Eu faço as boas garotas virarem malvadas.

P.O. V Nico

Acordar com um peso em cima de você não é legal. Mas TRÊS PESOS? É crueldade.

Estou dizendo, ainda vou morrer sufocado de gente enquanto durmo. Com um pouco de esforço, abro os olhos e consigo distinguir silhuetas.

-Mas que porra... – tento falar, mas sou interrompido por uma voz que vem de fora.

-Acordou o chihuahua infernal. – reconheço a voz de Rodrick. Esfrego os olhos e consigo ver as pessoas sobre mim, Silena, Hazel e Isa. Que merda eles estão pensando? Se você quer conquistar uma garota, não deve ter outras três na sua cama, enquanto você esta seminu. AH MERDA, ESTOU SEMINU!

Olho para baixo e fico aliviado. Da barriga pra baixo ainda está tudo coberto. Enquanto faço essas observações, levo uma travesseirada na cara.

-QUE MERDA FOI ESSA?

-ACORDA, IDIOTA!- Isa grita.

- Você nem falou 10 palavras e duas são palavrões, que feio. - Hazzy fala, balançando a cabeça em desaprovação.

Sento, ajeito o cabelo e pergunto.

- O que vocês estão fazendo aqui?

- VIEMOS TE AJUDAR A SE ARRUMAR!- Silena diz, com toda a animação do mundo.

Animação que mal tenho normalmente imagine quando acabei de acordar?

-Então vocês me acordaram de... – tento olhar o relógio do lado da cama, mas os números estão um pouco indiscerníveis no momento. - sei lá que horas, mas deve ser cedo, pra eu ME ARRUMAR?

- ISSO! – A filha de Afrodite responde com um enorme sorriso no rosto. Pobrezinha. Íris caprichou na benção. Olho para Rodrick imediatamente.

-Você sabe que depois dessa nunca mais vai ter moral pra me chamar de veado, certo?

-Você continua sendo a bicha emo- ele responde, dando de ombros.

-Não acho nada de errado com minhas roupas e tudo mais- digo, me virando para as meninas.

-Bom... – Hazzy responde- Não tinha nada de errado. Mas agora, principalmente neste momento, tem. Você anda parecendo um mendigo.

- Vá se foder, Hazel. – Digo e ela parece meio chocada. –Desculpe. Ás vezes esqueço que você não é familiarizada com esse palavreado.

- ENFIM. – Isa interrompe. – Você precisa voltar com o estilo “bad boy foda-se o mundo”. É bem mais sexy que o “emo coração partido”. Então tira o cu dessa cama e vai tomar um banho.

- Tá bom, mas virem-se- respondo bufando. Elas atendem ao pedido (Hazel reclamando e murmurando: Sou sua irmã, idiota). E daí que somos irmãos? Não muda o fato que nos conhecemos há dois anos!

- Podem se virar!- digo, quando acabo de colocar uma roupa de casa (calça e blusa). Todos se viram, Silena me analisando como se eu fosse massa de modelar e ela, uma criança metida a artista, Isa olhando o guarda-roupa, Hazzy reclamando da bagunça e Rodrick jogando no celular novo (Hephonestos 2.7, não chama a atenção de monstros e pode amarrar seus cadarços – chupa Dédalo- além de outras coisas).

- Gostou do que viu Silenita?- digo, quase mordendo o queixo, nem um pouco sexy.

- Cale a boca- ela responde, revirando os olhos. Algum tempo de silêncio depois, ela continua- Pra começar, o que faremos no seu cabelo?

- Taca uma chapinha nele!- Rodrick responde, sem nem tirar os olhos do aparelho.

- Vá se foder, Iris-córnio. – respondo, e ele faz um sinal de pouco caso com a cabeça.

-Parem de brigar, vocês dois!- Silena grita, fazendo Hazel - que limpava o quarto- pular de susto. – Achou algo interessante, Isadora?

- Fora pilhas de roupa suja e fedorenta? Não. – Ela responde, jogando uma cueca por cima do ombro, enojada.

-Francamente, Nico!- Hazel grita, aborrecida, e coloca a cueca num cesto quase cheio.

- Vamos voltar ao problema?- Si diz com os braços na cintura, irritada.

O tempo seguinte é chato e doloroso. Cortam e esticam meu cabelo até o máximo, colocam e tiram produtos misteriosos e com cheiros adocicados, recebo gritos e ordens, provo roupas justas ou largas demais, elas reclamam e muito mais. Até que, depois do que me parecem horas, elas ficam satisfeitas. Só então me dão permissão de virar para o espelho.

O resultado é impressionante. Meu cabelo está desalinhado, mas não desgrenhado e estranho como antes. Minhas roupas estão limpas e ajustadas, a espada pendurada do modo certo me dava um ar despreocupado. Nem Rodrick consegue achar um xingamento sarcástico para mim agora.

Resumindo, pareço comigo mesmo novamente.

-Nada mal, Di Angelo. - Ouço uma voz familiar vinda da porta. Viro-me e lá está ela. Demi.

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- O que... Como você... Por que...?- balbucio. Parabéns Nico, você acabou com seu ar de fodão.

-Sabia que já são 11 horas?- ela pergunta retoricamente- O café da manhã está acabando. Melhor se apressarem- ela começa a sair, mas eu pergunto antes.

-Você se importa?- era pra sair num tom rude e desafiante, mas parece a fala de um excluído social apaixonado pela garota popular.

Ela se vira com um sorriso de canto e revira os olhos.

-Claro que sim. Você é meu amigo, acima de tudo. Agora ande logo. – e com essa fala, sai.

