Annie levantou o olhar e o focou em mim quando fiz a pergunta. Acho que nem ela sabe a resposta para minha pergunta, mas tenho que tentar. Minha mente não me deu muitas respostas sobre quem é Peeta. Mas eu estou tentando, porque algo dentro de mim está dizendo que Peeta é muito importante para mim. 

-Katniss. Peeta foi levado da arena antes mesmo dos jogos acabarem. Aparentemente o mentor de vocês junto com outras pessoas teve um plano muito eficiente para isso. Peeta, Beetee, e Finnick foram resgatados da arena. Você, Johanna, e Enobaria foram deixadas. Acho que é porque o tempo e a pressa de sair da área antes de serem pegos impossibilitou o resgate de vocês.

-Mas... E você?

-Me levaram do meu distrito. Querem ferir Finnick, me usando. 

-Porque eu não me lembro de nada, Annie? O que estão fazendo comigo?

-Você está sendo ''remediada'' para isto. Eles querem te torturar. Não vão te matar assim tão fácil, Katniss. Eles vão querer lhe dar uma longa e tortuosa morte. 

-Mas, por que? O que eu fiz de tão errado?

-Você despertou o povo de Panem, Katniss. Você lhes deu um motivo pelo qual lutar. Uma base para se inspirarem. Você Katniss, deu um sentimento para eles, que há tempos já havia sido descartado dentro deles.

-Que sentimento?

-Esperança.

****

Um tordo. Um tordo voando. Quatro notas. Uma caverna. Um nome: Primrose Everdeen. Amoras... Amoras cadeado. Te matam em um minuto. São fatais. Teleguiadas. Um tiro de canhão. Meus sonhos foram resumidos nisto... Acho que minhas lembranças estão mais nítidas. Até agora as informações que tenho certeza que são concretas são: Meu nome é Katniss Everdeen. Tenho 17 anos. Já fui para uma arena. Duas vezes. Panem me vê como uma revolução. A Capital me odeia. Eu salvei minha irmã, Prim. Nasci no Distrito 12. Um garoto chamado Peeta foi comigo aos Jogos Vorazes, e ele tem uma ligação muito forte comigo. O presidente Snow quer me ver morta. Eu vou morrer em breve.

Acho que alguma coisa colocada na minha veia me fez dormir novamente. Mas quando eu acordo, um pacificador está me libertando da tala que está aprisionando meus braços e pernas. Finjo estar adormecida ainda, não quero que coloque mais daquela droga em minhas veias. Acho que não foi uma boa ideia, pois quando termina de tirar as talas, me dá tapas na cara para acordar. Fico em pé, mas caio no chão logo em seguida. Acho que estou com uma perna quebrada, e a droga que estão me dando está me deixando fraquejar. Me fornecem uma cadeira de rodas.

-Onde estão me levando?

-Não é da sua conta.

Não vou engolir minha teimosia. Não sendo tratada assim.

-É da minha conta sim! Se me diz respeito é meu direito de saber.

-Se eu fosse você, eu ficava bem quietinha, Everdeen. Você não faz ideia do futuro que lhe aguarda.

Estas palavras foram suficientes para me deixar com medo. Empurram minha cadeira para fora da cela. Quando passo em frente onde Johanna está, ela começa a gritar para mim:

-NÃO DIGA NADA A ELES, KATNISS, SÃO TODOS UNS BESTANTES DOENTES. NÃO LHES DIGA NADA!

-Mason, cuidaremos de você mais tarde. –O pacificador que disse isso tinha um olho cego, e era o maior de todos.

Johanna estava com um  grande hematoma que subia do pescoço, até sua bochecha. Mas não parava por ai. Estava com uma marca de queimadura em sua testa, e um olho roxo. Vários cortes pelo corpo, o que me fez pensar que Johanna tinha algo ou alguma informação que a Capital queria, mas, pelo que sei, Johanna não é assim tão fácil de se arrancar informações.

No espaço em que me mantiam, haviam quatro celas, até onde eu havia visto. A minha, a de Johanna, a de Annie, e uma quarta, no fim do corredor, mas eu não conseguia identificar quem estava dentro, por não estar dentro do meu campo de visão. Entre Johanna, Annie e eu, Johanna era a que tinha a pior aparência, depois das torturas da Capital. A de Annie era a melhor. Era perturbada mentalmente, então eles a deixavam um pouco em paz. A arena nos proporciona isto. Perturbações mentais. 

Ao passar pela cela de Annie ela apenas formou com os lábios ‘’cuidado’’. Isso me proporcionou um calafrio que subiu minha espinha até a nuca.

Logo pude ver a última cela, a que eu não sabia a quem pertencia. Era alguém ruivo, e assim que me viu abriu a boca. Oh meu Deus. Era um Avox. Não me era desconhecido. Da... Dar... Darius. DARIUS! Distrito 12, Pacificador, Gale. Eu o conhecia. E não pude conter um grito:

-DARIUS!

Ele correu até a grade, e o que eu não esperava naquele momento aconteceu. O pacificador cego de um olho, o deu um tiro, e ele caiu no chão. Só teve tempo de olhar para mim. E se foi. Tudo aconteceu assim... Tão rápido. Gostaria de poder lhe dizer que sentia muito. Que ele não merecia estar aqui. Mas não tive tempo. A morte de Darius na minha frente, bem diante dos meus olhos apenas me deu mais algo a pensar. Algo a temer. Pode ser pior o que designaram para mim. E eu sei que será. 

O que estava me aguardando?