar totalmente à vontade. Eu aperto sua mão, e lhe lanço um pequeno sorriso. Em contrapartida ele mostra-me um grande e sincero sorriso. Nos sentamos nas poltronas que estão próximas uma da outra.

– é realmente um prazer conhecê-lo de perto Florian – diz fazendo uma cara muito engraçada. – está gostando da Capital? O que você acha daqui?

– sim, é um prazer enorme encontrá-lo Caesar – respondo automaticamente – isto é, posso te chamar assim, apenas Caesar?

– é claro que sim, afinal este é o meu nome não é pessoal – ele vira para a plateia e faz uma careta enorme. A multidão vai à loucura. – eu realmente estou adorando tudo isso aqui. É tudo tão diferente. Tão deslumbrante. Se eu pudesse, ficaria mais tempo aqui.

– eu acredito em você – diz batendo sua mão na minha. - foi com certeza uma mudança drástica se deslocar do distrito 7 até aqui não é? Do que mais gosta daqui?

– sim, foi uma mudança inacreditável Caesar – digo, pondo minha perna direita sobre a esquerda e me acomodando mais um pouco na poltrona. - sem dúvida é da comida. O que eu mais gostei foi dá comida – pondero – a das pessoas, é claro. – as plateia está delirando agora. Caesar bate palmas junto com eles e meu sorriso cada vez fica maior.

– diga-me, Florian, como se sentiu quando estava vestido de... O que era aquilo, um bode? – faz uma careta mais engraçada ainda e vira-se para o publico.

Eu gargalho – sim, eu era um... Bode! – todos riem – um “bode deus das florestas”. Mas foi bem legal. Uma experiência e tanto. Lloyd é um estilista muito talentoso.

– sim, sim. Eu vejo isso em você. Agora falando sobre sua nota. Um nove é uma nota invejável. Apenas três pontos a menos do que a máxima e, como neste ano a maior nota foi dez, isso te faz um competidor valoroso. O que tem a dizer sobre isso? Qual foi a mágica?

– nem acreditei quando vi você anunciando que tirei um nove. Todos comemoraram. Bem não foi mágica. Foi só um lance com algumas facas. Nada muito extraordinário, infelizmente.

– sei, sei. – ele se vira para a plateia – é claro que um mágico nunca revela seus segredos, não é?! – todos riem, inclusive eu. – num tom mais confidencial ele pergunta:

– voltando ao momento da colheita, quem você deixou para trás?

– além do distrito sete? – pergunto retoricamente de forma sutil – meu pai, e minha irmãzinha. Ah, e nossa cachorrinha, Libby.

– você é um rapaz intrigante e charmoso. Isso todos nós podemos notar. Então diga-me Florian... Houve mais alguém?

– na verdade – pondero e lembro-me de Lavender – houve sim. Uma menina. Estamos juntos há um tempo. Seu nome é Lavender, mas...

– e ela foi te ver, quando você estava de partida?

– não Caesar. Ela não foi! – respondo olhando para baixo, lembrando-me de que a ultima vez em que a vi, em que a toquei, foi no dia anterior à colheita.

– que pena – diz baixando seu semblante – bem, eu espero sinceramente que você vença esses Jogos e volta para casa, para que ela possa explicar tudo.

– isso seria realmente ótimo. Assim eu cumpriria a promessa que fiz ao meu pai.

– e que promessa foi essa?

– prometi que venceria e voltaria para casa. Mas todos os outros tributos são muito bons. Não sei se serei capaz de cumprir. Pelo menos não essa promessa.

– então Florian, este é mais um motivo para você não desistir e vencer os Jogos Vorazes. Eu realmente não quero que você desaponte seu pai.

– muito obrigado Caesar.

– este é Florian Daffodil, o tributo do distrito 7. – a entrevista está acabando – palmas para o garoto. Ele merece. A propósito faltam apenas alguns diz pra que você aniversarie não é?

– sim é daqui a quatro dias. – respondo me levantando e apertando sua mão.

– muito obrigado. Você é um excelente garoto – diz num tom de voz mais ameno – palmas para Florian Daffodil. – eu agradeço, aceno e saio.

Estou andando em direção ao camarote e nem posso acreditar que sobrevivi a isso. Eu estava em todas as TV’s de Panem e não me saí nada mal. Logo encontro Grover, Nara e Lloyd.

– você – diz Grover – sempre nos surpreendendo.

– você – respondo de maneira amigável – sempre me subestimando.

– você se saiu muito bem Florian. – diz Nara, passando suas mãos repletas de anéis em minha cabeça – bom menino.

– viu só – diz Lloyd – você foi realmente incrível. Eu te disse.

– sim. – respondo – não estava muito confiante no começo, mas fui confiando mais em mim. Principalmente depois de todas aquelas coisas que você me disse.

Depois de toda essa nostalgia vamos todos para casa. Conversamos durante horas. Assistimos os melhores momentos das entrevistas, pela TV. A maioria se saiu muito bem, inclusive Anise e Colton, e Caesar ajudou os outros que estavam um pouco mais tímidos. Daisy estava tão à vontade que parecia que tinha nascido para isso. Comemos um lanche preparado pelos avoxes e depois, todos nós nos encontramos muito cansados. Jamie e Lloyd foram embora e nós. Amanhã será o primeiro dia na Arena. Os jogos começam às dez horas da manhã então na certa acordaremos muito cedo. Despeço-me dos outros e vou para meu quarto. Lá eu tomo um banho delicioso e visto algo bem confortável e deito-me em minha cama.

Não consigo dormir. Estou com um frio na barriga. Com medo do que enfrentarei amanhã. Com raiva de ter que matar pessoas que na certa, faria uma grande amizade. O que o dia de amanhã me reservará? Talvez esta seja minha última noite de vida. Tenho que dormir, não posso me dar ao luxo de ficar cansado amanhã. Viro-me em direção a imagem da campina. Fico olhando-a por alguns minutos, mas nada do sono chegar. Viro-me então para o outro lado. E nada. Olho para o teto e fico pensado em como estão todos lá em casa. Penso também em Lavender, em Roger e Dean. No velho senhor John. Na professora Pansy e até na chata da Violet Stem. Viro-me para a campina de novo. Meus olhos vão se fechando lentamente até que caio no sono.

– não! – grito sentando-me na cama. Era só mais um pesadelo. Um pior desta vez. Estou suando frio. Levanto-me e vou até o banheiro lavar meu rosto. Olho para o espelho e flashes do pesadelo me vem à memória.

Desta vez o presidente Snow estava comendo os nossos corpos já em estado de putrefação. Ele mastigava nossa carne com seus dentes amarelados e podres. Sangue escorria de sua boca. Então alguns avoxes serviam mais e mais pedaços de nós. Enquanto isso outro avox servia uma taça com nosso sangue para ele, que bebia tudo de uma vez, se enlambuzando todo. Tiros de canhões são soltos. Vinte e quatro no total.

Volto para a cama. Tento não me lembrar das cenas horripilantes. Sinto um calafrio até nos ossos. À medida que o tempo passa, meus olhos tornam a fechar novamente e eu durmo por fim.


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