- JÁ VOU, MAMÃE- grito. Aposto que ela revirou os olhos de novo.

- E eu te dou as boas vindas ao trem da Friendzone, Monster High!- Rodrick grita com os braços levantados. Jogo um travesseiro, ao qual ele se desvia facilmente.

Eu definitivamente devia voltar a frequentar as aulas.

-Ela está certa. –Hazel interrompe minha conta mental de quantas aulas eu faltei. –Temos que ir tomar café da manhã. Principalmente você, Nico. Tá muito magrelo.

- Fique quieta. – respondo automaticamente. Com este último comentário, saímos.

...

As horas se passam e eu decido levar a sério a ideia de voltar ás aulas. Não posso passar a vida inteira vagabundeando. Assim, me dirijo á aula de espada.

-Di Angelo! Que milagre você por aqui!- grita Percy, que foi denominado o instrutor. –Você nunca mais treinou certo?

-Não. – respondo simplesmente. A maioria das pessoas teria vergonha diante do olhar estranhamente severo de Percy, mas eu não sou todo mundo.

-Bom, então precisamos de um parceiro pra você. Deixe-me ver... Que tal a Srta. Adamantina?

Oh, merda.

-Já disse um milhão de vezes pra me chamar de Demi. –A mesma responde com um tom sério, contrariado pela expressão.

-Sou um professor! Tenho que chamar as pessoas pelo sobrenome!

- Certo Sr.Jackson!- digo. Ele fica confuso até perceber que estamos falando com ele. Eu e Demi começamos a rir.

- Muito engraçado vocês dois. –ele diz mal humorado. –Vamos ver se continuam tão alegres depois do treino.

-Você está levando o cargo de professor muito a sério. –Demi diz. Ele a olha feio e chama todos para perto.

-Muito bem. – ele começa- Hoje vamos voltar ás origens e dar uma revisão. Não me olhem com essa cara. –ele diz ao reparar no olhar entediado de todos. Por mim estava tudo bem. -7 minutos de bloqueio do tórax por parceiro, a área que os adversários mais tentam atingir. Pode ser pra valer, só tentem não matarem um ao outro. Todos estão com armaduras?- todos assentiram. – Ótimo. Podem começar.

Todos seguem a ordem. Eu me viro para Demi.

- Quer começar?- pergunto.

- Atacando ou bloqueando?- ela diz.

-Bloqueando.

-Claro- ela sorri e começamos o treinamento.

Logo fica claro como perdi a prática. Todas as minhas investidas são bloqueadas com uma facilidade e quase sempre eu era atingido no abdome, junto com a risada da filha de Deméter, que parecia se divertir.

-Ótimo treino pessoal. –Percy diz nos últimos 10 minutos de aula. Estou fedorento, exausto e molhado, enquanto não havia uma gota sequer de suor na minha parceira. - Como sempre, no final da aula, vocês vão lutar pra valer. Tomem cuidado. É proibido machucar grave e propositalmente. Se posicionem-ficamos de frente um pro outro e levantamos as espadas. –Avante!

Com o último grito, os combates começam. Antes que eu consiga mexer o braço, sinto uma dor no quadril, onde levei uma estocada. Demi está de guarda alta na minha frente. Tento atacá-la, mas ela desvia o golpe e me atinge no rosto. Levanto a espada para me proteger e ela me atinge nas pernas (uma manobra que eu mesmo ensinei a ela!). Caio no chão, a espada ainda alta. Demi desvia do golpe em suas pernas, me desarma e chuta a arma pra longe. Rolo para pegá-la novamente e tenho sorte na primeira estocada dela, a qual desvio. A segunda me atinge e caio deitada. Ela fica por cima de mim, a espada tocando minha garganta.

-Quem é você garota?- pergunto. Um sorriso sarcástico toma seu sorriso, com o olhar confiante.

-Meu nome é Demi. E se você fosse um monstro teria cortado sua garganta.

-O cara teria ido ao Tártaro feliz. –falo em tom malicioso. Ela inclina a cabeça.

-Sabe, posso fingir que você é um monstro. –ela responde, mas continua com uma expressão feliz.

-Sou bonito demais pra alguém me imaginar assim. –digo. Ela revira os olhos, tira o pé do meu estômago e me ajuda a levantar.

-Liberados, meus jovens. Demi, suas manobras estão muito boas.

-Obrigada. –Ela diz e saímos juntos.

-Você ficou pior na espada e melhor em contar piadas idiotas? Péssima troca. –ela comenta enquanto caminhamos até os chalés.

-Você ficou mais astuciosa e malvada. –digo.

-Faz tempo. Você foi minha inspiração.

-Viu? I make the good girls go bad! –canto desafinadamente. Ela ri e complementa.

-I know your type. Yeah, daddy's little girl.

Cantando como doidos chegamos até o chalé 4.

-Primeira parada senhora. –digo, estendendo um chapéu imaginário. Ela sorri e beija minha bochecha.

-Tchau Nico. Vá tomar um banho e... Pratique mais- o último comentário ela dá um sorrisinho.

-Da próxima vez eu vou te derrotar de olhos fechados- brinco e ela ri.

-Duvido. – Diz e fecha a porta.

Dirijo-me ao meu chalé com um sorriso bobo no rosto. Hoje foi melhor que ontem, onde eu ficava longe dela. Brincamos e lutamos. Como antigamente, ou quase.

Chego no chalé e tomo um banho frio, que nem consegue me incomodar.

Pela primeira vez em algum tempo, tudo estava bem. E ia ficar melhor quando o beijo na bochecha que ela me deu se desviasse para o lado.